13 de abril de 2016 – Páscoa 3ª semana 4ª feira

Leitura: At 8,1b-8

A leitura de hoje consiste em notícias sumárias, que são conclusão e transição. No entanto, representa o primeiro passo do evangelho para fora da comunidade de Jerusalém, como Lc, o autor dos At planejou o roteiro da sua obra (cf. At 1,8).

Naquele dia começou uma grande perseguição contra a Igreja de Jerusalém. E todos, com exceção dos apóstolos, se dispersaram pelas regiões da Judéia e da Samaria. Algumas pessoas piedosas sepultaram Estêvão e observaram grande luto por causa dele. Saulo, porém, devastava a Igreja: entrava nas casas e arrastava para fora homens e mulheres, para atirá-los na prisão. Entretanto, aqueles que se tinham dispersado iam por toda a parte, pregando a Palavra (vv. 1b-4).

A perseguição se deve à atuação corajosa do diácono Estêvão que levou a seu martírio por apedrejamento (6,8-7,60). Por isso Lc menciona a perseguição já antes do sepultamento de Estevão. Como sua morte (7,59-60; cf. Lc 23,34a.46), também seu funeral repete a seu modo o de Jesus  (v. 2; cf. Lc 23,50-53).

Não sabemos se essas “pessoas piedosas” eram judeus ou cristãos que sepultavam o corpo de Estevão. Ele entrou nos anais da igreja como “protomártir” (primeira pessoa que deu sua vida por seu testemunho de Jesus). Os cristãos dos primeiros três séculos de perseguicão celebravam seu culto nas casas (eucaristia, cf. 2,46; 20,7) e nos túmulos dos mártires, só depois podiam construir igrejas.

A desgraça da perseguição, porém, leva o Evangelho para fora de Jerusalém, conforme as palavras de Jesus:. “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo” (1,8). Os apóstolos que eram todos judeu-cristãos podiam continuar testemunhar a fé no ressuscitado em Jerusalém (cap. 2-5), mas os do grupo de Estêvão, os helenistas, foram perseguidos e “se dispersaram pelas regiões da Judéia e Samaria” (v. 1b), tornando-se os primeiros missionários “pregando a Palavra” (v. 4; cf. 11,19-20; com Saulo-Paulo começará a terceira fase, “até os confins da terra”).

Saulo já foi mencionado na morte de Estêvão em 7,58 e 8,1a. Ele tornou-se o perseguidor principal e “devastava a igreja…” (v. 3; cf. 9,1-2; 22,4; 26,10.11). Essa notícia pode estar sendo exagerada para preparar por contraste a espetacular conversão, mas podemos compará-la com suas próprias palavras nas cartas (Gl 1,13; 1 Cor 15,9; Fl 3,6; cf. 1 Tm 1,13).

Filipe desceu a uma cidade da Samaria e anunciou-lhes o Cristo. As multidões seguiam com atenção as coisas que Filipe dizia. E todos unânimes o escutavam, pois viam os milagres que ele fazia. De muitos possessos saíam os espíritos maus, dando grandes gritos. Numerosos paralíticos e aleijados também foram curados. Era grande a alegria naquela cidade (vv. 5-8).

A região da Samaria é evangelizada por Filipe (vv. 5-14); não é o apóstolo do mesmo nome (1,13) que ficou em Jerusalém, mas o diácono helenista (6,5; 8,26-40; 21,8). Ele “anunciou-lhes o Cristo” (v. 5), “o evangelho do reino de Deus e do nome de Cristo” (v. 12), no qual batizava os samaritanos que aderiram a fé (v. 12; cf. 2,38). Anunciar Jesus como Cristo (messias) era o principal conteúdo da pregação aos judeus (2,36; 3,18.20; 5,42; 9,22; 17,3; 18,28; 24,24; 26,23), mas os samaritanos também esperavam um salvador-messias (cf. Jo 4,25). Para os judeus, os samaritanos não são pagãos, mas meio-irmãos, porque acreditam também no único Deus JHVH (Javé) e têm a lei de Moisés (Torá ou o Pentateuco, os primeiros cinco livros da Bíblia). Mas eram odiados por seu sincretismo devido ao repovoamento depois do fim do reino do Norte e devido à sua resistência na reconstrução do segundo templo (cf. vv. 9-11; 2 Rs 17,24-41; Esd 4; Mt 10,5; Lc 9,52-53; Jo 4,9.19-22). No entanto, foram acessíveis a mensagem de Jesus (Jo 4,39-41; Lc 10,29-37; 17-11-19).

“As multidões seguiam com atenção as coisas que Filipe dizia. E todos unânimes o escutavam, pois viam os milagres que ele fazia” (v. 6) A pregação dos apóstolos e também a dos missionários helenistas são acompanhadas pela curas de “possessos,…paralíticos e aleijados”, porque a Palavra de Jesus está “fazendo o bem” (cf. 10,38) à mente e ao corpo, libertando do egoísmo, de vícios, da culpa, do pecado, da tristeza para viver e o resultado é “grande a alegria” (v. 8).

 

Evangelho: Jo 6,35-40

Continuamos ouvindo o discurso sobre o pão da vida. O início do evangelho de hoje repete o versículo final de ontem:

Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede (v. 35)

Comer e beber são necessidades vitais. Comemos e bebemos para não morrer, temos ânsia de uma vida sem fim. Somente Jesus satisfaz esta ânsia. Jesus não alimento somente o estômago, mas dá sentido à vida ao ser humano inteiro (cf. vv. 41.48.51; 4,13-14; 8,12; 10,25; 14,6; 15,1). Pelos vv. 51-58 estamos acostumados de interpretar todo este discurso orientado para Eucaristia. Mas o “pão da vida” em João é a pessoa de Jesus, seu ensinamento (Palavra: Is55,1-11; Am 8,11; Dt 8,3; Sabedoria: Eclo 24,21; Pr 8,22; 9,1-6), não só a Eucaristia.

Eu, porém, vos disse que vós me vistes, mas não acreditais. Todos os que o Pai me confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei. Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Pois esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia (vv. 36-40).

Neste trecho, os verbos “vir”, “ver” e “crer” se alternam, em relação à fé em Jesus (cf. v. 35): “Vós me vistes, mas não acreditais“ (v. 36). As multidões viram o milagre da multiplicação dos pães, mas não o penetraram como sinal, não acreditaram na pessoa de Jesus (cf. v. 26). É o olhar superficial que não penetra na realidade. A fé, porém, penetra a superfície (cf. Hb 11,1).

O Pai toma a iniciativa: envia seu filho, recomenda-o aos que crêem: “Todos os que o Pai me confia, e quando vierem a mim, não os afastarei” (v. 37; lit. “lançar fora”, pode ser uma reminiscência da expulsão do paraíso em Gn 3; também poderia aludir polemicamente a prática de excomungar da sinagoga; cf. Jo 9,22). Hoje, não se deve rejeitar ninguém que tem boa vontade ou quem entra na fila para receber o Corpo de Cristo, para evitar constrangimento, porém, pode ser necessário orientar a pessoa numa conversa particular para conhecer melhor a vontade de Deus.

“Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas fazer a vontade daquele que me enviou” (v. 38; cf. 3,13; 4,34; 5,30; 14,31; 15,10; Mc 14,36p; Hb 10,9). “E esta é a vontade daquele que me enviou que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (v. 39). O último dia é o dia do juízo final (11,24; 12,48). A vontade do Pai é salvar todos os seres humanos. A salvação não esta completa sem a ressurreição. Em Jo, a vontade do Pai não é em primeiro lugar mandar (imperativo) a nós cumprirmos os seus mandamentos (cf. Mt 5,17; 7,21; 19,16-17), mas salvar a humanidade (indicativo da salvação) e dar vida eterna através do seu Filho (3,16-17). Ele é o Bom Pastor que não perde nenhuma das suas ovelhas (cf. 10,28-29;17,12; 18,9; Lc 15; Sl 23; Ez 34). Guarda-se os mandamentos como resposta a este amor de Deus: quem ama Jesus, guardará seus mandamentos (14,15.21; 1 Jo 2,3; 5,3; cf. Dt 6,4s).

“Esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscite no último dia” (v. 40). É necessário “ver”, contemplar com olhar penetrante, com fé iluminada, “crer”; quem não crê, está cego (cf. 9,39-41). A ressurreição que promete será o dom do Filho, o único que pode comunicar a vida eterna (cf. 3,35-36; 5,21-26; 11,24-26).

O site da CNBB comenta: A fé em Jesus Cristo é fundamental para a compreensão da eucaristia e para que se possa desfrutar deste sacramento, fundamental para a nossa vida espiritual, uma vez que ele é fonte de vida eterna. A vontade do Pai, ao enviar Jesus, é que todas as pessoas acreditem que Jesus é o seu enviado, o seu Filho amado, para que possam ser salvos por ele, e assim não se perca nenhum dentre os seus filhos e filhas. E, para que ninguém se perca, o Pai concede a quem vê e crê no seu Filho a vida eterna. É preciso que as pessoas vejam Jesus, creiam nele, participem da eucaristia, o sacramento do penhor da vida eterna, para que Jesus as ressuscite no último dia.

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