19 de janeiro de 2018 – Sexta-feira, 2ª semana

 

Leitura: 1Sm 24,3-21

Davi fugiu das perseguições do rei Saul para as grutas do deserto de Judá e muitos homens em dificuldades, descontentes e endividados, se reuniram a ele, e o fizeram seu chefe (cf. 22,1-2). O bando de Davi era parecido ao cangaço de Lampião (1897-1938) no nordeste brasileiro.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 327) comenta: Davi era oficial de Saul. Acusado de conspiração, tem que fugir para o deserto. Aí reúne os excluídos das cidades-estado (cf. 14,1-23) e forma um bando. Assim, de um lado está Saul, com exército permanente mantido pelos donos de bois (cf. 14,52), e do outro lado está Davi, com exército mercenário mantido por tributos e saques (cf. 1Sm 25; 27,5-12).

O narrador supõe que Saul tenha terminado sua campanha contra os filisteus e pode continuar a perseguição ao seu rival interno (23,8.25). Mas o episódio que ouvimos hoje é autônomo e contém alguns traços inverossímeis, de sabor legendário; se localiza no oásis de Engadi (En-Guedi: Fonte do Cabrito), perto da margem do mar Morto, região de muitas cavernas ainda hoje.

Saul tomou consigo três mil homens escolhidos em todo o Israel e saiu em busca de Davi e de seus homens, até aos rochedos das cabras monteses (v. 3).

É um recrutamento de “todo o Israel” para o exército de Saul, porque o assunto concerne a todo o povo, não só as tribos de Benjamim (Saul) e Judá (Davi). Davi chefiou cerca de 400 homens (22,2).

E chegou aos currais de ovelhas que encontrou no caminho. Havia ali uma gruta, onde Saul entrou para satisfazer suas necessidades (v. 4a).

Continuamos em paisagem animal: cabrito, camurças (cabras monteses), ovelhas; lugar vantajoso para o pastor Davi. Os currais eram cercados com um muro de pedra onde se guardam os rebanhos para passarem a noite. O narrador faz rir ao apresentar Saul desarmado e agachado numa gruta, lit. “para cobrir os pés” (lit.); eufemismo por “satisfazer sua necessidade (natural)”. Também um rei tem as mesmas necessidades igual a todos (cf. Salomão em Sb 7,1-6 “Também sou um homem mortal igual a todos…”).

Davi e seus homens achavam-se no fundo da gruta, e os homens de Davi disseram-lhe: “Este certamente é o dia do qual o Senhor te falou: ‘Eu te entregarei o teu inimigo, para que faças dele o que quiseres’”. Então Davi aproximou-se de mansinho e cortou a ponta do manto de Saul. Mas logo o seu coração se encheu de remorsos por ter feito aquilo, e disse aos seus homens: “Que o Senhor me livre de fazer uma coisa dessas ao ungido do Senhor, levantando a minha mão contra ele, o ungido do Senhor”. Com essas palavras, Davi conteve os seus homens, e não permitiu que se lançassem sobre Saul. Este deixou a gruta e seguiu seu caminho (vv. 4b-8).

Os companheiros citam um oráculo em favor de Davi, aplicando-o ao momento oportuno: “Eu te entregarei o teu inimigo, para que faças dele o que quiseres”. Mas Davi logo sente remorsos e corrige o sentido, porque na lista dos “inimigos” não pode entrar o rei de Israel, porque pela unção é sagrado e intocável (cf. 1Sm 9,16; 10,1), é “o ungido (hebr. mashiah=messias, grego: cristo) do Senhor”.

O olhar prospectivo ao futuro remorso (cf. 1Sm 12,13; 24,10: “sentiu seu coração bater”) dá à narrativa um caráter de recordação pessoal, com um esboço de análise psicológica. Com efeito, as vestes são um substituto da pessoa (cf. 18,4); tocar na roupa é tocar na pessoa (cf. Mc 5,28.31p; 6,56); atingir as vestes de alguém significa feri-lo em sua honra.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 329) comenta: A mensagem central é que não se deve levantar a mão contra o ungido de Javé (vv. 7.11.13.14). O livro dos Reis relata a inúmeras conspirações e golpes com que toda a família real era chacinada (cf. 1Rs 15,29). Daí a preocupação de Saul e Jônatas em preservar sua descendência (v. 22). Cortar o manto do rei simboliza que Davi poderia tomar o poder.

Davi levantou-se a seguir, saiu da gruta e gritou atrás dele: “Senhor, meu rei!” Saul voltou-se e Davi inclinou-se até o chão e prostrou-se. E disse a Saul: “Por que dás ouvidos às palavras dos que te dizem que Davi procura fazer-te mal? Viste hoje com teus próprios olhos que o Senhor te entregou em minhas mãos, na gruta. Renunciando a matar-te, poupei-te a vida, porque pensei: Não levantarei a mão contra o meu senhor, pois ele é o ungido do Senhor, e meu pai (vv. 9-12a).

Davi chama seu perseguidor “Senhor, meu rei!” e mantém os gestos submissos da corte “inclinou-se até o chão e prostrou-se”. Mas o discurso de Davi tem caráter judicial de pleito bilateral, com apelação última para justiça de Deus (vv. 13.16; cf. Jz 11,27). Davi e Saul estão em relação mútua de vassalo e soberano e também de parentes (Davi se casou com a filha de Saul, cf. 18,7-27): os títulos “meu pai” (v. 12a), “meu filho” (v. 17) cobrem ambos os aspectos.

Presta atenção, e vê em minha mão a ponta do teu manto. Se eu cortei este pedaço do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem crime em mim, que não pequei contra ti. Tu, porém, andas procurando tirar-me a vida. Que o Senhor seja nosso juiz e que ele me vingue de ti.  Mas eu nunca levantarei a minha mão contra ti. ‘Dos ímpios sairá a impiedade’, diz o antigo provérbio; por isso, a minha mão não te tocará (vv. 12b-14).

A Bíblia do Peregrino (p. 537) comenta: Nessa relação, que há de ser de justiça e lealdade, Davi demonstrou que cumpre seu dever; a orla do manto é uma prova judicial. Portanto, a perseguição de Saul não tem justificativa, é uma ruptura arbitrária e injusta dos compromissos. Davi ganhou o pleito agindo com generosidade (São Paulo aconselhará: “Vence o mal com o bem”, Rm 12,21). Esta evidência basta rebater o falso testemunho de outros… A vingança que Davi invoca é um ato de justiça vindicativa: ele pode acusar Saul e provar a acusação, mas não tem direito de condenar nem de executar a sentença.

Davi confia sua causa ao Senhor e conta com ele para vingá-lo (vv. 13.16; Jz 11,27; cf. Dt 32,35.43; Jr 11,20; 15,15; 20,12; Sl 94,1). A vingança pessoal fica excluída (cf. Lv 19,18; Rm 12,19), mas a justiça conserva seus direitos, mesmo no NT (cf. Ap 6,10; 19,2) em que o amor deve estender-se aos inimigos (cf. Mt 5,43-48p).

”Dos ímpios sairá a impiedade” ou “Dos malvados venha a maldade” (isto é: tocando nos maus acontece-nos uma desgraça); este provérbio (talvez inserido por um glosador) poderia ilustrar o que o próprio Saul declarou em 18,17.

A quem persegues tu, ó rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto! E uma pulga! Pois bem! O Senhor seja juiz e julgue entre mim e ti. Que ele examine e defenda a minha causa e me livre das tuas mãos” (vv. 15-16).

A Bíblia do Peregrino (p. 537) comenta: O texto da parte final do discurso de Davi é muito rítmico. O contraste “rei de Israel”, “cão morto, pulga”, quer mostrar o absurdo da situação; mas não concorda com o canto das moças: “Saul matou mil, mas Davi matou dez mil” [18,7]. A invocação final completa o processo: em princípio, Saul teria autoridade para julgar, sentenciar e executar um súdito, apelando para o Senhor; Davi subtrai sua causa à competência do rei, fica isento de uma possível causa criminal. E como o Senhor defende a causa do perseguido, Saul entra em pleito perdido diante do Senhor.

Uma pergunta semelhante a outro perseguidor da tribo de Benjamin (Rm 11,1; Fl 3,5), “Saul, Saul, porque me persegues?”, provocará a conversão de São Paulo (At 9,4; 22,7; 26,14; cf. o comentário do dia 25; mas não era a conversão de Saulo para Paulo; sempre tinha os dois nomes, conforme costume da época, um hebraico, outro grego/latim).

Quando Davi terminou de falar, Saul lhe disse: “É esta a tua voz, ó meu filho Davi? E começou a clamar e a chorar. Depois disse a Davi: “Tu és mais justo do que eu, porque me tens feito bem e eu só te tenho feito mal. Hoje me revelaste a tua bondade para comigo, pois o Senhor me entregou em tuas mãos e não me mataste. Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranquilamente? Que o Senhor te recompense pelo bem que hoje me fizeste. Agora, eu sei com certeza que tu serás rei, e que terás em tua mão o reino de Israel” (vv. 17-21).

Para promover o amor a todos, até aos inimigos, Paulo cita o provérbio: “Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber, assim amontoas brasa sobre a cabeça dele” (Pr 25,21-22a). Saul reconhece a justeza da colocação e as razões do adversário (cf. Gn 38,26: Judá reconhece sua injustiça cometida a respeito de Tamar).

A Bíblia do Peregrino (p. 537) comenta: Saul começa a falar sob o choque de sentir que esteve a um passo da morte; seu pranto é mistura de terror e arrependimento. Ao se reconhecer culpado, a causa está terminada e não precisa apelar o Senhor juiz; melhor é invocar o Senhor benfeitor, que igualará com seus benefícios o desequilíbrio causado pelo rei entre mal e bem. Saul, que se livrou da vingança de Davi, quer livrar-se também da temível vingança de Deus; para tanto, invoca o Senhor em favor de seu rival e pede a este um juramento que contradiga a apelação do v. 14. O autor vai mais longe e aproveita o momento para pôr na boca de Saul um ato de homenagem antecipada ao futuro rei de Israel.

O filho do rei e amigo de Davi, Jônatas já o dizia em 23,17: “Tu serás rei de Israel e eu serei teu segundo. Até meu pai sabe disso.” Depois Abigail o dirá em 25,28-30. Aqui em seguida, a pedido de Saul, Davi jura de poupar a família de Saul (v. 22) o que inclui o filho do rei e seu amigo Jônatas com quem fez uma aliança (cf. 23,18). Mas Saul não convida Davi para voltar à corte, e os dois se separam novamente. Para o autor é só um trégua.

Nosso cap. 24 tem um paralelo no cap. 26 (1ª leitura do 7º Domingo do Tempo Comum, Ano C). Em ambos, Davi tem a vida de Saul nas mãos, e em cap. 26 Davi consegue pegar a lança de Saul, a mesma que Saul queria cravar em Davi e no seu filho Jônatas, amigo de Davi (cf. 18,11; 19,10; 20,33; 22,6). Ela é um símbolo do poder real, como o manto em 24,5. Saul morto pela própria lança seria uma façanha singular, como a cabeça de Golias cortada pela própria espada, cf. 17,51). Mas Davi não o mata, porque não se deve estender a mão contra o ungido de Javé.

 

Evangelho: Mc 3,13-19

Depois de cinco controvérsias em seguida (2,1-3,6), Jesus queria se retirar, mas as multidões vindas de todo o Israel o seguiam (Mc 3,7-9 citou as regiões de Israel correspondendo aos limites da terra prometida que Josué conquistou e Davi e Salomão governavam).

Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram até ele. Então Jesus designou Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios (vv. 13-15).

Depois de curar ainda muitos doentes (3,10-12), Jesus se retira ao monte para escolher doze discípulos que se destacarão da massa do povo. “O monte” (com artigo) tem valor simbólico: subida e convergência, lugar de encontro com Deus; lembra Moisés no monte Sinai e o povo de Israel com suas doze tribos no pé da montanha (cf. 9,2-9; Mt 5-7; Mt 28,16; Gn 22; Ex 3; 19; 1Rs 19).

O chamado é espontâneo e livre de Jesus, ele “os quis” (cf. Sl 115,3; Jo 15,16); nomeação de um grupo restrito de doze (muitos manuscritos acrescentam o título “apóstolos”; cf. Mt 10,2; Lc 6,13). Os doze enquanto grupo são “feitura” de Jesus, segundo a linguagem grega.

Os “Doze” representam globalmente as doze tribos de Israel tradicional (não uma a uma, já que vários são galileus), como a família do novo Israel (cf. 3,33s; o antigo Israel é a descendência dos doze filhos de Jacó; cf. Gn 29,31-30,22; 35,16-25; Ex 1,1-5; 24,4… Ap 7,4-8; Ap 21,12-15). Os doze escolhidos serão como os patriarcas do novo povo.

Esse número doze será restabelecido depois da deserção de Judas (At 1,26), para ser conservado eternamente no céu (Mt 19,28p; Ap 21,12-14).

Para estes doze discípulos e por enquanto, o importante era “que ficassem com ele”, ou seja, conviver com Jesus; daí partirá a missão, que prolongará com autoridade delegada a atividade de Jesus. Um fato tão óbvio como estar com outra pessoa começa a ter uma transcendência incalculável, já que o “estar com” é recíproco. Convivendo num círculo mais íntimo com o mestre aprenderão os mistérios do reino (cf. 4,10s).

Depois Jesus vai “enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios”. Antecipa-se o título futuro de “apóstolos”, ou seja “enviados, mensageiros”. O mestre comunica-lhes seus poderes messiânicos: “com autoridade” (cf. 1,22.27) desalienar as pessoas (“expulsar demônios”). Exorcismos e curas dependem do mesmo poder.

Designou, pois, os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; André, (vv. 16-18a)

Por ofício e mentalidade os doze são de origem diversa: nomes hebraicos e gregos, pescadores, um cobrador de impostos (publicano, Mt 9,9; 10,3) que trabalhou pelos opressores romanos; um zelota, “Simão, o cananeu”, (os zelotas cometiam atos de terroristas contra os romanos). Esta diversidade tem seu centro de unidade em Jesus mostrando sua capacidade em unir pessoas divergentes.

A lista dos doze apóstolos (cf. Mt 10,2-4; Lc 6,13; At 1,13) chegou a nos sob quatro formas diferentes, a saber: de Mc, Mt, Lc e At. Divide-se sempre em três grupos de quatro nomes (enquanto no quadro da última ceia, Leonardo da Vinci os dividiu em quatro grupos de três), sendo o primeiro de cada lista sempre o mesmo em todas elas: Pedro, Filipe e Tiago, filho de Alfeu. A ordem pode variar no interior de cada grupo. Pedro é sempre o “primeiro” (Mt ainda o destaca como tal) e Judas Iscariotes o último da lista.

No primeiro grupo vemos os discípulos mais ligados a Jesus (cf. Mc 13,3). Eram pescadores, os primeiros discípulos chamados a serem “pescadores de homens” (Mc 1,16-20p; cf. Jo 1,40-42) Encabeça-os Simão Pedro com seu novo nome de ofício (cf. Jo 1,42; “Cefas” é pedra em hebraico, cf. 1Cor 9,4; 15,5; Gl, 2,18.; 2,9.11). Para o pensamento bíblico, aquele que dá um nome novo a um homem assume o poder sobre ele (2Rs 23, 34; 24,17), como ele um destino novo pela eficácia do mesmo, sobretudo quando é o próprio Deus quem impõe o nome novo (Gn 17,5.15; 32,29). A atribuição do nome de Pedro a Simão é relatada pelos evangelhos em momentos diferentes: Jo 1,42 a situa no primeiro encontro do discípulo com o Mestre; Mc 3,16 e Lc a vinculam à escolha dos Doze; ambos sublinham esse dado mencionando até então Simão (Lc 4,38; 5,1-10, salvo 5,8), e em seguida Pedro (Lc 22,31 e 24,34, usando o nome Simão, devem provir de fontes particulares). Em Mt, o nome de Pedro será dado depois sua profissão de fé e explicado “sobre esta pedra rocha construirei a minha Igreja” (Mt 16,16-18).

Mt e Lc colocam juntos os irmãos Pedro e André e os irmãos Tiago e João, enquanto em Mc e At, André está no quarto lugar, para dar lugar aos dois filhos de Zebedeu que juntamente com Pedro se tornam os três íntimos do Senhor (cf. Mc 5,37; 9,2; 14,33). Em At, um filho de Zebedeu, Tiago, cederá o seu lugar a seu irmão mais moço, João que se tornou mais importante (cf. Mc 9,38; At 1,13; 12,2 e já Lc 8,51p; 9,28p). Em Mc, não só Simão recebe outro nome, também Tiago e João; Jesus deu lhes o nome de “Boanerges”. Ainda não se esclareceu a etimologia deste apelido; muitos o interpretam com “Filhos do Trovão” ou Trovejantes (cf. sua atitude em Lc 9,54). O nome “André” é grego e significa “hombridade” ou “coragem”, como diversos outros nomes gregos (entre os apóstolos: Filipe, Dídimo), parece ter sido comum entre os judeus dos séculos II ou III a.C.. Não se tem registro de qualquer nome hebraico ou aramaico seu. Pedro e André eram filhos de Jonas (Mt 16,17), ou de João (Jo 1,42), nascidos em Betsaida às margens do Mar da Galileia (Jo 1,44), mas se mudaram para uma casa em Cafarnaum (Mc 1,21-29).

Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé (v. 18b).

O segundo grupo parece ter tido mais afinidade com os não judeus (cf. Jo 12,20-21; Mt 9,9). Neste, Filipe em primeiro lugar; é da mesma cidade de André e de Pedro (cf. Jo 1,43; 12,21). Seu nome e grego e significa alguém “que ama cavalos”. A tradição identificou Bartolomeu com Natanael (por sua proximidade a Filipe em Jo 1,45-2,1; cf. 21,2).

Mateus ocupa o último lugar nas listas de Mt e de At. Só em Mt é chamado “o cobrador de impostos” (Mt 9,9s narra sua vocação trocando o nome Levi de Mc 2,13; Lc 5,27). Em Jo, Tomé (ou Tomás) se destaca e tem o apelido “Dídimo” (tradução grega: gêmeo; cf. Jo 11,16; 14,5; 20,24-29).

Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu (vv. 18c-19).

O terceiro grupo é o mais judaizante, encabeçado por Tiago, filho de Alfeu, chamado de Tiago menor, que pela tradição foi identificado com Tiago, o “irmão (parente) do Senhor” (cf. 13,55; Mc 6,3p; 16,1; Jo 19,25; At 12,17; 15,13-21; 21,18-26; 1Cor 15,7; Gl 1.19; 2,9.12; Tg).

Parentes de Jesus (cf. 13,55) têm nomes iguais também aos próximos da lista: Tadeu (var. Lebeu) de Mt e de Mc, se é a mesma pessoa que “Judas de Tiago” (filho, ou irmão de Tiago em Jd 1), de Lc e de At, e passa nestes últimos, do segundo para o terceiro lugar. Em Jo 14,22, “Judas, não o Iscariotes” faz uma pergunta. Escreveu a carta de Judas (Jd).

Simão, o “zelota”, de Lc e At, não é senão a tradução grega do aramaico, Simão Qan’ana (“cananeu”) de Mt e Mc; significa “zeloso” (a palavra portuguesa vem desta palavra grega que significa: ardor, fervor, emulação; cf. 1Mc 2,26-27.50; 2Mc 4,2). Os zelotes tinham tanto zelo ao ponto de se tornarem fanáticos e violentos contra os romanos (cf. Barrabás em Mc 15,7p; cf. At 5,36-37).

Judas Iscariotes, o “traidor”, figura sempre em último lugar na lista e se menciona seu destino. O nome é interpretado frequentemente como “homem de Cariot” (cf. Js 15,25; Am 2,2), mas poderia também ser um derivado do aramaico sheqarya, “o mentiroso, o hipócrita” ou transcrição semítica de sicárius, equivalente latino de zelota (assim formaria um par com Simão Cananeu); esta última interpretação ajudaria entender o motivo da sua traição, porque Jesus repudiou a ideologia dos zelotas (cf. 17,24-27; 22,15-22). Judas projeta já uma sombra premonitória, com o verbo “entregar” como palavra-chave no livro.

O site da CNBB comenta: A escolha dos doze apóstolos nos mostra a intenção que Jesus tem de formar o novo povo de Deus que irá substituir o povo da Antiga Aliança. De fato, a escolha dos doze não foi obra do ocaso, mas manifesta uma intenção. Assim como no Antigo Testamento, Deus forma o povo de Israel a partir das doze tribos dos descendentes de Abraão, a Igreja é o novo povo de Deus, o povo da Nova Aliança, formado a partir dos doze apóstolos de Jesus, que ele escolheu e enviou com poder para pregar e com autoridade para expulsar todo tipo de mal. Desse modo, entendemos que a Igreja é o novo povo de Deus, o povo da Nova Aliança.

 

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