01 de dezembro de 2017 – Sexta-feira, 34ª semana

Leitura: Dn 7,2-14

Ouvimos hoje o ápice do livro de Daniel. O cap. 7 é o nexo entre as duas partes do livro e é comentado na visão do cap. 8, mas tem um paralelo no cap. 2 (no sonho do rei Nabucodonosor quatro reinos pagãos são destruídos por um quinto, uma pedra que representa “o reino de Deus”, cf. comentário de terça-feira passada). Os cap. 1 a 6 são histórias edificantes sobre a penetração de um judeu sábio na corte de reis pagãos (cf. José no Egito; Ester), um gênero literário que na Bíblia hebraica se encontra nos livros sapiências. Na Bíblia grega, Daniel está entre os livros proféticos. Mas em Daniel, cap. 7-12, pela primeira vez, a profecia transforma-se em apocalipse.

Diferente dos profetas antigos que anunciavam um dia de Javé para fazer justiça aos fiéis de Israel (Am 5,18s), o gênero apocalíptico é mais universal e escatológico: O reino de Deus se estenderá sobre todos os povos e será sem fim. Dn 12,2 fala sobre a ressurreição dos mortos para a vida ou o opróbrio eterno. A expectativa do fim do mundo está presente no livro todo (Dn 2,44; 3,33; 4,31; 7,14). Deus se encarregará de fazê-lo chegar – dentro de um prazo que Ele fixou, mas que abrange a duração da humanidade. Os momentos da história do mundo se tornam momentos do desígnio oculto dentro do plano eterno. Paulo vai falar do ”mistério de Deus” que foi revelado a ele, de que os pagãos são herdeiros da promessa divina também (Rm 16,25-27; Cl 1,26;…). O “livro selado” (Dn 12,4) inaugura o gênero apocalíptico, que fora preparado pelas visões de Ez (ou já Is 2,1-5 par Mq 4,13) e se difundia na literatura judaica até o tempo de Jesus: O “cordeiro rompe os selos” (Ap 5-8), pois “o tempo está próximo” (Mc 1,15p; Ap 22,10) e espera-se a parusia, “a vinda do Senhor” (1 Ts 1,10; 4,14-18; Mc 13p etc.; “maranatha”: 1Cor 16,22; Ap 22,20). O termo grego “apocalipse” significa “revelação”, tirar o véu das coisas ocultas no tocante do sentido da história e do plano de Deus no futuro. Este segredo de Deus (2,18; 4,6;…) é revelado por seres intermediários, os anjos. A doutrina dos anjos afirma-se em Dn (Gabriel em 8,15; 9,2; Miguel em 10,13;12,1) além de Ez e Tb (Rafael).

O objetivo do livro de Dn (e do gênero apocalíptico como também o Ap de João no NT) é sustentar a fé e a esperança dos fiéis perseguidos usando uma linguagem secreta, simbólica que o inimigo não consegue entender de imediato e pode confundir (por ex. com uma fábula de animais, “bestas-feras”).

Tive uma visão durante a noite; eis que os quatro ventos do céu revolviam o vasto mar, e quatro grandes animais, diferentes uns dos outros, emergiam do mar (vv.2-3).

O vasto mar é símbolo do inconsciente e do caos, de onde surgiram as primeiras formas de vida (cf. Gn 9,11s.20s), mas também a ameaça de invasões (grega, romana) pelo mar a Israel. Os homens de Israel e do Antigo Oriente temiam o mar e seus monstros (baleias, Leviatã) e preferiam não tê-lo (cf. Gn 7-8; Ex 14; Jó 3,8; 7,12; Jn 1-2; Mc 4,35-41; Ap 13,1; 21,1 etc.).

O primeiro era semelhante a um leão, e tinha asas de águia; ainda estava olhando, quando lhe foram arrancadas as asas; ele foi erguido da terra e posto de pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem. Eis que surgiu outro animal, o segundo, semelhante a um urso, que estava erguido pela metade e tinha três costelas nas fauces entre os dentes; ouvia-se dizer: “Vamos, come mais carne.” Continuei a olhar, e eis que assomou outro animal, semelhante a um leopardo; tinha no dorso quatro asas de ave, e havia no animal quatro cabeças. E foi-lhe dado poder. Depois, eu insistia em minha visão noturna, e eis que apareceu o quarto animal, terrível, estranho e extremamente forte; com suas dentuças de ferro, tudo devorava e triturava, calcando aos pés o que sobrava; era bem diferente dos outros animais que eu vi antes, e tinha dez chifres (vv. 4-7).

São animais terrestres, não monstros marítimos (Sl 74,13; Is 27,1). É tradicional na literatura profética representar os impérios em figuras de animais (Ez 17,3; 32; Jr 51,34), também as tribos (Gn 49) e seus chefes.

A visão de Daniel é paralelo ao sonho de Nabucodonosor no cap. 2 (cf. leitura de terça-feira passada), no qual os quatro metais da estátua correspondem à sucessão de quatro reinos pagãos.  Dn 7 fala de quatro animais monstruosos ou “bestas-feras”, que na interpretação do próprio anjo em v. 17 significam os reinos pagãos na mesma ordem: os babilônios em v. 4 (no portal da cidade de Babilônia têm cerâmicas com leões alados; símbolo de Nabucodonosor em cap. 4; cf. Jr 4,7); os medos em v. 5 (urso, cf. Os 13,18; Am 5,19; Is 13,17; Jr 51,11.28); os persas em v. 6 (leopardo, cf. Is 13,7; Jr 5,6, com mobilidade universal na quatro direções) e os gregos em vv. 7-8.

Na história cristã, há uma interpretação de sequência diferente: depois dos babilônios, omitindo os medos passa logo para os persas e gregos, deixando o quarto reino para Roma, ou seja, para César Nero e outros perseguidores romanos. Os protestantes veem na última besta-fera a Igreja Católica, ou seja, o Papa (polêmica que remonta ao séc. XVI). Mas deve-se interpretar a Bíblia pelo contexto da época do autor respeitando o que ele queria dizer.

Tudo no livro de Dn indica que o autor identifica a quarta besta-fera com o reino helenista (grega) de Alexandre (falecido em 323 a.C.) e de seus sucessores (cf. 2,40; 8,5.21; 11,3). Os dez chifres são os reis da dinastia selêucida (greco-síria). O “chifre” é frequentemente empregado como símbolo de força e de poder (cf. Sl 75,5; 89,18; 92,11; Dt 33,17; 1Rs 22,11 etc.).

Eu observava estes chifres, e eis que apontou entre eles outro chifre pequeno, e, em compensação, foram arrancados três dos primeiros chifres; e eis que neste chifre pequeno havia uns olhos como olhos de homem e uma boca que fazia ouvir uma fala muito forte (v. 8).

O último chifre simboliza o rei arrogante Antíoco IV Epifanes (175-164 a.C.) que só adquiriu preeminência depois de se livrar de certo número de concorrentes. É ele que persegue com violência a comunidade judaica durante a autoria de Dn (cf. 1-2Mc). A visão o descreve com traços que indicam ao mesmo tempo a eloquência hábil e arrogância blasfematória deste rei (cf. v. 25; 11,36; 1Mc 1,21.24.45 e Ap 13,5).

Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos (vv. 9-10).

Depois acontecerá o juízo de um “ancião de muitos dias”, ou seja, Deus anterior a tudo que “reina desde sempre” (Sl 55,20). Já nas escatologias proféticas se celebra um julgamento universal (Jl 4,12-14; Is 24,21-23; 66,5s).

O trono de Deus com rodas, ardente e deslumbrante, recorda o do carro divino de Ez 1. O fogo é símbolo da presença divina (cf. Gn 15,17; Ex 3,2; 13,21; 19,18). Como o fogo, executa-se a sentença (Is 30,27-33), fogo com flexibilidade de rio de lava que chega até onde o mandem. Os servos são inumeráveis (Dt 33,2; Sl 68,18).

Haverá mais tronos: os santos são convocados a julgar com Ele (cf. Mt 19,28; Lk 22,30; Ap 3,21; 20,4). Nos livros do tribunal estão registrados todos os atos humanos, bons e maus (cf. Jr 17,1; Ml 3,16; Sl 40,8; 56,9; Lc 10,20; Ap 20,12).

Eu estava olhando para o lado das palavras fortes que o mencionado chifre fazia ouvir, quando percebi que o animal tinha sido morto, e vi que seu corpo fora feito em pedaços e tinha sido entregue ao fogo para queimar; percebi também que aos restantes animais foi-lhes tirado o poder, sendo-lhes prolongada a vida por certo tempo (vv. 11-12).

A Bíblia do Peregrino (p. 2149) comenta: Sem assistir ao processo (Sl 82), saltamos para a execução da sentença. Supõe-se a coexistência temporal de todas as feras ante o tribunal supremo no final da história (Sb 4,20ss). Começa pela última: no chifre arrogante, i império grego alcançou o limite da sua perversidade, e com ele termina a besta inteira: atirada ao fogo e aí consumida. As outras feras substituirão como nações ou povos, não como impérios.

Há várias versões sobre a morte de Antíoco Epífanes (cf. 1Mc 6,1-13; 2Mc 9). Em Ap 12,17; 19,19s; 20,1-3;7-10, certo tempo é concedido ainda para o dragão, ou seja, satanás, e as outras bestas antes de serem jogado no lago de fogo.

Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá (vv. 13-14).

A Bíblia do Peregrino (p. 2148) comenta: As quatro feras se sucedem na história, mas não humanizam os homens nem melhoram a existência humana… O baixo cifrado das feras pede uma voz humana em contraponto. O homem é de outra categoria, é imagem de Deus, chamado a dominar os animais. Deus aparece em figura humana. O domínio humano sobre os animais se estende em sentido próprio e figurado: Gn 4,7; Sl 80; 91,13. O autor inspirou-se diretamente no Salmo 8, traduzindo para o aramaico a expressão hebraica “bem ‘adam”. Ora, o homem é grande e é pequeno (Is 51,12; Jó 25,6): como poderá dominar essas feras? – Se Deus lhe confere ou restitui o poder. O que faz na natureza, com mais razão tem de fazer na história, para que a vida dos homens seja vida humana, não inhumana e feroz.

Aparece nas nuvens um “filho de homem”, que receberá um reino eterno sobre todos os povos que jamais passará (cf. Lc 1,32-33). Obviamente significa um reino mais humano, não mais violento como os anteriores das bestas-feras. Mas é apresentado em forma de comparação: “como um filho de homem”. A Bíblia do Peregrino (p. 2148) comenta: Substituir a expressão aramaica por “filho de homem” é calcar, não traduzir… É uma figura humana, contraposta às quatro feras… Não desce, sobe; mas do ponto de vista do vidente, ela “vem”… recebe o poder antes concedido a Nabucodonosor (4,33; 5,18), só que eterno (como a pedra de 2,44).

Na Vida Pastoral (2015), Maria de Lourdes Corrêa Lima comenta: O “como” indica que ele é percebido numa visão, não distintamente, mas de modo pouco claro. Pode ou não ser um ser humano. Como, no livro, “homem” muitas vezes se refere a anjos ou seres celestes (cf. Dn 8,15; 9,21; 10,5; 12,5-7), o “filho de homem” poderia representar um ser celestial. Isso é confirmado pelo fato de vir “nas/com as nuvens do céu”, ou seja, ter origem celeste; ele é transcendente. No Novo Testamento, particularmente nos evangelhos, a expressão “Filho de homem” referir-se-á quase exclusivamente a Jesus Cristo, o que bem expressará, além de outras características, sua origem divina.

Na continuação, em 7,17s um anjo explica o significado: o Filho do Homem representa os “santos”, que não desistem da sua fé judaica (interpretação coletiva: povo santo, cf. Ex 19,6; Nm 16,3; Sl 34,10; Is 4,3; 1Pd 2,9), mas poderá significar também o cabeça e representante deste povo, o rei-messias. Esta interpretação individual já se encontra antes do NT, no Apocalipse de Henoc, um livro apócrifo do judaísmo, no qual o juízo final é entregue a este Filho do homem.

Também no NT, o juízo do mundo será entregue a um Filho do homem (cf. Mt 25,31-46 etc.). Jesus usa muito desse termo para falar de si (Mt 8,20; Mc 2,27; 13,24 p; etc.) porque pode significar simplesmente “ser humano” (lit. filho de Adão, cf. Sl 8,5; 144,3; Jó 16,21; Jr 49,18.33; Ez 2,1 etc.) como designar também este novo Adão, rei universal, juiz e salvador do mundo inteiro. De certo modo, este conceito supera o de um messias nacionalista (a expectativa do povo judeu era fazer guerra contra os grego e romanos como Davi fez contra os filisteus). Jesus não quer ser confundido com um messias guerreiro e nacionalista (por isso, impõe o segredo do messias em Mc 1,34; 8,29-31; etc.; cf. Jo 18,36s, evangelho de hoje). Jesus relaciona os conceitos de Messias e Filho do Homem ao do “Servo de Javé” que dará a sua vida em resgate de muitos (Is 53; cf. Mc 8,29-31p; 10,45p). Em vez de fazer guerra e derramar o sangue dos outros, Jesus derrama seu próprio sangue dando sua vida na cruz.

Na Vida Pastoral (2015), Maria de Lourdes Corrêa Lima comenta:

O “filho de homem” se apresenta diante do Ancião, figura de Deus que vive para sempre. Dele recebe o império, um domínio universal, permanente e indestrutível. Tomará, portanto, o lugar dos reinos que dominaram a história, que não são nem universais, nem permanentes, nem indestrutíveis.

Há evidente contraste entre as feras que sobem do mar (v. 3) e o filho de homem, que vem nas nuvens do céu. Seu reinado não será fruto das vicissitudes de uma história que tantas vezes se apresenta dominada pelos poderes do caos (o mar), daquilo que é o oposto de Deus. Não são os poderes deste mundo que determinam a história, mas o verdadeiro senhor da história, Deus, é que, afinal, fará triunfar seu Reino. E o fará por meio de alguém que vem de seu mundo divino. A comunidade pode então confiar que a última palavra pertence a Deus. E adquirir, assim, a chave para interpretar a história, para enfrentar perseguições, sem se deixar subjugar pelo aparente poder mundano, mas mantendo-se firme na fé no poder de Deus.

Obs.: João, o autor do Ap, atualizou a visão de Dn para sua comunidade cristã, perseguida pelo Império Romano. Em Ap 12-13 vemos três animais (uma trindade negativa):

  1. O “dragão”, que é a antiga serpente (Gn 3); representa o diabo, perseguindo a mulher no céu (12 estrelas: o povo de Deus); este dragão será expulso do céu pelo arcanjo Miguel (Miguel significa “Quem é como Deus?”).
  2. Depois surge uma “besta-fera do mar”, representando o Império Romano que veio pelo mar ocupar Israel: o imperador é adversário de Jesus Cristo porque persegue os cristãos (seu número 666 são a soma das letras hebraicas “César Nero”, o primeiro perseguidor dos cristãos em Roma). O Ap foi escrito na perseguição do imperador Domiciano (cerca de 95 d.C.), que exigiu devoção a si mandando ser chamado de “Senhor e Deus”; foi visto como Nero ressuscitado.
  3. Surge também uma “besta-fera da terra” que é o adversário do Espírito Santo (Espírito da verdade), porque é o falso profeta, ou seja, as mentiras da máquina de propaganda no Império Romana que faz as pessoas adorarem a imagem da besta (o imperador).

Vencedor, porém, será outro “animal”: o Cordeiro, imolado, mas em pé, isto é: Cristo morto e ressuscitado (Ap 5; 14,1-5; 21-22).

Inspirados nesta visão de Dn 7 nós também podemos refletir sobre certas questões atuais:

– Ideologias de direita e esquerda; fascismo, capitalismo neoliberal e comunismo.

– Sucessão de reinos no Brasil: indígenas, colônia, república, estado novo, ditadura, democracia.

– Somos um povo santo ou um povo besta, como se caracteriza?

– Direitos humanos ou violências, torturas, perseguições, discriminações?

– Liberdade religiosa e fundamentalismo ou um laicismo que discrimina e persegue a Igreja?

– A globalização é semelhante à helenização (difusão da cultura grega) do mundo antigo: quais são os valores positivos, quais os negativos?

– Choque de culturas? Hoje por ex.: mundo ocidental liberal x islamismo fundamentalista.

Em nossa região coexistem várias etapas da história ao mesmo tempo, por ex. agricultura com a enxada, junta de boi e carroça, e a tecnologia de ponta, geneticamente modificada, monitorada por computadores e satélites e safra negociada no mercado dos commodities futuras em Chicago-EUA.

– O fim do mundo é uma possibilidade? Desde a bomba atômica o homem tem a capacidade de destruir o planeta. Aquecimento global, terrorismo, o que mais? Não sabemos nem o dia nem a hora do fim, mas devemos interpretar os sinais dos tempos (cf. Mc 13,31-32p).

 

Evangelho: Lc 21,29-33

Continuamos ouvindo o discurso de Jesus sobre o fim do mundo, desembocando na parábola da figueira. Lc não transmitiu a maldição da figueira estéril que simbolizava o fim do templo (Mc 12,12-21p). Como escreve cerca de 80 d.C., ele distingue claramente entre o fim do templo (acontecido em 70 d.C.) e o fim do mundo no futuro.

Jesus contou-lhes uma parábola: “Olhai a figueira e todas as árvores (v. 29).

Lc segue aqui o Ev de Mc, só acrescentando outras, “todas as arvores”. Lc está interessado em “outros discípulos” (10,1) ou “outras mulheres” (24,10). Aqui deve pensar nos sinais em “outras nações”, não só em Israel.

Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração (vv. 30-32).

Lc acrescenta também em v. 31: “o “Reino de Deus está próximo” (cf. 10,9.11; Mc 1,15p; Mt 3,2; 10,7); em Mc e Mt está próximo apenas “o verão”, o que pode se referir ao fim do mundo ou a destruição de Jerusalém com o fim do templo que “esta geração” ainda presenciará (70. d.C.). Em Lc 21,32, “esta geração” (geralmente com significado pejorativo, cf. Mc 8,38; Mt 12,25; Lc 11,29 = Mt 12,39; 16,4; 17,17 = Lc 9,41) pode significar aqui positivamente a nova geração (cf. At 8,33) que se forma na missão da Igreja.

O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (v. 33).

Como Mc e Mt, também Lc afirma solenemente: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”. Todo mundo visível e material passará (cf. Am 8,9; Jr 4,23-26; Is 51,6; Jó 14,12; Ap 21,1), mas a Palavra permanecerá. Já foi dito isso sobre a Lei de Moisés (cf. Mt 5,18; Lc 16,17), agora é a Palavra de Jesus que é eterna (cf. 1Pd 1,25: “A Palavra do Senhor permanece para sempre”, que deu o título, em latim, da exortação apostólica do Papa Bento XVI em 2010: Verbum Domini).

Lc dispensa a advertência de fazer cálculos sobre o fim (Mc 13,32p: “daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, somente o Pai”). Para seus leitores greco-romanos a questão não é a hora quando chegará o fim, mas será que vem mesmo, ou faz sentido de refletir sobre o fim? Para responder isso, basta a afirmação do Senhor.

O site da CNBB comenta: Devemos ser capazes de reconhecer os sinais dos tempos para que possamos perceber os apelos do Reino de Deus na nossa vida, assim como sermos capazes de descobrir a presença de Jesus na história das pessoas. Somente quando somos capazes de analisar os acontecimentos a partir da ótica da fé é que somos capazes de interpretar os fatos como sendo sinal dos tempos e ação da graça divina no nosso dia a dia. Para que isso seja possível, a Palavra de Jesus deve ser o critério fundamental para a interpretação dos acontecimentos.

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