31 de maio de 2017 – Quarta-feira, dia da Visitação de Nossa Senhora

Leitura: Sf 3,14-18a (opcional: Rm 12,9-16b, veja embaixo)

O profeta Sofonias é contemporâneo de Jeremias e atua entre 640 e 620 a.C. Ele anuncia um terrível Dia do Senhor: “Eu vou acabar com tudo o que existe sobre a face da terra…” (1,2-3,8).  Não é essencialmente o fim do mundo e da história, mas a transformação do povo de Deus e o fim de uma era de corrupção e idolatria (adoração de outros deuses, de dinheiro e de poder).

A única possibilidade de salvação são os “pobres da terra” (2,3), destituídos do poder e riqueza depositam sua confiança no Senhor. São eles os únicos que poderão formar um “resto de gente humilde” (3,12) para conduzir na história o projeto de Deus, e assim fazer com que o Dia do Senhor se torne dia de alegria e restauração e não de destruição (3,9-20).

Os vv. 14-20 podem ser um acréscimo no pós-exílio. Depois da volta do exílio da Babilônia (a partir de 538 a.C.), os judeus iniciaram a reconstrução de Jerusalém, do templo e dos muros (cf. Esd e Ne). O autor vê nessa obra o perdão dos pecados anteriores e o início de uma nova era para Israel. “Sofonias” significa: “Protege (nos) Javé”. Deus ama e protege o povo pobre estando no meio dele (3,5.15.17).

Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o rei de Israel é o Senhor, ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal (vv. 14-15).

Na leitura de hoje, a voz profética se dirige com carinho à donzela matrona Jerusalém, em versículos que tem semelhanças com Os 2 e Is 49; 54; 62. “Cidade de Sião”, lit. “filha de Sião”, é personificação de Jerusalém, o resto de Israel que Javé Deus ama e protege (cf. Is 57,15; 62,5). “Sião” é a colina em que se situa Jerusalém e o templo.

Deve se notar que a alegria nasce do perdão e do amor, do fim do medo e da presença de Deus (vv. 5.15.17: ”está no meio de ti”). Os vários sinônimos de júbilo e alegria se acumulam, alguns se duplicam (cf. Zc 2,14; Is 12,6; 54,1). A alegria não brota dos bens materiais, mas da relação pessoal de amor (“movido por amor”), mas é concebida rica em exuberância.

Na Vida Pastoral (ano 2015), Maria de Lourdes Corrêa Lima comenta: O convite à alegria é enfático, ao ser apresentado quatro vezes (rejubila-te, grita de alegria, alegra-te, exulta). Trata-se de uma alegria que brota do interior, mas se manifesta também exteriormente, pela voz e outros sinais (cf. Is 55,12; Jr 50,11). O motivo para tanto é primeiramente que Deus revogou a sentença que pesava contra Jerusalém, aquela com que ele a ameaçara (cf. 3,1-2). E o fez retirando de seu meio os responsáveis pelos desvios da cidade santa (cf. 3,3-4.11: príncipes, juízes, profetas e sacerdotes iníquos, ou seja, os orgulhosos aproveitadores, os dirigentes que se transformaram em inimigos).

Naquele dia, se dirá a Jerusalém: “Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação” (vv. 16-18).

Se o Senhor se alegra com Jerusalém, “movido por amor” (cf. Is 62,5), ela não tem o que temer, deve ficar alegre. O Senhor elimina uns inimigos estrangeiros ou conterrâneos (cf. Is 1,21-26) para ficar ele só como “rei de Israel”, como “valente guerreiro” que defende seu povo (cf. Is 45; 9,5; 10,21), como marido que ama. Volta o amor antigo e a alegria de um casamento renovado, e se celebra a festa. O Senhor fará tudo: expulsará, eliminará, renovará; ela (a comunidade) é convidada a se alegrar e nada temer.

Na Vida Pastoral (ano 2015), Maria de Lourdes Corrêa Lima comenta: Já não haverá um rei davídico, mas o próprio Senhor será o rei de Jerusalém. Eliminando as classes dirigentes corruptas e tendo anulado o juízo contra Sião, chegou para ela o tempo de salvação. Ela não deverá mais temer o mal, isto é, tudo o que anteriormente ocorreu em virtude dos desmandos de seus chefes.

Descreve-se então o novo estado de Jerusalém em virtude da intervenção de Deus. Agora não há mais lugar para o temor, só para a alegria. Aqueles que se encontram desencorajados, sem força, por efeito do medo, são chamados a recobrar o ânimo. A garantia é dada por Deus, que, forte, está no meio do povo como um guerreiro que o liberta. Mas não só: não é somente Sião que se alegra (v. 14); o próprio Deus se alegra por causa da cidade santa. Mostra, assim, a grandeza de seu amor por Jerusalém, causa última de sua renovação.

 

Leitura opcional: Rm 12,9-16b

Depois da parte teórica sobre a doutrina (sobre a justificação pela fé em Rm 1-8 e o destino dos judeus em Rm 9-11), Paulo parte para segunda parte da carta (Rm 12-16), a parênese, ou seja, a exortação prática, como é seu costume em quase todas as suas cartas. “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vosso corpos como hóstia viva…” (v. 1). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2193) comenta: A misericórdia de Deus, da qual se tratou no começo da epístola e especialmente nos caps. 9-11 (cf. Rm 11,21), provoca em resposta uma atitude de oferta de si que se deve manifestar na vida das comunidades cristãs (cf. Rm 6,19).

Paulo convida ainda à transformação da mente (diferente do mundo, vv. 1-2) e à humildade (v. 3), compara a comunidade de muitos dons e membros com um organismo (“um só corpo em Cristo” (vv. 4-8; cf. 1Cor 12) e em seguida dá umas breves orientações.

O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, prevenindo-vos com atenções recíprocas (vv. 9-10).

Como em 1Cor 12-13, o “amor fraterno” (caridade; em grego: agape) é o dom acima dos carismas particulares e todos devem praticá-lo (cf. Cl 3,14; Jo 13,34), “sem fingir” (cf. 1Tm 1,5; 1 Pd 1,22; 4,10s) e com estima do outro (cf. Fl 2,3). “Detestai o mal, apegai-vos ao bem” (cf. Am 5,15).

Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração (vv. 11-12).

Paulo é trabalhador e detesta a preguiça (cf. 1Cor 9; 15,10; 2Ts 3,6-9 etc.). O zelo cristão é movido pelo Espírito, não por bens materiais (cf. 14,17; 1Ts 5,17). “Servindo ao Senhor” designa provavelmente servir a Cristo (variação de texto: “atentos à ocasião oportuna”, cf. Ef 5,16).

Paulo persevera na “alegria” mesmo nas prisões (cf. Fl 1,4.18.25; 2,2.12.28s; 3,1; 4,1.4.10), é “forte” nas diversas tribulações e fraquezas (cf. 2Cor 11,23-12,10) e perseverante na oração (cf. 1Ts 5,17; Cl 4,2; Lc 11,5-13; 18,1-8; At 1,14; 6,4; 13,2s).

Socorrei os santos em suas necessidades, persisti na prática da hospitalidade (v. 13).

Os “santos” que têm “suas necessidades” são os próprios cristãos consagrados pelo batismo (cf. 1,7; 15,25; 1Cor 1,2; Ef 5,26; At 9,13; etc.). A hospitalidade é dever sagrado na Bíblia (cf. Gn 18-19; 1Pd 4,9; Hb 13,2 etc.)

Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis (v. 14).

O próprio Jesus falou do amor aos inimigos em vez da vingança (Mt 5,38-48; Lc 6,27-35). Abençoar os perseguidores (cf. Mt 5,44; 1Cor 4,12) pode excluir também o apelo ou a súplica à justiça vindicativa; ou seja, supera a espiritualidade de alguns salmos que pedem vingança (p. ex. Sl 137,8s).

Mas Paulo sabe que no AT também existe a recomendação de não se vingar (cf. Lv 19,18) e fazer o bem até aos inimigos. Por isso, nos vv. seguintes (vv. 17-20), cita Pr 25,21s para “vencer o mal com o bem” (v. 21; cf. 1Ts 5,15). O horizonte alarga-se e estende-se à toda humanidade, sobretudo a partir do v. 17.

Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram (v. 15).

Paulo se faz servo solidário para com todos (cf. 1Cor 9,19-21; cf. Pr 25,20; Eclo 7,34). Nesta linha, o Concílio Vaticano II (1962-1965) introduz a constituição pastoral Gaudium et Spes com as seguintes palavras: As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração (GS 1).

Mantende um bom entendimento uns com os outros; não vos deixeis levar pelo gosto de grandeza, mas acomodai-vos às coisas humildes (v. 16a).

Embora o apóstolo não o diga expressamente, implica que a humildade favorece a caridade (Pr 3,7; Is 5,21). Devemos imitar os sentimentos de Jesus Cristo, do Filho de Deus que se tornou servo, se humilhou e por isso foi exaltado (Fl 2,5-11). Como Paulo já disse em v. 2: “Não vos conformeis com este mundo, e sim transformai-vos com uma mentalidade nova” (cf. v. 2; Mc 9,30-37p; 10,32-45p; Mt 23,12; Lc 14,11; 18,14, etc.).

 

Evangelho: Lc 1,39-56

Lucas narra paralelamente a história dos nascimentos de João Batista (seis meses mais velho, cf. v. 36) e de Jesus. Depois dos anúncios do arcanjo Gabriel a Zacarias em Jerusalém e à Maria em Nazaré, as duas linhas paralelas se cruzam numa intersecção transcendental: A reclusão de Isabel (v. 24) se abre para receber a visita de sua prima. O novo episódio, o encontro de duas parentes em sua primeira gravidez, se polariza para o encontro misterioso de Jesus e João e para o hino de Maria (vv. 47-55), chamado “Magnificat”.

Maria é representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Dela nascerá o Filho de Deus. O anjo Gabriel tinha falado a Maria sobre a gravidez da sua prima Isabel “apesar da sua velhice… já faz seis meses que está grávida” (v. 36).

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia (v. 39).

Nazaré fica na Galileia; de lá, Maria parte para a região montanhosa, isto é Judeia com nível mais alto do mar (Jerusalém: 800 m). É um caminho cerca de 100 km até a casa de Isabel, hoje identificada no lugarejo de Ain Karim, 6 km a oeste de Jerusalém, onde seu marido Zacarias trabalhava no templo como sacerdote (1,8). A “pressa” indica a ansiedade de confirmar o sinal que o anjo havia indicado (v. 36), como depois aos pastores em Belém (2,16, cf. Zaqueu em 19,5s, Paulo em At 20,16; 22,18) a palavra de Deus tem pressa para chegar ao mundo e ser anunciada (cf. Lc 10,4).

Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo (vv. 40-41).

A saudação de Maria é medianeira de alegria e inspiração celeste. João recebe o Espírito anunciado em 1,15; como profeta é chamado antes de nascer, “antes de se formar no ventre eu te escolhi; antes de saíres do seio materno eu te consagrei” (Jr 1,5; Is 49,1; cf. Gl 1,15). Estremecendo diante do messias secretamente presente em Maria, João inaugura sua missão no ventre de Isabel e impressa sua alegria inconsciente (de sinal contrário os gêmeos de Gn 25,22). Assim João anuncia o messias já no ventre materno e antecipa-se o encontro dos dois adultos no Rio de Jordão (batismo de Jesus 3,21p). Isabel fala profetizandocheia do Espírito Santo”. Em Lc, a expressão “cheio/repleto do Espírito Santo” não significa plenitude de graça santificante, mas o dom da profecia que faz falar de forma inspirada (1,41.67; At 2,4; 4,8.31; 7,55; 9,17; 13,9). Aqui, o embrião João se manifesta no seio materno de tal modo que sua mãe expressa a voz profética. Pode-se comparar Maria com a arca da aliança, com base em 2Sm 6 (cf. Ap 11,19-12,1), porque dentro dela está a Palavra (encarnada) de Deus (cf. Jo 1,14).

Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (v. 42).

A interpretação profética de Isabel menciona três elementos conjugados: a fé (v. 45.), a maternidade (v. 42), o Messias (v. 43). Maria é “bendita” embora possa recordar mulheres ilustres (Jael em Jz 5,24; Judite em Jt 13,18; Abgail em 1Sm 25,33); o contexto próximo nos convida a pensar na benção da fecundidade a Eva e Sara (Gn 1,28; 9,1; 17,16; Dt 28,4). Mas nenhuma maternidade da história pode ser comparada com a de Maria; a ela estavam direcionadas muitas maternidades procedentes.

“Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (v. 43).

Isabel como esposa de um sacerdote estava numa posição superior do que a de Maria, mulher de carpinteiro. No entanto, Isabel chama o filho de Maria de “meu Senhor”, como que reconhecendo o messias (Cristo). Não sabemos se o autor alude a Sl 110,1. No AT, “Senhor” é tradução do nome divino de Javé (cf. Ex 3,14). Mas para os cristãos, é também titulo divino de Jesus Cristo ressuscitado (At 2,36; Fl 2,11 etc.) que Lc lhe atribui desde a vida terrestre, com mais frequência que Mt e Mc (cf. Lc 2,11; 7,13; 10,1.39.41; 11,39 etc.).

Cristo é o Senhor, ele é Deus junto com o Pai (“consubstancial”, cf. Concilio de Niceia em 425), portanto, Maria pode ser chamada “Mãe de Deus” (Concílio de Éfeso em 431; lógico que Maria é mãe do Filho, não é a mãe do Pai nem do Espírito). As saudações do anjo (v. 28) e de Isabel (v. 42) formam a primeira parte da oração “Ave Maria”, cuja segunda parte inicia usando o título “Mãe de Deus”.

“Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu” (vv. 44-45).

A benção acrescenta a felicitação (“bem-aventurada”), a primeira de uma série sem fim: a fé é mérito principal: crendo tornou possível o cumprimento. Em contraste com Zacarias (v. 20), Maria é a crente, acreditou e se colocou a disposição da palavra de Deus (v. 38) e da sua prima Isabel cuja gravidez o anjo indicou como sinal. Ajudando a Isabel, Maria permaneceu provavelmente com ela até o nascimento e a circuncisão de João (cf. vv. 56-66).

Então Maria disse:

“A minha alma engrandece o Senhor,
e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador
(vv. 46-47).

Maria responde com um cântico no estilo típico de salmo (versos paralelos). Este cântico em ação de graças é chamado Magnificat (a primeira palavra em latim: “engrandece”) e inspira-se no cântico de Ana (1Sm 2,1-10) e em muitas outras passagens do AT.

O hino é alegre, festivo. A “alegria” irrompeu pela saudação de Gabriel (Ave Maria, lit.: “Alegre-te” em 1,28) e agora toma a palavra na boca de Maria. Ela exulta (cf. Hb 3,18; Sl 31,8; 35,9) a “grandeza” de Deus (cf. Sl 34,4; 69,31), “meu salvador” (2Sm 22,3; Is 43,3; cf. Sl 9,15; 13,6).

O cântico é composto em estilo de hino, com temas tradicionais. As duas seções dividem-se no versículo 50. Notem-se os dois grandes temas: 1. Os pobres e pequenos são socorridos em detrimentos de ricos e poderosos (Sf 2,3; cf. as bem-aventuranças e os “ais” em Lc 6,20-26; Mt 5,3). 2. Israel é objeto da graça de Deus (cf. Dt 7,6; etc.), desde a promessa feita a Abraão (Gn 15,1; 17,1).

A Bíblia do Peregrino (p. 2454) observa: Não menciona expressamente a maternidade, implícita no contexto próximo. Não é implorável que Lucas tenha adaptado um hino já existente. Do cântico de Ana e seu contexto (1Sm 1-2), toma: o tema básico da maternidade (1Sm 2,5), as duplas poderosas/humildes, ricos/pobres (1Sm 2,5.7.8), a reviravolta da situação, a alegria da celebração (1Sm 2,1), a santidade de Deus (1Sm 2,2), a atenção para a humildade ou humilhação (1Sm 1,11), o Deus de Israel (1Sm 1,17).

Pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita (v. 48).

Lc deve ter encontrado esse cântico no ambiente dos pobres onde era talvez atribuída a filha de Sião, ou o hino tenha nascido na liturgia cristã palestinense. Lc julgou conveniente colocá-lo nos lábios de Maria inserindo-o em sua narrativa que é em prosa. O próprio Lc pode ter acrescentado o v. 48 (cf. vv. 38.45: “serva”, “bendita”; cf. Deus “viu…” em 1,25; cf. Gn 16,1-15; 1Sm 2,11; Sl 31,8). Sob sua forma atual, expressa a gratidão pessoal da mãe de Jesus e antecipa as bem-aventuranças de 6,20-26 (felicidades, venturas). A ela felicitarão todos os que partilham estes valores (cf. Gn 30,13; Ct 6,9).

O Poderoso fez por mim maravilhas, e Santo é o seu nome!

Deus é “o poderoso” (cf. Sf 3,17). Gabriel mencionou o “poder” do Altíssimo (1,32.35). Ele realiza proezas, “maravilhas” (Sl 126,2-3; 71,19; 72,18; Jl 2,21; Dt 10,21) e “seu nome é santo” (cf. o três-vezes-santo de Is 6,3 e Sl 99; cf. Is 57,15; Sl 111,9). Gabriel havia apelado ao Espírito Santo e ao futuro menino “santo” ou “consagrado” (1,35).

Seu amor, de geração em geração,
chega a todos que o respeitam
(vv. 49-50).

O “amor” de Deus (pode se traduzir também: sua “misericórdia”) é de “geração em geração”, “eterna” no estribilho do Salmo 136 (cf. Sl 100,5; 103,17; Ex 20,6; 34,6s etc.)

Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos. Derrubou os poderosos de seus tronos
e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos
(vv. 51-53).

Na passagem prodigiosa da virgindade para maternidade, Maria descobre a ação renovadora de Deus, manifestada também na esfera política e econômica (cf. 1Sm 2,4-8; Sl 113,6-9). Em favor dos humildes, Deus demonstra o poder (cf. Sl 118,15-16; Ez 21,31) com seu braço, símbolo da força (cf. Ex 15,16; Is 51,5.9). Ele desbarata, “derruba” o orgulho (cf. Sl 89,10-11; Jó 5,11-12; 12,19) e sacia o faminto (cf. Sl 107,9; 34,11; Is 49,10; 55,1). As parábolas em Lc 12,16-21; 16,19-31 advertem sobre a ilusão da riqueza.

Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre” (vv. 54-55).

Maria, a “serva do Senhor” (v. 38) parece unir-se a “Israel, seu servo” (Is 41,8), o povo escolhido que Deus “acolheu” (outra tradução “socorreu”). Se sua misericórdia (”amor”) é pura iniciativa, a lealdade supõe um compromisso (cf. Sl 25,6; 98,3). No tempo, parte de Abraão (cf. Mq 7,20) e continua sem fim (seus filhos, lit.: “sua descendência para sempre”, Sl 18,51). Muitas vezes no Antigo Testamento (AT), Deus “se lembra” (Gn 8,1; 9,15; Ex 2,24, …), quer dizer, que é fiel à sua promessa e a executa (cf. v. 72 no cântico de Zacarias, também começando por Abraão).

Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa (v. 56).

Maria permaneceu com Isabel os “três meses”, provavelmente até o nascimento e a circuncisão de João (cf. vv. 56-66).

O site da CNBB comenta no dia de hoje: O encontro de Maria com Isabel nos mostra um pouco do que deve ser um encontro de verdadeiro amor entre duas pessoas. Por um lado, vemos Maria, que vai ao encontro de Isabel assim que sabe da sua situação, vai para servir, fazer com que seu amor se transforme em gesto concreto. Quando encontra Isabel, a saúda, pois valoriza aquele momento de encontro e também a pessoa com quem se encontra. Por outro lado, vemos Isabel que, ao ver sua prima, exalta imediatamente todos os seus valores como mãe do seu Senhor, assim como as suas virtudes. E este encontro termina com um cântico de exaltação ao amor de Deus.

No tempo de Advento (21.12), o site da CNBB resumiu: Vemos no evangelho de hoje o encontro de duas mulheres que estão grávidas sem que isso fosse possível. De um lado, Isabel, idosa e estéril, e de outro Maria, virgem. A idosa representando o Antigo Testamento, pois será a mãe do último profeta da Antiga Aliança. A virgem representando o Novo Testamento, pois será a mãe daquele que no seu sangue selará a Nova e Eterna Aliança entre Deus e os homens. Vemos a complementariedade entre as duas Alianças e vemos também em Maria a essência da missão evangelizadora: levar Jesus a todas as pessoas para que possam reconhecê-lo e acolhê-lo.

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