08 de dezembro de 2017 – Sexta-feira, Imaculada Conceição de Maria

 

Com frequência, a festa de hoje é confundida com a concepção de Jesus no ventre de Maria pelo Espírito Santo (cf. evangelho de hoje!), mas esta é a “Anunciação do Senhor” que se celebra em 25 de março (nove meses antes do Natal). A festa de hoje, porém, celebra a própria “Maria concebida sem pecado”, nove meses antes do nascimento da virgem (08 de setembro).

É uma tradição antiga na Igreja oriental, na qual Maria foi exaltada como “líria da inocência, mais pura que os anjos”. Também na Igreja ocidental existe a devoção (e patrocínios) à imaculada Conceição, mas só tornou doutrina em 1304 (por João Duns Escoto, numa disputa na universidade de Paris) e depois dogma (declarado em 08.12.1854 por Pio IX). A Imaculada Conceição de Maria quer dizer que ela foi concebida de maneira natural (sexual) por seus pais, mas sem a mancha do pecado original, como exceção entre todos os seres humanos em vista de ser ela a futura mãe de Deus.

Na França em 1830, a virgem apareceu a St.ª Catarina de Labouré pedindo que se cunhasse uma medalha com a oração: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Em 1858, quatro anos depois da declaração do dogma, Maria apareceu a camponesa Bernadette Soubirous em Lourdes, afirmando: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

Na Bíblia não consta a Imaculada Conceição de Maria (as leituras da nossa liturgia recorrem a textos que aproximam indiretamente ao mistério). Há um evangelho apócrifo chamado “Protoevangelho de Tiago” (séc. III), “proto-“ porque narra acontecimentos anteriores de outros evangelhos que começam com o nascimento de Jesus (Mt, Lc). O Protoevangelho de Tiago narra as circunstâncias milagrosas do nascimento de Maria: os seus pais Joaquim e Ana receberam a graça de ter esta descendência apesar de velhice e esterilidade (como Abraão e Sara, como Zacarias e Isabel). Mas não fala de uma “Imaculada Conceição”, porque a doutrina do pecado original (do qual Maria foi preservada) só foi desenvolvida por St.º Agostinho no séc. V.

Os textos bíblicos de hoje falam da Imaculada Conceição apenas indiretamente. Apresenta-se a consequência do pecado original (e sua possível superação) e o sim daquela mulher “cheia de graça” à encarnação. Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov. dez. 2016) comenta: O pecado e a encarnação aparecem na Bíblia como dois movimentos que têm por objetivo a eliminação do abismo entre o Criador e a criatura. O pecado significa que o ser humano quis superar a distância existente entre ele e seu Criador, pretendendo fazer-se igual a Deus. A encarnação é o movimento inverso. Deus, de fato, superou a distância entre nós e ele, quando o Verbo eterno se fez homem.

1ª leitura: Gn 3,9-15.20

A leitura do AT foi escolhida porque fala pela primeira vez da vitória sobre o mal (v. 15 é chamado “Proto-evangelho”, primeira boa notícia). Como Jesus é o novo Adão que não é vencido pelo diabo (cf. Mc 1,12s; Rm 5,12-21; 1Cor 21s; Jo 20,15), Maria é a nova Eva que não peca. “Ele”, ou “ela”, destruirá o poder da serpente (cf. v. 15).

Depois que Adão comeu do fruto da árvore (cf. v. 6), o Senhor Deus o chamou, dizendo: “Onde estás?”. E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi” (vv. 9-10).

“Adão” (hebraico: Adam) não é um nome histórico, mas significa “ser humano”, ele representa a humanidade. A narração bíblica não é um relato histórico, mas um “mito”, ou seja, uma narrativa que, como em muitos outros povos, quer explicar as origens, de maneira bem simbólica, porque ainda não havia recursos científicos. O autor bíblico se apoia em tradições de povos vizinhos e na sua própria língua hebraica, p. ex. Adamá significa terra vermelha, barro, então Adam (Adão) é formado do barro (2,7); o ditado “carne e osso”, que significa união inseparável (no Brasil, seria “carne e unha”), inspira a criação da Eva a partir da costela de Adão (2,21s).

Nossa liturgia introduz a leitura resumindo os versículos anteriores (vv. 1-8). A “árvore do conhecimento do bem e do mal” era a única árvore no jardim Éden do qual Javé Deus proibiu de comer (cf. 2,9.16s; 3,1-5). Mas Eva deixou-se seduzir pela serpente e deu de comer também ao homem. A mentira (falsa propaganda) da serpente prometeu: “Vossos olhos se abrirão e sereis como deuses” (v. 5). Depois de comerem, porém, “seus olhos se abriram e souberam que estavam nus” (v. 7).

Para a Bíblia de Jerusalém (p. 350) é o “despertar da concupiscência, primeira manifestação da desordem que o pecado introduz na harmonia da criação.”

O saber lhes revelou a sua nudez, isto é, sua fraqueza que não importava antes do pecado (2,25). Sem excluir a ideia de pudor, as palavras “nudez” e “vergonha” exprimem na Bíblia a fraqueza, a falta de proteção, a derrota (Am 2,16; cf. Mc 14,51s; Mq 1,8; Sl 6,11;; etc.).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 28) comenta este pecado: Este “conhecimento” (…) é o privilégio dos “elohim”, seres mais inteligentes e mais poderosos que o homem (3,22). O Senhor é o Deus único, o “Elohim” por excelência.  O que o relato condena não é a posse do conhecimento, pois Deus o outorgará ao homem, mas a maneira com ele foi adquirida, pela violação da prescrição divina… Com este relato bem antropomórfico, no qual todas as imagens se encaixam e equilibram, o autor mostra as consequências da infidelidade do homem à palavra de Deus. O que o homem e a mulher descobrem é apenas a sua fraqueza e, a partir de agora, escondem-se um do outro, como se esconderão de Deus… O Senhor intervém como um juiz no contexto de um processo judicial. Interroga os culpados, determina as responsabilidades e fixa as sanções. Com isto mesmo, o relato dá a entender que Deus não se desinteressa da sua criatura e não a abandona ao poder da força que a seduziu.

Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?”. O pecado do homem o afastou de Deus: “Onde estás?” Outra pergunta interrogatória será dirigida a Caim depois de ter matado seu irmão: “Onde está seu irmão?” (4,9).

A relação mútua se turba com a vergonha, e surge o encobrimento (vv. 7-8). A relação com Deus se turba com a cautela, a vergonha e o medo, e acontece outro encobrimento (cf. Ap 3,18; Eclo 23,18-19).

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: 

O texto de Gn 3,10-11 alerta sobre a inviabilidade atual do propósito divino de habitar com a criação, pois o casal humano, em decorrência do pecado, se esconde de Deus. E como o ser humano é o responsável pela criação, então, esta, em sua totalidade, fica afastada de Deus. Por isso, para a fé de Israel, a presença divina na criação somente poderá ser eficaz quando o ser humano parar de se esconder de Deus, isto é, quando a humanidade ouvir a voz daquele que a interpela: “Onde estás?” (Gn 3,9). A escuta da voz de Deus possibilitará ao ser humano o arrependimento, que, no sentido bíblico, significa “retorno” à aliança ou à “colaboração” (trabalhar junto) com Deus.

O pecado, muito mais que uma revolta contra Deus, é um aviltamento da natureza do ser humano. O chamado de Deus procura reconduzir a humanidade – e, com esta, a criação inteira – à sua própria dignidade. Assim, o arrependimento (ou a colaboração) do ser humano significa a criação retornando ao seu verdadeiro propósito.

Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi” (vv. 11-12).

O homem e, mais adiante, a mulher empurram para outrem a responsabilidade pelo sucedido. Ao tentar de responder a pergunta “de onde vem o mal?”, a própria narração não culpa unicamente o ser humano, mas a tentação (serpente) a ele proposta.

A tradição machista culpou Eva e com ela as mulheres (cf. v. 12; 1Tm 2,14), mas a serpente se aproximou a Eva por ela ser a parte mais fraca (na sociedade machista). Depois, Adão cedeu igualmente à tentação. Indiretamente, Adão parece culpar até o próprio Deus: “a mulher que tu me deste”.

Nas cartas pastorais revoga-se certas liberdades das cartas originais de Paulo (cf. Gl 3,28; 1Cor 11,5). Assim justifica-se a proibição de uma mulher ensinar o marido ou falar na assembleia, porque “não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher que, seduzida, caiu em transgressão” (1Tm 2,14). Adão comeu sem ser seduzido? Pior.

Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me e eu comi” (v. 13).

No Antigo Oriente, a serpente desempenhava um grande papel como potência de fertilidade (Canaã) e como força política (Egito); na célebre epopeia babilônica de Guilgamesh, a serpente roubava ao herói a planta da imortalidade. Em Gn 3, a serpente serve de máscara para um ser hostil a Deus e inimigo do ser humano. Nela a Sabedoria, e depois o NT e toda a tradição cristã, reconheceram o Adversário, o Diabo (cf. Jó 1-2 etc.).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 25) comenta: No Egito antigo, a serpente na tiara do faraó simbolizava o olho do deus Sol, que com seu hálito podia destruir os inimigos. Em Canaã e Israel, a serpente era símbolo de Baal, deus da fertilidade das plantas e animais. Na religião oficial, legitimava a concentração do poder nas mãos do rei. Conflitos, violência e opressão se aninham nas estruturas sócias dominadas pelo faraó e pelos reis de Israel, e na acumulação de poder e riqueza que os sustenta, interferindo durante na vida do povo: a dignidade diminui (vv. 7-8); a solidariedade enfraquece (vv. 9-13); as relações entre pessoas e animais, o parto e o trabalho, podem incluir violência e dominação, trazendo sofrimento e morte (vv. 14-19.22). Por trás dessa roupagem mítica, pode-se ouvir a voz das comunidades camponesas e o anuncio dos profetas que denunciam o poder da serpente nas monarquias de Israel (1 Rs 9,16; 16,31-32; 2Rs 18,4; Os 2,10-15).

A Bíblia do Peregrino (p. 19) comenta: A serpente representa, nas culturas circundantes, a força hostil a Deus e a seu plano. Personificação do mal ativo, sedutor ou agressor. Ben Sirac não a menciona (Eclo 15,11-20: origem do pecado); Sb 2,24 fala da “inveja do diabo”; Ap 12,8-9 acumula nomes, identificando e interpretando: “dragão, serpente primordial, satã, diabo, acusador” (“acusador” traduz o grego “diabolôs”, o qual traduz o hebraico “satan”). Além disso, o nome hebraico de serpente coincide com “vaticínio”. O falso oráculo é arma da serpente contra Eva: tira a base da proibição de Deus, dando-lhe intenções escusas, promete com bem o que é mal, pois conhecer o mal por experiência é um mal. Sobre semelhante oráculo: Sl 14; Hab 2,18, “mestre de mentiras”.

Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (vv. 14-15).

A serpente, “o mais astuto de todos os animais do campo”, passa a ser o mais miserável deles, a sua astúcia volta-se contra ela. Quem “lhe ferirá a cabeça”? No hebraico, o sujeito de “ferirá a cabeça” é a descendência (linhagem), em latim é a mulher (ipsa = esta, a mulher, como traduz nossa liturgia).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 28) comenta: Este versículo tem sido entendido de maneiras diferentes. Para uns, ele anunciaria uma luta de morte e sem fim entra a descendência da mulher e a da serpente; este combate sem desfecho insere-se no contexto das sanções adotadas pelo Senhor…Segundo outros, o v. permite entrever um desfecho favorável, pois visa antes de tudo a serpente. A linhagem da serpente é atingida na “cabeça”, a da mulher somente no “calcanhar”; além disso, “comer pó” é sinal de derrota (Mq 7,17)… À luz dos demais livros bíblicos, a tradição cristã frequentemente viu neste texto o “Protoevangelho” que anuncia a vitória do Messias, nascido de uma mulher, o que é sugerido já pela versão grega (“este”, um indivíduo, e não a descendência, que seria “isto”). A tradição católica reconheceu aqui um dado importante sobre o papel da mãe do Messias, donde a tradução “ipsa conteret” (ela, a mulher, te esmagará) da Vulgata (tradução latina de S. Jerônimo).

Em Is 11,8 apresenta-se imagens de uma paz paradisíaca que o messias trará: a criança pequena pode brincar com a cobra sem lhe fazer mal algum.

E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes (vv. 20).

Nossa liturgia saltou os vv. 16-19 (os castigos referentes à mulher a ao homem) e passa logo ao final (v. 20). Num jogo de palavras em hebraico, o nome de Eva, Havvah, é explicado pela raiz hayah, “viver”. Se invertermos as letras de “EVA”,  temos “AVE”, a saudação em latim que traduz a saudação grega do anjo Gabriel a Maria (Lc 1,28).

2ª Leitura: Ef 1,3-6.11-12

A Carta aos Efésios faz parte das cartas do cativeiro (Ef, Fl, Cl, Fm). Enquanto Fl e Fm foram escritos pelo próprio Paulo, as cartas Ef e Cl apresentam estilo e teologia diferentes e uma situação posterior. Por isso, muitos peritos consideram estas duas cartas Deuteropaulinas, ou seja, escritas por discípulos de Paulo (talvez por Epafras, cf. Cl 1,7; 4,12?) em nome dele por volta de 80 d.C.. Ef retoma várias expressões de Cl e depende dela. O conteúdo de Ef é uma longa meditação sobre o mistério da igreja como plenificação da obra de Deus (Ef 1-3) e uma exortação aos batizados (Ef 4-6).

A carta aos Efésios começa com um hino de rara beleza e grande profundidade que celebra a expansão da graça de Deus e pertence ao gênero literário da bênção (cf. 2Cor 1,3; 1Pd 1,3), muito difundido na liturgia judaica.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: A segunda leitura consiste num hino cristológico (a Cristo) com forte teor batismal. Seu tema principal é a obra de Deus por meio de Cristo. As consequências dessa obra no ser humano são a filiação divina, o perdão dos pecados, o tornar-se membro do Corpo de Cristo e a ação santificadora do Espírito Santo. Todos esses temas fazem parte de uma catequese batismal. Portanto, o hino também esclarece o sentido do batismo para nós.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2266) comenta: Deus é sujeito dos verbos: a sua ação fica ritmada pelos em “Cristo (nele)”, e batizada por fórmulas de louvor (cf. os vv. 6.12.14). A benção de Deus é considerada sob os seus aspectos sucessivos, mas inseparáveis: eleição (4-5), libertação (redenção) (6-7), recapitulação (8-10), herança prometida (11-12), dom do Espírito (13-14). Esses temas pertencem ao vocabulário da aliança no AT. Ef realiza uma fusão notável entre a perspectiva bíblica do povo de Deus e a ideia nova da Igreja corpo de Cristo.

Nossa liturgia selecionou os versículos (3-6 e 11-12) que mais se aplicam a Maria, mãe e modelo da Igreja.

Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado (vv. 3-6).

A primeira estrofe do hino (vv. 3-6) começa com o título de “Cristo” = Messias = Ungido, o esperado. Termina com o título “Bem-amado (predileto)”: outrora título de Israel (Dt 32,15; Is 44,2); agora título de Jesus Cristo, pronunciado no batismo e na transfiguração (Mc 1,11; 9,7p; cf. Cl 1,13).

A 1ª benção é o chamado dos eleitos à vida santa, aliás já iniciada de maneira mística pela união dos que creem no Cristo glorioso. O “amor” designa primeiro o amor de Deus por nós, que inspira a sua “eleição” e o seu chamado para a “santidade” (cf. Cl 3,12; 1Ts 1,4; 2Ts 2,13; Rm 11,28), mas dele não se poderia excluir o nosso amor a Deus, que dele deriva e a ele responde (cf. Rm 5,5).

“Abençoou-nos” (v. 3) retoma a grande tradição do AT: a de Isaac, paterna, testamentária e limitada (Gn 27); a de Jacó, paterna e distribuída às doze tribos (Gn 49); a de Moisés, profética, para as tribos (Dt 33). Isaac abençoou Jacó e não lhe restou outra benção; o Pai celeste em Cristo abençoa todos.

A expressão “no céu” (v. 3), que em sua forma grega é peculiar à carta (Ef 1,20; 2,6; 3,10; 6,12), situa sucessivamente no mundo celeste: Cristo, a Igreja, os cristãos, mas também os espíritos do mal (cf. 6,12). Aqui a expressão associa estreitamente os eleitos ao triunfo do Cristo, vencedor das potencias celestes. Neste plano celeste se manterá toda a carta. É do céu que, desde toda eternidade, partiram e é lá que se realizam, até o fim dos tempos, as “bênçãos espirituais”, que serão expostas nos vv. seguintes.

“Antes da fundação do mundo (criação, v. 4)”: ou seja, antes da primeira palavra da Bíblia, Gn 1,1: “No princípio, Deus criou”. Jeremias foi escolhido pelo Senhor “antes de te formar no ventre” (Jr 1,5); os cristãos, antes da criação do mundo (cf. Rm 8,28-30), quanto mais Maria; o projeto de Deus abrange o tempo inteiro (Is 43,13).

“Santos” ou consagrados: como Israel, “um povo santo” (Ex 19,6), “os santos do Altíssimo” (Dn 7,22.27); “No amor” (infundido, não por mero rito), fórmula conclusiva nas bênçãos judaicas. No entanto, alguns a ligam “a ele nos predestinou” (v. 5). O autor da carta só fala da predestinação para o bem, não para o mal. Os verbos formados com o prefixo “pré –“ (de antemão, desde sempre) não cessam de sublinhar a iniciativa absoluta da graça de Deus. “Eleição” e “predestinação” constituem a boa nova de nossa “adoção filial” (cf. Rm 8,15s); elas não atenuam, mas, pelo contrário, comprometem a nossa responsabilidade (cf. o fim da benção, vv. 11-14).

A 2ª benção é o modo escolhido para essa santidade, isto é, o de uma filiação divina, cuja fonte e cujo modelo é Jesus Cristo, o filho Unigênito (cf. Rm 8,29). “Filhos” (v. 5): título coletivo de Israel (Ex 4,23; Is 1,2; Os 11,1 etc.), agora dos cristãos (Jo 1,12; 1Jo 3,1-10). “Glória” e “graça”, lit. gloriosa graça (v. 6), é o favor que revela sua glória. A benção faz da glória de Deus a finalidade de toda a sua obra, como o seu livre desígnio (graça) é a fonte da mesma.

A Bíblia de Jerusalém (p. 2196) comenta: O termo grego “charis” (cf. carisma – dom) designa aqui o favor divino em sua gratuidade, noção que inclui e, até, ultrapassa a “graça” em seu sentido de dom santificador e intrínseco ao homem. Ela manifesta a “glória” mesma de Deus (cf. Ex 24,16 etc.). Aqui temos os dois refrãos que escandem toda a exposição das bênçãos divinas: elas não têm outra fonte que a liberdade de Deus, outro fim que a exaltação da sua gloria pelas criaturas. Tudo vem dele e a ele tudo deve conduzir.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: À luz desse texto, fica esclarecido que, antes de tudo, a eleição (vocação à filiação divina) não é algo acidental. A encarnação não aconteceu para resolver o problema do pecado humano. Quer dizer, a encarnação não foi determinada pelo ser humano, não é consequência de suas ações. A eleição que recebemos para nos tornar filhos de Deus faz parte do propósito divino desde toda a eternidade. A eleição do ser humano em Cristo é anterior à criação. Deus tomou a iniciativa de nos tornar filhos no Filho.

Por isso, desde toda a eternidade, cada ser humano é chamado a ser “sem mancha” (imaculado, v. 4). Esse termo (ámomos), no Antigo Testamento, designava o cordeiro do sacrifício (cf. Lv 1,3.10) e muitas vezes é traduzido em português por “sem defeito” ou “irrepreensível”, mas literalmente significa “sem mancha” ou “imaculado”. No Novo Testamento, o mesmo termo se refere à vida daquele que se une a Cristo.

É fato que o ser humano sempre pecou, apesar de ter recebido um chamado, desde toda a eternidade, para ser santo e imaculado. E já que “todos pecaram” (Rm 3,23; 5,12), a graça da encarnação (a vida inteira de Jesus) se tornou redenção, libertação da tirania do pecado que escraviza o ser humano.

Como a graça é anterior ao pecado, pois é anterior à criação (v. 4), a eleição significa que somos atingidos pela graça desde o primeiro momento de nossa existência. Disso decorre que a vivência do batismo é a adesão consciente e livre à graça da eleição eterna que se opõe ao pecado e realiza em nós aquilo a que fomos chamados: ser santos e imaculados diante de Deus.

Nossa liturgia salta os vv. 7-10, a segunda estrofe com a 3ª e 4ª benção (obra histórica da redenção pela cruz de Cristo, “pelo seu sangue…”, e o conhecimento do “mistério das sua vontade… para recapitular em Cristo, o universo inteiro”).

Em Cristo nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo (vv. 11-12).

Aqui começa a distinção “nós = os judeus, que “esperávamos um Messias (Cristo)” (v. 12), e “vós” = os pagãos (v. 13), introduzindo a ideia de Israel e das nações que ocupará um lugar de tanta importância nesta carta.

É a quinta bênção neste hino: a eleição (cf. v. 4) de Israel que se torna “herança” de Deus e sua testemunha na expectativa messiânica. Paulo pertence a este povo; por isso usa aqui “nós’, enquanto os destinatários desta carta eram pagãos, ou seja, gentios, não judeus.

“Em Cristo nós recebemos a nossa parte” lit.: nele também nós fomos designados pela sorte (variação: nele também nós fomos chamados.). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p.2266) comenta:

À luz do AT, essa expressão pode ser compreendida de dois modos: 1: “nele também nós recebemos a nossa parte”. 2: “nele também nós fomos escolhidos como o seu quinhão”.

A primeira tradução evoca a ideia da terra prometida atribuída por Deus a Israel como parte da herança do povo eleito (Dt 3,18). Esta ideia é transportada para o NT, onde a terra prometida passa a ser o céu (cf. a herança celeste). Ela é familiar a Paulo (Rm 8,17; Gl 3,29; 4,7). Ela será explicada no v. 14 (“o adiantamento da herança”) e no v. 18…

A segunda tradução apoia-se no fato de que o próprio Israel era considerado como a parte que Deus adquire para si para que se tornasse o seu bem próprio, o seu “quinhão” (Ex 34,9).

No contexto da festa de hoje, destaca-se: “o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados”. Maria foi (pre-)destinada a ser mãe do salvador, aceitando a vontade de Deus. Para isso ela foi preparada “de antemão”, preservada do pecado original, sem tirar o livro arbítrio de Maria e seu mérito dizendo “Sim” ao projeto de Deus.

Evangelho: Lc 1,26-38

Ouvimos a narrativa da anunciação do nascimento do messias à virgem Maria. Ela conceberá sem participação de um homem, mas através do Espírito Santo (vv. 34s). Esta concepção de Jesus pelo Espírito Santo não é a Imaculada Conceição de Maria. Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, Maria pelo ato natural (sexual) dos seus pais Joaquim e Ana.

Maria, porém, foi preservada do pecado original desde o primeiro momento da sua vida, ou seja, desde sua concepção, portanto “Imaculada Conceição de Maria” quer dizer que ela foi concebida de modo sexual, mas sem pecado (original). É uma exceção, uma “graça” especial (“cheia de graça”, v. 28) em vista de ser ela a futura Mãe do Salvador. Como Jesus é o novo Adão que não será vencido pelo diabo, Maria é a nova Eva que não peca.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: O Evangelho de hoje nos apresenta um modelo de colaboração no propósito de Deus para a salvação humana. O texto enfatiza dois aspectos principais: a presença eficaz de Deus, que realiza o seu propósito, e a colaboração humana, que diz “sim”. Em Maria, vemos esses dois aspectos se realizarem. A atitude dela se torna, para nós, um paradigma a ser seguido.

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria (v. 26-27).

“No sexto mês”: a conta dos meses é a partir concepção de João (vv. 24.36), por isso celebra-se o nascimento de João Batista (24 de junho) seis meses antes do Natal (24 de dezembro). O anjo é Gabriel (significa “força de Deus”; cf. v. 11.19; Dn 8,16; 9,21). Gabriel já apareceu a Zacarias que pertence ao baixo clero no templo da capital Jerusalém (vv. 5-25), agora é enviado a uma moça na periferia: “Nazaré” é um lugarejo desconhecido no interior (cf. Jo 1,46) da desprezada “Galileia” (cf. Jo 7,41s), mas é o lugar escolhido (Is 8,23b).

Antes mesmo de levarem uma vida comum, os jovens judeus (como Maria e José) se comprometeram em casamento, eram considerados quase como esposos porque o contrato já foi assinado (cf. Mt 1,18s). “Maria” é tradução grega do nome hebraico Miriam (o mesmo nome da irmã profetisa de Moisés em Ex 2,4.7; 15,21; Nm 12,1-10; 20,1; Maomé confundiu-a com a mãe de Jesus).

O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (v. 28).

“Alegra-te” (saudação comum na língua grega do NT) é tradução melhor do que “Ave” (saudação em latim), porque apela à alegria messiânica; os profetas convidaram a filha de Sião a alegrar-se pela vinda de Deus em meio a seu povo (cf. Is 12,6; Sf 3,14-15; Jl 2,21-27; Zc 2,14; 9,9).

“Cheia de graça”, lit.: “tu que fostes e permaneces repleta do favor divino”. Alguns manuscritos acrescentam “Bendita és tu entre as mulheres”, por influência de v. 42 (saudação de Isabel).

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: A saudação contém duas expressões importantes: “cheia de graça”, uma alusão à alegria messiânica que ora se inicia, e “o Senhor está contigo”. Esta última expressão não é dita a pessoas em circunstâncias normais, ainda que possa haver exceções (cf. Rt 2,4), mas se refere ao povo de Deus em sua totalidade ou a alguma pessoa que Deus tenha convocado para realizar um trabalho árduo. A presença eficaz de Deus dirige a pessoa à finalidade proposta por ele.

Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim” (vv. 29-33).

As palavras do anjo (cf. Mt 1,20-23; Lc 1,13-17) inspiram-se em várias passagens messiânicas do AT, nascimentos (milagrosos) e profecias messiânicas (cf. Gn 16,11s; Jz 13,3-5; 2Sm 7; Is 7,14s; 9,5s; 11,1-5; Jr 23,5; Dn 7,14). A “virgem conceberá um filho” (cf. Is 7,14 em grego). Este será reconhecido como messias (2 Sm 7), “descendente de Davi” (através de José) e “Filho do Altíssimo” (através do Espírito Santo, cf. v. 35a; cf. 1Sm 16,13; 2Sm 7,14-16; Sl 2,7; Rm 1,2-4). Seu reinado sobre “Jacó” (= Israel; cf. Gn 32,29) será “para sempre” e sem fim (universal, cf. Is 9,6; Dn 7,14). A última expressão entrou no Credo Niceno-Constantinopolitano: “E seu reino não terá fim”.

Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” (v. 34).

É comum nos relatos de vocação a pessoa chamada alegar um argumento contra (cf. 1,18; 5,8; Gn 18,12; Ex 3,11.13; 4,1.10.13; Jz 6,15; Jr 1,6…). A virgem Maria é apenas noiva (cf. v. 27) e não tem relações conjugais (sentido semítico de “conhecer”, cf. Gn 4,1; etc). O anjo não repreende Maria como fez a Zacarias (cf. v. 20), porque se trata aqui de uma coisa inédita. O fato de Maria não conviver ainda com José parece realmente opor-se ao anúncio dos vv. 31-33 e induz a explicação do v. 35. Nada no texto impõe a ideia de um voto de virgindade.

O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (v. 35a).

A resposta do anjo evoca a nuvem luminosa, sinal da presença de Javé (cf. Ex 13,22; 19,16; 24,16) como também as asas do pássaro que simbolizam o poder protetor (Dt 32,11; Sl 17,8; 57,2; 140,8) e criador (Gn 1,2) de Deus. O fato de Maria conceber sem ainda estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção (poder, força, cf. o nome Gabriel) de Deus. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: A expressão “cobrir com sua sombra” faz alusão à nuvem que cobria o tabernáculo no deserto, representando a glória de Deus que ali habitava (cf. Ex 40,34). A mesma expressão é utilizada no texto da transfiguração (cf. Lc 9,34), porque era símbolo da presença de Deus. O tabernáculo no deserto era chamado de Tenda do Encontro (cf. Ex 27,21), pois ali Deus se encontrava com o ser humano por meio da representação da nuvem. Dessa forma, quando o texto, ao se referir a Maria, utiliza a expressão “cobrir com sua sombra”, identifica-a com a Tenda do Encontro, significando que, no útero dela, Deus e o ser humano se encontram no Menino que vai nascer.

“Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus” (v. 35b).

A santidade é um dos atributos essências do Deus de Israel no AT (Is 6,3; Lv 11,44-46; etc.); ela se comunica àquele que se aproxima de Deus ou lhe é consagrado. Jesus é o Santo do NT (cf. Lc 4,34p; Jo 6,69; At 2,27; 3,14; Ap 3,7).

Davi recebeu o Espírito de Javé quando foi ungido (1Sm 16,13). O Messias (significa: ungido; em grego: Cristo) é descendente de Davi e considerado filho (adotivo) de Deus (cf. 2Sm 7,14), adotado na hora da sua posse (consagração, cf. Sl 2,7; batismo: Mc 1,11), e também dotado com o Espírito (Is 11,1s; 42,1; 61,1). Mas o Espírito também está com os profetas (cf. 1Sm 10,10; 2Rs 2,9.15; Ez 2,2; 11,5; 37,1) e pode ser derramado sobre o povo (Ez 11,19; 36,26s; Jl 3,1s; cf. Lc 1,35.41.67; 2,25-27;  At 2 etc). Na sua vida na terra, Jesus não era sacerdote no templo nem tomou posse como rei, mas era vista como profeta (cf. 7,16; Mc 9,8.19p) ou messias (9,20p; Mc 11,9s). A novidade aqui é que Jesus é Filho de Deus no sentido literal, biológico (cf. Mt 1,16.20.25), não só a partir do batismo (que pode ser considerado como espécie da consagração ou posse alternativa (3,22p; cf. Sl 2,7), mas “desde o ventre materno” (cf. vv. 15.41; Is 49,1.5; Jr 1,5; Gl 1,15).

Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível” (vv. 36-37).

Em vez de dar um sinal (exigido por Zacarias em v. 18; cf. Gn 15,8; Jz 6,17; Is 7,11; 38,7), o anjo indica um milagre que já aconteceu (Maria já sabia da gravidez da sua prima ou não?). Zacarias e Isabel estavam na mesma situação que Abraão e Sara (ambos velhos e ela estéril). Gabriel conclui com palavras semelhantes às de Deus na visita a Abraão e Sara (na aparição dos três anjos em Gn 18,14; cf. Jr 32,27).

Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se (v. 38).

Maria não usa um verbo ativo na primeira pessoa “cumprirei” (Ex 19,8), mas um intransitivo: “aconteça, faça-se” o que disse o anjo, ou seja, a ação divina e sua consequência (como um novo Gênesis; cf. Gn 1,3: Deus falou “haja luz”, e “houve luz”; etc.). Deixar Deus agir é a suprema humildade e grandeza de Maria (cf. 1,48s). A tradição entendeu o consentimento (“sim”) de Maria como pronunciado em nome da humanidade (cf. 2Cor 1,19-22). Imagine se ela tivesse negado. No plano da criação, Deus faz o homem colaborador (imagem; cf. Gn 1,26s). No plano da salvação, se fez dependente do livre arbítrio (consentimento) de uma mulher. Amor e fé não se forçam ou impõem, mas se propõem.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: Ante a vontade de Deus, Maria deu a resposta: aceitou. Ela proclama-se “serva do Senhor”, frase usual no ambiente oriental quando um subalterno se dirige ao seu superior com o propósito de aceitar seus desígnios. Essa disposição para a obediência é uma manifestação de confiança (fé) na Palavra de Deus.

Na sua encarnação que resultará na paixão e morte, Jesus também será o “servo (escravo) do Senhor Javé” (cf. Is 53; Fl 2,7). Não só por sua maternidade, mas pela sua reposta generosa à palavra de Deus, Maria torna-se modelo de fé para toda Igreja (cf. 11,27s). Bento XVI a chama “mãe da palavra” (do Verbo encarnado, Jo 1,14) e “mãe da fé” (fé é a reposta à palavra; cf. Verbum Domini 27).

O site da CNBB resume: Jesus se insere na história da humanidade e, ao fazê-lo, também passa a ter uma história. Ele é verdadeiramente homem e assume em tudo a condição humana, menos o pecado Ao comemorarmos a Imaculada Conceição da Virgem Maria, estamos comemorando um fato da história do próprio Cristo, pois a Imaculada Conceição de Maria está condicionada ao nascimento de Cristo, uma vez que Deus estava preparando o ventre digno de receber seu próprio Filho. Com isso, podemos perceber a ação do Deus que é Senhor da história e que, agindo na própria história da humanidade, conta com a colaboração de todos para a realização do seu plano.

 

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