01 de Julho de 2017 – Sábado, 12ª semana

 

Leitura: Gn 18,1-15

Um tema comum e apreciado na Antiguidade é um ou mais deuses circulando pelo mundo em figura humana, para pôr à prova a hospitalidade dos mortais e assim premiá-los ou castigá-los (cf. Paulo e Barnabé considerados deuses gregos em Listra, At 14,8-18). Hospitalidade era um dever sagrado na época (Rm 12,13; Hb 13,2). Para que a prova funcione, é indispensável a ignorância do protagonista.

O Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele. Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra (vv. 1-2).

Abraão, que se estabeleceu em Hebron, “junto ao carvalho de Mambré” (v. 1; cf. 13,18; 14,13) encontra-se primeiro com “três homens” caminhantes que passam por lá quando o calor aumenta. Em Canaã e no início de Israel, os carvalhos marcavam lugares sagrados (v. 1; cf. 12,6; 13,18; 14,13; 21,33; 35,4.8; Dt 16,21; Jz 4,11; 6,11; 9,6.37; 1Sm 10,3; Is 2,13; Os 4,13), onde deuses e deusas interagiam com os seres humanos.

Para o leitor não é necessário a ignorância. A divindade, na forma de “três homens” (vv. 2.4-9.16) ou como um só (vv. 3.10-15), é identificada com Yhwh (Javé = “Senhor”) só nos vv. 1.13-14. No pós-exílio, Deus é concebido como único e altíssimo, aqui o autor imagina Javé como personagem principal, os outros dois são escolta angélica.

O texto hebraico oscila entre o plural e o singular (como mostram as variantes do grego e do samaritano). Na antiguidade cristã se especulou com esse tema, até imaginá-lo como aparição da Santíssima Trindade (cf. Jo 14,23 e o ícone russo de Andrej Rublev, séc. 15). Pode se comprar com Gn 1,26 onde Deus fala de repente no plural; para os cristãos são as três pessoas divinas, para os judeus (e o autor da época) é o único Deus (plural de majestade) falando aos anjos que executam a obra.

Quando Abraão viu os três homens, correu ao seu encontro e “prostrou-se por terra” (v. 2), aqui um simples sinal de homenagem e respeito, mas é gesto posterior típico de “adoração” (cf. 17,3).

E disse: “Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo. Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e descansareis debaixo da árvore. Farei servir um pouco de pão para refazerdes vossas forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo”. Eles responderam: “Faze como disseste”. Abraão entrou logo na tenda, onde estava Sara e lhe disse: “Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa alguns pães e assa-os”. Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro dos mais tenros e melhores, e deu-o a um criado, para que o preparasse sem demora. A seguir, foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado, e pôs tudo diante deles. Abraão, porém, permaneceu de pé, junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam (vv. 3-8).

 

 

Abraão inicialmente só reconhece nos visitantes hóspedes humanos e lhes testemunha a hospitalidade proverbial dos nômades. O caráter divino só se manifestará progressivamente (vv. 2.9.13.14). Abraão saúda com respeito humildemente aquele que parece ser o chefe: “Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem sem parar junto de mim, teu servo” (v. 3). Abraão é considerado “amigo de Deus” em 2Cr 20,7; Is 41,8; Dn 3,35; Tg 2,23 e no Alcorão IV,25. Oferece água para “lavar os pés” (cf. Jo 13) e “um pouco de pão” que na verdade é um grande banquete (vv. 4-8). “Permaneceu de pé, … enquanto comiam” Segundo o costume original, quem convida serve e não come (cf. Mt 22,11; Lc 12,37).

E eles lhe perguntaram: “Onde está Sara, tua mulher?” – “Está na tenda”, respondeu ele. E um deles disse: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”. Ouvindo isto, Sara pôs-se a rir, da entrada da tenda, que estava atrás dele. Abraão e Sara já eram velhos, muito avançados em idade, e para ela já havia cessado o período regular das mulheres. Por isso, Sara se pôs a rir em seu íntimo, dizendo: “Acabada como estou, terei ainda tal prazer, sendo meu marido já velho?” E o Senhor disse a Abraão: “Por que riu Sara, dizendo consigo mesma: “Acaso ainda terei um filho, sendo tão velha?” Existe alguma coisa impossível para o Senhor? No ano que vem, voltarei por este tempo, e Sara já terá um filho”. Sara protestou, dizendo: “Eu não ri”, pois estava com medo. Mas ele insistiu: “Sim, tu riste” (vv. 9-15).

Quando eles falam, começa a descerrar-se o véu (re-velação), como prêmio trazem uma promessa da descendência que confirma outras anteriores (12,2-3; 13,15-16; 15,4-5.18; 17,3-10.15-20; cf. Rm 9,9). Sara, porém, não entende e “se pôs a rir em seu íntimo” (v. 10). Esse riso demonstra uma falta de fé, incredulidade? Sara não conhece ainda a identidade do hospede que descobre seu medo e sua mentirinha em v. 15.

O autor continua jogando com a raiz “rir” do nome de Isaac (Abraão também já riu a respeito em 17,17, cf. a leitura de ontem). Ao narrador serve para salientar a esterilidade dos cônjuges e a fecundidade milagrosa: “Existe alguma coisa impossível para o Senhor?” (cf. Jr 32,17; Mc 9,29). O anjo Gabriel vai repetir esta frase a respeito da concepção virginal de Maria (cf. Lc 1,37).

Esta explicação do nome de Isaac a partir do riso de Abraão (17,7) e de Sara (18,10-15) serviu aos autores para integrar e subordinar política e religiosamente as tradições das tribos de Bersabeia e do Negueb, que tinham Isaac como seu patriarca, às tradições de Abraão.

Os peritos da Bíblia consideram Abraão um personagem que serviu aos redatores do exílio e pós-exílio para ser ponto de unidade entre os diversos grupos que formaram o povo de Israel (nômades vindo pelo deserto do oriente, escravos fugidos do Egito, tribos do norte (Israel) e outras do sul (Judá), exilados e remanescentes na terra). Na narrativa dos patriarcas, a história complicada dos povos et tribos é reduzida a uma história de família.

Abraão e Isaac eram venerados como ancestrais do sul (Negueb: 12,9; 20,1; 24,62; Mambré-Hebron: 13,18; 14,13; 18,1; 23,2.19; 35,27; Bersabeia: 21,33; 22,19; 26,33), enquanto Jacó-Israel (Betel: 28,19; 35,1; Siquem: 33,18; 34,2) e José (Efraim e Manassés: Gn 48; Nm 26,28; Js 14,1; 2Sm 19,20; 1Rs 11,28; Am 5,6; Ez 37,19) eram venerados como ancestrais do norte. As bênçãos e promessas foram utilizados pelos redatores para interligar estas tradições e criar a unidade do povo através da unidade da narrativa. Como os redatores eram do reino de Judá, as tradições de Isaac e Jacó-Israel eram subordinadas ás tradições de Abraão, apresentado como patriarca de todo o povo.

Esta narrativa no cap. 18 prepara a do cap. 19 (cf. as leituras de 2ª e 3ª feira da próxima semana). Neste se recolheu e transformou uma velha lenda sobre a destruição de Sodoma na qual intervém três personagens divinos. Uns consideram esta história o núcleo de um ciclo de Ló que foi ligado ao ciclo de Abraão (cf. cap. 13).

 

Evangelho: Mt 8,5-17

O evangelho de hoje apresenta uma cura à distância; é o segundo milagre de Jesus em Mt. Como em Lc 7,1-10, é contada logo após o sermão da planície (Lc) ou da montanha (Mt); Mt só inseriu antes a cura do leproso (vv. 1-4; cf. evangelho de ontem), que Lc já tinha contado bem antes (Lc 5,12-16; seguindo o roteiro de Mc). Isso leva a conclusão de que a cura à distância já estava na fonte comum que Mt e Lc usaram (numa antiga coleção catequética de palavras de Jesus, chamada Q) além de Mc, ou numa segunda e ampliada edição de Mc (chamada Deutero-Marcos). Obviamente a função desta cura à distância já na fonte era mostrar a eficiência da Palavra de Jesus logo após o sermão, além de abrir o evangelho aos pagãos.

Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um oficial romano aproximou-se dele, suplicando: “Senhor, o meu empregado está de cama, lá em casa, sofrendo terrivelmente com uma paralisia.” Jesus respondeu: “Vou curá-lo” (vv. 5-7).

Jesus volta a Cafarnaum, uma cidade de fronteira, que Jesus tinha escolhido para morar (4,13; cf. Mc 2,1). Lá encontra um centurião (oficial que comanda cem soldados, cf. 27,54p; At 10,1; 21,32; 22,25), é um pagão, não, porém, necessariamente romano. Herodes Antipas, administrador da Galileia, recrutava suas tropas em todas as regiões circunvizinhas; em Jo 4,46-53, Jesus cura o filho de um oficial de Herodes à distância.

Também em nosso evangelho de hoje, o centurião pede a cura do seu “filho” e não do seu “empregado” (como traduz nossa liturgia; cf. Lc 7,2), porque o termo grego que Mt usa significa “menino” (cf. 2,16; 17,15.18; duplo sentido em Is 42,1; Mt 12,18; At 3,13.26; 4,25,27), enquanto usa outro termo para designar “servo, escravo” em v. 9!

O oficial disse: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado (v. 8).

O centurião reconheceu Jesus como “Senhor” (vv. 6.8; cf. v. 2; 7,21s etc.; At 2,36; Fl 2,11), expressando sua fé, mas também respeita os costumes e as leis do país. Às palavras de Jesus: “Vou curá-lo?” (v. 7 pode ser uma pergunta), ele confessa que não é digno como pagão, não se atreve a hospedar Jesus, porque sabe que os judeus não entram nas casas dos pagãos para não se tornarem impuros (cf. Jo 18,28; At 11,3). Jesus, como judeu, tornar-se-ia impuro se entrasse na casa dele.

Na sua humildade pede que baste uma palavra de Jesus para curar o filho paralisado. Seu pedido (um exemplo de fé e humildade) entrou na liturgia da missa. Antes de receber o corpo de Cristo confessamos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada” (corpo como morada da alma, cf. 2Cor 5,1; 1Cor 6,19s), “mas dizei uma palavra, e serei salvo” (cf. Jr 30,31: “Quem ousaria aproximar-se de mim?”).

Pois eu também sou subordinado e tenho soldados debaixo de minhas ordens. E digo a um: ‘Vai!’, e ele vai; e a outro: ‘Vem!’, e ele vem; e digo ao meu escravo: ‘Faze isto!’, e ele faz” (v. 9).

O centurião crê que Jesus é capaz de curar, mesmo sem estar presente fisicamente, basta dar uma ordem para que aconteça a cura. Sua experiência militar é imagem para expressar esse poder. Provavelmente quer dizer: “Se eu como homem subalterno posso dar ordens, quanto mais o Senhor!” (cf. João Crisóstomo: “Tú és Deus-Senhor, eu sou só um homem”). Um modo de fazer, próprio de soberanos e autoridades, é por meio da palavra, ou seja, dando ordens é fazer. Dessa condição são as ordens criadoras de Deus (Gn 1: Deus falou e assim se fez; cf. Sl 33); assim a palavra de Jesus se mostrará eficaz.

Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado, e disse aos que o seguiam: “Em verdade, vos digo: nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé (v. 10). 

Solenemente, Jesus expressa sua admiração “aos que o seguiam” (às multidões de v. 1): “Em verdade vos digo, nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé”. A fé do centurião se parece com a de Abraão (cf. Gn 15,6), é uma confiança incondicional no poder do Senhor (cf. Hb 11,1: “A fé é um modo de possuir desde agora o que se espera, um meio de conhecer realidades que não se veem”).

Eu vos digo: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa no Reino dos Céus, junto com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto os herdeiros do Reino serão jogados para fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes” (vv. 11-12).

Esta frase encontra-se também em Lc 13,28s, depois da metáfora da porta estreita (Lc 7,24-27) que Mt colocou dentro do sermão da montanha (7,13s.22s). Inspirado em Is 25,6; 55,1-2; Sl 22,27 etc., o judaísmo apresentou a era messiânica muitas vezes sob a imagem de um festim (cf. 22,2-14; 26,29p; Lc 14,15; Ap 3,20; 19,9). Jesus vislumbra a rejeição do messias e do evangelho pelo seu próprio povo (cf. 27,25), enquanto os pagãos demonstram mais abertura, ou seja, fé nele. Eles vão tomar o lugar dos judeus, que são “herdeiros” (lit. filhos) naturais das promessas (cf. 21,43; Rm 9,3-5), mas não acreditando no Cristo ficarão “fora nas trevas” (22,13; 25,30) e com “choro e ranger de dentes” (expressão de dor terrível em Mt; cf. 13,42.50; 22,13; 24,51; 25,30).

Então, Jesus disse ao oficial: “Vai! E seja feito como tu creste.” E naquela mesma hora o empregado ficou curado (v. 13).

Jesus atende à fé do oficial: “Vai! E seja feita como tu creste” (“seja feita” lembra o pedido do Pai-Nosso em 6,10). Brevemente consta-se a cura “naquela mesma hora”. Atendendo ao pedido de um pagão, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença à uma origem privilegiada. A fronteira agora é a fé na palavra libertadora de Jesus. Mesmo pertencendo ao grupo dos que se consideram salvos, se não houver essa fé, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus.

Para a comunidade de Mt, o centurião torna-se figura de identificação (como já era o centurião em Mc 15,39), homem de fé e humildade que respeita a lei e a preferência de Israel (cf. 15,21-28) e ao mesmo tempo símbolo da comunidade “católica”, ou seja, de “todos os povos” que confiam na palavra de Jesus mesmo sem sua presença física (28,20).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1852), comenta sobre a fé nos evangelhos sinóticos:

Essa fé, que Jesus requer desde o princípio da sua atividade (Mc 1,15) e que ele continuará a requerer sempre, é um sentimento de confiança e de abandono pelo qual o homem desiste de contar com os seus próprios pensamentos e com suas forças, para entregar-se a palavra e ao poder daquele em que crê (Lc 1,20.45; Mt 21,25p.32). Jesus exige-a sobretudo por ocasião de seus milagres (8,13; 9,2p.22p.28-29; 15,28; Mc 5,36p; 10,52p; Lc 17,19), que são menos atos de misericórdia do que sinais da sua missão e do reino (8,3 etc., cf. Jo 2,11); assim ele não pode realizá-lo quando não encontra a fé que lhes pode dar o verdadeiro sentido (12,38-39; 13,58p; 16,1-4). Exigindo um sacrifício do Espírito e de todo ser, a fé é um difícil gesto de humildade (18,6p), que muitos se recusam a fazer, particularmente em Israel (8,10p; 15-28; 27,42p; Lc 18,8), ou o fazem pela metade (Mc 9,24; Lc 8,13). Os próprios discípulos demoram a crer (8,26p; 14,31; 16,8; 17,20p), mesmo depois da ressurreição (28,17; Mc 16,11-14; Lc 24,11.25.41). Até a fé mais sincera do seu chefe, a “rocha” (16,16-18) será abalada pelo escândalo da paixão (26,69-75p), mas triunfará dele (Lc 22,23). A fé, quando forte, opera maravilhas (17,20p; 21,21p; Mc 16,17), alcança tudo (21 ,22p; Mc 9,23), particularmente a remissão dos pecados (9,2p; Lc 7,50) e a salvação, da qual é a condição indispensável (Lc 8,12; Mc 16,16, cf. At 3,16).

Entrando Jesus na casa de Pedro, viu a sogra dele deitada e com febre. Tocou-lhe a mão, e a febre a deixou. Ela se levantou, e pôs-se a servi-lo (vv. 14-15).

Como terceiro milagre, Mt conta a cura da sogra de Pedro. Para Mc (e Lc) é o milagre que seguia à cura de um homem possuído na sinagoga de Cafarnaum, omitido por Mt por ser ofensivo aos ouvidos dos seus leitores judeu-cristãos. Mas também em Mt, a cura da sogra continua sendo a cura de uma mulher em casa de família depois da cura de um homem em espaço público (em Mt: o centurião, ou seja, o filho dele).

O milagre da cura da sogra de Pedro é tão pequeno que corre o risco de passar despercebido; Mt abreviou ainda o relato de Mc, omitindo o pedido dos apóstolos (cf. Mc 1,30; Lc 4,38). Mt não fala mais nada sobre a família de Pedro que era casado (cf. 1Cor 9,5), só importa a ação de Jesus. A presença dele na comunidade liberta as pessoas do mal. Em resposta, as pessoas libertadas se põem a serviço da comunidade.

Quando caiu a tarde, levaram a Jesus muitas pessoas possuídas pelo demônio. Ele expulsou os espíritos, com sua palavra, e curou todos os doentes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: “Ele tomou as nossas dores e carregou as nossas enfermidades” (vv. 16-17).

O sumário em v. 16 mostra que as três curas anteriores eram exemplos de muitas outras. Mt copiou as palavras de Mc 1,32-34 e salienta que Jesus “curou todos os doentes”. Em v. 17 substitui o segredo do messias (a ordem de Jesus de não divulgar seus milagres e sua identidade de messias/Filho de Deus que Mc havia anotado tantas vezes para evitar o mal-entendido de um messias nacionalista e guerreiro). Em vez disso, Mt emprega mais um cumprimento da profecia: “para se cumprisse o que foi dito pelo profeta …” (cf. 2,15.17.23; 8,17; 12,17; 13,35; 21,4; 26,54.56; 27,9; e ainda 3,3; 11,10; 13,14).

”Ele tomou nossas dores e carregou as nossas enfermidades” (Is 53,4). Para o profeta Isaías, o servo de Javé “tomou” sobre si nossas dores pelo seu próprio sofrimento expiador. Mt entende aqui que Jesus as “tomou”, removendo-as através de suas curas miraculosas. Outras vezes Mt se refere às profecias de Is a respeito do servo de Javé. Em 12,18-21, cita Is 42,1-4 (em grego, a palavra significa mais “menino” do que “servo” e, neste sentido, já foi aplicada no batismo de Jesus, o “Filho de Deus”, cf. 3,17p). Em 26,28, Mt acrescenta que o sangue de Jesus será derramado por muitos “para remissão dos pecados” (cf. Is 53,12; cf. Jo 1,29). Assim o “servo-filho” vem tomar sobre si a expiação dos pecados e pode aliviar os homens de seus males e dores que são consequência e pena do pecado.

O site da CNBB comenta: Ele tomou as nossas dores e carregou sobre si as nossas enfermidades. Jesus é solidário com todos os que sofrem e é sempre uma presença de amor em suas vidas. A sua presença manifesta o amor que Deus tem pelo gênero humano. Quem tem fé verdadeira é sempre capaz de ver a presença de Jesus na sua própria vida, principalmente nos momentos de sofrimento e de dor, e sente os efeitos dessa presença amorosa. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que manifesta a todos os que sofrem esta presença e esta solidariedade de Jesus, e o faz através do serviço, ou seja, tornando-se ele próprio uma extensão do braço amoroso de Jesus que atua nos momentos difíceis da vida de todos.

 

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