30 de Setembro de 2018, Domingo: João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” (v. 38).

1ª Leitura: Nm 11,25-29

A 1ª leitura foi escolhida em vista do evangelho que fala da tolerância religiosa, porque Deus é maior do que qualquer religião; Jesus pertence à humanidade, não apenas à Igreja Católica, e o Espírito de Deus sopra onde quer (cf. Jo 3,8).

A leitura de hoje tem seu paralelo em Ex 18: Antes de chegar ao monte Sinai, Moisés estava sobrecarregado. Então seu sogro Jetro, sacerdote de Madiã, deu o conselho de descentralizar: escolher homens capazes para atender melhor o povo, eles mesmos julgariam as causas menores, enquanto só as causas mais importantes ficariam para Moisés. Este grupo pode ser identificado com os “setenta anciãos” que subiram com Moisés na aliança do Sinai (24,1.9). Depois da legislação no Sinai (Ex 19-Nm 9), os israelitas se colocam em marcha de novo.

O cap. 11 de Nm apresenta um cansaço duplo: O povo cansou-se da comida do maná no deserto (vv. 4-9; cf. Ex 16) e Moisés cansou do seu papel de líder deste povo (vv. 10-15). O próprio Deus apresenta a solução destes dois problemas: aves chamadas codornizes enriquecerão a dieta do deserto com carne (v. 13; cf. Ex 16,8.12) e a liderança de Moisés tornar-se-á menos pesada com a descentralização e colaboração de 70 anciãos ou juízes (vv. 16s.24b-30; cf. Ex 18,13-27). Nossa leitura apresenta apenas o dom do espirito aos 70 anciãos.

Em Nm 11, a narrativa junta o desejo de carne ao dom do Espírito. O povo começa se queixar (murmurar) reclamando do cardápio monótono do maná (11,1-9; cf. Ex 16): “Quem nos dará carne a comer?” (v. 4). Moisés, com desgosto, pede renúncia a Javé: ”Não posso, eu sozinho, levar todo esse povo; é muito pesado para mim” (v. 14). O próprio Javé (Senhor) lhe dá o conselho de procurar colaboradores: “Reúne setenta anciãos de Israel que tu sabes serem anciãos e escribas do povo. Tu os levarás à Tenda da Reunião, onde permanecerão contigo. Eu descerei para falar contigo; tomarei do Espírito que está em ti e o porei neles. Assim levarão a carga deste povo e tu não a levarás mais sozinho” (vv. 16s).

O Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Retirou um pouco do espírito que Moisés possuía e o deu aos setenta anciãos. Assim que repousou sobre eles o espírito, puseram-se a profetizar, mas não continuaram (v. 25).

Moisés fez exatamente como o Senhor ordenou, “reuniu os setenta anciãos do povo e os colocou em torno da Tenda da reunião” (este santuário móvel do deserto, ponto de encontro com Deus antes do Templo que seria construído só por Salomão três séculos depois; cf. Ex 25-40; 2Sm 7). Com o espirito, os anciãos recebem o dom profético, apenas de modo temporário: não continuaram profetizar. Mas pode-se também traduzir “sem poder parar” (Vulgata, latim).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 223) comenta: “Profetizar” tem aqui sentido primitivo de “entrar em transe, cair em êxtase” (cf. 1Sm 10,10ss). Essas manifestações, que caracterizam a profecia em suas origens, não são senão um elemento acessório e transitório da presença do espírito dado pelo Senhor. Não se encontra isto em Moisés, embora ele tenha recebido a parte mais importante desse espírito de profecia.

A Bíblia do Peregrino (p. 248) comenta: Deus envia seu espírito aos eleitos para que desempenhem a sua função específica a serviço da comunidade: profetizar, governar, tarefas do santuário … A quantidade de espírito é proporcional à responsabilidade do eleito. Moisés possui uma plenitude que, ao se repartir a responsabilidade do governo, tem de se repartir entre todos. A unidade e participação estão bem expressas nesta fórmula, um pouco quântica, do espírito. Deus é o dono: ele o dá, o retira, o reparte como quer. Ver a versão de Dt 1,9-18, com intervenção do povo.

Dois homens, porém, tinham ficado no acampamento. Um chamava-se Eldad e o outro Medad. O espírito repousou igualmente sobre os dois, que estavam na lista mas não tinham ido à Tenda, e eles profetizavam no acampamento (v. 26).

O texto conservou os nomes dos dois homens: Eldad que significa “Deus é amigo” e Medad, “Deus é amor”.

O dom do espírito não está ligado a um certo lugar. Mas não é distribuído ao acaso; é dado somente aos que escolheu por intermédio de Moisés, pode se associar ao evangelho de hoje: este dois estavam na lista (Bíblia, nome de Jesus), mas não na tenda (Igreja Católica, apóstolos).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 167) comenta: Ligando o êxtase profético (1Sm 10,5-13; 19,20-24), que ocorre também longe do Templo (vv. 26-29), ao espírito de Moisés, uma narrativa antiga é vinculada aqui ao maná e às codornizes possivelmente justiçando a instituição pós-exílica que dará origem ao Sinédrio (2Cr 19,8-11; Esd 10,8).

Um jovem correu a avisar Moisés que Eldad e Medad estavam profetizando no acampamento. Josué, filho de Nun, ajudante de Moisés desde a juventude, disse: “Moisés, meu Senhor, manda que eles se calem!” Moisés respondeu: “Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!” (vv. 27-29).

O futuro sucessor de Moisés, Josué, se queixa de dois homens que profetizaram fora do ambiente sagrado (Tenda da Reunião), como João no evangelho de hoje da curas realizadas fora do círculo dos apóstolos. E como Moisés, Jesus também mostrará tolerância (Mc 9,38-40). Josué será sucessor de Moisés.

Deus é soberano em suas decisões, sua liberalidade é extraordinária. Moisés não teme ser ofuscado em sua autoridade. Importante é que os dons de Deus sejam acolhidos e administrados para o bem do todos. Oxalá todo povo se deixe conduzir pelo Espírito de Deus.

“Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!” O dom do Espirito para “todo o povo” é profetizado por Jl 3,1s, citado por Pedro para interpretar a descida do Espírito no dia de Pentecostes (At 2).

Na liturgia católica, este texto é relacionado à ordenação de presbíteros (palavra usada no texto grego, traduzido aqui por “anciãos”) que participam da missão do bispo, sucessor dos apóstolos. O evangelista Lucas narra dois envios, um para os doze apóstolos (Lc 9,1-6), outro para 70 (ou 72) discípulos (Lc 10,1-12)

 

2ª Leitura: Tg 5,1-6

O autor da carta de Tg continua dirigindo-se a homens de negócios e ricaços (cf. 4,13-17). Há ricos que são ricos às custas de outros: são os que os profetas denunciam com frequência e veemência: “Ai dos que acrescentam casas a casas e juntam campos a campos, até não deixarem espaço e viverem só eles no país” (Is 5,8), e também os livros sapienciais: Eclo 29,10 é uma exortação a emprestar mesmo a fundo perdido. Eclo 31,1-11 contrapõe o rico cobiçoso ao que não se perverte pela riqueza; duríssima é a denúncia de Eclo 34,18-22.

E agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós (v. 1).

Depois de se dirigir a irmãos chamados a se converterem (1,10; 2,2), Tg investe agora contra pessoas ricas que não se convertem (cf. “ai de vós ricos” em Lc 6,24-26). A ameaça é apaixonada e o tom sarcástico. A perspectiva é escatológica: as “desgraças” que atingem os ricos situam-se na perspectiva do julgamento (5,7-9; cf. Mt 6,19; Is 5,8-10; Am 2,6s; 8,4-8; etc.).

Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças. Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes, como fogo! Amontoastes tesouros nos últimos dias (vv. 2-3).

Os tesouros dos ricos, já reduzidos a nada pelos vermes e a ferrugem (cf. Mt 6,19), vão “testemunhar” contra eles, no dia do juízo final. Mas já estamos “nos tempos do fim”. As riquezas se voltam contra seus possuidores numa espécie de vingança imanente. A riqueza gera um “fogo” que consumirá os corpos gordos.

Vede: o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso (v. 4).

As riquezas injustas são frutos de extorsão ou exploração, de mandar trabalhar sem pagar a diária. É um tema frequente no AT: na legislação (Lv 19,13; Dt 24,14-15), no governo (Jr 22,3.13-17), num juramento de inocência (Jó 31,38-39). Mas Deus ouve o “clamor dos trabalhadores” oprimidos (cf. Ex 3,7; Dt 24,15; Gn 4,10) e fará justiça.

Vós vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida, cevando os vossos corações para o dia da matança (v. 5).

Os corpos que engordam cevam-se para o “dia da matança”, ou seja, o dia do julgamento final. Alusão, talvez, às violências com que os ricos oprimiram os justos (cf. Sl 44,23; Sb 2,10-20; Jr 12,1-3). Essa matança evoca o abatimento de animais para alimentar festas (Sl 49,13.21 na tradução da nossa liturgia: “o homem rico é como boi gordo que se abate”) e é imagem de opressão e perseguição do pobre pelo rico (cf. Sl 44,23 citado por Rm 8,36). “Vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida…” (cf. a parábola do rico e Lázaro em Lc 16,19-31; cf. 12,19s).

Condenastes o justo e o assassinastes; ele não resiste a vós (v. 6).

O estilo de vida na riqueza injusta mata o próximo (cf. Eclo 34,22) e o justo que não resiste ao mal (cf. Mt 5,39). Este “justo” condenado e assassinado pode designar um grupo (cf. Sl 37; Sb 2,12-20), de preferência a Jesus (cf. Is 53,11; Lc 23,47; At 3,14; 7,52; 22,14; 1Pd 3,18; 1Jo 2,1).

A Bíblia do Peregrino (p. 2901), porém, tem outra interpretação: O v. deve ser lido em inclusão com 4,6, que tinha função programática. Desse modo, fica claro que o sujeito (implícito) do verbo resistir é Deus, e o sentido é coerente: 4,6 “Deus resiste aos soberbos”; 5,6 “não resistirá Deus contra vos?”

 

Evangelho: Mc 9,38-43.45.47-48

Jesus continua ensinando os discípulos, motivando-os para o valor dos pequenos, para serviço generoso e tolerância. Não só o desejo de conseguir os primeiros lugares, querer ser o primeiro entre os discípulos (cf. evangelho do domingo passado) é um obstáculo de entender e seguir o caminho de Jesus, mas também o fechamento e a falta de generosidade como demonstra a continuação no evangelho de hoje.

João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” (v. 38).

A capacidade de cura em Jesus ganhou tanta fama que seu nome se tornou uma palavra mágica que outras pessoas ou grupos usavam para suas atividades de cura e exorcismo (cf. At 19,13s). O apóstolo João reclama de um homem que expulsava demônios em nome de Jesus: “Mas nós o proibimos, porque não ele não nos segue” (v. 38). O fato de ser a única vez nos quatro evangelhos que o apóstolo “João” fala aqui sozinho, pode ser mera coincidência, mas existe no quarto evangelho uma tendência dualista, ou seja, fechar-se no seu mundo espiritual contra um mundo mau de fora.

Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (vv. 39-40).

Jesus não resolve o problema, mas dá uma regra generosa: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim” (v. 39). Quem se refere ao nome de Jesus, está ligado a ele de certo modo, mesmo não pertencendo ao grupo dos apóstolos. É um apelo à tolerância que nem sempre foi ouvido na história da Igreja. Quantas vezes foram proibidos, condenados e até mortos diversos grupos ou pessoas que não seguiram em tudo à doutrina oficial.

Jesus conclui: “Quem não é contra nós, é a nosso favor”, mas também diz em Mt 12,30: ”Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, espalha.” Não há contradição, porque em Mc, se fala da tolerância na Igreja (“nós”), enquanto em Mt se trata da mediação única da pessoa de Jesus (“comigo”), único caminho ao Pai (cf. Jo 14,6).

Na visão de Jesus, a Igreja oficial não deve ser uma panela intolerante que exclui e proíbe tudo que não está 100% sob seu controle. O Papa Francisco fala que a Igreja “não é uma alfândega” que quer controlar tudo (Evangelii Gaudium, 47). O nome (e a pessoa) de Jesus não é uma marca registrada pertencente somente à Igreja Católica, mas pertence à humanidade, e o Espírito sopra onde ele quer (Jo 3,8) não só onde a Igreja quer. É necessário definir a doutrina para maior clareza e evitar confusão, mas há de reconhecer que também existem elementos de verdade e santidade em outras religiões, embora somente na Igreja Católica encontrem-se todos os meios para salvação. Assim falam os documentos do Concílio Vaticano II (LG, UR, NA) que nos animam no caminho do “diálogo inter-religioso” (entre religiões diferentes) e “ecumenismo” (entre aqueles que creem em Cristo, ou seja, diferentes Igrejas cristãs). A existência de outras igrejas e religiões pode nos desafiar e incomodar, mas por outro lado, a liberdade e a concorrência num mercado ou estado livre estimulam para melhor a qualidade. A Igreja Católica não se deve subestimar, mas também não acomodar na tradição. Jesus quer liberdade e tolerância, generosidade e qualidade.

O site da CNBB comenta: Uma das maiores dificuldades que podemos encontrar para a compreensão da ação divina no mundo encontra-se no fato de querermos submetê-la aos nossos critérios de inteligibilidade, principalmente no que diz respeito à religião institucional. O que acontece é que muitas vezes o agir divino fica vinculado a critérios meramente humanos ou a ritualismos que estão mais para prática de magia, alquimia e bruxaria do que para um relacionamento filial, de confiança e entrega. Outras vezes, esse agir divino é condicionado ao cumprimento de princípios legais que determinam se Deus pode agir ou não. Devemos nos lembrar que o Senhor é Deus e não nós.

Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa (v. 41).

A generosidade se deve estender aos “pequenos” (Mt 10,42) e a todos que são “de Cristo”; mesmo um gesto pequeno como dar um copo de água, “não ficará sem receber a sua recompensa” (cf. Mt 10,42). Esta recompensa pode ser imanente (aqui em vida) ou escatológica (noutro mundo; cf. 10,30; Mt 5,46; 6,1; etc.).

E se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço (v. 42).

Mc não fala só de crianças (cujo abuso, ex. a pedofilia, é realmente um escândalo lamentável) Os “pequenos que creem” são os fracos e pobres, as pessoas simples e humildes na comunidade. “Escandalizar” quer dizer “fazer cair” (“escândalo” em grego é um obstáculo no caminho, uma armadilha), ou seja, fazer desistir da fé em Jesus e do seu seguimento (cf. 4,16-17). A fé de pessoas simples depende de palavras e exemplos de líderes, e Jesus ainda fala aos Doze (v. 35)! Quem ameaça a fé destas pessoas simples através do seu mau exemplo, é ameaçado de morte certa por Jesus, mesmo no condicional: “melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço” (cf. Lc 17,1s).

Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no infernoonde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’” (vv. 43-48).

Como é tal sério fazer outros perderem a fé, há de tomar cuidado para não vacilar a própria pessoa. Aquele que crê pode cair também por conta própria, por sua natureza: seu pé, sua mão, seu olho etc. podem levá-lo a pecar. Agir contra a própria natureza parece uma automutilação, mas Jesus exige isso em vista à vida eterna: “Corta-o! É melhor entrar na Vida, do que tendo os dois, ser jogado no inferno.” “Entrar na vida” corresponde “entrar no reino de Deus” (cf. v. 47; 10,15.23s; cf. Mt 5,20 etc.), ou “herdar/ganhar a vida eterna” (10,17;  Lc 10,25; etc.).

Estas palavras são exagero de poesia oriental ou devemos levar ao pé da letra? Orígenes, um teólogo do século III, se castrou a partir dessas palavras, mas depois descobriu que ainda estava com desejos sexuais na cabeça. E se você, querido leitor, tem maus pensamentos, a sua cabeça te leva a pecar, deve cortá-la? No sermão da montanha (Mt 5,29-30; cf. 18,8-9), Jesus alerta do perigo da cobiça, ou seja, de sentimentos e pensamentos que podem levar ao pecado. Não se deve considerar pecado somente o ato cometido (adultério, assassinato…), mas estar atento ao seu começo no pensamento na cabeça ou ao sentimento nos membros do corpo. Devemos cortar os maus pensamentos, não a cabeça. Orígenes, posteriormente, desenvolveu a interpretação alegórica da Bíblia (simbólica, não ao pé da letra). 

Mesmo sem praticar essas palavras ao pé da letra, não se deve desconsiderá-las, pois Jesus fala seriamente do inferno, “onde o verme deles não morre e o fogo não se apaga” (v. 48; citando Is 66,24). Mas tudo isso não é uma inversão da “Boa Nova” (evangelho) do reino de Deus numa “Péssima Nova” da ameaça do inferno? Certamente, Jesus anunciou um Deus bondoso e misericordioso, mas isso não significa automaticamente um final feliz para todos e para cada um(a).

Deus deu livre arbítrio ao ser humano: o filho pode dizer “não” ao Pai (Mt 21,9-10), o servo pode inutilizar o talento a ele confiado (Mt 25,14-30; Lc 19,11-27), os convidados podem ignorar o convite (Lc 14,15-24). Deus respeita a decisão do homem livre e não o forca para ter comunhão nem para viver eternamente com ele. Apesar da bondade divina, o ser humano pode perder seu destino. Quem não reconhece que seu futuro depende das próprias decisões, subestima o valor da sua própria vida.

Nosso pensar, agir e omitir têm consequências positivas ou negativas para nossa vida e para nosso futuro. O perigo de não reconhecer o significado da nossa conduta não está só nas pessoas simples que a sociedade ignora. Está também nos líderes, nos Doze. Justamente pelo fato de estar na frente, diante dos olhos de todos com um cargo público e eclesial, eles podem fazer cair (“escandalizar”) os pequenos mais do que os outros. Nossa conduta tem importância e faz a diferença.

O site da CNBB comenta: É muito comum ouvirmos que isso ou aquilo é escandaloso e, normalmente, quando isso acontece, o fato está relacionado com questões de sexualidade. O escândalo é muito mais do que isso. Dar escândalo significa ser ocasião de pecado para as outras pessoas, independentemente da natureza ou da forma do pecado. Jesus nos mostra no Evangelho de hoje a importância que devemos dar para os nossos atos, para que eles sejam testemunho da nossa adesão ao Reino de Deus e não uma negação da nossa adesão que tenha como consequência o afastamento das pessoas. Não podemos nos esquecer de que a nossa fidelidade a Jesus no nosso dia a dia é a nossa grande arma no trabalho evangelizador.

 

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