24 de abril de 2016 – Tempo Pascal 5º Domingo Ano C

 

1ª Leitura: At 14,21b-27

Ouvimos hoje o final da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé (At 13-14). Foram enviados pela comunidade de Antioquia na Síria e passaram pela ilha de Chipre e pelo sul da atual Turquia. Pregaram aos judeus nas sinagogas e aos pagãos nas praças. Tiveram sucesso fazendo muitas discípulos criando comunidades, mas ao mesmo tempo foram perseguidos, porém, não desistiram. Em Listra, Paulo foi apedrejado, considerado morto, mas levantou-se (14,19). Saulo-Paulo havia aceitado o apedrejamento do diácono Estêvão (7,58; 8,1), agora ele aceita ser apedrejado por ser testemunha de Jesus (cf. v. 22).

(Naqueles dias: Paulo e Barnabé,) voltaram para Listra, Icônio e Antioquia. Encorajando os discípulos, eles os exortavam a permanecerem firmes na fé, dizendo-lhes: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus“. Os apóstolos designaram presbíteros para cada comunidade. Com orações e jejuns, eles os confiavam ao Senhor, em quem haviam acreditado (vv. 21-23).

Paulo e Barnabé se refugiaram para Derbe e depois resolvem retornar. Pegam o mesmo caminho de volta pelas três cidades Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia (não confundir com Antioquia da Síria), onde já tinham passado por sofrimento e perseguição (2Tm 3,11). Mas estão conscientes que seguir e anunciar Jesus significa “passar por muitos sofrimentos para entrar no reino de Deus” (9,16; Mc 13,9.13; Mt 10,22; 24,9.13; Rm 5,3-5; 2Tm 2,12; 3,12; Hb 10,36 ), é aceitar a cruz para entrar na luz (Mc 8,34-9,1p).

Novamente, arriscando a vida, fazem duas coisas importantes na segunda visita (pós-missão): encorajar os discípulos exortando-os a permanecerem firmes na fé (cf. 11,23; 13,43; Rm 1,11; 1Ts 3,2s.13; Lc 22,32) e organizar as comunidades, designando para cada uma um presbítero, um responsável (ou uma equipe de responsáveis).

Seguindo o costume do antigo Israel (Ex 18,13s; Nm 11,16; Js 8,10; 1Sm 16,4; Is 9,14; Ez 8,1.11 etc.) e do judaísmo (Esd 5,5; 10,14; Jt 6,16; Lc 7,3; 22,66; At 4,5 etc.), as primeiras comunidades cristãs instituíram “presbíteros” como liderança em Jerusalém (além dos apóstolos, cf. At 11,30; 15,2.4.6.22s; 16,4; 21,18) e também afora, na diáspora (14,23; 20,17; Tt 1,5). A palavra grega significa literalmente “anciãos”; em hebraico “barbudos”, expressando maturidade. Os presbíteros eram homens reconhecidos e estavam encarregados não apenas com a administração, mas também com o ensino e o governo das comunidades.

No NT, ainda não temos os três graus de ordem (diácono, presbítero/padre, bispo) tal distintos como hoje. No início, os presbíteros se confundem com os epíscopos (“bispos”, cf. Tt 1,5.7; At 20,17.28). Estes anciãos/presbíteros, aqui não são escolhidos pela comunidade, mas pelos apóstolos (igualmente em Tt 1,5) que impuseram as mãos e os confiavam ao Senhor (cf. 6,6; 13,3; 14,26).

“Os apóstolos designaram”; lit. eles designaram. Só em 14,4.14, o autor dos Atos (Lc) usa ao termo “apóstolos” para pessoas fora dos Doze. Ele quer reservar este título para aqueles testemunhas oculares (cf. Lc 1,2) que acompanhavam Jesus na terra, desde o batismo até a ressurreição (At 1,22). Nem Paulo, que nas cartas insistiu tanto neste título (1Rm 1,1; 1Cor 1,1; 2Cor 1,1; etc.), é chamado apóstolo nos Atos, mas “instrumento escolhido” (At 9, 15) para levar o evangelho diante das nações pagas. Mas nesta viagem, Paulo e Barnabé são apóstolos no sentido literal: “enviados” (14,4.14) pela comunidade de Antioquia da Síria que os enviou em 13,1-3 e à qual agora retornam e relatam em seguida. Em nossa liturgia, só três homens, fora dos Doze, são festejados como apóstolos: Matias (que foi eleito no lugar de Judas, cf. 1,15-26) em 14.05, Barnabé em 11.6, e Paulo em 25.01 e 29.06. Outros companheiros de Paulo, como Timóteo e Tito, são festejados como bispos (26.01).

Em seguida, atravessando a Pisídia, chegaram à Panfília. Anunciaram a palavra em Perge, e depois desceram para Atália. Dali embarcaram para Antioquia, de onde tinham saído, entregues à graça de Deus, para o trabalho que haviam realizado. Chegando ali, reuniram a comunidade. Contaram-lhe tudo o que Deus fizera por meio deles e como havia aberto a porta da fé para os pagãos (vv. 24-27).

Paulo e Barnabé voltam da Pisídia descendo ao litoral de Panfília (em Perge, João Marcos havia se separado de Paulo e Barnabé, cf. 13,13). Sem passar mais pela ilha de Chipre (cf. 13,4-13), embarcaram para Antioquia da Síria (no rio Orontes, hoje Antyaka na atual Turquia com o Líbano e a Síria), lugar de origem para esta missão, onde foram escolhidos e enviados “entregues a graça de Deus” (cf. 13,1-3). Reuniram a comunidade, onde já se se havia iniciada a primeira evangelização sistemática aos pagãos (11,20) e contavam, o que “Deus operava através deles”.

A Bíblia do Peregrino (pág. 2665) comenta: Mencionar Deus como autor principal de toda a tarefa missionária não é só reconhecimento humilde, mas também afirmar que a pregação aos pagãos da forma empreendida, é ação de Deus. A experiência humana é uma faceta menor do grande projeto divino. A porta aberta, aos pagãos pelo próprio Deus, é metáfora expressiva (11,18; 13,47-48; 1Cor 16,9; 2Cor 2,12; Cl 4,3).

Esta metáfora da “porta aberto da fé” inspirou Bento XVI no seu documento “A porta da Fé” para abrir o Ano da Fé (2013).

 

2ª Leitura: Ap 21,1-5a

No final do seu livro apocalíptico, o autor João (um presbítero ou bispo da Ásia Menor, que se vê como profeta, não como apóstolo, cf. 1,3; 22,19) mostra que a meta da história, para além do tempo, é a plena realização da Aliança de Deus com humanidade, numa vida inteiramente imortal. O fim da história é a vida.

A Nova Bíblia Pastoral (pág. 1525 comenta): A série de visões tem seu ponto de chegada na apresentação de outro mundo, novo e diferente. Nele se realiza em plenitude a aliança entre Deus e a humanidade libertada. João é o encaminhado a contemplar uma nova cidade que vem ao mundo e se apresenta em ambiente todo diverso, o novo céu e a nova terra (cf. Is 65,17-25). Este cenário, livre da dominação e da violência, proclama a presença eterna de Deus no meio da humanidade.

Nos caps. anteriores, o autor descreveu a queda da cidade opressora Babilônia (na verdade, Roma; cf. caps. 17-18), a batalha final e a ressurreição dos mortos com o julgamento (caps. 19-20). A Bíblia do Peregrino (pág. 2973) comenta: O espaço ficou livre para o novo universo, a nova criação e para celebrar o casamento do Cordeiro. O universo é escrito com traços conjugados: ausência de males, presença de bens. A noiva é Jerusalém, ou seja, mulher e cidade, formosa e feliz. O autor dedica mais espaço para descrevê-la como cidade, mas o leitor não deve perder de vista o contexto conjugal do amor (que ressoará com força no final). O antecedente de Is 40-66 é significativo porque o texto combina e sintetiza sem dificuldades ambos aspectos: p. ex. em 49,14-26 se fala de esposa, mãe e escombros; em 54,1-10 o diálogo amoroso menciona “o espaço da tenda”, no capitulo 60, Jerusalém é matrona e cidade, e assim por diante.

(Eu, João,) vi um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (v. 1).

Os profetas antigos descreveram a felicidade messiânica anunciada para o futuro mais ou menos como um retorno ao paraíso (cf. Is 11,6-9). Mas nas obras apocalípticas, sem repudiar as antigas representações (Is 65,25 cita Is 11,7), espera-se uma renovação total.

Em 21,1-8 a nova relação que existe entre Deus e os homens é apresentada como “um novo céu e uma nova terra”. Esta ideia é inspirada em Isaías (sobretudo Is 51 e 65) com o tema clássico da eliminação da primeira criação e de sua substituição por uma criação nova, ou outra ordem, é a fase última da obra regenerada de Deus (Is 65,17; 66,22). Tornamos a encontrá-la várias vezes na literatura apocalíptica dos apócrifos (cf. Henoc 45,4-5; 71,1; 91,16; 4Esd 7,75), bem como no Novo Testamento (cf. Mt 19,28; Mc 13,24.31; 2Cor 5,17; Cl 3,10; 2Pd 3,13).

A Bíblia de Jerusalém (pág. 2326) comenta: Em Isaías (65,17; 66,22), a expressão era apenas o símbolo da renovação da era messiânica. Em consonância com Cristo (cf. Mt 19,28; 2Pd 3,13), Paulo abre perspectivas mais realistas: toda a criação será um dia renovada, libertada da servidão e da corrupção, transformada pela glória de Deus (Rm 8,18-22).

“O mar já não existe”, porque os antigos o consideravam como ameaça. O mar é o resíduo do caos primitivo e a morada das potencias do abismo, moradia do dragão e símbolo do mal (Jo 7,12), de onde vieram as bestas-feras, os romanos e para onde se desejava expulsá-los (13,1; Dn 7; cf. Mc 5,9-13). Desaparecerá como nos dias do êxodo (Ex 14), mas desta vez para sempre, diante da marcha vitoriosa do novo Israel (cf. Is 51,9s; Sl 74,13s; Jó 26,12s; Is 27,1).

Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido (v. 2).

Este fim da história, a nova criação não é simbolizada por outro jardim de Eden (Gn 2), mas por uma cidade (com rio e áreas verdes, cf. 22,1-2). A “nova Jerusalém” (3,12; cf. Gl 4,26) está em contraste total com a Babilônia, a cidade “prostituta” em Ap 17-18 (representando Roma com suas sete colinas, cf. 17,9). A nova Jerusalém é a “esposa”, a cidade dos eleitos e um dom de Deus (vem “do céu”), “desce”, porque a noiva é tradicionalmente conduzida ao noivo que a espera (cf. Sl 45).

É a noiva/esposa do Cordeiro, o “casamento do Cordeiro” já foi anunciado em 19,7-9; o vestido (linho puro) da noiva-esposa representa a “conduta dos santos” (19,8; cf. Is 52,1; 61,10). Na nova criação, o novo Adão esposa a nova Eva; realiza-se a Aliança de Deus com toda a humanidade (cf. v. 3).

No AT, Jerusalém representa a cidade de Davi, capital e centro religioso de Israel (2Sm 5,9; 24,25; 1Rs 6,2; Sl122), cidade de Deus (Sl 46,5), cidade santa (Is 52,1; Dn 9,24; cf. Mt 4,5), cujo coração era a montanha (Sl 2,6), onde o Templo fora construído (Dt 12,2-3), era tida em Israel como a futura metrópole do povo messiânico (Is 2,1-5; 54,11; 60; Jr 3,17; Sl 87,1; 122; cf. Lc 2,38). Foi lá que o Espírito Santo fundou a Igreja cristã (At 1,4.8; 2,1ss; 8,1.4; etc.). Em nosso texto aqui, ela foi transportada para o céu, onde se cumpre o desígnio salvífico de Deus (3,12; 11,1; 20,9; 22,19; cf. Gl 4,26; Fl 3,20; At 2,22-24) quando são celebradas suas núpcias com o Cordeiro (19,7-8; cf. Is 61,10; 62,4-5; Os 1,2; 2,16; etc.).

São as novas núpcias de Jerusalém com seu Deus, na alegria e no júbilo (19,7; cf. 65,18; 61,10; 62,4-6). E o ideal do êxodo enfim atingido (Os 2,16-25). No AT, Deus é às vezes chamado de esposo de Israel (Is 54,1-8; Os 2,16-18). O cristianismo adota este simbolismo, embora o modificando um pouco: É Cristo que é o esposo da Igreja (cf. Ef 5,23.25.32; Mc 2,19p; Jo 2,1) e as núpcias, realização perfeita da aliança, são esperadas para o fim dos tempos (cf. Mt 22,2; 25,1-13).

Então, ouvi uma voz forte que saía do trono e dizia: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Deus vai morar no meio deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles (v. 3).

A “voz forte que saía do trono” (v. 3) é “daquele que está sentado no trono” (v. 5), ou seja do próprio Deus. Pelo amor do Cordeiro à nova Jerusalém, Deus habita entre os homens, e os homens com ele.

“Eis a morada de Deus com os homens” (lit. tenda, tabernáculo, cf. 7,15-17; Jo 1,14) lembra a presença de Deus na caminhada do êxodo, conduzindo o povo de Deus para longe da escravidão do império egípcio. É a realização de Lv 26,11-13, mas aqui vislumbra a libertação definitiva.

“Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles”. É transposição exata de Imanu-El (Emanuel= Deus conosco: cf. Is 7,14; Mt 1,23) e a fórmula clássica da aliança, que se encontra 19 vezes no AT: Ex 6,7; Lv 26,12; Dt 26,17-19; 29,12; 2Sm 7,24 (=1Cr 17,22); Jr 7,23; 11,4; 24,7; 30,22; 31,1.33; 32,32; Ez 11,20; 14,11; 36,28; 37,23.27; Zc 8,8; cf. cf. 2Cor 6,16). A presença e a intimidade caracterizam a aliança de Deus com seu povo (cf. Ex 25,8 e Jo 1,14). Ela será consumada no fim do tempo (cf. Jl 4,17. 21; Zc 2,14; Sf 3,15-17; Is 12, 6).

Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes.” Aquele que está sentado no trono disse: “Eis que faço novas todas as coisas” (vv. 4-5a).

A descrição desta alegria completa sem lágrimas (cf. 7,15-17), nem morte, nem luto, nem choro, nem dor, está inspirada no banquete sagrado e universal preparado por Deus em Is 25,8 (também Is 65,19 e 35,10 no canto a alegria). A iniciativa é de Deus, que “renova todas as coisas” (cf. v. 1; 2Cor 5,17).

Depois, ele me disse: “Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e verdadeiras” (v. 5b).

A mesma ordem semelhante já se ouviu no anúncio do casamento do Cordeiro (19,9; cf. no início do livro: 1,11.19), a mesma afirmação da veracidade também se ouvirá no final da visão da cidade celeste em 22,6 (cf. Dn 8,26).

Evangelho: Jo 13,31-33a.34-35

Os evangelhos das próximas semanas (próximo domingo e dias da semana até Pentecostes) são tiradas do discurso de despedida na última ceia. Nesta ceia, o quarto evangelho não menciona a Eucaristia (já tem dedicou ao “pão da vida” um cap. inteiro: Jo 6), mas inicia com o lava-pés que resume toda atuação de Jesus, ele veio para servir (vv. 1-20; cf. Mc 10,45; Fl 2,5-11). Em seguida, com ajuda do discípulo amado (autor do evangelho segundo 21,24) é indicado o traidor Judas (vv. 21-30) e começa o discurso que se estende (com emendas posteriores) até o cap. 17. No evangelho de hoje ouvimos da relação de Jesus com o Pai, glorificação mútua, proximidade do fim e do preceito do amor.

Depois que Judas saiu, do cenáculo disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo (vv. 31-32).

A “hora” de Jesus (cf. 2,4; 7,30; 8,20; 12,32.27; 13,1), esperada por toda narração, chegou. “Agora” a paixão já começou, pois Judas, impelido por Satanás, acaba de sair. Apenas começando sua passagem para o Pai (v. 1), Jesus já celebra o seu triunfo como alcançado (cf. 16,33).

Nas Escrituras, a “glória” é manifestação de Deus (na nuvem luminosa, nos milagres, cf. Ex 24,16s etc.). Em Jo, se manifesta na pessoa de Jesus (1,14); nos seus “sinais” (milagres, cf. 2,11; 11,4) e culmina na sua partida, isto é, a sua morte (sua elevação).

Em Jo, a crucificação é chamado de “ser levantado/exaltado” (3,14; 8,28; 12,32), e a paixão, “ser glorificado” (12,23.28). Não se trata de eufemismo, mas o evangelista quer dizer: Jesus não foi vítima de uma intriga do traidor nem de um erro da justiça ou acidente da história, mas é o projeto de Deus que está se realizando com a entrega consciente e voluntária de Jesus que resultará no triunfo da vida.

É uma glorificação mútua devida à unidade perfeita entre Pai e Filho (cf. 10,30 etc.). “Em si mesmo” designa Deus, o Pai. Ele glorificará o “Filho do Homem” (Jesus; cf. 3,14; Dn 7,13s), acolhendo-o em sua glória (cf. 17,5.22.24).

A Bíblia do Peregrino (pág. 2595) comenta: A paixão, cumprimento do desígnio divino e sacrifício por amor, é glorificação de Deus pelo homem e do homem por Deus (contrasta com a glorificação de Ex 14,4.17-18). Os primeiros vv. formam inclusão com 17,24 e emolduram tudo na Glória (também o quarto cântico do Servo começa anunciando o triunfo, Is 52,13; o Sl 22,24 o põe no final).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (pág. 2075) comenta: O “agora” escatológico (v. 31) aparece, portanto, como uma permuta: Jesus glorificou ao Pai por sua perfeita obediência, no serviço humilde até a morte: o Pai responde associando-se a si mesmo, isto é, fazendo-o participar da sua gloria eterna, pela exaltação (cf. 17,1-5.22.24; 12, 23.28; 14,13; 15,8).

Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco (v. 33a).

Carinhosamente, Jesus chama seus discípulos de filhinhos, como faz o autor de carta de Jo (1Jo 2,1.28; 3,7.18; 4,4; 5,21). O mestre (hebraico rabino, cf. 1,49; 20,16), como pai espiritual, podia chamar seus discípulos de filhos; era costume do ensino de sabedoria (Pr 1,8.10.15; 2,1 etc.).

A glorificação de Jesus liga-se a sua partida. “Por pouco tempo…”, para os judeus, a separação será definida (8,21); para os discípulos, momentânea (14,2-3). A Tradução Ecumênica da Bíblia (pág. 2075) comenta o v. 33: Essa partida, que foi anunciada aos judeus (7,34; 8,21), o separará também, ao menos temporariamente, dos discípulos; é mister perceber a importância e o valor desta ausência (14,1.28; 16,16.19-22; 20,16-18). Mas é precisamente por sua partida e sua volta para junto do Pai que o Filho estará verdadeiramente presente junto aos discípulos (14,1-29).

Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (vv. 33-34).

O que Jesus fez no gesto do lava-pés no contexto da ceia, é ampliado para a convivência da comunidade. Iniciando o discurso de despedida, é como testamento e estatuto.

Contrariamente aos evangelhos sinóticos (Mc 12,31p), Jo não fala de amor “ao próximo” (Lv 19,18; cf. Mt 25,31-46; Lc 10,25-37), mas do amor mútuo dos discípulos (talvez se referindo à conflitos e separações dentro da comunidade joanina, cf. 15,1-8; 1Jo 2,19).

O mandamento do amor é “novo”, não pelo conteúdo (Lv 19,18.34; Dt 10,19), mas pela extensão, pelo motivo, pelo “exemplo” (cf. v. 15). Deverá ser o distintivo dos discípulos de Jesus (1Jo 3,14.23). É repetido e explicado mais em 15,12s: amar como Jesus é “dar a vida pelos amigos”. É o que Pedro vai prometer em seguida (vv. 37s) e falhar negando três vezes (18,1725-27); Jesus o cobrará novamente em 21,15-17. Esse preceito é “novo” pela perfeição a que Jesus o faz atingir e porque constitui como que o distintivo dos tempos novos, inaugurados e revelados pela morte de Jesus

A Tradução Ecumênica da Bíblia (pág. 2075) comenta:

O mundo pagão, bem como o mundo israelita (Lv 19,18), tinha preconizado por diversos motivos a amizade e o serviço mútuo. O “mandamento” de Jesus é “novo”, primeiro por que ele impõe a exigência essencial para entrar na comunidade escatológica; ele é novo também à medida que exige uma humildade e uma disposição para o serviço que levam a tomar o último lugar e a morrer pelos outros. Tal amor será doravante o sinal da presença do Senhor no mundo (cf. 17,21-23).

A maneira de viver de Jesus não oferece somente uma norma e um estilo, ele fundamenta também a possibilidade de viver plenamente o amor fraterno e a edificação mútua… O amor atinge seu pleno desabrochamento em uma comunidade onde há intercambio, dom e acolhimento. O amor fraterno vivido é o sinal por excelência da presença do amor de Deus na vida dos homens (cf. 17,21-23; 15,1-17).

A Nova Bíblia Pastoral (pág. 1314) comenta: A comunidade dos discípulos de Jesus tem uma marca, e essa é o amor. Não é por outro caminho que a mensagem cristã poderá ser propagada de maneira eficaz. Não basta a adesão individual a Jesus: ela precisa ser expressa no compromisso amoroso e solidário com os irmãos. No ensino de Jesus não há oposição entre o sagrado e o profano, entre o amor a Deus e o amor aos irmãos, entre a fé e o compromisso com a humanidade.

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