Missa Crioula: Encerramento das festividades da Semana Farroupilha em LEM tem celebração especial, confira

Presidida por Dom Josafá M. da Silva e concelebrada Padre Cristiano Mayr na sede do CTG de LEM, aconteceu a celebração da Missa Crioula, encerrando a Semana Farroupilha nesta quinta-feira (20/09).

LEM foi intensa a programação: torneio de bocha, matiada, Missa Crioula, desfiles farroupilha, apresentação de invernadas, jantar Italiano, shows e outros eventos.

Dom Josafá Menezes, Bispo de Barreiras

Essa semana recorda a história e aproveita também para difundir a cultura gaúcha em geral e os aspectos regionais. O povo gaúcho é uma mistura de raças: índio, negro, branco europeu, mameluco brasileiro.

A Semana Farroupilha recorda a chamada “Guerra dos Farrapos”, isto é, a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil que cobrava altíssimos impostos sobre o couro e a charque na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense. Estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845. São 183 anos do início da Revolução Farroupilha.

A revolução, que com o passar do tempo adquiriu um caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal, São Paulo em 1842 e Sabinada na Bahia em 1837.

As comemorações do Movimento Farroupilha, que até 1994 restringiam-se ao ponto facultativo nas repartições públicas estaduais e ao feriado municipal em algumas cidades do Interior, ganharam mais um incentivo a partir do ano 1995. Definida pela Constituição Estadual com a data magna do Estado, o dia 20 de setembro passou a ser feriado. O decreto estadual 36.180/95, amparado na lei federal 9.093/95, de autoria do deputado federal Jarbas Lima (PPB/RS), especifica que “a data magna fixada em lei pelos estados federados é feriado civil”.

Em 1967, os padres gaúchos Paulo Aripe e Amadeu Gomes Canelas solicitaram autorização ao então Bispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer e ao Vaticano (cujo Papa era Paulo VI) para a celebração da Missa Crioula com cantos, preces e orações próprias, com rima bastante acentuada na linguagem e oração litúrgica. Nessa liturgia campeira, são utilizados símbolos do campo, da campanha, do uso costumeiro do gaúcho.

A Missa Crioula é uma missa católica do rito latino (Apostólico Romano), adaptada em linguagem, ritmo, estilo e símbolos tradicionalistas gaúchos.

Entre os momentos mais emocionantes da Missa Crioula está o que relembra um dos mais marcantes episódios da história do Rio Grande do Sul: a guerra entre Maragatos e Chimangos. Como a missa busca trazer a paz e a compreensão entre todos, os homens que participam da missa depõem suas armas, representadas por facões estilizados, colocando-as num canto e entrelaçam na cruz os lenços, vermelho (Maragato) e branco (Chimango).

Na homilia, Padre Cristiano comentou a respeito da  história, características e das ideias da missa crioula que veicula a cultura local, gaúcha, importante, mas que precisa também confrontar-se com a cultura global.

A missa crioula, inspirando-se no mundo rural da cultura judaica bíblica pode iluminar os aspectos da cultura atuais da vida dos gaúchos. O evangelho de São João cap. 10, texto clássico da missa crioula recorda que “Jesus, o Verdadeiro Tropeiro, não sendo peão, não maltrata o rebanho, mas dá a sua vida. A imagem do Bom Pastor dos evangelhos refere-se ao Crucificado que dá a vida pela humanidade, mas sobretudo, ao Ressuscitado, Vencedor da Morte, que agora pode viver em todos os campos, conduzindo todos os rebanhos. O povo gaúcho, que vive hoje em vários cantos do Brasil, pode sentir a sua proteção e seu amor”.

São palavras breves, mas são carregadas de sentimentos e consolações. Fazem parte de um discurso mais amplo que Jesus fez aos judeus na festa das Tendas. A festa das tendas comemora a passagem de 40 anos do povo de Israel pelo deserto e nesse percurso Deus conduziu o seu povo como bom pastor.

As imagens retiradas da vida pastoril são frequentes na Bíblia. Isso devido ao fato que a história de Israel até muito tempo depois da conquista de Canãa foi em larga escala pastoril. Mesmo quando a agricultura dominou a economia de Israel, permaneceu uma certa nostalgia do tempo da pecuária. Deus podia ser representado pelo agricultor e o semeador, mas permanecia mais familiar o pastor do rebanho. Os patriarcas, Moisés e Davi eram todos pastores, então, “pastor” se tornou um termo figurativo para os chefes do povo de Deus. Os reis impios eram chamados pastores malvados (1 Reis 22,17; Jr 10,21; 23,1-2) (Brown, 518).

Nas enormes solidões dos campos não existe uma cena mais suave e comovente como aquela do rebanho de pasta e do pastor que vigia. Os pastores vivem dias inteiros na imensidão dos campos e a única companhia são aqueles animais que eles conduzem às melhores pastagens. Eles amam os animais como se fossem de sua propriedade, como se fizessem parte de sua vida; as ovelhas são solícitas e a cada sinal uma docilidade. Cada perigo uma atenção e um cuidado. Reunidas em grupos, comem ervas, correm daqui e daqui, repousam, e o seu berrar é como uma harmonia serena que se perde nas amplas solidões verdes e tranquilas. Jesus não podia escolher uma imagem mais bonita para significa a sua união com as pessoas e sua infinita ternura no pastorear as ovelhas (Mariano Pelegrino).

Nesse discurso Jesus se compara a um pastor tão bom a ponto de dar a vida pelas suas ovelhas. Os judeus não aceitaram porque não acreditaram que fosse possível a uma pessoa fosse capaz de dar a própria vida pelos outros, de se sacrificar pelo próprio rebanho.

Um sacrifício grande assim é tão raro que as pessoas não acreditam. Jesus insiste e repete a ideia várias vezes. Não somente dar a vida por eles, mas quer continuamente permanecer unido a eles para guia-los e cuidá-los.

Depois da celebração eucarística foi servido o jantar típico gaúcho.

 

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