15 de abril de 2017 – Sábado, Semana Santa Vigília Pascal Ano A

Na Vigília Pascal há sete leituras do AT, uma do NT e o evangelho do Ano A (Mt).

Neste comentário, limitamo-nos à leitura da criação (1ª leitura), à leitura obrigatória da passagem pelo Mar Vermelho (3ª leitura do AT) e às palavras do apóstolo sobre batismo, morte e ressurreição (Rm 6) e ao evangelho do túmulo vazio.

1ª Leitura: Gn 1,1-2,2 (versão breve: Gn 1,1.26-31)

Por motivos pastorais costuma-se ler na vigília pascal apenas a versão breve com a criação do ser humano. É compreensível, mas se perde a alusão da “luz” do “primeiro dia da semana” com a “luz” da ressurreição que é uma nova criação (cf. Rm 4,17; 2Cor 4,6; 5,17 e o início do evangelho de hoje).

Todos os povos responderam as perguntas sobre as origens do mundo com diversos mitos (narrativas simbólicas sobre as origens; Gênesis significa “origem”) na sua própria cultura, língua e nível de compreensão. Para ser entendida há 2000 ou 3000 anos atrás, a Palavra de Deus não podia falar nem na língua dos anjos do céu nem nos conceitos científicos de hoje, mas precisava-se adaptar às limitações da época (inculturação/encarnação da Palavra). Portanto, hoje precisamos traduzir esta Palavra para nossa língua e conceitos atuais: ex. Deus criou através do big bang (explosão primordial há 14 bilhões de anos) e da evolução das espécies.

Para evitar interpretações fundamentalistas (cf. Verbum Domini n.º 44) é importante descobrir qual era a intenção do autor bíblico, e a partir daí entender seu significado para hoje. Não se entende um texto sem o contexto.

Gn 1 é muito mais um “poema” em 7 estrofes (7 dias) do que um relato científico (Gn 2,4b-25 já o contraria na sequência e no método da criação). Foi escrito cerca de 550 a.C. no exílio da Babilônia (atual Iraque), usando o conceito comum da época sobre a estrutura do mundo (ex. as águas de cima (no céu de onde vem a chuva) e as águas em baixo (mar, rios) são separadas por uma chapa firme, o “firmamento” (com compartimentos para chuva, vento, raios).

Os babilônios tinham seus próprios mitos e deuses astros, ex. sol, lua, estrelas, mar eram todos adorados como divindades; o mundo surgiu da luta desses deuses; o homem veio do sangue de um demônio. Mas o autor bíblico rejeita estas ideias. Sua intenção é demonstrar que um único Deus criou tudo isso, com livre vontade, com soberania e o poder da Palavra (Deus falou, e assim se fez). As criaturas não são mais deuses dos quais se precisa ter medo, mas devem ser submetidas pelo homem (o progresso científico pode partir daí, mas o mesmo desligando-se de Deus na modernidade leva a destruição, querendo ser igual a Deus e não respeitando os limites, cf. Gn 3-4). Como o autor bíblico aceitou certos conceitos da época, rejeitando outros, assim podemos hoje aceitar certas ideias ou teorias (ex. observações e teorias cientificas) e rejeitar outras (ex. ateísmo, esotérica, experiências letais com embriões…; cf. 1Ts 5,21-22).

1No princípio Deus criou o céu e a terra.

(2A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. 3Deus disse: “Faça-se a luz!” E a luz se fez. 4Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. 5E à luz Deus chamou “dia” e às trevas, “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia. 6Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”. 7E Deus fez o firmamento, e separou as águas que estavam embaixo, das que estavam em cima do firmamento. E assim se fez. 8Ao firmamento Deus chamou “céu”. Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia. 9Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar e apareça o solo enxuto!” E assim se fez. 10Ao solo enxuto Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas, “mar”. E Deus viu que era bom. 11Deus disse: “A terra faça brotar vegetação e plantas que deem semente, e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie, que tenham nele a sua semente sobre a terra”. E assim se fez. 12E a terra produziu vegetação e plantas que trazem semente segundo a sua espécie, e árvores que dão fruto tendo nele a semente da sua espécie. E Deus viu que era bom. 13Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia. 14Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam de sinais para marcar as épocas, os dias e os anos, 15e que resplandeçam no firmamento do céu e iluminem a terra”. E assim se fez. 16Deus fez os dois grandes luzeiros: o luzeiro maior para presidir o dia, e o luzeiro menor para presidir à noite, e as estrelas. 17Deus colocou-os no firmamento do céu para alumiar a terra, 18para presidir ao dia e à noite e separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. 19E houve uma tarde e uma manhã: quarto dia. 20Deus disse: “Fervilhem as águas de seres animados de vida e voem pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. 21Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que nadam, em multidão, nas águas, segundo as suas espécies, e todas as aves, segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom. 22E Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. 23Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia. 24Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo as suas espécies”. E assim se fez. 25Deus fez os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos segundo as suas espécies e todos os répteis do solo segundo as suas espécies. E Deus viu que era bom.)

26Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e segundo à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra”. 27E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou. 28E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”. 29E Deus disse: “Eis que vos entrego todas as plantas que dão semente sobre a terra, e todas as árvores que produzem fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. 30E a todos os animais da terra, e a todas as aves do céu, e a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou todos os vegetais para alimento”. E assim se fez. 31E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia.

(2,1E assim foram concluídos o céu e a terra com todo o seu exército. 2No sétimo dia, Deus considerou acabada toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia descansou de toda a obra que fizera.)

Correspondem-se os dias: 1º e 4º (a luz, e as lâmpadas do céu), 2º e 5º (o mar e o ar, e os seres que os povoam), 3º e 6º (a terra seca, e os animais na terra, e à tarde da 6ª ainda o ser humano). Chama atenção que o homem não tem um próprio dia, fato que o liga com as outras criaturas; sabemos que na teoria da evolução, o homem é “descendente de macaco”, ou melhor, tem um ancestral comum com os macacos de hoje. Mas na Bíblia, o homem tem uma própria missão: ser “imagem de Deus” (tanto homem quanto mulher!), “submeter e dominar” a criação, não quer dizer destruir (crise ecológica), mas governar com inteligência, amor e cuidado (Gn 2,15: “cultivar e guardar”), não como dono, mas como administrador e bom pastor.

Para o autor de Gn 1 que faz parte da “tradição sacerdotal”, a ordem espacial corresponde à ordem temporal. O número 7 já aparece na Babilônia como medida do tempo (7 dias são uma fase da lua; Israel e Babilônia tinham um calendário lunar). No exílio, o povo judeu estava privado do seu lugar sagrado (o templo de Jerusalém estava em ruínas), mas mantinha seu tempo sagrado (principalmente a celebração do sábado). Como em Ex 16, Deus institui o sábado como dia de descanso contra toda escravidão (primeira lei trabalhista: Ex 20,8-11; Dt 5,12-15), ele mesmo descansa e abençoa toda criação. Em Gn 2,1-3, o sábado é o dia da presença de Deus com suas criaturas, o dia que não declina (cf. Ap 22,5).

No Novo Testamento, o dia sagrado passa para o “primeiro dia da semana”, porque neste dia Jesus ressuscitou e se fazia presente na reunião dos discípulos (Jo 20; At 20,7). O primeiro dia é agora o “Domingo” (latim Dies Domini = Dia do Senhor) e significa a nova criação, pela qual “o Pai ainda trabalha e Eu também” (Jo 5,17).

 

3ª leitura: Ex 14,15-15,1

Esta leitura representa o ápice da libertação da escravidão do Egito, uma experiência fundamental do povo de Deus. Os judeus a leem ou narram na sua celebração da páscoa (seder, haggadá). Os cristãos a leem como 3ª leitura na vigília pascal prefigurando a salvação pelas águas do batismo.

A passagem pelo mar “vermelho” (13,18; em hebraico, “dos caniços” ou “dos juncos”; cf. 2,3; 2Rs 9,26) assinala topograficamente a saída do povo: é a última batalha, não combativa, a última fronteira.

O mar Vermelho divide a geografia (entre a África e a Ásia), divide a história e se converte em linha divisória da existência. A passagem pelo mar é como que nascimento do povo de Israel, sua liberdade e independência. Para os israelitas é como paradigma, para nós “passar” é salvar-se. O mar Vermelho é a fronteira do Egito; passando o mar, o povo de Israel deixa o território do Egito, e consequentemente, ganha outra condição: passa da escravidão à liberdade.

O faraó se arrepende de ter permitido a saída dos escravos e lança os exércitos para recapturar o povo que, com rapidez, iniciou o Êxodo (palavra grega que significa: “saída”; cf. 12,37-42; 13,17-20; 14,5-9). Os israelitas, vendo os soldados e os carros do faraó no encalço, se apavoram e se rebelam contra Moisés e contra Deus (vv. 10-12). Moisés consola reafirmando o propósito de Javé para libertar seu povo (3,7s; 6,1): “Não temais! Permanecei firmes e vereis o que o Senhor fará hoje para vos salvar… O Senhor combaterá por vós e vós ficai tranquilos” (vv. 13-14).

15O Senhor disse a Moisés: “Por que clamas a mim por socorro? Dize aos filhos de Israel que se ponham em marcha.16Quanto a ti, ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar.17De minha parte, endurecerei o coração dos egípcios, para que sigam atrás deles, e eu seja glorificado às custas do Faraó, e de todo o seu exército, dos seus carros e cavaleiros.18E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado às custas do Faraó, dos seus carros e cavaleiros”.

A pergunta de Deus supõe uma peça que faltava: uma súplica de Moisés como na oração de 5,22s. Repete-se o esquema de ordem e anúncio (cf. vv. 1-4). A ação avançará para enfrentar o limite extremo do perigo. Aí se mostrará a glória de Javé.

A narrativa da passagem pelo mar é uma mescla de pelo menos duas tradições: a tradição mais antiga fala de certo vento que baixa a maré (v. 21) e permite a passagem dos israelitas; a tradição mais nova (sacerdotal) destaca o papel de Moisés como intermediário que recebe ordem e a cumpre, “ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o”, assim abrirá caminho seco entre duas muralhas de água.

“Saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado …”. Expressão usada em que lembra o profeta Ezequiel (Ez 6,7.13; 7,4.9; 11,10.12 etc.) mostrando o caráter nacionalista e as vezes discriminador a teologia oficial pós-exílica (Javé com poder universal, israelitas separados como povo eleito, cf. 8,18; 9,4.26; 10,23; 11,7; 33,16). A glória do Senhor se revelará no deserto (16,7.10), na nuvem luminosa do Sinai (24,16s etc.) e depois no templo de Jerusalém (1Rs 8,10s).

19Então, o anjo do Senhor, que caminhava à frente do acampamento dos filhos de Israel, mudou de posição e foi para trás deles; e com ele, ao mesmo tempo, a coluna de nuvem, que estava na frente, colocou-se atrás,20inserindo-se entre o acampamento dos egípcios e o acampamento dos filhos de Israel. Para aqueles a nuvem era tenebrosa, para estes, iluminava a noite. Assim, durante a noite inteira, uns não puderam aproximar-se dos outros.

A função destes dois vv. é atrasar a solução e abrir espaço para uma descrição de grande densidade simbólica. A nuvem condutora desempenha uma função nova: adensar a escuridão e imobilizar os atores até o momento oportuno.

Introduz-se o anjo do Senhor (cf. 3,2; 23,20-23) que representa o próprio Senhor (Javé). Pela “coluna (de fogo e) da nuvem” (cf. v. 24; 13,21s), Javé separa os povos: ilumina o caminho do seu povo, enquanto o obscurece para os egípcios. A coluna de nuvem e de fogo representa a presença e a direção de Deus, função posterior do templo, da lei e dos sacerdotes no pós-exílio (cf. Ex 40,34-38; Lv 9,24; Nm 11,24-30; Dt 4,11-14; Ne 9,12-14; Is 4,5; 30,19).

21Moisés estendeu a mão sobre o mar, e durante toda a noite o Senhor fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte; e as águas se dividiram.22Então, os filhos de Israel entraram pelo meio do mar a pé enxuto, enquanto as águas formavam como que uma muralha à direita e à esquerda. 23Os egípcios puseram-se a prossegui-los, e todos os cavalos do Faraó, carros e cavaleiros os seguiram mar adentro (vv. 21-24).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 90) comenta: Uma tradição mais antiga fala de certo vento que baixa a maré e permite a passagem dos israelitas, mas não dos carros que são tragados pela subida das águas. Sobrepõe-se uma tradição mais nova, segundo a qual Moises abre caminho seco entre duas muralhas de água. Não se sabe o que de fato aconteceu. Mas a vitória será usada pela teologia exílica e pós-exílica como fundamento do poder de Javé (vv. 18.31, cf. Dt 1,30; 11,4; Js 24,7…). Todo esse poder, porém, só é de fato sagrado se estiver a serviço da libertação dos oprimidos e da construção de uma sociedade justa, solidaria e fraterna

Existem neste livro do Êxodo várias versões do mesmo fato da libertação: uma versão em forma de poesia, o canto heroico de Ex 15 (o salmo responsorial desta leitura); em nossa leitura, temos duas versões misturadas num único relato: uma versão mais realista e psicológica, e outra mais litúrgica, doutrinal e abstrata, atribuída à redação sacerdotal no exílio babilônico. Com essas duas, o último redator (Esdras?) compôs o presente capítulo (no pós exílio). Isso explica as repetições temáticas e as mudanças de tonalidade.

Na tradição mais velha, o faraó toma a iniciativa, o povo discute com Moisés (vv. 5-7.10-12), depois entram em jogo os elementos (vento, mar, chão seco, noite) e a derrota egípcia é salvação para os israelitas. Na tradição posterior (sacerdotal), Deus toma a iniciativa (vv. 1-4.8-9) e Moisés é intermediário (ordens e anúncios, em seguida execução e cumprimento) que, como numa liturgia, “estende a mão” com a vara (v. 16) para “dividir o mar” que fica “como uma muralha”.

Na escuridão, o silêncio da noite e dois elementos cósmicos: o mar hostil, devorador, e o vento a serviço de Deus (Sl 104,4). “De pé enxuto”, lit. “sobre a terra seca”, como numa nova criação e no final do dilúvio, a água se retira e a terra seca aparece no meio dela (Gn 1,9; 8,1-5). A água hostil (cf. Gn 1,2; Sl 18,5s) se transforma em muralha protetora, em passagem segura para a luz do amanhecer que vem do leste. Direita e esquerda significam também sul e norte.

24Ora, de madrugada, o Senhor lançou um olhar, desde a coluna de fogo e da nuvem, sobre as tropas egípcias e as pôs em pânico. 25Bloqueou as rodas dos seus carros, de modo que só a muito custo podiam avançar. Disseram, então, os egípcios: “Fujamos de Israel! Pois o Senhor combate a favor deles, contra nós” (vv. 24-25).

Os egípcios penetravam pelo mesmo caminho. Onde os escravos fugitivos com sua bagagem leve passaram com facilidade, os “600 carros” (cf. v. 7) do exército atolaram. Agora é a vez dos egípcios de ter medo, entrar em pânico e fugir. O momento é a última vigília da noite, das 2 às 6h da manhã. A salvação costuma chegar pela manhã (Sl 17,15; 57). Quem combate, não é o povo dos hebreus que só assiste (cf. vv. 13s) é Javé, “o Senhor combate”, como guerreiro (cf. 15,3), em favor deles.

Menciona-se um elemento que faltava, o fogo, sinal da presença de Deus em Gn 15,17 e depois em Ex 19,18. Poderíamos relacionar a “coluna de fogo e de nuvem” (13,21; 14,19s) com a explosão vulcânica em Santorin (Thera), uma ilha grega onde surgiu uma cratera enorme no mar e causou a maior erupção vulcânica dos últimos 10.000 anos. Um vento pode ter levado a nuvem vulcânica (piroclasto) até o Egito (800 km de distância) onde causou trevas, granizo e chuvas de pedra e fogo, poluindo o rio Nilo e provocando pragas e doenças. A coluna alta de fogo e nuvem de cinzas pode ter se elevado até a estratosfera, mas do Egito talvez não teria sido mais visível. Metade da ilha caiu no mar e, junto com a erupção, pode ter causado um enorme tsunami que chegou ao Egito com 2 m de altura (suficiente para acabar com os cavalos e cavaleiros). Em todo tsunami, antes de chegar a onda gigante (“como muralha”), as ondas pequenas se retiram e abrem o chão do mar, assim os hebreus fugitivos podiam ter passado rapidamente pelo mar raso dos juncos “de pé enxuto”.

A erupção em Santorin aconteceu entre 1600 e 1500 a.C., mas não se conhecem registros egípcios da erupção ao não ser as trevas, barulhos e chuvas torrenciais que devastaram grande parte do Egito e foram descritas na “Estela da tempestade” do faraó Amósis (1539–1528). A ausência de tais registros é por vezes atribuída à desordem geral no Egito em torno do Segundo Período Intermediário. Mas os efeitos da erupção junto com o tsunami por ela causada devem ter ficado na memória da região toda influenciando a descrição de elementos na tradição do êxodo (no tempo de Ramsés II, 1250 a.C.) como também o desaparecimento de Atlântida descrito por Platão (em Timaios e Critias). O relato platônico originalmente deriva dos relatos do legislador ateniense Sólon (638–558) que, durante sua viagem em Saís, no delta do Nilo, tomou conhecimento, por intermédio de sacerdotes egípcios, do desaparecimento de um grande império insular.

26O Senhor disse a Moisés: “Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem contra os egípcios, seus carros e cavaleiros”. 27Moisés estendeu a mão sobre o mar e, ao romper da manhã, o mar voltou ao seu leito normal, enquanto os egípcios, em fuga, corriam ao encontro das águas, e o Senhor os mergulhou no meio das ondas. 28As águas voltaram e cobriram carros, cavaleiros e todo o exército do Faraó, que tinha entrado no mar em perseguição de Israel. Não escapou um só. 29Os filhos de Israel, ao contrário, tinham passado a pé enxuto pelo meio do mar, cujas águas lhes formavam uma muralha à direita e à esquerda (vv. 26-29).

Quando os egípcios vão atrás deles, as águas se fecham e os engolem (Sb 10,18s), mas não sem nova ordem litúrgica (“Estende a mão…”) e sua execução imediata. Os egípcios são engolidos pelo o refluxo do mar (maré alta, tsunami?). Na narrativa mais antiga, somente Javé é que intervém; talvez nem se falava de uma passagem do mar pelos israelitas, mas apenas da miraculosa destruição dos egípcios pelos elementos.

30Naquele dia, o Senhor livrou Israel da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos nas praias do mar, 31e a mão poderosa do Senhor agir contra eles. O povo temeu o Senhor, e teve fé no Senhor e em Moisés, seu servo (vv. 30-31).

Do exército inimigo só restavam cadáveres (cf. Is 37,36). Morte dos opressores e vida com liberdade, assim é o final do juízo de separação. Os israelitas são testemunhas e por isso mudam de atitude. O medo o povo de antes se transforma em “respeito” reverencial (“temeu”, a mesma palavra hebraica) e a desconfiança (cf. vv. 10-12) se muda em fé “no seu servo Moisés” (em 4,16 e 7,1, Moisés é quase um deus pelo qual Javé fala e age; cf. Nm 12).

A recordação desta passagem aflora muitas vezes no AT, a tal ponto que esta libertação foi cantada como o milagre por excelência (Sl 77,17-20; 106,9). Isaías fala da volta do exílio babilônico como de um novo êxodo (Is 43,16-21). Nos registros do Antigo Egito, porém, não se encontra nada sobre esta fuga dos escravos hebreus, talvez por vergonha sobre a derrota (costumam-se registrar só as vitórias do faraó) ou por que achassem insignificante a fuga de alguns grupos de escravos. Pode ser que tivessem acontecido várias fugas de grupos distintos que se uniram depois num relato épico e único. Pelo menos um grupo atribuiu a libertação a seu deus Javé (os “Shasu-nômades de Yahu” mencionados em duas listas no Egito? O termo “hebreu” pode vir de hapiru com que os egípcios designavam grupos marginalizados de diversas etnias).

Não temos registros de Moisés fora da Bíblia. Mas estes grupos tinham seus líderes. O nome egípcio de Moisés indica alguém que pode ter tido conhecimento dos pontos fracos das fronteiras e do exército egípcio, assim os fugitivos não escolheram a rota mais curta seguindo pela praia, mas a mais longa (cf. 13,17s) por onde o exército não conseguiu mais seguir, mas atolou (afundou). No texto hebraico, o mar é o “mar dos juncos” (13,17s), só na tradução grega tornou-se o mar Vermelho.

Não é possível determinar o lugar e o modo deste acontecimento de Ex 14; mas aos olhos das testemunhas apareceu com uma intervenção espetacular de “Javé guerreiro” (Ex 15,3) e tornou-se um artigo fundamental da fé javista (Dt 11,4; Js 24,7; cf. Dt 1,30; 6,21-22; 26,7-8). Este milagre do mar foi colocado em paralelo com outro milagre da água, a passagem do Jordão (Js 3-4) na entrada da terra prometida. A tradição cristã considerou a passagem pelo mar como uma figura da salvação, e mais especialmente a salvação pelo batismo (1Cor 10,1) e torna sua leitura obrigatória na vigília pascal.

15,1Então, Moisés e os filhos de Israel cantaram ao Senhor este cântico (15,1).

“Este cântico” de Moisés é o salmo responsorial de hoje (as estrofes: 15,8-10.12.17) no estilo de um salmo de ação de graças. É o primeiro e o mais celebre dos “cânticos” que a liturgia cristã toma do AT. É repetido pelo cântico antigo da profetisa Miriâm, irmã de Moisés, em 15,21 que retém somente a destruição dos egípcios. Miriâm é o nome hebraico traduzido por “Maria” em grego (cf. a participação feminina da libertação nos caps. 1-2). No livro sagrado dos muçulmanos (Alcorão), o fundador do islã, Maomé, confundiu esta irmã de Moisés (Ex 2,4-8; Nm 12) com Maria, a mãe de Jesus.

O hino trata em toda a sua ampliação o tema da salvação miraculosa através do poder e da solicitude de Javé para com seu povo. O canto da vitória, que Miriam entoa em v. 21, é ampliado até englobar o conjunto das maravilhas do êxodo e da conquista de Canaã e até a construção do templo de Jerusalém, “em vosso monte, no lugar que preparastes para a vossa habitação, no santuário construído pelas vossas próprias mãos” (15,17).

 

8ª Leitura: Rm 6,3-11

Esta leitura resume o tema central da vigília pascal: a passagem da morte à vida em Cristo e em nós pelo batismo. A nossa páscoa é a transposição deste mistério da morte e ressurreição de Cristo para a nossa própria vida.

Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova (vv. 3-4).

Paulo faz apelo à simbologia do batismo por imersão: o fato de ser imergido para dentro da água representa a morte e sepultura; o emergir da água, já tornado “nova criatura” (2Cor 5,17), significa a ressurreição, a nova vida divina.

Pois, se fomos de certo modo identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o corpo de pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado. Com efeito, aquele que morreu está livre do pecado. Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive (vv. 5-10).

Paulo, ao dizer que nós fomos batizados na sua morte, quer dizer que nos unimos pelo batismo tão intimamente à morte de Cristo, destruidora de todo o pecado, que também nós morremos para o pecado, a tal ponto que este já não deve dominar mais a nossa vida.

Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo (v. 11).

A nossa vida tem que ser uma vida de ressuscitados: “vivos para Deus em Jesus Cristo”. Mas nós não somos uns meros beneficiários, estranhos ao mistério pascal de Cristo: a nossa nova vida é uma vida em Cristo Jesus, pois estamos incorporados nele pela fé e pelo amor, feitos membros do seu corpo, sendo ele a cabeça (cf. 1Cor 12,12-27; Ef4,14-15; Cl 1,18).É assim que Paulo pode dizer: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20).

 

Evangelho (Ano A): Mt 28,1-10

O evangelista Mateus já usava como modelo o relato de Mc 16,1-8 sobre a descoberta do túmulo vazio pelas mulheres e a mensagem do anjo, mas acrescentou uns detalhes: os guardas e a aparição do ressuscitado diante das mulheres.

Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro (v. 1).

Nos quatro evangelhos, “Maria Madalena” é a primeira testemunha do túmulo vazio, acompanhada por outras mulheres. Elas sabem o lugar porque não fugiram como os discípulos (26,56). Em Mt, são apenas duas mulheres; duas testemunhas são suficientes segundo Dt 17,6; 19,15 (cf. os dois cegos em 9,27ss com Mc 10,46ss). A “outra Maria” (cf. Jo 19,25) é a mãe de Tiago e de José (27,56). Estas duas mulheres estavam juntas à cruz a ao funeral. Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu (20,20), também estava perto da cruz, mas faltou no funeral (27,56.61; cf. Mc 15,40; 47; 16,1; Lc 23,49.55; 24,10).

Em Mt, as duas mulheres foram “ver” o túmulo, sem intenção de ungir o cadáver como em Mc e Lc. Talvez pelo tempo que passou, de sexta-feira até domingo, Mt tenha achado a unção tardio do cadáver um empreendimento inusitado; além disso, a mulher em Betânia já tinha ungido Jesus antecipadamente para o funeral (cf. 26,12p). Mas também os guardas colocados pelas autoridades (acréscimo de Mt 27,62-66) não deixariam entrar no sepulcro lacrado.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1916) comenta: A narrativa pôde ser influenciada pelo costume judaico de peregrinar aos túmulos do santos; esta hipótese seria confirmada pelo interesse manifestado mais adiante à determinação do local do sepulcro (28,6: “aqui … vinde ver”

No sábado devia se evitar o contato com os mortos para não se tornar impuro (cf. Lv 21,1.11; Nm 6,9; 19,11-13; 31,19; Ag 2,13; Ez 44,25-27; Is 65,4), por isso tinha que passar o sábado, e a descoberta do túmulo vazio acontece “no terceiro dia” após a morte de Jesus (cf. 16,21; 17,23; 20,19).

O “amanhecer do primeiro dia da semana” já se torna o primeiro sinal de esperança, um novo começo, porque no primeiro dia da semana da criação, Deus criou a luz (Gn 1,3). Mt e Lc usam uma palavra grega rara, epifoskein (“luzir”), uma alusão a “luz” (fós), enquanto Mc 16,2 só escreveu: “bem cedo ao nascer do sol”.

Como Mt e Lc escrevem depois de Mc, mas independentemente um do outro, esta palavra rara em ambos só se pode dever à uma segunda edição de Mc (Deutero-Marcos) que Mt e Lc usavam. Lc 23,54, porém, indicou o início do sábado com este verbo, então pode significar também o surgimento da primeira estrela vespertina ou, no caso do sábado, o acender das velas para o ritual na casa judaica.

De repente, houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve. Os guardas ficaram com tanto medo do anjo, que tremeram, e ficaram como mortos (vv. 2-4).

Enquanto nos outros evangelhos, as mulheres veem a pedra já retirada e depois, ao entrarem no túmulo, o anjo. Em Mt, uma angelofania (cf. Gn 16,7-12; 22,11-13; Nm 22,31-35; Jz 6,11-24; 13) tornou-se uma teofania. Em 27,51-53, um terremoto (cf. Ex 19,18; Sl 114,7; Hb 12,26) já abriu os túmulos dos santos na hora da morte de Jesus (cf. Ez 37,1-14). O momento da ressurreição de Jesus não é descrita diretamente (só o evangelho apócrifo de Pedro tentaria isso depois no séc. II), mas indiretamente: Um “anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela”.

É o momento em que Jesus sai vivo (cf. Lázaro em Jo 11,39.44)? Só se fosse de maneira invisível, porque as mulheres não veem o ressuscitado neste momento, só depois em vv. 9-10. Então ele já passou antes pela entrada fechada (cf. Jo 20,19.26)? Mas então os guardas não perceberam?

No AT, o “anjo do Senhor” (cf. 1,20; 2,13.19) sempre representa o próprio Deus (Gn 16,7-12; 22,11-15; Ex 2,2-6; Nm 22,31-35; Jz 6,11-24; 13). Sua aparência lembra a transfiguração (17,2) e certas descrições de anjos no gênero apocalíptico (Dn 10,5s). O medo faz parte do gênero, mas aqui se torna ironia, porque os guardas “ficaram como mortos”, enquanto o morto (Jesus) fica vivo.

Já em 27,62-66, Mt inseriu “os guardas” (cf. 27, 36.54) que as autoridades judaicas conseguiram de Pilatos para vigiar o túmulo de Jesus “para que os discípulos não venham roubá-lo e depois digam ao povo: Ele ressuscitou dos mortos.” Mt defende a fé na ressurreição contra boatos surgidos entre judeus (cf. 28,11-15). O fato do túmulo vazio, porém, nunca foi contestado, mas é um sinal (não uma prova) aberto a várias interpretações (cf. Jo 20,2). Mas o testemunho dos apóstolos, antes medrosos e depois da ressurreição corajosos, é prova histórica de que não mentiram, porque para salvar sua vida da tortura e da morte, poderiam ter desmentido, mas não; testemunharam a ressurreição do crucificado até a própria morte. O que gerou esta convicção, esta fé dos apóstolos? Não foi apenas o túmulo vazio, mas a aparição do próprio ressuscitado.

Então o anjo disse às mulheres: “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar em que ele estava. Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós o vereis. É o que tenho a dizer-vos” (vv. 5-7).

Mt volta a transmitir o que Mc 16,6-7 já escreveu (mas Mt não menciona “Nazareno” nem “Pedro”). O anjo mostra o lugar vazio onde o corpo de Jesus estava, lembra que Jesus já havia falado da sua ressurreição (nos anúncios da paixão 16,21; 17,23; 20,19: “no terceiro dia ressuscitará”, cf. 12,40; 17,9; 26,32p), e encarrega as mulheres corajosas de contar aos discípulos medrosos que “vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós o vereis” (v. 7; cf. 26,32p).

Depois em 28,16-20, Mt narra esta aparição aos onze discípulos (Judas já morreu, cf. 27,3-9) na Galileia. Em Mc, Galileia representa o lugar do início, onde Jesus foi acolhido bem pelo povo contrastando com a cidade hostil de Jerusalém. Em Mt, Galileia representa já a abertura aos pagãos (4,15s), para onde Jesus enviará os apóstolos (v. 19). Jesus se despedirá dos apóstolos num monte (como Moisés no monte Nebo em Dt 34; cf. Mt5,1; 17,1-3) assegurando sua presença divina no meio da comunidade (28,20b; cf. 1,23; 18,20).

As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com grande alegria, para dar a notícia aos discípulos. De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: “Alegrai-vos!” As mulheres aproximaram-se, e prostraram-se diante de Jesus, abraçando seus pés. Então Jesus disse a elas: “Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão” (vv. 8-10).

O evangelho de Mc terminou com o susto e o medo das mulheres que “fugiram e contaram nada a ninguém” (Mc 16,8; os vv. 9-16 são um acréscimo posterior do séc. II). Provavelmente, Mc queria provocar com este final absurdo (se as mulheres não contaram a ninguém, como o próprio evangelista sabe?). Em Mc, Jesus sempre dava ordem de guardar silêncio a respeito dele (o segredo do messias, cf. 1,43-45 etc.), e essa ordem geralmente não foi respeitada, mas este silêncio tinha prazo: “até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos” (Mc 9,9s). Agora chegou o momento de falar e anunciar, e as mulheres não falam! O leitor de Mc deve gritar por este absurdo e começar anunciar a boa nova (“Evangelho”, Mc 1,1; 13,10).

Mt e Lc mudaram este silêncio das mulheres; em Lc 24,11, elas contaram aos apóstolos, mas estes acharam a notícia “delírio” de mulher, somente Pedro correu para verificar o túmulo (24,12; cf. Jo 20,2-10). Na época, as mulheres não eram admitidas como testemunhas nos tribunais. Na sua lista de testemunhas da ressurreição, Paulo não fala nem de mulheres nem de um túmulo vazio (1Cor 15,3-8).

Também Mt precisava escrever algo para aumentar o crédito no anúncio das mulheres. Ele o faz contando a primeira aparição do próprio ressuscitado, que sé dá a reconhecer pelas mulheres ainda no caminho perto do sepulcro. A saudação comum em grego, “Alegrai-vos” (cf. 26,49; Lc 1,28) ganha um sentido mais profundo (cf. Lc 24,36.41; Jo 20,19s).

Já no v. 8, Mt acrescentou a “grande alegria” (cf. os magos 2,10 e nas parábolas 13,44; 25,21.33) ao “medo” (Mc 16,8) das mulheres. As mulheres “prostraram-se” (gesto de adoração a Deus, cf. os magos em 2,2.8.11 e os discípulos em 14,33 e 28,17; pessoas pedindo em 8,2 e  15,25), “abraçando seus pés” para expressar sua esperança (cf. 2Rs 4,27), ou verificar a corporeidade do ressuscitado (cf. Lc 24,39)? Depois Jesus repete a ordem do anjo de ir à Galileia, mas chama os discípulos “meus irmãos” (igual termo na aparição do ressuscitado à Madalena em Jo 20,17; cf. Sl 22,23; Mt 12,48-50p; 25,40).

Mt não escreveu sobre outras aparições do ressuscitado na cidade de Jerusalém; Lc e Jo sim, mas ambos mencionam aparições também na roça (Lc 24,13-35: Emaus; Jo 21: Galileia). Os discípulos (pelo menos alguns) devem ter fugidos à Galileia (cf. 26,56p), mas as aparições do ressuscitado lhes deram coragem para se reunir de novo em Jerusalém, expor-se ao perigo e testemunhar a ressurreição do Cristo (sob a influência do Espírito Santo a partir de Pentecostes, cf. At 1-2).

 

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