A Igreja apoia candidatos da direita ou da esquerda?, por Pe. Cristian Mayr, leia

Jesus é o Messias corrige nossa comunicação deficiente, faz os surdos ouvirem e os mudos falarem (Marcos 7,31-37) trazendo o reino de Deus. Mas quem entrará no Reino de Deus? Primeiro os pobres, porque no mundo são os últimos, Jesus disse: “Bem-aventurado os pobres porque deles é o Reino de Deus”. (Lucas 6,20).

Portanto a Igreja não deve dar preferência aos ricos e desprezar os pobres (Tiago 2,1-5). Sem dúvida, a Igreja precisa de pessoas com condições que ajudam com generosidade, por exemplo na Bíblia tem José de Arimateia e Barnabé. Mas a Igreja nasceu no meio dos pobres. Jesus, a Sagrada Família e os Apóstolos não tinham muitas condições financeiras. Portanto, na Igreja não deve ter acepção de pessoas, nem discriminação.

Pelo batismo somos todos iguais, como no estado, diante da lei todos os cidadãos são iguais, pelo menos na teoria. Pelo batismo somos filhos de Deus, não escravos, mas livres, irmãos não de sangue, mas no Espírito, ou seja, no sangue de Jesus.

Por isso a Igreja tem que defender sempre a liberdade, a igualdade e a fraternidade, aliás era o lema da Revolução Francesa: “liberdade, igualdade e fraternidade”.

E na questão política, a Igreja está do lado direito ou esquerdo? Primeiro precisa esclarecer um equívoco: na Bíblia, o lado direito é o lado preferido, porque geralmente temos mais habilidade com a mão direita do que com a esquerda. Mas na política, a direita e a esquerda têm outra origem: na Assembleia Legislativa da França do séc. XVIII estavam sentados à esquerda os que queriam mudanças e a direita os que queriam manter a situação.

A Igreja Católica não é nem da direita e nem da esquerda, ou tem um pouco de tudo, mas não é extremista. Com a esquerda, a Igreja compartilha a preocupação com os pobres, a justiça social, porque a desigualdade causa violência. Mas há dois tipos de esquerda: a extrema que quer uma ditadura comunista, sem propriedade particular e sem religião. A Igreja não concorda com esses socialistas extremos. Mas tem também os socialdemocratas, que querem justiça social não através de revolução, mas através de reformas democráticas. Com isso a igreja compartilha.

Com a direta, a Igreja compartilha o quê? Preservar a família e a vida ainda no ventre da mãe. Mas tem dois tipos de direita: os nacionais, mais severos, que querem um estado de direito penal. Há também a extrema direita que não quer democracia, mas ditadura, às vezes é racista. A Igreja não compartilha com extremistas, nem da esquerda nem da direita.

Tem outro tipo de direita, os internacionais, ou seja, neoliberais, que querem toda a liberdade para o mercado, privatizar tudo e deixar um estado mínimo que só cuida da segurança, mas não cuida dos pobres e nem do meio ambiente.

O que a Igreja quer? Liberdade, não ditadura, liberdade de expressão e imprensa, liberdade de religião, etc.; direito a propriedade particular, mas com compromissos social e ambiental. A Igreja quer preservar a família, a vida humana desde a concepção no ventre da mãe até a morte natural, mas também preservar a vida dos pobres e o meio ambiente.

Estes são os critérios que correspondem aos valores do evangelho e que devem orientar o voto dos cristãos, além de pesquisar a vida dos candidatos, seja para presidente, governador, senador e deputado. A Igreja católica não apoia certo candidato nem partido.

No campo da política, os católicos são livres para seguir sua consciência e podem ter diferentes opiniões (por isso tem padres também que são mais da esquerda e outros mais da direita). Importante é manter a paz no debate e valorizar também a opinião do outro. O que a Igreja não apoia são extremistas que querem ditaduras, sejam de qual lado.

Há de ver os valores do evangelho, não basta dizer “Deus”, até assassinos usam o nome de Deus, por exemplo, terroristas muçulmanos e aquele que esfaqueou o Bolsonaro disse que foi Deus que mandou.

Como podemos saber o que é de Deus e o que é a loucura? Verificar na Bíblia que revela a vontade de Deus. Mas não só no Antigo Testamento onde ainda há violência em nome de Deus, mas procurar principalmente o Novo Testamento com as palavras e a vida de Jesus. E não ler apenas sozinho, mas se juntar em grupos (círculos bíblicos), porque mais cabeças entendem melhor, como mais olhos enxergam mais, e procurar a interpretação mais autêntica que é da Igreja Católica Apostólica Romana (catecismo, doutrina social).

Pe. Cristian Mayr, Vigário Geral e Pároco da Paróquia N. Sra Aparecida – LEM
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