03 de julho de 2018, terça-feira: São Tomé – Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”

Leitura: Ef 2,19-22

A leitura foi escolhida por falar da Igreja que tem “como fundamento os apóstolos” (v. 20; cf. Pedro em Mt 16,18). A nossa Igreja Católica é “apostólica”, não só porque vem do tempo dos apóstolos. Nossa religião cristã não é puro mito nem ficção, mas baseia-se no “testemunho ocular” (cf. Jo 1,14s; 1Jo 1,1-3) de homens reais que seguiram Jesus de perto desde o tempo do seu batismo até sua ressurreição (cf. At 1,22-23). O apóstolo Tomé foi um deles (cf. evangelho de hoje).

A carta aos Efésios tem muitas semelhanças com a carta aos Colossenses e ambas apresentam uma igreja e teologia mais evoluídas do que nas primeiras cartas de Paulo. Este fato leva muitos exegetas a considerá-las cartas “deuteropaulinas”, ou seja, não escritas pelo próprio apóstolo Paulo, mas por discípulos em nome dele, talvez por Epafrás (cf. Cl 1,7; 4,2; Fm 23) ou Tíquico (At 20,4; Ef 6,21-22; Cl 4,7; 2tm 4,12; Tt 3,12) por volta de 80 d.C; não se trataria de uma falsificação, pois era costume de época para permanecer na tradição e no espírito do mestre apóstolo.

No cap. 2, o autor da carta falou sobre a inimizade entre judeus e pagãos, superada pelo Cristo: ”Vós que agora estáveis longe, fostes tornados próximos pelo sangue de Cristo. É ele, com efeito, que é nossa paz. Do que era dividido, fez uma unidade. Em sua carne destruiu o muro da separação: o ódio” (vv. 13-14). Na área do templo de Jerusalém, havia um muro que interditava aos pagãos, sob pena de morte, o acesso ao santuário (cf. At 21,28s). A cidade e este templo, porém, foram destruídos pelos romanos em 70 d.C.

Já não sois mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos. Sois da família de Deus (v. 19).

Aos membros da comunidade de Éfeso, uma cidade grega na atual Turquia, afirma-se que não são mais estrangeiros nem migrantes no povo de Deus, mas “concidadãos dos santos”. Os “migrantes”, ao contrário dos estrangeiros de passagem, eram reconhecidos pela lei, admitidos a residir na Terra Santa, sem todavia gozar de pleno direito de cidadania (cf. Ex 12,48). Os “santos” podem ser os membros do povo de Deus, os batizados (cf. 1,1; At, 9,13 etc.). A perspectiva celeste desta carta (cf. Dn 7,25.27) e suas afinidades com o judaísmo tardio (por ex. Qumran) podem aludir também aos anjos, à comunidade do céu (cf. Cl 1,12; Hb 12,22-23). Pensa-se ainda nos judeu-cristãos representando o resto santo de Israel, ao qual os pagão-cristãos são associados (cf. Rm 15,25; 1Cor 16,1; 2Cor 8,4; 9,12). Da Igreja em Jerusalém, o título passa a todos os cristãos (cf. Rm 1,7; 12,13). Da “família de Deus” são todos os que fazem a vontade de Deus, ouvem sua Palavra e a praticam (Mc 3,35p); pelo Espírito, os batizados são “filhos de Deus” (cf. Rm 8,14-17; Gl 3,26-28; 4,4-7).

Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal. É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor. E vós também sois integrados nesta construção, para vos tornardes morada de Deus pelo Espírito (vv. 20-22).

No sentido metafórico, “casa” significa as pessoas da família e criados (cf. Gn 15,3; 2 Sm 7; At 16,7 etc.). Israel se chamava Casa de Deus, e no meio dela habitava Javé Deus no “templo santo” (cf. Dt 12), agora somos membros da Casa de Deus, que é também um templo espiritual (cf. Jo 2,18-22p; 4,21-24; 1Cor 3,9-16; 6,19; sobre o alicerce cf. Is 28,16; Ap 21,14). Lembramos que o templo de Jerusalém já foi destruído em 70 d.C., agora resta só um templo espiritual.

Cristo compara-se com uma “pedra angular (principal)” em Mc 12,10p (citação de Sl 18,22). Alguns pensam aqui na pedra angular de base (Cristo em 1Cor 3,11; Pedro em Mt 16,18); outros na pedra do cimo, que faz a abóbada não cair; este último combina melhor com o tema da soberania de Cristo salientada nesta carta. A igreja tem como fundamento “os profetas e os apóstolos” (cf. Lc 11,49-51) ou aqueles que participam na comunidade com os apóstolos da revelação do mistério de Deus (3,5; 4,11-12; At 11,27; 13,1; 15,32; 21,9-10; 1Cor 12-14; Ap 1,3…).

Estamos acostumados pensar numa igreja construída de pedras, tijolos, cimento. Mas antes que uma só igreja fosse construída (só aconteceu depois do término da perseguição em 313 d.C.), pensava-se numa casa espiritual, um estranho edifício que se transforma em templo, feito de pedras vivas e capaz de crescer (vv. 21-22; 1Pd 2,4-8). Não é mais num lugar fixo, mas na assembléia, nas pessoas de fé que Deus se faz presente (cf. Mt 18,20; Jo 2,20-22; 4,20-24; 14,23). A Trindade vem morar na Igreja, que é “Povo de Deus (Pai), Corpo de Cristo, Templo do Espírito”. A Conferência Episcopal Latino-americana em Aparecida em 2007 chamou a Igreja também “Casa dos pobres” e “Escola de comunhão”.

 

Evangelho: Jo 20,24-29

“Tomé, chamado Dídimo”, era um dos doze apóstolos. Dídimo é tradução grega do nome hebraico Tomás (ou Tomé) e significa “gêmeo”. Como os outros apóstolos, deve ser natural da Galiléia, provavelmente pescador, embora sua dúvida no evangelho de hoje o faça parecer como cético moderno que só quer acreditar em evidências ou provas científicas. No evangelho de Jo, além de crítico, é sincero, espontâneo, com caráter impulsivo, como o de Pedro, com o qual tem certas semelhanças. Mateus, Marcos e Lucas, os três primeiros evangelistas, apenas o recordam na lista geral dos doze apóstolos (Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15 e At 1,13). O evangelho de João, porém, refere-se a Tomé em quatro episódios (11,16; 14,15; 20,24-28; 21,2).

O primeiro: Quando Jesus decidiu ir à cidade de Betânia para ressuscitar Lázaro, era uma situação arriscada e os discípulos, certamente, tiveram medo. Tomé se manifesta assim: “Nós vamos e morremos contigo!” (11,16; cf. Pedro em 13,36-38). O Papa Bento XVI comentou assim: “É exemplar a sua determinação em seguir o mestre e nos oferece uma lição: total disponibilidade, a ponto de identificar o próprio destino com o de Jesus e desejar participar com ele da provação suprema.”

O segundo episódio acontece na última ceia, quando Jesus está se despedindo e os discípulos ficam tristes. Jesus diz: “Vós sabeis para onde eu vou e conheceis o caminho” (14, 4). Tomé intervém: “Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?” (14,5). As palavras de Tomé dão a Jesus a oportunidade de dizer uma das frases mais bonitas do evangelho: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (14,6).

O Evangelho de hoje apresenta o terceiro e mais extenso episódio:

Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!”. Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei” (vv. 24-25).

O quarto evangelho narra que “no primeiro dia da semana”, Maria Madalena “viu” o túmulo vazio e depois Jesus ressuscitado (20,1-2.11-18). Pedro e o outro discípulo verificaram o túmulo vazio; o discípulo amado (suposto autor do evangelho, cf. 21,24) “viu e acreditou” (vv. 3-10.

Ao anoitecer daquele mesmo dia, Jesus apareceu aos discípulos no cenáculo, mas “Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio” (v. 24). Como antes Maria Madalena (v. 18), agora os discípulos afirmam: “Vimos o Senhor” (cf. 14,19; 16,16; 21,7). Tomé, porém, não acredita na palavra deles (cf. Lc 24,11), quer ver para crer. Tomé quer identificar Jesus pelas marcas corporais da crucificação que os outros devem ter mencionado no seu relato (cf. v. 20).

Na narração, Tomé ainda estava sob o impacto da sexta-feira Santa: a prisão de Jesus, os golpes dos soldados, a flagelação, a crucificação e o furo com a lança do soldado que verificou a morte (19,34). Tomé quer certificar-se com os próprios dedos e as próprias mãos, apalpando as chagas das mãos e do peito do crucificado. Não exige um milagre para acreditar. O papa Bento XIV (séc. 18) disse quem determina se é milagre ou não, é a ciência; se chegar à conclusão de que algo não pode ser explicado por nenhuma causa natural, física, humana, então pode ser milagre.

Todos os evangelhos apresentam narrações que querem mostrar a realidade da ressurreição. Contudo, como a ressurreição é meta-história, é impossível prová-la (como é impossível provar a existência de Deus, porque ele é metafísico; provar só se pode coisas deste mundo). É uma questão de fé, não de ciência. Mas a ressurreição de Jesus também não está totalmente fora deste mundo (no fim do mundo), porque se situa a partir de certo momento da história e de certas pessoas que a testemunham e anunciam.

Em defesa (apologia) da ressurreição, Mc apresentou o túmulo vazio; Mt acrescentou o suborno de soldados que vigiavam o túmulo lacrado; em Lc, Pedro verifica o túmulo vazio e o ressuscitado come um peixe para mostrar aos discípulos que não era um fantasma. Em Jo, Pedro verifica os panos de linho dentro do túmulo e Tomé quer um prova empírica de que os apóstolos não sonharam nem alucinaram nem mentiram. Ele representa a dúvida de qualquer pessoa de fora, daquela época e de hoje, “que não estava presente quando Jesus veio” (v. 24).

Agora Jesus será identificado pela cruz (cf. Mc 16,6p). Já em Lc 24,39, o próprio ressuscitado convida para tocar suas mãos e seus pés para os discípulos verificarem que não é um fantasma. Em Jo 20,20.27 trata-se da continuidade entre o Jesus que sofreu e o Jesus que está sempre com eles (cf. Hb 2,18). Tomé conhecia bem o rosto de Jesus, mas pede somente tocar nas chagas. São os sinais de um infinito amor (15,13) e foram gloriosamente conservados. ”Jesus pode agora ser reconhecido mais por suas feridas do que por sua face. Os sinais que confirmam a sua identidade são acima de tudo as suas chagas, nas quais ele revela o quanto nos amou. Nisso o Apostolo não está errado” (Bento XVI).

Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco” (v. 26).

Importante é a data “oito dias depois”, quer dizer, é domingo novamente, o primeiro dia da semana em que os discípulos (e a comunidade dos leitores) se reúnem e Jesus ressuscitado se faz presente novamente na fração do pão (At 20,7). A maneira como o evangelista colocou esta data, já é um reflexo do costume dos primeiros cristãos de se reunirem e celebrarem o domingo, mais do que o sábado (cf. Mc 2,27s; 3,4; Jo 5,17 etc.).

“Domingo” (do latim dies domini) significa: dia do Senhor (cf. Ap 1,10) por causa da ressurreição do Senhor. Hoje em dia, todas as igrejas cristãs celebram o domingo como dia sagrado (exceto os “adventistas do sétimo dia” que voltaram ao costume judaico de celebrar o sábado).

As “portas fechadas por medo dos judeus” (v. 19), agora servem para demonstrar mais uma vez o poder sobrenatural do corpo do ressuscitado, e novamente, Jesus pronuncia a saudação costumeira da paz (“shalom alehem”) que só na boca do ressuscitado ganha sentido pleno (vv. 19.26; cf. 14,27).

Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (v. 27).

Jesus se apresentou no meio de todos, exatamente como no domingo anterior. Não dedica a Tomé uma aparição a sós: é no meio da comunidade que poderá ver Jesus e professar a fé. Diferente de Maria Madalena (20,17), Jesus concede a Tomé de tocar nele. Como que desafiando, Jesus aceita submeter-se à prova exigida, mas exige fé: “Põe o teu dedo aqui… e não sejas incrédulo, mas fiel”. O ressuscitado não foge da prova empírica, mas necessária não seria para fé, porque Tomé podia ter chegado a fé antes dela, como? Acreditando nos outros apóstolos.

O evangelho não diz se Tomé verificou ainda com o tato ou se contentou com o ver. Importante é que as chagas do crucificado estejam em destaque outra vez. O corpo torturado do homem Jesus permanece o templo de Deus (cf. 2,19-22). A unidade entre o verbo divino (logos, 1,1s) e o homem de Nazaré, iniciada pela encarnação (1,14) não foi suspensa, nem pela morte. O verbo não volta ao céu deixando o corpo atrás como embalagem vazia.

Em Jo, o sofrimento na cruz é chamado de (início da) glorificação (cf. 12,23; 17,1), portanto, o ressuscitado na sua glória não pode ser outro do que o homem sofrido. Sobre o lado aberto pela lança (19,34), P. Canísio diz: “Abrindo-me o teu corpo, deu-me de beber a água da fonte, agora estou salvo!” No quadro pintado a mando da Ir. Faustina Kowalski, do lado aberto do ressuscitado saem um raio azul-branco (água) e outro vermelho (sangue).

Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28).

Agora Tomé pode pronunciar a profissão mais sublime em todo este evangelho: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). A profissão de fé em Tomé é plena. No judaísmo, “meu Senhor” (adonay) substitui depois do exílio o nome não pronunciado de Javé (Yhwh). “Meu/nosso Deus” é titulo clássico da aliança. Os dois títulos estão unidos em Sl 35,23: “Desperta, levanta-te em minha defesa, meu Deus e meu Senhor, em minha causa” (os dois verbos, “despertar, levantar”, aludem à ressurreição). Com esta profissão de Tomé chegam ao cume todas as afirmações do caráter divino de Jesus ao longo do evangelho (cf. 1,34; 3,35; 6,69; 9,33; 10,30.36.38; 14,7.9ff; 16,27; 17,11.21).

Jesus não substitui o Deus de Israel, mas ele é Deus no sentido de 1,1-18: Sendo o verbo divino, o encarnado participa da divindade e representa Deus no mundo. Neste sentido, no judaísmo helenista, também Moisés podia ser chamado “deus para Israel” (cf. Ex 14,31; Nm 12,6-8; cf. Jo 1,18). O ressuscitado é para Tomé e para todos quantos desdobrem no crucificado a presença divina, o “seu Deus”. Aliás, a fórmula usada por Tomé pode demonstrar uma crítica à ideologia dos imperadores romanos que se deixavam chamar “senhor e deus” (por ex. Domiciano, a besta-fera do Ap 13) para se apresentarem como representantes dos deuses. Para um cristão, porém, o poder divino não pode ser representado por nenhum rei ou imperador, mas somente por Cristo.

“Mais nos serviu a incredulidade de Tomé do que a fé dos discípulos fiéis” (S. Gregório Magno). A dúvida do cético dá lugar à fé em Jesus, Senhor e Deus (cf. 1,1.14; 8,24.27.57; 10,30; 13,19; 18,6). Tomé tornou-se testemunha ocular também. Da realidade do ressuscitado, Tomé podia se verificado com seus olhos e suas mãos, e hoje, poderia ainda usar aparelhos científicos. Tomé era incrédulo pedindo provas palpáveis, somente crê nos milagres indubitáveis; que ironicamente, pela sua teimosia, acaba sendo testemunha excepcional. Serve de aviso para todos os que no futuro terão de crer por sua palavra, pela mediação do testemunho apostólico dos que “viram”, ou seja, conviveram com Jesus (cf. 1Jo 1,1-3: “o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos e nossas mãos tocaram…”).

Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (v. 29).

Jesus não repreendeu a Tomé, também os outros discípulos “viram” Jesus oito dias antes. O “ver” devia levar a “crer” (cf. 1,14; 1,39.50s; 2,11; 4,48; 6,2; 11,45). O evangelista não dispensa sinais que ajudam acreditar (cf. 20,8: o discípulo amado diante dos lençóis no túmulo vazio, “viu e creu”), mas muitos dos que viram Jesus (não como ressuscitado), não creram (6,26.36; 15,24). Tomé está agora junto com os outros discípulos que viram e acreditaram (1,34; 9,37f; 19,35; 20,8).

Ao mesmo tempo, Jesus fala indiretamente que o tempo dos testemunhos oculares acabou. Felicita aqueles que não poderão mais vê-lo, mas acreditarão (cf. a definição da fé em Hb 11,1). A atuação visível de Jesus chegou ao fim, afora poderia terminar o livro do evangelho em 20,30s.

A profissão de fé feita por Tomé e a declaração final de Jesus finalizam a versão original do evangelho de João (cap. 21 é um acréscimo evidente, cf. o primeiro final do evangelho em vv. 30-31 e outro em 21,25). Igual aos finais dos outros evangelhos, dirige-se o olhar ao futuro (como em 17,20). Os apóstolos têm tido uma função especial, a de testemunhas oculares para dar testemunho do ressuscitado. Os futuros terão de aceitar esse testemunho e crer. Para eles há uma bem-aventurança especial (1Pd 1,8). Tomé representa o leitor que não participou da aparição. Na dúvida de Tomé, os leitores devem reconhecer a sua própria; através desta narração devem desistir a exigir provas palpáveis que não são mais possíveis (como para Tomé foram concedidas), mas chegar a mesma conclusão de fé como Tomé.

O nome de Tomé aparece mais uma vez no anexo de João numa lista de sete apóstolos a caminho da pesca milagrosa (21,2). Seu nome está em segundo lugar, depois de Simão Pedro! Este capítulo 21 foi acrescentado para esclarecer melhor o papel de Pedro como primeiro dos apóstolos (21,15-19), porque na versão original do evangelho se falava pouco dele, mencionava mais outros apóstolos. Pedro aparece mais vezes só no relato da paixão (e não muito favorável, cf. 13,6.8.36-37; 18,10.15-18.25-27; 20,2-10); antes, só fala uma vez professando sua fé em 6,68, enquanto os outros também o fazem, antes e depois: André já em 1,41; Natanael em 1,49; os samaritanos em 4,42; o cego curado em 9,38; Marta em 11,27 e Tomé em 20,28.

Tomé, desligado do grupo dos “doze”, representa um papel importante. Fora da comunidade, estamos em perigo de duvidar, dentro da comunidade reencontramos a fé no ressuscitado. De certo modo, devemos ser críticos e não acreditar em qualquer coisa, em qualquer pessoa, em qualquer religião. Mas no testemunho dos apóstolos há de se acreditar, porque antes eram fracos na fé, mas depois da ressurreição de Jesus deram sua própria vida pela fé.

  1. Tomé também era “mártir” (a palavra grega significa simplesmente “testemunha”, mas no sentido atual é alguém que deu testemunho com seu sangue, com sua vida). A tradição afirma que Tomé foi para o oriente (Síria, Iraque, Pérsia e Índia), onde foi martirizado. Os cristãos caldeus no Iraque (hoje tal perseguidos) e os de rito malabar no sul da Índia se consideram “discípulos de São Tomé”. Talvez por isso a alusão de sua vinda aos “índios” do Brasil, recordada por Pe. Antônio Vieira:

Padre Antônio Vieira, num sermão do Espírito Santo, diz que depois da ressurreição os apóstolos foram enviados pelo mundo inteiro. “A São Pedro, coube-lhe Roma e Itália, a São João, a Ásia Menor; São Tiago, Espanha; Mateus, Etiópia; São Judas Tadeu, o Egito, São Tomé, foi enviado ao Brasil.” Ele perguntou, porque São Tomé e não outro apóstolo? A resposta foi para que pagasse o preço de sua incredulidade, ensinando pessoas tão duras, tão incrédulas. “Quando os portugueses chegaram aqui encontraram as pegadas do Apóstolo São Tomé numa pedra nas praias da Bahia, mas nenhum sinal da doutrina nos corações dos homens que habitaram a nossa terra!” Daí a necessidade da evangelização no Brasil.  

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