“A reconciliação: o sacramento da misericórdia para a Nova Evangelização” é tema abordado no 26° Curso pra Bispos

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Na terceira conferência do Curso dos Bispos, Dom Rino Fisichella relembrou os temas abordados anteriormente, e destacou que os tempos atuais, dentro de sua linguagem relativista, apontam para uma tendência que leva, primeiramente, à crise da fé. Em seguida, passa-se a ser indiferente, até que se chega ao ateísmo. Ele citou a frase “crente, mas não praticante” como expressão emblemática desta visão da fé que tem afetado a muitos fiéis.

Dom Rino apresentou um dado curioso: durante o Jubileu da Misericórdia, em alguns países houve  crescimento de até 30% na busca pelo Sacramento da Confissão. As basílicas em Roma e as igrejas jubilares se tornaram locais de grandes filas nos confessionários. Segundo ele, o “povo percebeu com força que a misericórdia de Deus era verdadeiramente palpável neste sacramento”.

Para ele, são vários os motivos que levam ao endurecimento da fé, uma vez que a sociedade vive diante de uma “consciência esquizofrênica”. Porém, segundo Dom Rino, há dois aspectos importantes para verificar a possibilidade de superar a crise. O primeiro se deve a uma ausência do anúncio central da pregação de Jesus: a “metanoia”, como um convite a acolher ao Evangelho e a uma mudança de vida. O anúncio tornou-se apenas teórico, sem a experiência da alegria de doar-se a Cristo.

Em segundo, ele destaca a perda de sentido de pertença à comunidade. A tal forma de pensamento atingiu as pessoas, criando uma cultura, dando ênfase num subjetivismo que se encerra em si mesmo, impedindo uma relação interpessoal.

“No compromisso da Nova Evangelização, a renovação pastoral deveria contribuir fortemente para voltar a colocar num lugar central o Sacramento da Penitência: efetivamente ele requer um compromisso ainda maior, sobretudo quando se confronta com a exigência de uma nova linguagem para o anúncio e para a profissão de fé”, afirmou Dom Rino.

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O TRÍDUO E O PERDÃO

De acordo com Dom Rino, o tríduo pascal é o ponto culminante para a Igreja. Nesses três dias, a remissão dos pecados, a misericórdia de Cristo alcançou e ainda alcança a todos. Segundo ele, o perdão, ao contrário do pecado, consegue unir a comunidade de filhos de Deus.

“A vida da Igreja está marcada por um percurso que encontra o seu coração pulsante no tríduo pascal. Na Páscoa, o dom do Espírito Santo, para o perdão dos pecados, encontra purificado o rebanho dos discípulos. O Espírito oferecido para o perdão permitiu que o pecado da traição de Judas e Pedro e a fuga dos demais fossem perdoados. O Espírito reúne os dispersos, purifica os traidores, dá força aos tímidos e coragem aos amedrontados. O perdão é um evento comunitário porque o pecado traz consigo a separação da comunidade”, afirmou.

O VALOR DO SACRAMENTO

Neste tópico, Dom Rino apontou a situação estranha em que o penitente se encontra, uma vez que, na confissão, ele deve dizer absolutamente tudo, deve admitir a verdade sobre a própria existência e seus atos. Segundo ele, há certo alívio porque ninguém pode “se livrar” da condição de pecador. Porém, reconhecer o que existe dentro de si para o outro muda completamente a situação.

Dom Rino destacou a importância da transparência para a descoberta de si mesmo. Além disso, de acordo com ele, a finalidade da confissão é o desejo de retornar para perto de Deus. Dessa forma, o cristão segue os mesmos passos do Mestre em direção ao Calvário para depositar, diante d’Ele, os pecados que serão pregados na cruz.

“O objeto da confissão é o desejo da proximidade com Deus, do qual me afastei com o pecado. Se eu reconhecer realmente quem sou, posso rever a face de Cristo e viver de novo em sua presença, que garante a grandeza do amor. O penitente deve, sobretudo, compreender que, ao aproximar-se da confissão, está percorrendo o mesmo caminho que Jesus percorreu até o Calvário. Cada um carrega sobre si o peso do pecado, vivendo com a certeza de que ele será descarregado sobre as costas do Filho de Deus e, com Ele, pregado na cruz”, completou.

Em contrapartida, Dom Rino também destacou o turbilhão de sentimentos aos quais os sacerdotes são submetidos durante as confissões. Diante de tais situações, o sacerdote deve perceber o valor do sacramento como o poder da misericórdia de Deus que vai ao encontro de cada um.

“Frequentemente, o sacerdote se acha incapaz de saber responder ao que é confessado ou a um pedido de conselho, uma expectativa de ajuda. Em outros momentos, ele vive uma espécie de solidão diante da profundidade do mal que escuta, e é chamado a carregar sobre si. Em todo esse estrondo de sentimentos, se esquece do valor da graça que age, do Espírito que atua e da misericórdia que não conhece limites. Por outro lado, o poder de tirar os pecados que o foi confiado não é menos compreensível que o outro poder de transformar, com suas palavras, o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo”, finalizou.

Dom Rino encerrou afirmando que é pelo desejo de proximidade com Deus que se busca a confissão. A distância e a ausência de Cristo fazem com que o fiel não se sinta parte da comunidade, Corpo Místico do Senhor. A participação no pecado e a necessidade da misericórdia se unem diante de Deus e dos homens.

Fotos: Gustavo de Oliveira
Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro
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