Eclipse lunar: o universo visto pelos astrônomos do Vaticano

Por ocasião do dia do extraordinário eclipse lunar total, o eclipse mais longo do século XXI, Vatican Media visitou o Observatório Astronômico do Vaticano, onde há séculos homens de fé dedicam-se à astronomia e se confrontam com as grandes perguntas sobre o universo.

Cidade do Vaticano

Será o eclipse mais longo do século XXI. Coincide com a descoberta de um grande lago de água líquida e salgada em Marte, esse eclipse será um dos eventos mais extraordinários dos nossos tempos.

A Lua vermelha e a proximidade de Marte

O período de totalidade, com duração de 1 hora e 43 minutos, será caracterizado pela Lua cruzando a região central do cone de sombra da Terra, de oeste para leste (da direita para a esquerda) com o disco lunar vermelho. Ou seja, o cone de sombra da Terra logo depois do entardecer, cobrirá a Lua cheia que parece desaparecer. A única parte visível, terá a excepcional cor vermelha, por causa da refração dos raios solares na atmosfera terrestre.

Mas não será a única coisa a ser observada no firmamento, porque o planeta Marte estará em conjunção com o nosso satélite e em uma órbita muito próxima da Terra, por isso será particularmente brilhante. Também outros planetas, próximos entre eles, serão visíveis: Vênus, Júpiter e Saturno.

Um fenômeno fascinante que faz refletir

Padre Gabriel Gionti, S.I. cosmólogo do Observatório Vaticano explica:

“ Será um evento excepcional que permitirá mais uma vez refletir sobre a condição do ser humano em um universo praticamente infinito”

O Observatório Astronômico do Vaticano foi fundado em 1532 e refundado em 1891, antes estava dentro do Vaticano. Nos anos 1930, o Papa Pio XI transferiu-o para a residência papal de Castel Gandolfo, confiando-o aos Jesuítas. Os três novos telescópios e um laboratório para as análises espectroquímicas permitiram o estudo das estrelas, pois o céu de Roma, luminoso demais já na época, impossibilitava o trabalho.

A ciência e a fé

Padre Gabriel recorda os acontecimentos e a história secular do Observatório que atualmente realiza a maior parte das suas pesquisas cosmológicas no moderno e tecnológico Vatican Observatory Research Group (Vorg) em Tucson, nos Estados Unidos.

“Devemos deixar bem claro”, afirma o jesuíta, “o que fazemos no Observatório não é teologia ou filosofia, mas ciência pura” e, como estava escrito no documento de fundação, esta é a sua missão original. O Observatório foi intituído com o Motu Próprio de Leão XIII “Ut mysticam” de 14 de março de 1891, e nascia para contrastar as persistentes acusações à Igreja de que era contrária ao progresso científico, de ser obscurantista.

As perguntas fundamentais

Promover a ciência e divulgar estudos, porque isso não contrasta com a fé. Padre Gionti raciocina sobre este ponto, evidenciando que as perguntas que os astrônomos do Vaticano se colocam, são as mesmas dos outros cientistas mas, diz, “fazemos de uma perspectiva diferente devido à nossa formação sacerdotal e religiosa”. A “busca de vida extra-terrestre”, faz questão de explicar, “não significa de nenhum modo ir contra a fé”: “pode ser que”, como disse Galileu e reiterou S. Roberto Bellarmino, “deva ser feita uma hermenêutica do texto bíblico à luz dos atuais conhecimentos científicos”. “Certamente”, afirma o jesuíta:

“ Deus é o criador do universo e de todas as formas de vida que estão nele”

Como um grão de areia

Observar fenômenos como o eclipse total desta noite, nos leva – diz padre Gionti – à realidade. A Terra é o terceiro planeta próximo do Sol e faz parte da periferia da nossa galáxia, uma entre cem milhões de galáxias, cada uma das quais com bilhões e estrelas e planetas. Portanto somos “pequenos e insignificantes” – observa – “como um grão de areia em uma praia, mas um grão de areia que traz dentro de si um princípio de vida que o liga ao Senhor, um princípio de infinito que surpreende o próprio homem”.

É o pensamento do Papa Francisco em um discurso aos participantes do Curso de verão promovido pelo Observatório Vaticano em junho passado:

“ Através de nós, criaturas humanas, este universo pode tornar-se, por assim dizer, ciente de si mesmo e Daquele que nos criou: é o dom que nos foi oferecido como seres pensantes e racionais neste cosmos”

Voltar