23 de Setembro de 2018, Domingo: De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? (4,1).

25º Domingo Ano B

1ª Leitura: Sb 2,12.17-20

A 1ª leitura foi escolhida em vista do anúncio da paixão no evangelho de hoje

O livro da Sabedoria é o livro mais tardio de todo Antigo Testamento (AT). Foi escrito por volta de 50 a.C. por um judeu na cidade de Alexandria no Egito, no delta do rio Nilo, que contava com cerca de 200.000 judeus entre seus habitantes de cultura grega. Alexandria era importante centro político e cultural e tinha a maior biblioteca da antiguidade. O autor de Sb une tradições religiosas do AT e ideias da filosofia grega contemporânea. Escreve em grego, por isso este livro não consta na Bíblia Hebraica nem na dos protestantes.

O título “Sabedoria de Salomão” é fictício. Mais uma vez um livro sapiencial é atribuído ao rei Salomão, o sábio por excelência em Israel, a quem Deus concedeu um “coração ouvinte” (cf. 1Rs 3,4-14). Da boca dele, “o mais sábio dos homens” (1Rs 5,11), ouvimos hoje sobre a perseguição do justo.

Os ímpios dizem: (cf. v. 1a).

Infelizmente, nossa liturgia não apresenta, por motivos de brevidade, os pensamentos materialistas e hedonistas dos “ímpios” da época, muito parecidos com os da nossa sociedade atual: “Curto é o tempo da nossa vida e cheio de tédio… nosso fim irreversível… Agora, porém, gozemos dos bens presentes…“ (vv. 1b.5-6; cf. Jó 7,1-4).

Atribuem a origem do mundo ao acaso (v. 2) e vivem um ateísmo prático. O autor pode ter em mente filósofos gregos (epicureus) ou judeus apóstatas, querendo polemizar contra Ecl ou os saduceus? Os sumos sacerdotes em Jerusalém e seu partido, os saduceus, não acreditavam na ressurreição dos mortos (cf. Mc 12,18-27p; At 23,8) e devem ter tido alguns pensamentos semelhantes.

“Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda: ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da lei e nos reprova as faltas contra a nossa disciplina (v. 12).

A degeneração dos ímpios volta-se para o mal quando desejam silenciar a voz da Sabedoria e da justiça (vv. 10-20).

Mas, o que os ímpios têm contra ele? Para eles a única dimensão de vida é aquela que existe antes da morte (cf. vv. 1.5.21-22). Como viver diante desta perspectiva? Gozar o mais que for possível, já que não existe nada além dos prazeres desta vida.

Por outro lado, para viver no ócio e no prazer é preciso ter alguém que pague por isso. Daí nascem a opressão e a injustiça social, onde os privilegiados exploram os pobres, forçando-os a sustentar o seu estilo de vida: “Vamos oprimir o pobre inocente e não vamos poupar as viúvas, nem respeitar os cabelos brancos do ancião. A nossa força será regra da justiça, porque o fraco é claramente coisa inútil” (vv. 10s), e consequentemente não tem direto de existir.

Os ímpios se opõem aos justos inclusive aos anciãos, sábios com experiência) e transgredem os preceitos divinos de cuidados pelos pobres e pelas viúvas (cf. Ex 22,21). Para eles, a norma do direito não é a lei de Deus, mas sua própria força amedrontadora, a lei do mais forte (cf. as ideias do racismo e do neoliberalismo).

O que o justo “reprova”, são esses pensamentos e atitudes; ele “repreende” as consequências de uma conduta irresponsável (“transgressões da lei”). Ele não participa desta filosofia enganosa, ergue seu grito e se torna um grande obstáculo para o modo de viver do injusto. “Sua presença nos incomoda, ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da lei e nos reprova as faltas contra nossa disciplina… (v. 12; cf. vv. 14-15).

No Comentário Bíblico II (p. 402), J.E. Rybolt comenta: O estilo de vida do justo que inclui se opor ao mal e até o próprio conhecimento de quem ele são, aflige suas consciências. Como corpúsculos brancos na corrente sanguínea apressando-se para atacar um corpo estranho, os ímpios caem sobre os justos, porque a vida destes é diferente da sua (v. 15).

Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer com ele. Se, de fato, o justo é ‘filho de Deus’, Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos. Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência; vamos condená-lo à morte vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém em seu socorro” (vv. 17-20).

O justo “declara possuir o conhecimento de Deus e chama-se ‘filho de Deus’” (vv. 13.18), “gloria-se de ter a Deus por pai” (v. 16c). O termo filho de Deus fala do estreito relacionamento do justo com o Senhor, tema do livro de Sb. No AT, o povo eleito é “filho e Deus” (Ex 4,22; Os 11,1; Jr 31,9), o seu rei é filho de Deus por adoção (cf. Sl 2,7; 2Sm 7,14) e alguns sábios e justos (Eclo 4,1-10; Sb 2,18; 5,5), além de outros que estão próximos a Deus (outros seres superiores, “deuses” que se pode entender como anjos, conselheiros ou juízes: Gn 6,1–4; Jó 1,6; Ps 29,1; 82,1; Sl 82,1.6).

A crítica de um filho do único Deus (monoteísmo) incomoda as práticas pagãs dos contemporâneos greco-romanos: “Tornou se uma censura aos nossos pensamentos…, sua vida é muito diferente da dos outros”.

Os ímpios planejam testar o justo para ver se, como Jó (Jó 1,6-12), o justo iria perseverar em suas convicções. A morte será a prova, com aparências de processo, nele as palavras do justo e seu Deus são submetidos à prova (cf. Is 53; Dn 3,16-18; Mt 27,40.43; Jo 19,7). A figura de um servo sofredor de Deus é apresentada várias vezes na Bíblia, principalmente no Segundo Isaias (52,13-53,12), mas também no Sl 22; os evangelhos salientam a relação entre Jesus e este “justo” sofredor.

Não parece que os ímpios estejam abertos à conversão, porque “a malícia os torna cegos, não conhecem os segredos de Deus” (v. 21), o plano misterioso de Deus acerca do justo e do perverso (cf. Sl 73,17), a “recompensa para santidade, ao prêmio reservado às vidas puras” (v. 22). Na tese dos ímpios, o assunto terminou com a morte do justo, mas não para Deus: “A vida dos justos está nas mãos de Deus…” (3,1).

 

2ª Leitura: Tg 3,16-4,3

Na 2ª leitura destes domingos continuamos a carta de Tg. Nos vv. 1-10, o autor alertou sobre o descontrole da língua e depois entra no tema da sabedoria (v. 13; enunciado em 1,5); apresenta a sabedoria terrena (vv. 14-16) e a sabedoria do alto (vv. 17-18). Caracteriza as duas sabedorias com vários qualificativos. Como a fé, também a verdadeira sabedoria se mostra nas ações (obras, cf. 2,14-26; leitura do domingo passado)

Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más (v. 16).

A sabedoria se conhece pelos seus frutos (cf. 1,22-25; 2,14-26). Deve se verificar por um proceder reto, uma mansidão na aplicação (cf. 1,21; 1Pd 3,4.15s; Mt 5,4; 11,29). Violência não é argumento válido (cf. Jo 18,22s).

Como a sabedoria (sensatez, inteligência) na Bíblia é prática, é arte ou habilidade, pode aplicar-se também ao mal: “são hábeis para o mal” (Jr 4,22); “há uma astúcia e ao mesmo tempo injusta” (Eclo 19,25). Distingue-se por seus frutos, especialmente concórdia (v. 17) ou “ciúme e rivalidade” (v. 14a; cf. 4,1; 1Cor 3,3; Ef 4,3). Em Corinto, Paulo também encontrou uma comunidade dividida em facções que procuravam o interesse pessoal, cheias de rixas, discórdias e ciúmes (1Cor 1,11; 3,3).

A sabedoria do falso doutor é ligada ao mundo do pecado e à mentira contra verdade. “Esta sabedoria não vem do alto” (v. 15), é terrestre, promove o interesse pessoal, preocupa-se com riquezas, poder e prestígio; não é espiritual, mas material, demoníaca, exatamente como a língua descontrolada (cf. 3,6)

A Bíblia do Peregrino (p. 2899) comenta: …é “terrena”, ou seja, ao rés do chão, sem abertura a uma inspiração transcendental. É “animal” (cf. 1Cor 2,14; psíquico; materialista), isto é, de tipo biológico ou instintivo. É “demoníaca” (1Tm 4,1), porque não é controlada pela razão superior e fica exposta ao manejo de poderes inferiores; como a “astúcia” da serpente, que seduz Eva, quando esta prescinde da palavra de Deus e cede ao “desejo”.

Por outra parte, a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento (v. 17).

A sabedoria que vem “do alto” (cf. 1,5.17) recebe vários predicados, alguns dos quais se encontram em Sb 7,22. Como a palavra da verdade (1,18; 5,19), produz frutos da paz (v. 18; cf. Mt 5,9; Fl 1,11; Hb 12,11; 1Pd 3,10s), piedade (misericórdia, cf. 2,13) e mansidão. É “pura” e sem mancha (cf. 1,27; 3,6), sem segundas intenções, “fingimentos” e hipocrisia (cf. Mt 5,8; 6,1-18; 23). O autor já alertou contra a “parcialidade” e o favoritismo (2,1-9). A verdadeira sabedoria é “cheia de misericórdia e de bons frutos” (2,13.18-26).

Para Tg, a sabedoria não é conhecimento esotérico como era para seitas gnósticas da época, mas noção judaica tradicional de comportamento correto e justiça moral.  Como a fé, a sabedoria é prática, ativa e voltada para a comunidade. Tg reflete a lista paulina similar de vícios e virtudes comuns que se originam da verdadeira liberdade em Cristo (Gl 5,16-26).

O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz (v. 18).

O autor aplica um ditado popular (“Quem semeia, colhe”, cf. Gl 6,7). Nossas ações têm consequências e a colheita será por ocasião do julgamento de Deus, quando colheremos o que tiver semeado (cf. 2,13),

A Bíblia do Peregrino (p. 2899) comenta: O autor tentou compor um aforismo agudo que (a nosso ver) não conseguiu. Tomando o dativo com valor de agente da passiva e vertendo-o na ativa, podemos traduzir: os que trabalham pela paz (Mt 5,9) semeiam na paz o fruto (efeitos) da honradez (justiça). Ou seja, a justiça é o último resultado de trabalho pela paz. A doutrina tradicional é, antes, a de Is 32,17: “o fruto da justiça será a paz”.

De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? (4,1).

Onde há falta de sabedoria celeste, os conflitos se tornam abundantes. Conflitos e divisões, guerras e brigas na comunidade podem surgir dos delitos da língua a aos falsos doutores (3,1s). Contudo a alusão às “paixões” (lit. “prazeres que guerreiam em vossos membros”), dando oportunidade ao mundo e ao diabo, é indício da passagem a uma nova sentença provinda da tradição (cf. Rm 7,23; 1Pd 2,11).

Tg diz que as raízes dos males dos males estão dentro de nós. Em 4,1-10, o autor escreve sobre o maior dos vícios e sua cura: identifica o vício capital, a cobiça (vv. 1-3), descreve sua incompatibilidade com Deus (vv. 4-7) e indica a cura desse vício (vv.7-10).

Os moralistas do mundo antigo reduziam a maldade a quatro vícios capitais (cobiça, prazer, medo e remorso). Tg já identificou a “cobiça” como origem da tentação em 1,14s (traduzido por “concupiscência”), a tentação não vem de Deus e sim de corações enganadores e das paixões. Esses conflitos vem da cobiça que não pode produzir nenhum bem.

Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir. E a razão está em que não pedis. Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres (vv. 2-3).

Outra tradução (Bíblia de Jerusalém, p. 2268): “Desejais e não tendes? Então matais. Buscai com avidez, mas não conseguis obter? Então vos entregais à luta e à guerra. Não possuis porque não pedis…”

Tg limita-se aqui a mostrar a maldade da cobiça e seus maus resultados: a cobiça e a inveja levam ao homicídio e as brigas (como a língua descontrolada leva a uma ira abrasadora, cf. 3,5s). Os vícios se relacionam: a cobiça leva a outros vícios, como a “paixão”.  Do mesmo modo que cobiça significa concupiscência, “paixão” significa “prazeres”, o segundo dos quatro vícios cardeais). As pessoas cobiçam bens por amor aos prazeres, e não para partilhá-los com os outros (cf. 2,14-17).

Aqui “guerra” não designa as lutas interiores de cada pessoa (cf. Rm 7,23; 1Pd 2,11), mas as rijas ou rancores entre fiéis, talvez verdadeiros conflitos, em que os cristãos estariam tomando parte ativa.

Se há má intenção, o Senhor não escuta; não vale para tal caso o “pedi e recebereis” (cf. Sl 68,18-19; Mt 6,5-13.33; 7,7-11p; Rm 8,26). Semelhante pedido profana a oração. O autor usa dois termos para designar a intercessão: “pedir” (já falou da oração de súplica em 1,5-8) e “rezar” no fim da carta (cf. 5,13-18). Ambos têm o mesmo significado no NT; talvez essa variação do vocabulário venha de tradições diferentes.

A Bíblia do Peregrino (p. 2899) comenta a respeito dos vv. 1-10 (nossa leitura só apresenta vv. 1-3)

“É o parágrafo mais difícil da carta, por causa de sua construção artificial e citação enigmática dos vv. 5-6. É importante observar a pontuação dos vv. 2-3 para seguir a concatenação das breves frases, e nelas o processo de ações, resultados negativos e causas. Observe-se o esquema: “fazeis – não conseguis – porque”. O esquema básico da seção assemelha-se ao conhecido da denúncia profética (p. ex. Is 1,10-20; Jr 2-4), presente também na liturgia (p. ex. Sl 50). A análise psicológica das causas é contribuição do autor, talvez influenciado pela filosofia estoica popularizada. O esquema é o seguinte: denúncia do pecado e análise de causas – ameaça – exortação a converter-se – promessa. No começo está a cobiça, como em 1,4, seu objeto imediato são os prazeres; espécie de força militar, cujo campo de batalha é o homem. Do interior brota ao exterior social com efeitos desastrosos: a cobiça pode levar até ao homicídio. Dirige semelhante acusação aos cristãos?”

 

Evangelho: Mc 9,30-37

Ouvimos hoje o segundo anúncio da paixão em Mc, seguido por um gesto exemplar.

Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos (vv. 30-31a).

A instrução aos discípulos à parte da multidão, “em casa” (vv. 28s.33; 10,10) ou como aqui “no caminho” (10,32; cf. 8,27) já é um motivo típico em Mc (cf. 4,10 etc.). Tem a ver com o segredo do messias e a incompreensão dos discípulos, outras características deste evangelho.

E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará” (vv. 31b-32).

Em Mc, Jesus anuncia três vezes sua paixão, mas cada vez os discípulos reagem mal e Jesus precisa corrigi-los (8,31-33; 9,30-37; 10,32-45). É a expectativa de um messias guerreiro e triunfante que causa o mau entendimento no povo e nos discípulos. Lembramo-nos de que Mc escreveu durante a Guerra Judaica (judeus contra romanos em 66-70 d.C.; cf. 13,1-23) e não queria alimentar esta expectativa. Por isso o segredo do messias Jesus: “Ele não queria que ninguém soubesse disso,… O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens e eles o matarão…” (vv. 30-31). O conceito de um messias aparentemente perdedor e sofredor (cf. o servo sofredor em Is 53) estava na contramão da mentalidade guerreira.

Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar (v. 32).

Só quem pergunta, pode aprender. O ser humano é o ser que pergunta e quer entender. Fé e entendimento (razão) não se contrariam, mas complementam.

Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “O que discutíeis pelo caminho?” Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior (vv. 33-34).

Mc é duro com sua descrição dos discípulos: eles não perguntam e também não respondem à pergunta de Jesus: “ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior” Brigam pelos melhores lugares no reino de Deus que Jesus anuncia (1,15; cf. 10,37.41).

Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (v. 35).

No reino de Deus não é grande, quem quer ser o primeiro para mandar, mas aquele que se coloca no último lugar e “serve a todos” (v. 35; 10,43s). Quem quer seguir Jesus, não deve olhar para os ricos e poderosos, mas olhar para os pequenos e excluídos (cf. Is 61,1; 66,1-2), para aqueles que a sociedade costuma colocar no último lugar ou na margem.

Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ”Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou” (vv. 36-37).

Com um gesto significativo, Jesus reforça seu ensinamento: “pegou uma criança, colocou-a no meio deles, abraçando-a” (cf. 10,13-16). Na sociedade antiga, crianças não estavam no centro das atenções, tinham pouco valor porque não podiam ainda contribuir como os adultos. Os romanos costumavam jogar crianças indesejadas no lixo! Jesus, porém, coloca a criança no meio, dá carinho e ainda se identifica com ela: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher está acolhendo não a mim, mas aquele que me enviou” (v. 37; cf. Mt 18,1-5; 25,40.45; Jo 12,44; 13,20).

Nas outras religiões, é o ancião que é valorizado por sua sabedoria. Mas na religião cristã também a criança ganha valor, porque o próprio Jesus se fez pequeno e servo e apresentou a humildade de crianças como exemplo de fé (10,13-16). Daí também o empenho da Igreja pela vida (contra aborto) e suas instituições como orfanatos, creches, Pastoral da Criança, Pastoral do Menor, catequese e batismos de crianças etc.

O site da CNBB resume: O que faz com que na maioria das vezes não compreendamos corretamente a mensagem de Jesus geralmente são as diferenças que existem entre os nossos interesses e os dele. Enquanto Jesus estava pensando na necessidade da cruz para a realização do Reino de Deus, seus discípulos estavam pensando em um reino com critérios humanos, fundamentado principalmente nas diferenças, nas relações de poder e na hierarquia social, econômica e política. Sempre que não nos colocamos em sintonia com o projeto de Jesus e não colocamos o amor como o critério último das nossas vidas, podemos nos equivocar na compreensão do Evangelho e buscar interpretações que existem muito mais para legitimar os nossos interesses do que para nos conduzir à verdade e ao Reino.

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