16 de abril de 2017 – Domingo da Páscoa

 

1ª Leitura: At 10,34a.37-43

As primeiras leituras do Tempo Pascal são tiradas dos Atos dos Apóstolos (segundo volume do evangelista chamado Lucas). Hoje ouvimos a parte central da pregação missionária de Pedro diante do centurião Cornélio. Até então, Pedro visitava somente comunidades judeu-cristãs (cf. 9,23-43). Um judeu não entrava numa casa de um pagão para não ficar impuro (v. 28; 11,3; cf. Jo 18,28; Mt 8,8p), mas uma visão mostrou a Pedro que não devia fazer distinção de puro e impuro (vv. 9-16.28s). Impelido pelo Espírito (v. 19), Pedro aceitou o convite de Cornélio, pagão romano, mas “piedoso e temente a Deus” (v. 2; cf. Lc 7,1-10), que residia em Cesareia (cidade litoral) e queria ouvi-lo com “seus parentes e amigos mais íntimos” (v. 24).

Pedro tomou a palavra e disse: (v. 34a)

No início da sua pregação (vv. 34b-36; omitida pela liturgia de hoje), Pedro resume a lição da sua visão anterior: “Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável” (cf. 15,9; Dt 10,17; 2Cr 19,7; Sl 15,2; Pr 15,37s; 16,7). Deus escolheu seu povo de Israel (cf. 13,46: “primeiro”), porque, “ele enviou a palavra aos filhos de Israel, dando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos” (cf. Is 52,7; Sl 107,20). Com isso, já introduziu Jesus como messias (“Cristo”) e “Senhor” (cf. 2,36).

“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém (vv. 37-39a).

Diferente de uma pregação diante de pagãos que fala do Deus Criador e chama à conversão (14,15ss; 17,24ss), a pregação diante de Cornélio se refere ao que ele e os demais ouvintes já sabem. Como tementes a Deus já participavam da sinagoga (sem serem circuncidados) e devem ter ouvido “o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galileia” (cf. v. 39; Lc 4,14.37.44; 23,5).

Segue o roteiro resumido do Evangelho (de Mc, usado como modelo por Lc): começando pelo batismo por João em que “Jesus de Nazaré” se tornou “Cristo” (= “ungido”,  Jesus não foi “ungido” rei-messias com óleo pelo sumo sacerdote, mas “por Deus com o Espírito”; cf. Is 42,1; Lc 4,4.18.; At 4,27), depois seus milagres (“poder”, “fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio”; cf. 4,9; Lc 13,16; Lc 4,18s = Is 61,1s). Os apóstolos (“nós”) são “testemunhas de tudo” (cf. 1,1s) deste trajeto de Jesus desde o batismo até sua ascensão (cf. 1,21s).

Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos (vv. 39b-41).

O kerygma (primeiro anúncio do fundamento da fé cristã, cf. 2,22-24) se apóia numa fórmula de contraste (cf. 2,23s: “vós o matastes…, mas Deus o ressuscitou”), mas diante do romano Cornélio não menciona a culpa (cf. “vós o crucificastes…”, cf. 2,23.36; 3,13.19; 4,10.12; 5,30); aqui só relata a morte de Jesus pelos responsáveis (v. 39; cf. Lc 22,2; At 2,23; 13,28) que “o mataram pendurando-o numa cruz” (cf. Dt 21,22; At 5,30). Mas aquele morto de maneira tal desastrosa, “Deus o ressuscitou no terceiro dia” (cf. Lc 9,22; 24,7.46; At 3,13; 4,10; 5,30; 13,30.37).

O antigo kerigma pascal fala da ressurreição junto com as aparições diante de testemunhas (cf. 1Cor 15,3-5), aqui como ação de Deus: “concedendo-lhe manifestar-se, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido.” Os filhos de Israel (v. 36) e agora os pagãos dependem destes testemunhos de apóstolos escolhidos (cf. Lc 6,12-16; At 1,2.22):nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (cf. Lc 24,30.35.43; At 1,4).

E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos (v. 42).

A pregação apostólica é a mando do próprio Jesus e se dirige primeiramente ao “povo” (aos judeus), mas seu testemunho (cf. 2,40; 8,25; 28,23) alcança agora os pagãos também; Jesus é universal como “juiz dos vivos e dos mortos” (cf. 17,31; 1Ts 1,10).

Todos os profetas dão testemunho dele: ‘Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados’” (v. 43).

Os sermões diante dos judeus (cf. 2,14-36; 3,11-25; 4,9-12; 7,1-53; 13,16-43) contém provas da Escritura. Aqui diante dos pagãos, Pedro se contenta num resumo: “Todos os profetas os profetas dão testemunho dele” (cf. Lc 24,27.44; At 3,21.24). A boa nova da paz (v. 35) se concretiza no “perdão dos pecados”, que recebe “todo aquele que crê em Jesus” (cf. Paulo em 13,39; Rm 1,16; 3,22; 10,11). Este o recebe “em seu nome”, ou seja, no batismo (cf. 2,28) que Pedro administrará em seguida. Concede o batismo a estes pagãos, porque o Espírito Santo interrompe o discurso de Pedro e desce sobre Cornélio e sua família (é o “pentecostes dos pagãos”, cf. vv. 44-48) sinalizando que Deus quer a inclusão dos outros povos formando a Igreja católica (=para todos, universal).

2ª Leitura: Cl 3,1-4

Na 2ª leitura de hoje, Paulo (ou um discípulo dele, que escreveu em nome de Paulo) não despreza as realidades terrestres, mas introduz a perspectiva da ressurreição que glorifica o corpo e toda matéria.

Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (vv. 1-4).

O autor da carta frisa mais uma vez que a salvação já aconteceu pela obra de Cristo (cf. 2,12s; Ef 2,6) e não vem pelos elementos deste mundo (cf. 2,16-23), porque já fomos ressuscitados com Cristo, já estamos mortos para o pecado, mas esta verdade que se expressa pelo sacramento do batismo (cf. Rm 6,2-11, leitura de ontem) ainda está “escondida” e precisa ser vivida no dia a dia. “Procurar as coisas do alto” significa procurar a vida nova revelada em Jesus Cristo, em oposição ao mundo antigo. Isto se apoia na citação de Sl 110,1: “Senta-te à minha direita” (cf. Mc 12,35-37p; 14,62p; At 2,33s; Rm 8,34; 1Cor 15,25; Ef 1,20; Hb 3,1.13; 8,1; 10,12; 12,2; 1Pd 3,22).

O mistério da união com Cristo glorificado se projeta nas coordenadas imaginativas de espaço e tempo: terrestre e celeste, presente e futuro. Cristo glorificado vive em nós, (v. 4: “vossa vida), e nós por ele. Como Cristo está agora “escondido”, invisível embora possa ser experimentado (2Cor 13,5), também nossa vida com ele “está escondida” (v. 3). Quando ele se “manifestar na glória” da parúsia (sua volta nas nuvens; cf. 1Ts 1,10; 4,16s), também se manifestará nossa vida glorificada.

 

Evangelho: Jo 20,1-9

O evangelho de hoje apresenta Maria Madalena encontrando o túmulo vazio e a corrida de Pedro com o discípulo amado para verificar (cf. Lc 24,12). Precisamos entender quem era o discípulo amado e qual sua importância no evangelho:

O Evangelho de João é o mais novo dos quatro evangelhos, o último evangelho aceito pela Igreja, escrito em 90-100 d.C. (conforme a maioria dos biblistas). É bastante independente e diferente dos sinóticos (Mt, Mc, Lc), mas, talvez numa segunda fase, tomou conhecimento deles (tem mais proximidade com Lc). Jo apresenta algumas características próximas dos evangelhos apócrifos (p. ex. dualismo gnóstico); estes não entraram mais no cânone do NT (Novo Testamento) por terem doutrinas diferentes da tradição apostólica (não são consideradas inspiradas).

O Ev de Jo foi escrito em várias etapas e por vários autores: primeiramente usava-se uma coleção sobre os “sinais” (sete milagres) e um relato da paixão, depois um autor (evangelista) acrescenta longos discursos teológicos (“Eu sou …”, preexistência do Verbo, escatologia presente) e, por último, uma redação eclesial escreve acréscimos posteriores como Jo 21 (após o primeiro final em Jo 20,30-31), Jo 15-17 (18,1 seguia antes ao 14,31), partes de Jo 10 e todas a referências sobre o “discípulo amado”, que era a autoridade na origem na comunidade e foi considerado o autor do evangelho (21,24).

A identificação deste discípulo amado com o apóstolo João, filho de Zebedeu, é tradicional, mas contestada hoje, porque o quarto Evangelho não apresenta nada da transfiguração, da oração no jardim das oliveiras ou das outras situações, onde João estava presente nos outros evangelhos (cf. Mc 5,37; 9,2; 13,3; 14,33). O evangelho não diz que o discípulo amado fazia parte do grupo dos doze. Portanto podemos só afirmar que o quarto Evangelho foi concluído por discípulos anônimos do discípulo amado, cujo nome também não se sabe.

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram” (vv. 1-2).

Além da cronologia da paixão, o “primeiro dia da semana” (vv. 1.19; cf. v. 26) pode ser uma alusão ao primeiro dia da nova criação (cf. Gn 1,3-5). Os cristãos o dedicarão ao Senhor (latim: dominus) glorificado, e por isso o chamarão dominical: “dies domínicus” (= domingo; Ap 1,10).

Maria Madalena é a primeira testemunha da ressurreição de Cristo. Seu nome indica o lugar de origem (Magdala na beira do lago de Genesaré) e não o nome do marido ou filho ou pai como era o costume (cf. 19,25; Mc 15,40p; Lc 8,3). Não deve ter tido (mais?) um marido, mas não está comprovada que era a prostituta anônima de Lc 7,36-50; esta tradição surgiu só pela proximidade de Lc 8,2 que nos diz que Jesus a libertou de sete demônios (Lc 8,2; Mc 16,9). Por gratidão desta cura, pôs os seus próprios bens à disposição de Jesus e dos discípulos (Lc 8,2). Mas sua maior importância consiste em ser a primeira testemunha da ressurreição. Todos os quatro evangelistas relacionam seu nome com o túmulo vazio e dois deles contam um encontro dela com o Ressuscitado (cf. Mt 28,9-10; Jo 20,11-18.)

Maria Madalena é uma das três mulheres que estiveram junto à cruz (19,25). No sábado era proibido trabalhar ou ter contato com os mortos (cf. Lv 21,1.11; Nm 6,9; 19,11-13; 31,19; Ag 2,13; Ez 44,25-27; Is 65,4), por isso tinha que passar o sábado, e a descoberta do túmulo vazio acontece “no terceiro dia” após a morte de Jesus. Maria esperou todo o sábado e a noite do dia seguinte, mas se levanta impaciente de madrugada (“por ti madrugo”; “antecipo-me à aurora”, Sl 63,2; 119,147-148). Diferente dos evangelhos sinóticos com sua alusão à luz do primeiro dia da semana (cf. Mt 28,1p), em Jo, “ainda estava escuro”. Este detalhe pode demonstrar a coragem de Maria Madalena. Já permaneceu embaixo da cruz, agora vai ao túmulo ainda na escuridão. Por outro lado, significa que a luz da ressurreição ainda não esclareceu sua tristeza (cheia de lagrimas nos olhos, ela não reconhece Jesus quando aparece em seguida (vv. 15-18).

O v. 1 só diz a metade do que Maria viu: “viu a pedra retirada”, mas não viu o cadáver de Jesus. O v. 2 o completa: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”, é a primeira mensageira do sepulcro vazio. Ela pensava que alguém (funcionário ou ladrão) tivesse retirado o corpo (vv. 2.13.15)

Curiosamente usa o plural: “nós não sabemos”. Alguns comentaristas suspeitam que numa versão precedente, Maria ia acompanhada de outras mulheres (cf. Mc 16,1; Mt 28,1; Lc 24,10). Nosso evangelho de hoje, porém, se concentra na corrida de Pedro e o discípulo amado ao túmulo.

No quarto evangelho aparece um discípulo anônimo “outro discípulo, aquele que Jesus amava”. Ele está perto de Jesus e descrito como testemunha e, na maioria das vezes, ao lado de Pedro (13,23s; 18,15; 20,3-10; 21,7.20-23; cf. 1,40; 19,26.35; Gl 2,9). Por isso, a tradição identificou este discípulo amado com o apóstolo João, filho de Zebedeu (cf. At 3-4; Gl 2,9), e lhe atribuiu a autoria do quarto e mais novo Evangelho.

Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou (vv. 3-4).

De fato, os dois agem imediatamente. Duas devem ser as testemunhas segundo a lei (Dt 19,15). Com o realismo de uma corrida, quase competição, o autor quer dizer algo mais. Pedro é o chefe indiscutido em todo momento; mas o outro discípulo é o predileto. Esteve à direita de Jesus na ceia (13,23s) e ao pé da cruz na morte (19,26). O discípulo amado, por ser mais jovem ou impulsionado pelo amor, correu mais depressa (“correrei pelo caminho de teus mandamentos quando me dilatares o coração”, Sl 119,32), mas “não entrou”. O discípulo reconhece a Pedro certa preeminência (cf. 21,15-17).

Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte (vv. 6-7).

Pedro é a primeira testemunha em importância (cf. Lc 24,34; 1Cor 15,5). Como chefe, cabe a ele verificar o túmulo vazio relatado pela mulher (cf. Lc 24,10-12.22-24). Mulheres não eram aceitas como testemunhas nos tribunais da época. As faixas de linha e o sudário enrolado à parte indicam que nenhum funcionário de José de Arimateia e nenhum ladrão teriam levado o corpo. Se alguém levasse o corpo, o levaria junto com os panos nos quais estava enrolado para não dificultar o translado. O sepulcro vazio é sinal, não prova, pois pode significar outras coisas: remoção, trasladação, roubo; mas os lençóis separados reforçam o sinal do túmulo como lugar da ressurreição.

De fato, em Mt 28,11-15 surge o boato de que os próprios discípulos teriam retirado e escondido o cadáver para depois enganarem o mundo proclamando a ressurreição do seu mestre. Mas o testemunho corajoso dos apóstolos que resistiram à perseguição, prisões, torturas e sofreram o martírio (por não negar sua fé no ressuscitado, cf. 21,18ss; At) não se deixaria explicar com uma mentira dessa, antes teriam confessado o engano para salvar sua vida. Só a aparição do ressuscitado explica esta transformação de apóstolos fugitivos a testemunhas corajosas que arriscam sua vida a partir de Pentecostes (20,19-23; cf. At 2).

Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou (v. 8).

O discípulo amado, impulsionado pelo amor, correu mais depressa e é o primeiro a crer. O sepulcro, os lençóis e o sudário são sinais da morte que Jesus deixou para trás. Na ausência, o discípulo amado descobre uma realidade nova. Quem se sente amado por Jesus e o ama também, acredita mesmo sem ter visto o ressuscitado ainda (cf. a bem-aventurança em 20,29).

De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos (v. 9).

No v. seguinte, o autor quer revelar que os discípulos não se achavam preparados para a revelação pascal, apesar das Escrituras (cf. Lc 24,27.32.44s). A Escritura poderia abrir os olhos, se fosse entendida. Quem entende a Escritura pode crer sem ver (cf. v. 29).

Os discípulos eram pessoas simples da roça da Galileia, mas na leitura das Escrituras encontrarão apoio para “provar” que a morte de Jesus não era um acidente da história nem a ressurreição era um absurdo, mas correspondia aos desígnios de Deus. A Escritura era reconhecida pelos judeus e servia de ponte para o anúncio (cf. o discursos nos At). A que texto se refere? Provavelmente a vários, numa linha de pensamento ou esperança (por ex. Is 53,11-12: “verá a luz”; cf. Sl 16,9-11; 30,49,16; 73,23-26; Is 26,19; Ez 37,1-14; Dn 12,2s; 2Mc 7…).

Segundo a opinião de alguns peritos, a descrição desta corrida entre Pedro e o discípulo amado pode indicar um conflito dentre da comunidade joanina e a sua solução:

O discípulo amado fundou e representou esta comunidade, na qual se desenvolveu certa compreensão mais avançada (“correu mais depressa”) sobre Jesus (cf. preexistência, discursos). Mas uma “corrente” avançou demais em direção gnóstica (salvação apenas pelo conhecimento; dualismo grego entre espírito e carne, luz e trevas, Deus e o mundo), deixando Jesus histórico (em carne e sangue) e os sacramentos do lado. Assim provocou-se um cisma e a saída de alguns (cf. 6,67; 1Jo 2,19).

Daí os apelos no evangelho e nas cartas joaninas de “permanecer” na comunhão com Cristo e os irmãos (cf. Jo 15; 1Jo 2). A solução estava em reconhecer a preferência e o papel eminente de Pedro, o primeiro apóstolo (não na cronologia de Jo; cf. 1,4-42). Apesar do fracasso de Pedro na paixão (três vezes negou Jesus), sua primazia foi instituída pelo próprio Jesus e reafirmada três vezes pelo ressuscitado em Jo 21,15-17. Daí se conclui que todos os trechos sobre o discípulo amado pertencem à última fase da redação do evangelho, chamada eclesiástica, que inseriu também os caps. 10; 15-17 e 21.

 

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