05 de Julho de 2017 – Quarta-Feira, 13º Semana

Leitura: Gn 21,5.8-20

Ouvimos na leitura de hoje do nascimento de Isaac, o filho da promessa e herdeiro, alegria para Abraão, mas ao mesmo tempo causa lhe desgosto a expulsão do outro filho, Ismael, ancestral dos árabes. Deus, porém, cuidará dos dois (em dois estados diferentes, Israel e Palestina?).

Nos vv. 1-7, o narrador conta o nascimento. Finalmente chega o acontecimento esperado, o nascimento do herdeiro, e o autor o registra com sobriedade. Põe-no sob o signo do cumprimento: Deus cumpre o prometido, Abraão cumpre a ordem da aliança: dá o nome Isaac a seu filho e o circunda no oitavo dia (vv. 3-4; cf. 17,12.19).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 40) comenta: Associando a circuncisão de Isaac ao riso relacionado ao nome (v. 6, cf. 17,17; 18,12-15 e 21,9), esta narrativa pós-exílica reforça a circuncisão e a apresentação de Isaac como filho de Abraão (cf. Gn 17 e 18,1-16). Não se fala de circuncisão dos outros filhos de Abrão, de Isaac ou de Jacó. Antes do exílio só é associada as tribos de Simeão e Levi (Gn 34)

Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac (v. 5).

O redator sacerdotal sempre registra os números e a genealogia: com 75 anos Abrão saiu da sua terra (12,5) e tinha 86 anos quando nasceu Ismael (16,16) e 99 anos quando foi circuncidado (17,24). Viverá ainda mais 75 anos (25,7). Os números são exageros como em todos os mitos de origem (cf. cap. 5; 9,28). Mas nós também percebemos os nossos antepassados sempre mais velhos (ex. em fotos de preto e branco) do que eram.

Entretanto, o menino cresceu e foi desmamado; e no dia em que o menino foi desmamado, Abraão deu um grande banquete. Sara, porém, viu o filho que a egípcia Agar dera a Abraão brincando com Isaac. E disse a Abraão: “Manda embora essa escrava e seu filho, pois o filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac”. Abraão ficou muito desgostoso com isso, por se tratar de um filho seu (vv. 8-11).

Desmamar costuma ser durante o terceiro ano (cf. 2Mc 7,27). Fazem festa porque o menino superou os perigos da infância. Ismael, filho mais velho de 14 anos, acompanha seu irmão e  “estava brincando”, lit. “rindo”. Mais uma alusão ao nome de Isaac (“ele riu”, vv. 6.9; cf. 17,17; 18,12-14; 21,6). O texto grego e latim (Vulgata) e nossa tradução litúrgica acrescentam aliás: “com seu filho Isaac”.

Este brincar parece suspeito a Sara. A esposa Sara teme que o filho da escrava (mãe de aluguel, cf. Gn 16) ascenda a condição de herdeiro como filho mais velho de Abraão. Sara descobre a transcendência de uma brincadeira desinteressada; não sabe entrar na fraternidade espontânea dos dois meninos, anterior a toda lei. Abraão que é pai de ambos, e inclusive reconhece em Ismael as primícias de sua virilidade, sofre grave desgosto: não se deve perturbar as brincadeiras infantis com cálculos interesseiros.

Autores antigos e alguns modernos, atribuíram a Ismael na brincadeira uma intenção perversa que não está no texto nem no contexto. Paulo segue uma tradição rabínica quando escreve em Gl 4,29s: “O filho nascido segundo a carne perseguia o filho nascido segundo o espírito” (cf. Gl 4,22-31). Mas se Ismael fosse um menino precocemente pervertido, Abraão não teria levado tão a mal o pedido de Sara.

Mas Deus lhe disse: “Não te aflijas por causa do menino e da tua escrava. Atende a tudo o que Sara te pedir, pois é por Isaac que uma descendência levará o teu nome. Mas do filho da escrava farei também um grande povo, por ele ser da tua raça” (vv. 12-13).

O estranho é que Deus se ponha ao seu lado de Sara: os ciúmes da mãe convergem com o projeto de Deus (17,19-21). A tradição judaica e Gl 4,29 veem aqui a vestígio de uma perseguição que justificou a expulsão da mãe e do filho. Em compensação, Deus promete a Abraão fazer de Ismael também um grande povo “por ele ser da tua raça” (16,10; 17,20).

Não se trata apenas de uma novela de família com fortes emoções num drama psicológico. Na narrativa de Abraão, Isaac e Jacó, os redatores recolheram tradições distintas e tentaram uni-las numa história de família e parentescos que refletem as relações de diversos grupos (camponeses e pastores, exilados e remanescentes), tribos (do norte/Israel e do sul/Judá) e nações vizinhas. Para criar união, Abraão é apresentado como ancestral comum, não de maneira imparcial, mas do ponto de vista do judaísmo pós-exílio. Ainda hoje existe o conflito entre judeus (descendentes de Isaac) e palestinos, que são da etnia árabe (descendentes de Ismael), mas as causas são mais de natureza política do que religiosa (ocupação e direitos à terra, água, etc.). Aliás, nem todos os árabes são muçulmanos; existem também árabes cristãos entre os palestinos.

Abraão levantou-se de manhã, tomou pão e um odre de água e os deu a Agar, colocando-os nos ombros dela: depois, entregou-lhe o menino e despediu-a. Ela foi-se embora e andou vagueando pelo deserto de Bersabeia. Tendo acabado a água do odre, largou o menino debaixo de um arbusto, e foi sentar-se em frente dele, à distância de um tiro de arco. Pois dizia consigo: “Não quero ver o menino morrer”. Assim, ficou sentada defronte ao menino, e pôs-se a gritar e a chorar (vv. 14-16).

Abraão “levantou-se de manhã” (cf. 22,3) para despedir Agar, deu pão e água e “colocou sobre o ombro dela e a criança a expulsou” (lit.). Nossa tradução e outras fazem uma ligeira correção do texto que parece impor-se para torná-lo inteligível; o texto masorético (hebraico atualizado com vocalização) provavelmente quis evitar entrar em contradição com 17,25; não se põe um menino de 14 anos sobre os ombros da mãe. Mesmo com pouco de pão e água, mandar uma mulher com um menino ao deserto equivale uma sentença de morte, sem conhecer os caminhos e os poços.  “Andou vagueando pelo deserto de Bersabeia”. Bersabeia (o nome significa Poço do juramento ou poço dos Sete) fica 75 km ao sul de Jerusalém, na entrada do deserto do Negueb (cf. 21,14.33; 22,19; 26,33s; 46,1-5) e está ligada ao ciclo de Isaac.

A Bíblia do Peregrino (p. 45) comenta: A cena é de patetismo sóbrio e impressionante. Com três personagens se monta e se resolve um drama que se transforma em tragédia. O personagem Deus não é um deus ex machina, mas um ser compassivo e consolador. O pranto infantil contrasta com a brincadeira anterior e chega ao céu.

Deus ouviu o grito do menino e o anjo de Deus chamou do céu a Agar, dizendo: “Que tens Agar? Não tenhas medo, pois Deus ouviu a voz do menino do lugar em que está. Levanta-te, toma o menino e segura-o bem pela mão, porque farei dele um grande povo”. Deus abriu-lhe os olhos, e ela viu um poço de água. Foi então encher o odre e deu de beber ao menino. Deus estava com o menino, que cresceu e habitou no deserto, tornando-se um jovem arqueiro (vv. 17-20).

O relato tem seu paralelo em cap. 16, quando Agar gravida fugiu dos maus-tratos de Sara para o deserto, mas um anjo do Senhor lhe apareceu e o consolou mandando de volta, mas com a promessa de grande descendência para o menino.

Como já em cap. 16,11 “o Senhor ouviu a aflição” da mulher, aqui “Deus ouviu o grito do menino” (cf. no deserto do Sinai, o Senhor disse: “Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito, ouvi o seu clamor… Por isso desci a fim de libertá-lo”, Ex 3,7s). O nome de Ismael significa “Deus (El) escuta/escute”: a alusão está indicada, mas não explorada.

“Deus abriu-lhe os olhos, e ela viu um poço de água” (cf. 16,7.13s). Conhecendo os poços e caminhos no deserto, torna se possível a vida no deserto. “Deus estava com o menino, que cresceu e habitou no deserto” (cf. João Batista em Lc 1,80).

O menino, como filho de Abraão, goza do favor e da proteção de Deus. Os ismaelitas não desempenham papel importante na história bíblica, porém são as tribos dos árabes do norte da península que se consideram descendentes de Abraão e Ismael e adoradores do único deus Alá. Conforme sua tradição foi Ismael a quem Deus pediu em sacrifício (Gn 22: Isaac; o Alcorão diz apenas “filho”, cf. leitura de amanhã) e, com seu pai, Ismael teria construído o santuário da Caba em Meca, lugar da maior romaria dos muçulmanos.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 40) comenta: Talvez aqui esteja a tradição mais antiga (cf. 16,1-16) sobre a origem dos ismaelitas (Ismael, “Deus El ouviu”, v. 17) e a sua rivalidade com os descendentes de Isaac… Ambos disputavam os poços e a escassa postagem do sul de Judá (cf. 21,22-34). No Deus Elohim que ouve a voz do rapaz e é solidário com a serva estrangeira e oprimida aparece o fundamento sagrado mais genuíno da fé dos profetas e de Jesus.

Evangelho: Mt 8,28-34

Ouvimos hoje um exorcismo de Jesus em terra pagã. Mt copia quase todo conteúdo do evangelho de Mc, mas geralmente o resume um pouco. Em Mc 5,1-20, a primeira atuação de Jesus em terreno pagão era logo um exorcismo de dimensão colossal e descrito com muitos detalhes e vivacidade. Mt é bem mais sóbrio e reduz este relato de Mc pela metade (Mt já omitiu o exorcismo na sinagoga e Cafarnaum narrado por Mc 1,21-28).

Não só de Jesus, mas também de outras pessoas contemporâneas se contava este tipo de curas, principalmente na cultura helenista. No Antigo Testamento, poucos demônios são mencionados, pertencem às crenças populares ou são às vezes identificados com deuses estrangeiros (cf. Lv 16,8.10; 17,7; Dt 8,15; Is 13,21; 30,6; 34,12.14; 1Rs 9,8; Sf 2,15; Ps 91,6; 106,37; cf. Gn 6,1-4). A música de Davi curou o rei Saul de um espírito mau (cf. 1Sm 16,14-23). Para o evangelista Mt e Paulo, a obediência (Mt 7,22s) e a caridade (1Cor 12,28-14,1) valem mais do que o exorcismo.

Havia um gênero de relatos de exorcismo com os seguintes passos: a descrição e a aproximação do possuído (v. 28), o conhecimento sobrenatural da identidade (v. 29), a revelação do nome (“Legião” em Mc 5,9, omitido por Mt), a ordem do exorcista (v. 32), a demonstração da cura através de um gesto do demônio (ex.: gritar, sacudir; aqui a manada dos porcos se afoga, vv. 30-32) e do comportamento normal do ex-possesso (Mc 5,15, omitido por Mt), a reação do povo ao redor (vv. 33s).

Quando Jesus chegou à outra margem do lago, na região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois homens possuídos pelo demônio, saindo dos túmulos. Eram tão violentos, que ninguém podia passar por aquele caminho (v. 28).

Depois da tempestade perigosa no mar da Galileia (lago de Genesaré; cf. evangelho de ontem), Jesus e seus discípulos chegaram à “outra margem” do lago, isto é, à terra estrangeira, “na região dos gadarenos”. Mc 5,1 e Lc 8,26 trazem aqui o termo “gerasenos” ou “gergesênios” que não combinam bem com a geografia. Como Gerasa fica 50 km distante do lago, Mt mudou para “gadarenos”. Gadara, na Transjordania, 10 km a sudeste do lago Genesaré, também fica na Decápole (região das “dez cidades” de cultura e língua gregas). Importa que, para os judeus, é terra dos pagãos.

Mt tem o costume de duplicar as pessoas: em Mc, era um só endemoniado, descrito com muitos detalhes, em Mt são dois endemoniados, em lugar de um só como em Mc e Lc. Do mesmo modo, Mt apresenta dois cegos em Jericó (20,29-31) e dois cegos em Betsaida (9,27-31; aqui duplicou até o milagre que não passa de um decalque do anterior). Esse desdobramento de personagens é um recurso de estilo dentro da liberdade de expressão artística (cf. Lc 24,4; Mt 26,60; Lc 7,18). Mt como judeu-cristão poderia pensar no testemunho que é só vale com duas pessoas (18,16; cf. Dt 19,15).

Eles então gritaram: “O que tens a ver conosco, Filho de Deus? Tu vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?” (v. 29).

As palavras “aqui” e “antes do tempo” são peculiares a Mt, nesta narrativa. A palavra “aqui” acentua que Jesus age em território pagão, “antes do tempo” pode se referir ao tempo do juízo final, em que os demônios serão todos reduzidos a impotência. Mas em 10,5, Jesus envia os discípulos: “Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel.” Entendemos “aqui” e “antes do tempo” dentro do esquema do evangelho de Mt como antecipação da libertação de todas as nações, que chegará só depois da sua ressurreição (28,19s). Antes, Jesus tem de ser revelado a Israel como seu messias prometido pelos profetas. Depois, a salvação se dirige também aos cristãos de origem pagã.

A Bíblia do Peregrino (p. 2335) comenta: Segundo a concepção da época, o mundo dos espíritos perniciosos ou malévolos se associa com o contaminado que mancha também o território pagão, com o doente que contagia (Lv 11,7; Sl 91,6), com o mundo infernal que devora (Jó 18,13). Os demônios sentem a presença de Jesus, reconhecem-no e o confessam filho de Deus, ou Messias. Confissão pesarosa e forçada como a dos inimigos derrotados no AT, “e saberão que eu sou o Senhor” (frequente em Ez). Confissão de impotência e medo, que não vale: “também os demônios creem e tremem de medo” (Tg 2,19).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1853) comenta: Enquanto esperam o dia de julgamento, os demônios gozam de certa liberdade para exercerem as suas sevícias na terra (Ap 9,5), o que eles fazem de preferência possuindo seres humanos (12,43-45). Frequentemente, essa possessão vem acompanhada de uma doença, que como resultado do pecado (9,2), é outra manifestação da ação de satanás (Lc 13,16). Assim os exorcismos do evangelho que, em alguns casos, como aqui, se apresentam no estado puro (cf. 15,21-28p; Mc 1,23-28p; Lc 8,2) apresentam-se, muitas vezes, sob a forma de cura (9,32-34; 12,22-24; 14-18p; Lc 13,10.17). Por seu poder sobre os demônios, Jesus destrói o império de satanás (12,28p; Lc 10,17-19; cf. Lc 4,6; Jo 12,31) e inaugura o reino messiânico do qual o Espírito Santo é a promessa distintiva (Is 11,2; Jl 3,1s). Se os homens recusam a entendê-lo (12,24-32), os demônios as conhecem bem, como aqui e ainda em Mc 1,24p; 3,11p; Lc 4,41; At 16,17; 19,15. Jesus comunica esse poder de exorcismo aos seus discípulos juntamente com o poder de cura miraculosa (10,1-8p), que se prende àquele (8,3; 4,24; 8,16p ; Lc 13,32).

Ora, a certa distância deles, estava pastando uma grande manada de porcos. Os demônios suplicavam-lhe: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.” Jesus disse: “Ide.” Os demônios saíram, e foram para os porcos. E logo toda a manada atirou-se monte abaixo para dentro do mar, afogando-se nas águas (vv. 30-32).

Do relato de Mc 5,1-20, Mt omitiu não só a descrição psicológica do possuído e sua conduta, também omite o diálogo (o nome dos demônios, “Legião”, talvez fosse político demais após a guerra perdida dos judeus contra os romanos). Mt concentra tudo no poder da palavra de Jesus, aliás, é sua única palavra ,“ide (embora)” (cf. 4,10; 16,23), que vai desterrando o poder demoníaco: empurrando-o ao reino do impuro (porcos, cf. Is 66,3.17), ao abismo da perdição (precipício, mar).

Mt só acrescentou que os porcos estavam “a certa distância”. Talvez Mt não quisesse associar o messias de Israel, Jesus, perto dos porcos (cf. 7,6). Os judeus não comiam porcos considerando-os impuros (Lv 11,7), enquanto os pagãos os comiam e os sacrificaram também a seus deuses.

Já em Mc, o afogamento no mar lembra o dos inimigos egípcios em Ex 14,27-30; Mt que apresenta Jesus como novo Moisés (cf. caps. 2 e 5), deve ter gostado e não omite este detalhe que demonstra a gravidade da possessão e sua superação (insinuando que são os demônios que morrem).

Os homens que guardavam os porcos fugiram e, indo até à cidade, contaram tudo, inclusive o caso dos possuídos pelo demônio. Então a cidade toda saiu ao encontro de Jesus. Quando o viram, pediram-lhe que se retirasse da região deles (vv. 33-34).

Em Mt não consta mais o bom comportamento do curado que queria seguir Jesus, mas Jesus o enviou de volta para evangelizar sua família e região (Mc 5,15.18-20). Em Mt, ainda era “antes do tempo” (v. 29) da missão aos pagãos (10,5s; 28,19).

A Bíblia do Peregrino (p. 2335) comenta: Os moradores não demonstram apreciar tal libertação, a sua atitude contrasta com a admiração de outros ante o poder de Jesus. Está bem libertar de demônios dois homens e de sustos a população, mas negócio é negócio.

Mt não menciona o número do prejuízo (Mc 5,13: 2000 porcos). Os antigos interpretaram de várias maneiras: O mundo devia ver o tamanho da maldade desses demônios. Um único homem salvo vale mais do que uma manada de porcos (cf. o lema do fundador da Juventude Operária Cristã, Joseph Cardijn: “Um único operário vale mais do todo ouro do mundo”). Os porcos simbolizam os homens cheios de vícios que perecerão ao final.

Para Mt, porém, o essencial é o poder da palavra de Jesus. Este voltará porque é o messias enviado para curar a Israel (cf. 4,23; 8,1-17). Assim o próximo v. poderia ser conclusão melhor do evangelho de hoje: ”Entrando em um barco, Jesus atravessou para a outra margem do lago e foi para a sua cidade” (9,1; sua cidade é Cafarnaum: 4,13).

O site a CNBB comenta: Apesar de toda evidência do amor de Jesus, existem pessoas que não o aceitam, e fazem isso porque consideram a aceitação de Cristo e de suas exigências como perda de algo a que estão apegados como uma verdadeira idolatria. Para os gadarenos, parece que é melhor ficar com os porcos, mesmo que seja com o diabo junto, do que aceitar um irmão resgatado e reconhecer a manifestação do amor salvífico de Deus. De fato, rejeitar Jesus em vista de algum bem material constitui-se em uma atitude diabólica, uma verdadeira idolatria.

13ª semana 4ª feira

Leitura: Gn 21,5.8-20

Ouvimos na leitura de hoje do nascimento de Isaac, o filho da promessa e herdeiro, alegria para Abraão, mas ao mesmo tempo causa lhe desgosto a expulsão do outro filho, Ismael, ancestral dos árabes. Deus, porém, cuidará dos dois (em dois estados diferentes, Israel e Palestina?).

Nos vv. 1-7, o narrador conta o nascimento. Finalmente chega o acontecimento esperado, o nascimento do herdeiro, e o autor o registra com sobriedade. Põe-no sob o signo do cumprimento: Deus cumpre o prometido, Abraão cumpre a ordem da aliança: dá o nome Isaac a seu filho e o circunda no oitavo dia (vv. 3-4; cf. 17,12.19).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 40) comenta: Associando a circuncisão de Isaac ao riso relacionado ao nome (v. 6, cf. 17,17; 18,12-15 e 21,9), esta narrativa pós-exílica reforça a circuncisão e a apresentação de Isaac como filho de Abraão (cf. Gn 17 e 18,1-16). Não se fala de circuncisão dos outros filhos de Abrão, de Isaac ou de Jacó. Antes do exílio só é associada as tribos de Simeão e Levi (Gn 34)

Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac (v. 5).

O redator sacerdotal sempre registra os números e a genealogia: com 75 anos Abrão saiu da sua terra (12,5) e tinha 86 anos quando nasceu Ismael (16,16) e 99 anos quando foi circuncidado (17,24). Viverá ainda mais 75 anos (25,7). Os números são exageros como em todos os mitos de origem (cf. cap. 5; 9,28). Mas nós também percebemos os nossos antepassados sempre mais velhos (ex. em fotos de preto e branco) do que eram.

Entretanto, o menino cresceu e foi desmamado; e no dia em que o menino foi desmamado, Abraão deu um grande banquete. Sara, porém, viu o filho que a egípcia Agar dera a Abraão brincando com Isaac. E disse a Abraão: “Manda embora essa escrava e seu filho, pois o filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac”. Abraão ficou muito desgostoso com isso, por se tratar de um filho seu (vv. 8-11).

Desmamar costuma ser durante o terceiro ano (cf. 2Mc 7,27). Fazem festa porque o menino superou os perigos da infância. Ismael, filho mais velho de 14 anos, acompanha seu irmão e  “estava brincando”, lit. “rindo”. Mais uma alusão ao nome de Isaac (“ele riu”, vv. 6.9; cf. 17,17; 18,12-14; 21,6). O texto grego e latim (Vulgata) e nossa tradução litúrgica acrescentam aliás: “com seu filho Isaac”.

Este brincar parece suspeito a Sara. A esposa Sara teme que o filho da escrava (mãe de aluguel, cf. Gn 16) ascenda a condição de herdeiro como filho mais velho de Abraão. Sara descobre a transcendência de uma brincadeira desinteressada; não sabe entrar na fraternidade espontânea dos dois meninos, anterior a toda lei. Abraão que é pai de ambos, e inclusive reconhece em Ismael as primícias de sua virilidade, sofre grave desgosto: não se deve perturbar as brincadeiras infantis com cálculos interesseiros.

Autores antigos e alguns modernos, atribuíram a Ismael na brincadeira uma intenção perversa que não está no texto nem no contexto. Paulo segue uma tradição rabínica quando escreve em Gl 4,29s: “O filho nascido segundo a carne perseguia o filho nascido segundo o espírito” (cf. Gl 4,22-31). Mas se Ismael fosse um menino precocemente pervertido, Abraão não teria levado tão a mal o pedido de Sara.

Mas Deus lhe disse: “Não te aflijas por causa do menino e da tua escrava. Atende a tudo o que Sara te pedir, pois é por Isaac que uma descendência levará o teu nome. Mas do filho da escrava farei também um grande povo, por ele ser da tua raça” (vv. 12-13).

O estranho é que Deus se ponha ao seu lado de Sara: os ciúmes da mãe convergem com o projeto de Deus (17,19-21). A tradição judaica e Gl 4,29 veem aqui a vestígio de uma perseguição que justificou a expulsão da mãe e do filho. Em compensação, Deus promete a Abraão fazer de Ismael também um grande povo “por ele ser da tua raça” (16,10; 17,20).

Não se trata apenas de uma novela de família com fortes emoções num drama psicológico. Na narrativa de Abraão, Isaac e Jacó, os redatores recolheram tradições distintas e tentaram uni-las numa história de família e parentescos que refletem as relações de diversos grupos (camponeses e pastores, exilados e remanescentes), tribos (do norte/Israel e do sul/Judá) e nações vizinhas. Para criar união, Abraão é apresentado como ancestral comum, não de maneira imparcial, mas do ponto de vista do judaísmo pós-exílio. Ainda hoje existe o conflito entre judeus (descendentes de Isaac) e palestinos, que são da etnia árabe (descendentes de Ismael), mas as causas são mais de natureza política do que religiosa (ocupação e direitos à terra, água, etc.). Aliás, nem todos os árabes são muçulmanos; existem também árabes cristãos entre os palestinos.

Abraão levantou-se de manhã, tomou pão e um odre de água e os deu a Agar, colocando-os nos ombros dela: depois, entregou-lhe o menino e despediu-a. Ela foi-se embora e andou vagueando pelo deserto de Bersabeia. Tendo acabado a água do odre, largou o menino debaixo de um arbusto, e foi sentar-se em frente dele, à distância de um tiro de arco. Pois dizia consigo: “Não quero ver o menino morrer”. Assim, ficou sentada defronte ao menino, e pôs-se a gritar e a chorar (vv. 14-16).

Abraão “levantou-se de manhã” (cf. 22,3) para despedir Agar, deu pão e água e “colocou sobre o ombro dela e a criança a expulsou” (lit.). Nossa tradução e outras fazem uma ligeira correção do texto que parece impor-se para torná-lo inteligível; o texto masorético (hebraico atualizado com vocalização) provavelmente quis evitar entrar em contradição com 17,25; não se põe um menino de 14 anos sobre os ombros da mãe. Mesmo com pouco de pão e água, mandar uma mulher com um menino ao deserto equivale uma sentença de morte, sem conhecer os caminhos e os poços.  “Andou vagueando pelo deserto de Bersabeia”. Bersabeia (o nome significa Poço do juramento ou poço dos Sete) fica 75 km ao sul de Jerusalém, na entrada do deserto do Negueb (cf. 21,14.33; 22,19; 26,33s; 46,1-5) e está ligada ao ciclo de Isaac.

A Bíblia do Peregrino (p. 45) comenta: A cena é de patetismo sóbrio e impressionante. Com três personagens se monta e se resolve um drama que se transforma em tragédia. O personagem Deus não é um deus ex machina, mas um ser compassivo e consolador. O pranto infantil contrasta com a brincadeira anterior e chega ao céu.

Deus ouviu o grito do menino e o anjo de Deus chamou do céu a Agar, dizendo: “Que tens Agar? Não tenhas medo, pois Deus ouviu a voz do menino do lugar em que está. Levanta-te, toma o menino e segura-o bem pela mão, porque farei dele um grande povo”. Deus abriu-lhe os olhos, e ela viu um poço de água. Foi então encher o odre e deu de beber ao menino. Deus estava com o menino, que cresceu e habitou no deserto, tornando-se um jovem arqueiro (vv. 17-20).

O relato tem seu paralelo em cap. 16, quando Agar gravida fugiu dos maus-tratos de Sara para o deserto, mas um anjo do Senhor lhe apareceu e o consolou mandando de volta, mas com a promessa de grande descendência para o menino.

Como já em cap. 16,11 “o Senhor ouviu a aflição” da mulher, aqui “Deus ouviu o grito do menino” (cf. no deserto do Sinai, o Senhor disse: “Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito, ouvi o seu clamor… Por isso desci a fim de libertá-lo”, Ex 3,7s). O nome de Ismael significa “Deus (El) escuta/escute”: a alusão está indicada, mas não explorada.

“Deus abriu-lhe os olhos, e ela viu um poço de água” (cf. 16,7.13s). Conhecendo os poços e caminhos no deserto, torna se possível a vida no deserto. “Deus estava com o menino, que cresceu e habitou no deserto” (cf. João Batista em Lc 1,80).

O menino, como filho de Abraão, goza do favor e da proteção de Deus. Os ismaelitas não desempenham papel importante na história bíblica, porém são as tribos dos árabes do norte da península que se consideram descendentes de Abraão e Ismael e adoradores do único deus Alá. Conforme sua tradição foi Ismael a quem Deus pediu em sacrifício (Gn 22: Isaac; o Alcorão diz apenas “filho”, cf. leitura de amanhã) e, com seu pai, Ismael teria construído o santuário da Caba em Meca, lugar da maior romaria dos muçulmanos.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 40) comenta: Talvez aqui esteja a tradição mais antiga (cf. 16,1-16) sobre a origem dos ismaelitas (Ismael, “Deus El ouviu”, v. 17) e a sua rivalidade com os descendentes de Isaac… Ambos disputavam os poços e a escassa postagem do sul de Judá (cf. 21,22-34). No Deus Elohim que ouve a voz do rapaz e é solidário com a serva estrangeira e oprimida aparece o fundamento sagrado mais genuíno da fé dos profetas e de Jesus.

Evangelho: Mt 8,28-34

Ouvimos hoje um exorcismo de Jesus em terra pagã. Mt copia quase todo conteúdo do evangelho de Mc, mas geralmente o resume um pouco. Em Mc 5,1-20, a primeira atuação de Jesus em terreno pagão era logo um exorcismo de dimensão colossal e descrito com muitos detalhes e vivacidade. Mt é bem mais sóbrio e reduz este relato de Mc pela metade (Mt já omitiu o exorcismo na sinagoga e Cafarnaum narrado por Mc 1,21-28).

Não só de Jesus, mas também de outras pessoas contemporâneas se contava este tipo de curas, principalmente na cultura helenista. No Antigo Testamento, poucos demônios são mencionados, pertencem às crenças populares ou são às vezes identificados com deuses estrangeiros (cf. Lv 16,8.10; 17,7; Dt 8,15; Is 13,21; 30,6; 34,12.14; 1Rs 9,8; Sf 2,15; Ps 91,6; 106,37; cf. Gn 6,1-4). A música de Davi curou o rei Saul de um espírito mau (cf. 1Sm 16,14-23). Para o evangelista Mt e Paulo, a obediência (Mt 7,22s) e a caridade (1Cor 12,28-14,1) valem mais do que o exorcismo.

Havia um gênero de relatos de exorcismo com os seguintes passos: a descrição e a aproximação do possuído (v. 28), o conhecimento sobrenatural da identidade (v. 29), a revelação do nome (“Legião” em Mc 5,9, omitido por Mt), a ordem do exorcista (v. 32), a demonstração da cura através de um gesto do demônio (ex.: gritar, sacudir; aqui a manada dos porcos se afoga, vv. 30-32) e do comportamento normal do ex-possesso (Mc 5,15, omitido por Mt), a reação do povo ao redor (vv. 33s).

Quando Jesus chegou à outra margem do lago, na região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois homens possuídos pelo demônio, saindo dos túmulos. Eram tão violentos, que ninguém podia passar por aquele caminho (v. 28).

Depois da tempestade perigosa no mar da Galileia (lago de Genesaré; cf. evangelho de ontem), Jesus e seus discípulos chegaram à “outra margem” do lago, isto é, à terra estrangeira, “na região dos gadarenos”. Mc 5,1 e Lc 8,26 trazem aqui o termo “gerasenos” ou “gergesênios” que não combinam bem com a geografia. Como Gerasa fica 50 km distante do lago, Mt mudou para “gadarenos”. Gadara, na Transjordania, 10 km a sudeste do lago Genesaré, também fica na Decápole (região das “dez cidades” de cultura e língua gregas). Importa que, para os judeus, é terra dos pagãos.

Mt tem o costume de duplicar as pessoas: em Mc, era um só endemoniado, descrito com muitos detalhes, em Mt são dois endemoniados, em lugar de um só como em Mc e Lc. Do mesmo modo, Mt apresenta dois cegos em Jericó (20,29-31) e dois cegos em Betsaida (9,27-31; aqui duplicou até o milagre que não passa de um decalque do anterior). Esse desdobramento de personagens é um recurso de estilo dentro da liberdade de expressão artística (cf. Lc 24,4; Mt 26,60; Lc 7,18). Mt como judeu-cristão poderia pensar no testemunho que é só vale com duas pessoas (18,16; cf. Dt 19,15).

Eles então gritaram: “O que tens a ver conosco, Filho de Deus? Tu vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?” (v. 29).

As palavras “aqui” e “antes do tempo” são peculiares a Mt, nesta narrativa. A palavra “aqui” acentua que Jesus age em território pagão, “antes do tempo” pode se referir ao tempo do juízo final, em que os demônios serão todos reduzidos a impotência. Mas em 10,5, Jesus envia os discípulos: “Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel.” Entendemos “aqui” e “antes do tempo” dentro do esquema do evangelho de Mt como antecipação da libertação de todas as nações, que chegará só depois da sua ressurreição (28,19s). Antes, Jesus tem de ser revelado a Israel como seu messias prometido pelos profetas. Depois, a salvação se dirige também aos cristãos de origem pagã.

A Bíblia do Peregrino (p. 2335) comenta: Segundo a concepção da época, o mundo dos espíritos perniciosos ou malévolos se associa com o contaminado que mancha também o território pagão, com o doente que contagia (Lv 11,7; Sl 91,6), com o mundo infernal que devora (Jó 18,13). Os demônios sentem a presença de Jesus, reconhecem-no e o confessam filho de Deus, ou Messias. Confissão pesarosa e forçada como a dos inimigos derrotados no AT, “e saberão que eu sou o Senhor” (frequente em Ez). Confissão de impotência e medo, que não vale: “também os demônios creem e tremem de medo” (Tg 2,19).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1853) comenta: Enquanto esperam o dia de julgamento, os demônios gozam de certa liberdade para exercerem as suas sevícias na terra (Ap 9,5), o que eles fazem de preferência possuindo seres humanos (12,43-45). Frequentemente, essa possessão vem acompanhada de uma doença, que como resultado do pecado (9,2), é outra manifestação da ação de satanás (Lc 13,16). Assim os exorcismos do evangelho que, em alguns casos, como aqui, se apresentam no estado puro (cf. 15,21-28p; Mc 1,23-28p; Lc 8,2) apresentam-se, muitas vezes, sob a forma de cura (9,32-34; 12,22-24; 14-18p; Lc 13,10.17). Por seu poder sobre os demônios, Jesus destrói o império de satanás (12,28p; Lc 10,17-19; cf. Lc 4,6; Jo 12,31) e inaugura o reino messiânico do qual o Espírito Santo é a promessa distintiva (Is 11,2; Jl 3,1s). Se os homens recusam a entendê-lo (12,24-32), os demônios as conhecem bem, como aqui e ainda em Mc 1,24p; 3,11p; Lc 4,41; At 16,17; 19,15. Jesus comunica esse poder de exorcismo aos seus discípulos juntamente com o poder de cura miraculosa (10,1-8p), que se prende àquele (8,3; 4,24; 8,16p ; Lc 13,32).

Ora, a certa distância deles, estava pastando uma grande manada de porcos. Os demônios suplicavam-lhe: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.” Jesus disse: “Ide.” Os demônios saíram, e foram para os porcos. E logo toda a manada atirou-se monte abaixo para dentro do mar, afogando-se nas águas (vv. 30-32).

Do relato de Mc 5,1-20, Mt omitiu não só a descrição psicológica do possuído e sua conduta, também omite o diálogo (o nome dos demônios, “Legião”, talvez fosse político demais após a guerra perdida dos judeus contra os romanos). Mt concentra tudo no poder da palavra de Jesus, aliás, é sua única palavra ,“ide (embora)” (cf. 4,10; 16,23), que vai desterrando o poder demoníaco: empurrando-o ao reino do impuro (porcos, cf. Is 66,3.17), ao abismo da perdição (precipício, mar).

Mt só acrescentou que os porcos estavam “a certa distância”. Talvez Mt não quisesse associar o messias de Israel, Jesus, perto dos porcos (cf. 7,6). Os judeus não comiam porcos considerando-os impuros (Lv 11,7), enquanto os pagãos os comiam e os sacrificaram também a seus deuses.

Já em Mc, o afogamento no mar lembra o dos inimigos egípcios em Ex 14,27-30; Mt que apresenta Jesus como novo Moisés (cf. caps. 2 e 5), deve ter gostado e não omite este detalhe que demonstra a gravidade da possessão e sua superação (insinuando que são os demônios que morrem).

Os homens que guardavam os porcos fugiram e, indo até à cidade, contaram tudo, inclusive o caso dos possuídos pelo demônio. Então a cidade toda saiu ao encontro de Jesus. Quando o viram, pediram-lhe que se retirasse da região deles (vv. 33-34).

Em Mt não consta mais o bom comportamento do curado que queria seguir Jesus, mas Jesus o enviou de volta para evangelizar sua família e região (Mc 5,15.18-20). Em Mt, ainda era “antes do tempo” (v. 29) da missão aos pagãos (10,5s; 28,19).

A Bíblia do Peregrino (p. 2335) comenta: Os moradores não demonstram apreciar tal libertação, a sua atitude contrasta com a admiração de outros ante o poder de Jesus. Está bem libertar de demônios dois homens e de sustos a população, mas negócio é negócio.

Mt não menciona o número do prejuízo (Mc 5,13: 2000 porcos). Os antigos interpretaram de várias maneiras: O mundo devia ver o tamanho da maldade desses demônios. Um único homem salvo vale mais do que uma manada de porcos (cf. o lema do fundador da Juventude Operária Cristã, Joseph Cardijn: “Um único operário vale mais do todo ouro do mundo”). Os porcos simbolizam os homens cheios de vícios que perecerão ao final.

Para Mt, porém, o essencial é o poder da palavra de Jesus. Este voltará porque é o messias enviado para curar a Israel (cf. 4,23; 8,1-17). Assim o próximo v. poderia ser conclusão melhor do evangelho de hoje: ”Entrando em um barco, Jesus atravessou para a outra margem do lago e foi para a sua cidade” (9,1; sua cidade é Cafarnaum: 4,13).

O site a CNBB comenta: Apesar de toda evidência do amor de Jesus, existem pessoas que não o aceitam, e fazem isso porque consideram a aceitação de Cristo e de suas exigências como perda de algo a que estão apegados como uma verdadeira idolatria. Para os gadarenos, parece que é melhor ficar com os porcos, mesmo que seja com o diabo junto, do que aceitar um irmão resgatado e reconhecer a manifestação do amor salvífico de Deus. De fato, rejeitar Jesus em vista de algum bem material constitui-se em uma atitude diabólica, uma verdadeira idolatria.

Voltar