28 de setembro de 2017 – Quinta-feira, 25ª semana

Leitura: Ag 1,1-8

Na leitura ouvimos o início da profecia de Ageu que motivou para continuar a reconstrução do templo em Jerusalém. Segundo Esd 3,1-9, o primeiro grupo vindo do exílio babilônico começara a reconstruir o Templo. Mas a pobreza da comunidade e a oposição dos samaritanos interromperam os trabalhos (cf. Esd 4,1-5.24). Outros exilados voltaram para a Judéia e agora enfrentam o perigo do esfacelamento.

Cada um busca seus próprios interesses e, como sempre acontece, um pequeno grupo conquista privilégios em detrimento da grande maioria que vive na miséria. Diante disso, Ageu convoca os chefes e o povo a tomar posição: reconstruir o Templo como centro de vida e coesão da comunidade. Nos poucos meses de sua atuação, o profeta consegue o que não era possível nos 18 anos antes, terminar a reconstrução do templo em cinco anos. Este templo permanecerá por cinco séculos o centro da religião judaica até sua reforma por Herodes (cf. Jo 2,20s) e sua destruição definitiva pelos romanos em 70 d.C.

No primeiro dia do sexto mês do segundo ano do reinado de Dario, a palavra de Deus foi dirigida, por meio do profeta Ageu, ao governador da Judéia, Zorobabel, filho de Salatiel, e ao chefe dos sacerdotes, Josué, filho de Josedec (v. 1).

Como muitos livros proféticos, aqui também se começa com a data da atividade do profeta (entre fim de agosto até dezembro de 520) no “segundo ano do rei Dario”, cujo reinado persa durou de 521 a 486 a.C.;). Para comunidade judaica, a monarquia independente não existia mais depois do exílio, por isso o cabeçalho foi adaptado pela introdução do nome do soberano estrangeiro.

Este v. 1 limita-se ao primeiro oráculo (vv. 2-11), “no dia primeiro do mês” que era feriado (lua nova) com festa que incluía sacrifícios (1Sm 20,5; Am 8,5; Os 2,13; Is 1,13; 66,23; Nm 28,11-15). O discurso se destina primeiramente aos líderes Zorobabel e Josué (seus nomes se repetem no segundo e terceiro oráculo) e também aos repatriados (“resto”, v. 12), que se agrupam ao redor de Jerusalém (cf. Is 10,20-23; Ez 6,8-10).

“O governador de Judá, Zorobabel” é neto de Joaquin (Yoiakin, também chamado Yekoniá, cf. Jr 28,4), o último rei de Judá no momento da primeira deportação de 598 (2Rs 24,8-17;25,27-30). Zorobabel, portanto, pertence à dinastia davídica (1Cr 3,17-19). O governo central persa havia-lhe confiado a prefeitura, ou seja, a administração civil da província de Judá. Simbolicamente, ele representa os sonhos da restauração de um novo reino segundo o modelo da monarquia preexílica (cf. 2,20-23).

Outro líder era de família sacerdotal: “Josué, filho de Josedec”, era neto do sumo sacerdote de Jerusalém e foi deportado com seu pai para Babilônia (cf. 1Cr 5,40s). A designação “sumo (chefe) sacerdote” ocorre aqui pela primeira vez e, depois dele, este cargo se torna mais significativo.

Os dois representam a continuidade (política e religiosa) antes e depois do exílio. Outra vez, como nos tempos passados, sobre eles se levanta a voz profética com autoridade superior.

Isto diz o Senhor dos exércitos: “Este povo diz: ‘Ainda não chegou o momento de edificar a casa do Senhor’”. A palavra do Senhor foi assim dirigida, por intermédio do profeta Ageu: ”Acaso para vós é tempo de morardes em casas revestidas de lambris, enquanto esta casa está em ruínas?” (vv. 2-4).

O oráculo consiste em três parte, cada uma introduzida pela fórmula profética tradicional “Isto diz o Senhor dos exércitos” (vv. 2.5.7). A primeira passagem questiona a atitude da comunidade em relação à reconstrução do templo. A repetição do “momento (tempo; vv. 2.4) chama atenção para ironia da situação: Eles (a elite, o povo?) moram em casas bem cobertas, “revestidas de lambris”, como eram outrora o Templo de Salomão e o palácio real (cf.1Rs 6,9; 7,3.7; Jr 22,14), mas a casa do Senhor “está em ruínas” (vv. 4.9b). Quem realmente decide e com qual critérios qual o “momento” propício para “edificar a casa do Senhor”?

Na tradição preexílica (2Sm 7) tem o exemplo de Davi que morava em palácio de cedro e queria construir uma “casa” para o Senhor (ainda não havia templo em Jerusalém, apenas a tenda da reunião do tempo do deserto). Através do profeta Natã, o Senhor prometeu por sua vez, construir uma “casa” (dinastia) estável e perene para Davi. A metáfora da “casa” simbolizava uma dinastia e reino estáveis.

As fundações da reconstrução do templo já estavam lançadas ne primavera de 536 a.C. pelo primeiro grupo que voltara da Babilônia (Esd 3,7-13). No entanto, nenhum outro progresso foi alcançado, porquê? Condições de vida deprimente ou oposição dentro e fora da comunidade? Esqueceram-se do decreto do Ciro para a tarefa da reconstrução (Esd 1,1-4; 2Cr 36,23) ou esperavam para cumprimento literal dos “setenta anos” da profecia de Jeremias (Jr 29,10; 25,11; cf. Zc 1,12.16s), neste último caso faltaram ainda poucos anos. O texto de Ag não indica nenhuma razão especifica para justificar a resistência à reconstrução.

Isto diz, agora, o Senhor dos exércitos: “Considerai, com todo o coração, a conjuntura que estais passando: tendes semeado muito, e colhido pouco; tendes-vos alimentado, e não vos sentis satisfeitos, bebeis e não vos embriagais; estais vestidos, e não vos aqueceis; quem trabalha por salário, guarda-o em saco roto” (vv. 4-6).

Na segunda passagem, o profeta convida para analisar a “difícil conjuntura” (vv. 5.7), considerar a crise da economia a partir da sua experiência: uma série de comparações entre os esforços para reconstruir a vida cotidiana e seus resultados pífios (cf. Tg 4,1-3). Qual a causa da seca, das más colheitas, da fome e da pobreza (cf. o caso oposto em Jr 40,12, em que a volta à pátria é premiada com uma boa colheita).

Isto diz o Senhor dos exércitos: “Considerai, com todo o coração, a difícil conjuntura que estais passando: mas subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; ela me será aceitável, nela me glorificarei, diz o Senhor” (vv. 7-8).

Depois de repetir quase todo v. 5 em v. 7, a terceira passagem apresenta uma ordem (v. 8) e um julgamento de Deus (9-11, omitidos pela nossa liturgia). O profeta aponta a causa teológica para a crise da economia: o descuido com o templo (cf. Ml 3,6-12 a respeito do dízimo). A seca, as más colheitas, a fome, a pobreza são atribuídas à intervenção de Deus por eles não terem reconstruído o Templo: “Por isso, o céu vos recusa o orvalho e a terra vos recusa a colheita…” (vv. 10-11; cf. Lv 26,18-20; Dt 11,13-17; Jr 14,1-12; Os 4,3; Mq 6,14).

Zorobabel, Josué e o resto dos repatriados eram fieis ao projeto da monarquia, para a qual o Templo é a única habitação de Deus e fonte das condições de vida. Portanto, mãos à obra: “Subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa”. A urgência da tarefa consiste em dar glória a Deus.

Se o templo for reconstruído, tudo vai melhorar, pois Deus habitará de novo no meio deles e espalhará suas bênçãos. O templo será “aceito” por Deus (linguagem cultual; traduzido por: “será aceitável”, eu vou gostar), é garantia divina para a obra, nele se manifestará sua “glória” (cf. Ex 14,17s).

Não se trata apenas de um projeto material, mas também e sobretudo de um projeto social: reativar o clima da Aliança, de modo que o povo se una solidário e lute corajosamente para reconstruir a vida nesse tempo difícil. Só assim Javé estará novamente no meio do seu povo (v. 13).

No Comentário Bíblico II (p. 151), Mary M. Pazdan resume: Segundo Ageu, reconstruir o Templo significa restaurar o relacionamento da comunidade com Deus…A restauração da Casa de Deus é responsabilidade primordial da comunidade. Até a tarefa ser concluída, a comunidade vive sob o julgamento de Deus, estabelecido pelo exílio e continuado nas condições severas da vida. Quando o Templo for concluído, a bênção substituirá o julgamento. O Senhor habitará novamente na comunidade do Templo.

Evangelho: Lc 9,7-9

Os apóstolos acabaram de ser enviados para primeira missão em Israel (cf. evangelho de ontem). Para preencher o tempo da missão deles antes de voltarem, Lc (seguindo Mc 6,14-17) entra aqui com essa breve notícia sobre Herodes Antipas, governador da Galileia, preparando a profissão de Pedro que se baseia na mesma pergunta: “Quem é Jesus?” (cf. vv. 18-20, evangelho de amanhã). A lembrança de Herodes, nesse ponto, durante a atividade dos doze, projeta uma sombra agourenta.

O tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, e ficou perplexo, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos. Outros diziam que Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado (vv. 7-8).

Herodes Antipas era um dos filhos do rei Herodes Magno (cf. Mt 2) cujo reinado foi divido entre seus filhos e Herodes Antipas ficava como governador da Galileia e Pereia-Transjordânia (Lc 3,1). Lc e Mt 14,1 usam o termo correto “tetrarca”, corrigindo Mc 6,14 (“rei”).

Ele faz a si mesmo a pergunta fundamental: quem é esse Jesus? (cf. v. 9) Conhece, de ouvido, diversas respostas: o povo precisa enquadrar Jesus, identifica-o com o Batista ressuscitado ou com algum profeta redivivo, ou com Elias que não morreu e haveria de voltar (Eclo 48,10) como foi anunciado em Ml 3,23 (cf. Mt 17,10; Mc 9,11). Em Mt 14,2 e Mc 6,16, o próprio Herodes crê que, em Jesus, “João Batista tinha ressuscitado dos mortos”. Mas para Lc e seus leitores greco-romanos, este monarca helenista deve ser demasiado cético para admitir tal possibilidade (cf. o ceticismo grego a respeito da ressurreição em At 17,32; 25,19.22; 26,24-29).

Então Herodes disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E procurava ver Jesus (v. 9).

Na moldura, não há um vazio para o messias esperado. Herodes Antipas não crê em tais boatos, quer vê-lo pessoalmente (23,8). Bastaria vê-lo sem ter fé? Não se esclarece seu ministério simplesmente com uma inspeção.

Lc já informou sobre a prisão de João Batista em 3,19s (Mc 1,14p; cf. Lc 7,18; Mt 11,2), mas não narra mais o assassinato de João Batista com todos seus detalhes (Mc 6,17-29p). Só indiretamente, pela boca do criminoso Herodes (cf. 3,20), ouvimos do martírio: “Eu mandei degolar João” (cf. Mc 6,16). E já se querendo se lançar sobre a próxima vítima, “procurava ver Jesus” (v. 9). Aqui Lc prepara o futuro encontro entre o rei (Herodes) e o messias (Jesus) em Jerusalém (23,8-12).

O site da CNBB comenta: Vemos o surgimento de diferentes formas de misticismo e as diferentes religiões estão se multiplicando por todos os lados. Para nos defender, afirmamos que existem falsos profetas que ficam enganando o povo para ganhar dinheiro e fazer da religião meio de vida. À luz do Evangelho de hoje, podemos analisar este fato. As pessoas falam muitas coisas a respeito de Jesus, embora muitas vezes porque desconhecendo verdade, e esse desconhecimento se dá porque não evangelizamos como devemos e também porque conhecemos a nossa fé de modo superficial, mas não admitimos a nossa ignorância e manifestamos nossa opinião como verdade de fé, basta ver o acúmulo de bobagens que cristãos de meia tigela veiculam na Internet, em sites que afirmam ser católicos, mas que na verdade são caóticos e escondem Jesus.

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