01 de julho de 2016 – 13ª semana 6ª feira

Leitura: Am 8,4-6.9-12

Entre a quarta e quinta visão de Amós encontra-se novamente uma série de palavras provavelmente acrescentadas por discípulos. Descrevem os abusos em Israel (vv. 4-8) e anunciam o julgamento “naquele dia” (vv. 9-14). Na primeira parte do texto, Javé é apresentado como protetor dos pobres (cf. Sl 82; Is 11,4; Dt 24,14s), em seguida descreve-se o terrível “dia de Javé” (cf. 5,18).

Ouvi isto, vós que maltratais os humildes e causais a prostração dos pobres da terra;
vós que andais dizendo: “Quando passará a lua nova, para vendermos bem a mercadoria? E o sábado, para darmos pronta saída ao trigo, para diminuir medidas, aumentar pesos, e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias, e para pôr à venda o refugo do trigo?”
 (vv. 4-6).

O último oráculo da série “ouvi isto (escutai)” (3,1.13; 4,1; 5,1) se concentra no comércio injusto. A “lua nova” era feriado no calendário lunar de Israel, onde se festejava o primeiro dia do mês (1Sm 20,5.24; 2Rs 4,23; Is 1,13s; Os 2,13; Ne 10,32; cf. Lv 23,24). Neste dia, como nos sábados (Ex 20,8 etc.), todas as atividades lucrativas eram suspensas. Esses comerciantes consideram o sábado como entediante interrupção dos seus negócios (Is 58,13; Jr 17,19-27) falsificam medida e peso (cf. Os 12,8s; Mq 6,10s). Fazem dos pobres objetos, mercadorias humanas, obrigando-os a se venderem por dívidas mesquinhas (cf. 2,6s; 4,1; 5,11), violando assim a lei de Moises (cf. Ex 23,6; Lv 19,10; Dt 15,7-11; 24,12-22).

Nossa leitura saltou os vv. 7-8, onde Javé Deus começa falar garantindo que não se esquecerá e menciona um terremoto (v. 8; cf. 1,1; 2,13; 9,5).

A Bíblia do Peregrino (p. 2220) comenta o conjunto de 8,9-9,15: Quanto à forma, esta é uma nova serie de cinco peças marcadas pela fórmula de futuro indefinido: “naquele dia” (8,9.13; 9,11) e “eis que virão dias” (8,11; 9,13) com relação aos que precedem no livro reconhecemos a presença de uma visão, 9,1-4, com apêndice de hino, 9,5-6 e um julgamento de separação, 9,7-10. Orientados por composições que chamamos escatologias, podemos propor a seguinte leitura de conjunto:

  1. a) Abre-se um cenário cósmico com um luto estelar e humano, 8,9s; b) acontecem castigos em três ondas: uma fome estranha (8,11s), uma sede mortal (8,13s), e um desastre militar sem escapatória (9,1-4); c) intermédio hínico apresentando o juiz (9,6s) e julgamento de castigo e purificação (9,8-10); d) restauração de reino e domínios (9,11s), do povo e suas tarefas (9,13-15).

Acontecerá que naquele dia, diz o Senhor Deus, farei que o sol se ponha ao meio-dia e em pleno dia escureça a terra; mudarei em luto vossas festas e em pranto todos os vossos cânticos; farei vestir saco a todas as cinturas e tornarei calvas todas as cabeças, o país porá luto, como por um filho único, e o final desse dia terminará em amargura (vv. 9-10).

Este é “aquele dia” obscuro e as “festas” recusadas de 5,18-21. Anuncia um eclipse solar que suspende o ritmo da criação. Duas eclipses totais aconteceram na época de Amós (em 09.02.784 e 15.06.763 a.C.). O eclipse é apenas fenômeno que acompanha o julgamento no início ou uma desgraça que perdura mais tempo (Is 13,10; Jl 3,4; 4,15)? O sol participa do luto e aterroriza os mortais (cf. Ex 10,21-23).

Para as festas em luto (cf. 1Mc 1,39s; o contrário de Sl 30,12), °vestir saco a todas as cinturas°,  (cf. Gn 37,34; Jr 4,8; Jl 1,8.13). A tonsura, ou seja, “tornar calva a cabeça” é sinal de luto e de aflição nos povos vizinhos (Is 15,2) e em Israel (Jr 7,29; Mq 1,16; Dt 14,1s). Para o israelita, o luto “por um filho único” (cf. Jr 6,26; Zc 12,10), perder o filho único, é a maior desgraça, a destruição de seu próprio futuro (cf. v. 13 e 5,2: o povo como virgem que morrerá sem descendência), “amargura” da morte (cf. 1Sm 15,32s).

O “Dia de Javé” (já anunciado em 5,18 como “trevas, e não luz) é acompanhado de sinais cósmicos: tremores de terra (8,8; Is 2,10; Jr 4,24), eclipses solares (8,9; Jr 4,23). Os profetas posteriores ampliam a descrição, usando imagens estereotipadas, que não devem ser tomadas ao pé da letra (Sl 1,15; Is 13,10.13; 34,4; Ez 32,7s; Hab 3,6; Jl 2,10s; 3,3s; 4,15s; cf. Mt 13,24-25p; Ap 6,12-14). Os evangelistas empregam expressões semelhantes para descrever os acontecimentos que se seguem à morte do Filho único de Deus (Mc 15,33; Lc 23,44-45).

Eis que virão dias, diz o Senhor, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a palavra do Senhor. Os homens vaguearão de um mar a outro mar, circulando do norte para o oriente, em busca da palavra do Senhor, mas não a encontrarão (vv. 11-12).

“Eis que virão dias, diz o Senhor”; esta fórmula introdutória é da redação dos discípulos, fora daqui só se encontra no anexo (9,13) e muitas vezes em Jeremias (7,32; 9,24; 16,12; 19,6; 23,5 e nove vezes).

A fome insatisfeita é castigo de não ter escutado a palavra profética; “fome” no sentido de carestia, escassez. Alguns vêem aqui o anúncio de uma graça a ser concedida por Deus a seu povo despertando nele, pela provação, o desejo (sede) da “palavra do Senhor” (cf. 4,6; no NT Jo 4,13s). Mas o v. 12 não apóia esta interpretação: para os habitantes de Israel, as regiões prósperas estão no “norte” e no leste (“oriente”); quanto ao sul (não é mencionado), o deserto naturalmente torna  inútil esta busca.

Além do castigo infringido por Deus a mais grave consequência da infidelidade de Israel será a ausência de Deus e o silêncio da sua palavra (cf. Ct 5,6; Dt 8,3; Pr 1,28). Não há paralelo sobre o tempo em que o povo procurou a palavra do Senhor e não a encontrou. É possível que seja um comentário dos discípulos à recusa de ouvir a mensagem de Amós. O profeta não anuncia mais uma conversão, caracterizada por uma fome de ouvir a palavra de Deus para obedecer-lhe, mas um castigo. Cansado de falar sem ser ouvido, Deus cala-se. Ele não suscita mais profetas. É uma situação (pós)exílica em que a palavra profética não é mais desprezada (como foi expulso Amos em 7,10-17), mas é procurada como orientação e animação, mas não se encontra (cf. Sl 74,9), por mais que se busca de mar a mar. Deus envia seus profetas quando ele quer. Sua palavra é o pão de cada dia do qual devemos viver diariamente, não é só um remédio no último desespero.

 

Evangelho: Mt 9,9-13

Continuamos a ouvir Jesus atuando como messias em Israel, na sua cidade Cafarnaum (9,1; 4,12).

Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Ele se levantou e seguiu a Jesus (v. 9).

Jesus não só tem o poder de perdoar pecados (vv. 2-7; cf. evangelho de ontem), mas também transforma um pecador em discípulo. Jesus chama Mateus também no lugar do trabalho dele, na coletoria de impostos, só diz: “Segue-me” e ele se levanta e o segue (v. 9). Tudo igual ao chamado dos primeiros quatro discípulos que eram pescadores (cf. 4,18-22p), somente o nome e a profissão são diferentes.

O nome Mateus é aramaico, uma abreviação de Matatias ou Matanias (cf. 2Rs 24,17; Ne 8,4) e significa “dom de Javé”. Nos textos paralelos, Mc 2,13 e Lc 5,27 consta outro nome: “Levi (filho de Alfeu)”. Porque Mt mudou o nome para Mateus? Será um nome duplo, como Simão Pedro, Tomé Dídimo, ou Saulo Paulo? Com frequência, juntou-se um nome semita com um nome grego, mas nomes duplos (não apelidos) em aramaico eram muito raros. Vejamos a questão mais abaixo.

Enquanto Jesus estava à mesa, em casa (de Mateus), vieram muitos cobradores de impostos e pecadores e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” (vv. 10-11).

Mateus, porém, não exercia uma profissão honrada. Os coletores de impostos (chamados em outras traduções de “publicanos”) eram vistos como pecadores públicos porque abusavam da função, provocando o ódio do povo, pois exploravam e estavam a serviço dos romanos. O cargo era recebido em arrendamento (cf. 5,46; 18,17; 21,21; Lc 15,1; 18,10-14; 19,1-10). O chamado de Jesus prescinde de preconceito e vence a cobiça que é uma forma de idolatria (cf. 6,24; Ef 5,5; Cl 3,5).

Mt faz um banquete de despedida (cf. 1Rs 19,19-21) com seus colegas de profissão e classe (desclassificados em v. 12 de “pecadores”). Mt, como Mc, não especificou de quem era a “casa”, só Lc 5,29 deixou claro que era do publicano. Jesus e seus discípulos participam do banquete e os fariseus ficam escandalizados (vv. 10-11).

O termo “fariseus” provavelmente era um apelido, entre eles se chamavam “companheiros”. Eram leigos zelosos que queriam assumir para si as mesmas leis de pureza prescritas para os sacerdotes.

A palavra “fariseu” em hebraico significa “separado”, porque os fariseus se sentem os guardiões da separação que garante a pureza e com ela santidade e consagração do povo; entre as separações, a mais importante é entre justos e pecadores (Sl 13,19-22; Pr 29,27). Compartilhar a mesa com pecadores é pecaminoso, pois participar da mesa significa ter comunhão com eles, uma relação amistosa, selada pela benção sobre alimentos.

Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’. De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (vv. 12-13).

Jesus responde com a atitude de anfitrião ou convidado especial (cf. Eclo 32,1), comparando-se com um médico de quem os sadios não precisam, mas os doentes (v. 12; cf. Eclo 38,1-15). Os fariseus não entendem a Escritura; consideram-se sãos e santos enquanto julgam insanável a situação que Jesus veio sanar (cf. 7,3-5; 6,22; 15,12-14; 23,16-19; Lc 15,1s; Jo 9,40s). Mas o primeiro passo para a cura é reconhecer a doença. A citação de Os 6,6, que Mt acrescentou ao relato de Mc, se adapta bem a situação, e será repetida em 12,7, pois seu alcance é geral: “Quero misericórdia e não sacrifícios” (cf. 5,7). Mt não é contra os sacrifícios (tampouco o profeta Oseias), ele entendeu esta frase no sentido de “Quero misericórdia mais do que sacrifícios”, ou seja, em primeiro lugar, o amor e a misericórdia (cf. 22,34-40). Para Mateus e seis leitores judeu-cristãos, esta citação das Escrituras mostra que Jesus cumpre a lei e os profetas mais que os fariseus (cf. 5,17-20).

O mesmo chamado do publicano e o diálogo seguinte com os fariseus na casa dele, lemos também em Mc 2,13-17 e Lc 5,27-32. Mas em Mc e Lc, o nome do chamado é outro: “Levi” (Lc 5,27) ou “Levi, filho de Alfeu” (Mc 2,14). Como se explica esta diferença entre todas as coisas em comum dos três evangelhos? Esta pergunta leva à outra sobre a autoria deste “Evangelho segundo Mateus”.

Por muito tempo considerava-se o publicano e “apóstolo” Mateus (Mt 9,9; 10,3) como autor do primeiro evangelho na ordem da Bíblia, porque seu estilo judaico (cf.. a genealogia em 1,1-18; o pleno cumprimento da lei e dos profetas em 5,17-19), fazia pensar que tinha escrito originalmente em hebraico/aramaico. Mas nunca se encontrou um pedaço do evangelho de Mt nestas línguas semitas. Hoje, alguns especialistas contestam a autoria do apóstolo Mateus, mas porque? O apóstolo e o evangelista não são a mesma pessoa? Na verdade, nenhum dos quatro evangelistas assinou com seu nome. Os evangelhos são obras anônimas e atribuídas posteriormente a apóstolos (Mt e Jo) ou a discípulos deles (Mc e Lc). A atribuição deste evangelho ao Mateus tem sua razão exatamente neste seu nome que aparece em 9,9-10. Vejamos toda esta questão mais de perto no evangelho de hoje.

A vocação do apóstolo Mateus é quase igual à do publicano Levi em Marcos e Lucas (Mc 2,13-17; Lc 5,27-32). Por isso estes três evangelhos são chamados de “sinóticos” (olhando juntos): Todos os três relatam a vocação de um publicano sentado na coletoria de impostos. Igual aos primeiros quatro apóstolos pescadores, Jesus o chama: “Segue-me!”, e este segue logo. Depois, na casa (de Levi-Mateus), Jesus e seus discípulos comem com os colegas dele. Os fariseus se escandalizam, porque um judeu não se mistura com esta categoria que arrecada impostos para Roma, explorando o próprio povo (um publicano não recebeu salário, mas vivia do que podia cobrar mais do que o estabelecido por Roma, cf. Lc 19,1-10). Jesus se justifica com uma comparação: “Aqueles que têm saúde, não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores.” Tudo isso é comum aos três relatos.

O que é peculiar de Mt, são apenas três coisas: o nome “Mateus” (v. 9; em vez de Levi), o título “mestre” para Jesus na boca dos fariseus (v. 11) e uma citação do Antigo Testamento: “Quero misericórdia e não sacrifícios” (cf. Os 6,6). Surge uma pergunta chave: Se Mt fosse o evangelho mais velho, os outros dois teriam trocado o nome do conhecido apóstolo por um desconhecido “Levi” (que nunca mais aparece nos evangelhos)? Por qual motivo, se o nome de um apóstolo tem muito mais peso do que desconhecido? S. Jerônimo supôs que Mc e Lc não queriam revelar o passado do apóstolo e por isso escolheram o nome da sua tribo (Levi), enquanto o próprio Mt assumiu seu passado. De qualquer modo, é mais provável o evangelista Mt ter introduzido o nome “Mateus” trocando o nome desconhecido já encontrado (Levi) num texto, do que o contrário.

Como os três relatos são muito parecidos, surge outra pergunta: quem copiou de quem? Uma análise mostra claramente que Mc foi o primeiro que escreveu, porque seu estilo é mais primitivo do que dos outros. Mt e Lc melhoraram, portanto são posteriores, porque não há motivo de piorar um texto mais tarde, ao contrário. Mas as melhorias de Mt e Lc acontecem independentemente um do outro. O que observamos neste texto, deixa-se verificar olhando para o contexto maior dos dois.

Há diferenças significativas entre Mt e Lc, por ex.: depois do nascimento de Jesus, a sagrada família logo volta a Nazaré (Lc), ou foge para Egito (Mt)? O ressuscitado aparece aos discípulos em Jerusalém (Lc) ou na Galileia (Mt)? Estas diferenças mostram claramente que Mt e Lc não se conheciam, não estavam em contato um do outro; cada um escreveu em outro lugar, independentemente do outro. Mas o que Mt e Lc têm em comum? Exatamente quase todo o conteúdo de Mc (as narrativas do trajeto de Jesus da Galileia até Jerusalém) e mais um conjunto de palavras de Jesus (uma coleção catequética, chamada de Q, da palavra alemã para fonte, Quelle) que contém por ex. o sermão da montanha/planície e parábolas.

Com base nestas observações, a maioria dos exegetas acatou a “teoria das duas fontes” (Mc e Q): Mc foi o primeiro evangelho que serviu como base (primeira fonte) para Mt e Lc. Estes dois não se conheciam, mas usaram além de Mc uma segunda fonte (Q) que se perdeu na história, mas foi preservada dentro destes dois evangelhos. Aliás, existe um evangelho “apócrifo” (quer dizer, fora da Bíblia, porque não foi reconhecido como inspirado), chamado ”Palavras de Jesus segundo Tomé”; é uma coleção de palavras e prova que este gênero existia. Além destas duas fontes (Mc e Q), Mt e Lc acrescentaram, cada um, seu material peculiar.

Concluímos que Mt não escreveu o primeiro evangelho; ele copiou a vocação do publicano (Levi) de Mc e só trocou o nome desconhecido, Levi, por um nome conhecido, Mateus. Na lista dos apóstolos, ele acrescenta “o publicano” (Mt 10,3); os outros evangelistas não sabem (ou não fazem saber) que Mateus era publicano (cf. Mc 3,18; Lc 6,15).

Resta a pergunta para identificar o autor do evangelho: Se o apóstolo Mateus estivesse o autor do evangelho que tem seu nome, porque ele copiaria a sua própria vocação de outro evangelista (de Mc), mudando apenas o nome (de Levi para Mateus) e acrescentando uma citação do AT? Não usaria mais detalhes ou palavras próprias já que se trata da própria vocação?

Parece-me mais verossímil identificar como autor um judeu-cristão anônimo da segunda geração (cerca de 80 d.C., cf. a referência em 22,7 à destruição de Jerusalém em 70.C.). Este autor anônimo copiou (e melhorou) o evangelho de Mc (e Q), acrescentando citações do AT com maestria. Talvez seja ele “o escriba (mestre de lei) que se tornou discípulo… que do seu tesouro tira coisas novas e velhas” em 13,52, que pode ser sua assinatura discreta. Ele sabia que o apóstolo Mateus era publicano e trocou o nome Levi por Mateus, porque este era mais conhecido. Talvez o autor fosse um discípulo de Mateus (ou de Pedro, cf. tantas referências a Pedro em Mt 14,28-31; 16,16-19; 17,24-27).

Resta outra pergunta: Esta análise desqualifica a tradição antiga que considerava Mt o primeiro evangelista, escrevendo em hebraico? Não temos indícios de algum escrito do Novo Testamento escrito em hebraico/aramaico (uma teoria recente queria identificar alguns versículos de Mc 6 num fragmento aramaico de Qumran, mas não convenceu). Tudo quanto temos do Novo Testamento já foi escrito em grego.

A antiga opinião de Mt ser o primeiro evangelho, escrito em hebraico antes de ser traduzido, baseia-se no testemunho de Papias, bispo de Hierápolis (primeira metade do séc. II): “Mateus-Levi escreveu na linguagem hebraica”, mas podemos entender também por “estilo hebraico”, porque não tem evidência de um evangelho em hebraico, ao contrário: para seus leitores cristãos que vieram do judaísmo, o Ev de “Mt” cita muito do Antigo Testamento (AT) – porém não a versão hebraica, mas geralmente a tradução grega (por ex. Mt 1,23 cita a tradução grega de Is 7,14: virgem, e não o texto hebraico jovem mulher). Portanto, o evangelista “Mt” escreveu seu original na língua grega, copiando Mc, mas seu conteúdo e estilo (e seus leitores) estão mais ligados ao Antigo Testamento, por isso sua posição na Bíblia – mais perto do AT – ainda é justificada.

O site da CNBB comenta: Todos nós vivemos afirmando que Jesus é misericordioso, que veio para trazer a salvação para todas as pessoas e coisas do gênero, mas na hora da convivência com as pessoas, parece que não é bem assim, pois somos proibitivos e sabemos sempre evidenciar os erros e os pecados que são cometidos para provocarmos discórdia, separação e exclusão. É muito comum ouvirmos nas comunidades: “Eu acho que Fulano não pode participar de tal coisa porque ele fez isso e aquilo”. Devemos crer que de fato não somos nós quem chamamos para o serviço do Reino, é Jesus quem chama e ele sabe muito melhor que nós quem está chamando e porque ele está chamando. A nós compete criar condições para que todos possam assumir a própria vocação.

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