1º de janeiro de 2018 – Segunda-feira, Tempo de Natal

 

1º de Janeiro: Início do ano civil, Oitava de Natal, Maternidade de Maria, Circuncisão de Jesus no oitavo dia, Dia mundial da paz e fraternidade universal.

Em 46 a.C., Júlio César mudou o começo do ano para janeiro (antes era em março, como se pode verificar ainda nos nomes dos meses: ex. setembro era o mês 07, outubro era o mês 08, etc.). Influenciado pelo calendário solar do Egito (e sua rainha Cleópatra), César queria adaptar o calendário lunar ao solar que era mais exato. Mas não colocou o início do ano no solstício (naquela época o dia 25 de dezembro, hoje dia 21), porque havia a festa popular da saturnália (tipo carnaval). Só uma semana depois podia se começar o ano administrativo. No século IV d.C., as festas da saturnália (17-23/12) e do sol vencedor (24-25/12) foram absorvidas pela comemoração cristã de Natal.

No oitavo dia após o nascimento de Cristo, a Igreja celebra a maternidade de Maria. No ano 431, o terceiro Concílio Ecumênico em Éfeso definiu que ela pode ser chamada “Mãe de Deus” (cf. Lc 1,43).

A Wikipédia comenta:

Nestório, patriarca de Constantinopla, defendia que Cristo não seria uma pessoa única, mas que Nele haveria uma natureza humana e outra divina, distintas uma da outra e, por consequencia, negava o ensinamento tradicional que a Virgem Maria pudesse ser a “Mãe de Deus” (em grego Theotokos), portanto ela seria somente a “Mãe de Cristo” (em grego Cristokos), para restringir o seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina. Os adversários de Nestório, liderados por São Cirilo, Patriarca de Alexandria, consideravam isto inaceitável, pois Nestório estava destruindo a união perfeita e inseparável da natureza divina e humana em Jesus Cristo e acusavam Nestório de heresia, para condená-lo, São Cirilo apelou ao papa Celestino I, o papa concordou e concedeu a Cirilo autoridade para depor Nestório e excomungá-lo. Porém, antes da intimação chegar, Nestório convenceu o imperador Teodósio II a convocar um Concílio ecumênico, para que os bispos defendessem os seus pontos de vista opostos.

Assim que foi aberto, o concílio denunciou os ensinamentos Nestório como errôneos e decretou que Jesus era apenas uma pessoa, e não duas pessoas distintas, Deus completo e homem completo, e declarou como dogma, que a Virgem Maria devia ser chamada de Theotokos, porque ela concebeu e deu à luz Deus como um homem.

Ivonil Parraz (na Vida Pastoral 2017) comenta a seleção dos textos bíblicos no dia de hoje: As três leituras da solenidade da Santa Mãe de Deus tratam de bênção, filiação, salvação (nome Jesus). A bênção de Deus sobre todos os seus filhos e filhas plenifica-se com a presença do “Deus que salva”. Jesus é a bênção de Deus por excelência! A face de Deus que resplandece no meio de nós!

1ª leitura: Nm 6,22-27

O dia 1º de janeiro não é o início do ano litúrgico que começa já no 1º domingo do advento.  A Igreja faz referência ao início do nosso ano civil apresentando a bênção aarônica na 1ª leitura. Muitas igrejas evangélicas costumam usar esta bênção no final do seu culto. Ela encontra-se dentro da Lei de Moisés (Torá ou Pentateuco, os primeiros cinco livros da Bíblia) na redação sacerdotal.

O Senhor falou a Moisés, dizendo: “Fala a Aarão e a seus filhos: Ao abençoar os filhos de Israel, dizei-lhes: (vv. 22-23).

O Senhor ordena a Moisés para este falar a seu irmão e porta-voz Aarão (Ex 4,13-16) que foi constituído sumo sacerdote (Ex 40,12-15). Abençoar é tarefa do sacerdote que recebe as ofertas do povo e devolve a bênção divina. Como o sacerdócio era hereditário, também todos os descendentes (“filhos”) de Aarão devem abençoar o povo de Israel.

Ivonil Parraz (na Vida Pastoral 2017) comenta: No Primeiro Testamento, a relação entre Deus e o ser humano passava pela mediação. A bênção de Deus ao ser humano pecador só era concedida através de um mediador indicado pelo próprio Deus. Até Jesus Cristo, o único mediador, os sacerdotes eram os que exerciam a função de mediação.

‘O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!’ (vv. 24-26).

A benção satisfaz três desejos profundos do ser humano: proteção, perdão (benevolência, misericórdia) e paz.

Nesta fórmula, o nome divino (Yhwh – Javé, cf. Ex 3,14; traduzido geralmente por “Senhor”) é invocado três vezes (cf. Is 6,3: três vezes santo) para garantir ao povo de Israel a presença de Deus que o protege. O emprego da segunda pessoa no singular (“te”) para designar Israel pertence ao estilo litúrgico tradicional (cf. Dt): “O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face” equivale a “que ele te mostre seu rosto sorridente” (cf. a prece pelos falecidos na Oração eucarística II: “Acolhei-os na luz da vossa face”). “O Senhor volte (lit. levante) seu rosto para ti e te dê a paz” equivale “olhe para ti com benevolência e te dê a plenitude da felicidade” (no sentido forte da palavra hebraica shalom, paz que inclui prosperidade).

Ivonil Parraz (na Vida Pastoral 2017) comenta: A paz, na concepção judaica, significa celeiros cheios, gado gordo no pasto, todas as dívidas pagas… Ora, o pecado traduz-se numa dívida impagável que temos para com Deus. Apesar disso, Deus não recusa o seu perdão, a sua paz!

“Há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (1Tm 2,5). Jesus é a bênção encarnada do Pai! O rosto de Deus que brilha no meio de nós! A face do Pai que se volta para todos os seus filhos e filhas! A nossa verdadeira paz: nele todas as nossas dívidas foram pagas! Nele, o coração misericordioso do Pai palpita entre nós. Em Jesus – o Deus que salva –, somos todos herdeiros do Pai!

Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” (v. 27).

Moisés e Aarão pertencem à tribo de Levi, cf. Ex 2,1; Nm 3-4; 1Cr 5,27-6,66), e o sacerdócio no AT é hereditário. Portanto, são os levitas (tribo sacerdotal) que porão o nome do Senhor como assinatura ou selo indicando a pertença do povo a seu Deus. Esta pertença é para Israel a fonte de todas as bênçãos. A bênção se funda na crença da eficácia da palavra, que atualiza a aliança que Deus selou com seu povo.

O salmo de resposta 66 (67) continua invocando esta bênção com palavras quase idênticas. A liturgia omite o v. 7 que indica a ocasião da festa em que o salmo foi cantado no antigo Israel: no fim da colheita de trigo, ou seja, na festa das semanas (Pentecostes). Ainda não é tempo de colheita para nós, mas convém invocar também o Espírito Santo neste inicio do ano porque é o dia Mundial da Paz e da Fraternidade Universal.

 

2ª Leitura: Gl 4,4-7

A leitura de hoje fala do nascimento de Jesus e sua submissão à Lei judaica como a circuncisão oito dias depois (cf. evangelho de hoje). Apresenta-se a primeira e única menção de Maria nas cartas apostólicas! Paulo não escreve o nome dela nem fala da virgem, somente de Jesus “nascido de uma mulher e nascido sujeito da lei” (v. 4) porque quer destacar que o Filho de Deus submeteu-se às condições biológicas (carne) e jurídicas (lei judaica) do seu povo.

Paulo não conheceu Jesus na carne como os doze apóstolos que acompanhavam Jesus desde o batismo até a ressurreição (cf. At 1,21s). Saulo-Paulo encontrou Jesus na sua visão de Damasco já como Senhor exaltado no céu (cf. At 9,3-5; 1Cor 15,8; Gl 1,15-17) e depois dedicou sua vida para pregar Jesus crucificado como messias (Cristo) e Senhor aos gentios (cf. Gl 1,16; 2,7; 5,11; 1 Cor 1,23). Antes, como fariseu, Paulo achava que a salvação viria pela Lei; depois da sua conversão declara que a salvação vem “pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei” (Gl 2,26). Este tema, Paulo tratou em Rm, sua carta maior, e também na carta aos Gálatas, escrita provavelmente em Éfeso no inverno de 56-57. Paulo defende o seu apostolado e sua doutrina contra judeu-cristãos que queriam impor aos pagãos convertidos da comunidade a circuncisão e a observância da Lei mosaica. Esta carta de Gl é um manifesto de liberdade cristã e universalidade da Igreja.

Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva (vv. 4-5).

“Completou-se o tempo previsto”; esta expressão designa a chegada dos tempos messiânicos, ou escatológicos, que levam a termo a longa espera dos séculos, como uma medida finalmente plena (cf. Mc 1,15, At 1,7; Rm 13,11; 1Cor 10,11; 2Cor 6,2; Ef 1,10; Hb 1,2; 9,26; 1Pd 1,20). Nos vv. anteriores, Paulo comparou a Lei do Antigo Testamento (AT) com um pedagogo (3,23-4,3). Conforme o costume grego, este guarda o filho do dono sob sua tutela até o pai determinar a data da maioridade e o menino adquirir sua liberdade e seu direito como filho e herdeiro.

Paulo nem menciona o nome de Maria, só diz “nascido de uma mulher” (cf. Jó 14,1) para designar a encarnação pela qual o Filho de Deus se torna um ser humano (cf. Fl 2,7; Jo 1,14). A encarnação interessa a Paulo em vista da cruz, onde foi pago o preço da nossa liberdade (3,13; 5,1; Rm 8,3; Fl 2,8).

Se o Filho de Deus vem viver e morrer assim na carne, é porque Deus o envia para nos “resgatar” da escravidão do pecado. Libertando-nos do pecado, liberta-nos também da Lei que só tem poder sobre o pecador que ela condena; ela não tem mais poder sobre aquele que o Espírito faz viver a vida do Filho de Deus (5,18; Rm 6,14; cf. Gl 3,13).

A imagem da adoção substitui a de maioridade legal, pois exprime melhor a nossa nova condição; participar por pura graça da vida do Filho único de Deus (cf. Rm 8,15; Jo 1,12). Tornando-se filho, o escravo (o menino sob tutela) adquire liberdade. O escravo libertado é adotado como filho não só pelo acesso legal à herança (cf. 3,29), mas pelo dom real da vida divina, ao qual estão associadas as três pessoas da Trindade (v. 6; 2Cor 13,13):

E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá – ó Pai! Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus (vv. 6-7).

O Espírito é enviado aos nossos corações como o Filho foi enviado à nossa terra. Pela fé (e sua expressão sacramental, o batismo) recebemos este Espírito como guia, “mestre interior” (cf. Rm 8,23-27; 1Cor 3,10-16). Ele nos revela no mais profundo do nosso ser, a nossa condição e, portanto, a nossa vida nova. O Espírito é o princípio de uma vida propriamente divina em Cristo (cf. Gl 2,20), não é um “espírito de escravidão”, mas um “espírito de adoção filial” (Rm 8,15).

“Abba” (Pai, Papai) é termo aramaico, umas das poucas palavras apresentadas na língua original (outros ex.: “Amém, Aleluia, Hosana”), o que mostra sua originalidade. É uma expressão filial, cheia de familiaridade e ternura de Jesus e de seu Pai (Mc 14,36; cf. Mt 11,25; Lc 22,42 etc.). A nossa filiação adotiva nos faz participar dela (cf. Rm 8,15). Paulo talvez aluda ao começo do Pai-nosso (Lc 11,2). A invocação “Abá” contém tudo em germe: maturidade depois da infância, consciência depois da ignorância, liberdade depois da escravidão, esperança de uma herança transcendente.

“Se és filho, és também herdeiro” (cf. Rm 8,17). No AT, a herança designa a posse da Terra prometida (cf. a menção de Abraão em 3,29, e Dt 4,21 trad. por “patrimônio”), e não supõe evidentemente a morte de ninguém. No NT, a Terra prometida se torna o conjunto dos bens divinos: o Reino (Mt 25,34), a vida eterna (Mt 19,29). O Pai comunica todos os seus bens ao seu Filho ressuscitado dos mortos e, por ele, aos que acreditam nele.

Ivonil Parraz (na Vida Pastoral 2017) comenta: Nascido de mulher, portanto sujeito à lei, ele liberta-nos da sua sujeição, pois nele toda lei se cumpriu: ele é a plenitude da lei. Ora, o espírito da lei ou seu fundamento consiste no amor! Jesus, cuja vida foi entrega total por Amor, expressa o espírito da lei. Por isso, ele é a sua plenitude. Nós, submissos à letra da lei, passamos a vivenciar o espírito dele. Doravante, a presença de Deus no meio de nós não se dá mais pela submissão à lei, mas pela relação amorosa: Pai e filhos! Amando incondicionalmente a Deus e obedecendo somente a ele e, ao mesmo tempo, amando a cada um de nós, Jesus nos ensinou o que, de fato, consiste em ser filhos de Deus Pai! No amor, recebemos o Espírito do Filho que clama Abbá (v. 6). É por isso que em Jesus somos herdeiros, não mais escravos. Com Jesus, o Amor é a nossa lei!

Paulo não convoca para uma revolta de escravos como o gladiador Espártaco fez em Roma entre 73 a 71 a.C., que terminou com a derrota e a crucificação de 6000 escravos. Paulo quer libertar o homem de dentro, do seu egoísmo (carne), dos vícios pagãos, da rigidez da lei judaica, superando as divisões de nação, raça, gênero e classe para uma vida de fraternidade e partilha (cf. Gl 3,26-28; 1Cor 11, 17-34; Fm). O lema da revolução francesa (1789) era “liberdade, igualdade, fraternidade”, são palavras chaves já se encontram nas cartas de Paulo, mas para ele, é consequência do dom de Deus, da filiação divina, do batismo.

Evangelho: Lc 2,16-21

O evangelho é a continuação do evangelho da noite de Natal que terminou com o louvor dos anjos (2,1-14). Hoje ouvimos da visita dos pastores no presépio e da circuncisão do menino oito dias depois.

Os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam (vv. 16-18).

Como Maria foi “às pressas” ver sua prima Isabel após o anúncio do anjo (1,36-39), também os pastores que receberam o anúncio do anjo no campo foram à cidade “às pressas” para verem o “sinal” indicado pelo anjo, a manjedoura com o recém-nascido (v. 12).

O “sinal” que os pastores encontrarão é o pobre menino na manjedoura, não é sinal do messias nem da divindade, mas da verdade do que o anjo disse sobre este menino (cf. Ex 3,12; 1Sm 2,34; 14,10; 2Rs 19,29; 20,9; Is 37,30; 38,7). “A pobreza de Deus é seu verdadeiro sinal” (Bento XVI, A Infância de Jesus, p. 69). Na verdade, a estrebaria contradiz as expectativas messiânicas da época. Esperava se o nascimento de um rei, mas se o messias-rei tivesse nascido no palácio, os pobres (pastores) nem poderiam entrar e encontrá-lo, seria um salvador apenas das elites, não “salvação para todos os homens” (Tt 2,11; cf. 2ª leitura).) Outra situação vulnerável, não de pobreza, mas de perseguição: o recém-nascido Moisés foi colocado num cesto de junco (Ex 2,3; cf. Mt 2 que explora este paralelo da infância de Jesus com a de Moisés).

Ivonil Parraz (na Vida Pastoral 2017) comenta: Os primeiros a receber a Boa Notícia do nascimento do Salvador foram os pastores. Estes representam duas categorias de pessoas: a) na sociedade judaica, os pastores eram pessoas que ocupavam um dos lugares mais baixos da pirâmide social. Eram analfabetos, por isso não conheciam a Sagrada Escritura, não tinham acesso à vontade de Deus expressa em suas leis. Além disso, o seu ofício impedia-os da frequência assídua à sinagoga para ouvir a Palavra de Deus. Com efeito, eram considerados pecadores! Eram desprezados por todos, pois era comum o rebanho provocar perturbação por onde passava; b) os pastores apresentados por Lucas representam todos os profetas do Antigo Testamento que esperavam o Deus Salvador! Por que os pastores foram os primeiros a receber a Boa Notícia do nascimento de Jesus?

 

Os pobres, privados das “boas notícias” do mundo — eles não despertam nenhum interesse nos portadores do poder – , estão sempre abertos a receber a Boa-Nova vinda de Deus. O Pai se interessa por eles! Como representantes dos profetas, eles se alegram: a esperança, nascida da fé nas promessas de Deus, nunca decepciona. Ela é sempre experimentada na alegria, pois em Deus há sempre o amanhã … Aqueles que não conheciam a Palavra de Deus passam a ser anunciadores da Boa-Nova. Os pecadores anunciam a chegada de Deus! Quem recebe uma Boa Notícia e se alegra com isso não se cansa de anunciá-la para que todos participem da mesma alegria. E todos que os ouviam ficavam maravilhados. (v. 18).

Contaram a Maria e José e a outras pessoas o que lhes fora dito sobre o menino, “Salvador, que é Cristo Senhor” (v. 11). Os pastores pobres, mas evangelizados (pelo anjo; cf. Is 61,1 citado em Lc 4,18 e 7,22), tornam-se os primeiros evangelizadores.

Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração (v. 19).

Maria guardava esses fatos e meditava no seu coração. Maria refletia sobre o sentido dos fatos e os guardava na memória. Referindo-se a esta frase repetida duas vezes (vv. 19.51), o Papa Bento XVI lembra a tradição que Lucas teve informações privilegiadas dos familiares ou da própria Mãe de Jesus (A Infância de Jesus, p. 105)

Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito (v. 20).

Lc costuma concluir narrações (e o próprio evangelho em 24,53) com uma menção de louvor (“dar glória a Deus” cf. 2,20; 5,25s; 7,16; 13,13; 17,15.18; 18,43; At 4,21; “louvor” 18,43; 19,37; 24,53; At 3,8s…). Os pastores são testemunhas oculares como depois serão os doze apóstolos (“visto e ouvido”, cf. 1,2; Lc 24,39-42.48; At 1,1-4.8.21s; 2,32; 3,15; 4,20; 5,32; 10,40-43 etc.; cf. Jo 20,24-29; 1Jo 1,1s etc.).

O site da CNBB comenta: Assim que os anjos se afastaram dos pastores, eles foram para Belém a fim de conhecer o Salvador que havia nascido e, assim que o encontraram, passaram a anunciar a todos quem ele era. Deste modo, a presença do Salvador não ficou sendo apenas algo que os pastores ficaram sabendo, mas foram conhecê-lo pessoalmente, mostrando para nós que o conhecimento sobre Jesus não é suficiente para a nossa salvação, mas precisamos ir ao seu encontro para conhecê-lo pessoalmente e também nos tornar evangelizadores, mostrando a todos quem é Jesus, de modo que a sua salvação possa chegar a todos os cantos da terra.

Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido (v. 21).

No oitavo dia, todo menino judeu é circuncidado para fazer parte do povo eleito e da aliança que Deus selou com Abraão em Gn 17.

A circuncisão é uma cirurgia pequena cortando um pedaço da pele do pênis, uma cirurgia inofensiva que serve para se identificar com a religião judaica. A circuncisão das meninas, porém, é uma pratica que mutila; é comum em algumas regiões da África, mas não tem nenhuma base na Bíblia ou no Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. Também estes se consideram descendentes de Abraão e circuncidam os meninos.

Jesus e os apóstolos foram todos circuncidados. Paulo questionou a necessidade desta prescrição judaica batizando gregos e romanos sem circuncidá-los antes. Os apóstolos reuniram-se no Concílio em Jerusalém (At 15) e aprovaram a opinião de Paulo: Somos salvos pela fé e não pela lei judaica; para tornar-se cristão, não é preciso tornar-se um judeu antes. Em seguida, Paulo batizou famílias inteiras (At 16,15.31-33). Assim o batismo de crianças substituiu a circuncisão, pela qual o menino fazia parte do povo antigo de Deus, Israel. Hoje é pelo batismo, que o menino ou a menina fazem parte do novo povo de Deus, ou seja, da Igreja.

A circuncisão de Jesus não aconteceu no templo de Jerusalém (para lá só vão no v. seguinte), mas provavelmente na sinagoga mais próxima em Belém. Na ocasião se dá o nome (cf. 1,59), aqui “Jesus”, como o anjo Gabriel ordenou a Maria (v. 31; em Mt 1,21.25 é José que dá o nome conforme a ordem do anjo). O nome Jesus é versão grega do aramaico Yeshua, derivado do hebraico Yehoshua (Josué) e significa: “Yhwh (Javé/Senhor) salva”. Lc não explica o nome; Mt 1,21 sim, mas acrescenta: “ele salvará o seu povo dos seus pecados”.

Quem salva é o salvador trazendo a paz (vv. 11.14), mas não é César Augusto que foi chamado salvador porque unificou o Império e acabou com a guerra civil (cf. v. 1). Mas a pax romana (paz romana) só foi mantida pela submissão dos povos e dos escravos através da presença de um forte exército. A libertação, salvação e paz verdadeira (cf. 2,14; cf Ef 2,14; Jo 14,27; 20,19.21.26), porém, vêm através de Jesus. Vamos renovar esta esperança neste início do novo ano. Jesus não é passado, mas presente e futuro, “ontem, hoje, e por toda eternidade” (Hb 13,8).

Voltar