01 de setembro de 2017 – Sexta-feira, 21ª semana

 

Leitura: 1Ts 4,1-8

Na leitura de hoje, Paulo fala sobre progresso moral e santificação, principalmente a respeito do corpo humano “em” (v. 1) ou “por” (v. 2) Cristo, ou ainda ”em nome de Cristo” (cf. v. 1.15; 2Ts 3,6.12). Vale lembrar que Tesssalônica e Corinto são uma cidades portuárias, abertas para povos e culturas diversos, mas com costumes relaxados, especialmente no que se refere à sexualidade.

Enfim, meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores! Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus (vv. 1-2).

O ensinamento moral de Paulo, o mesmo da primeira catequese cristã, dá à moral profana um valor novo, colocando-a sob o signo (em nome) de Cristo (5,21; Cl 3,18; Fl 4,8-9). Paulo apresenta um programa genérico de vida espiritual ou conduta cristã. Um princípio é o “progresso” (vv. 1b.10; o que dirá de si aos filipenses em Fl 3,13s), pois “agradar a Deus” nunca é um fato acabado. O apóstolo e seu colaborador Timóteo apresentam-se como modelo de conduta exemplar: “Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus”.

Esta é a vontade de Deus: vivei na santidade, afastai-vos da impureza; cada um saiba tratar o seu parceiro conjugal com santidade e respeito, sem se deixar levar pelas paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus (vv. 3-5).

O outro princípio é a “santificação” (v. 3), substantivo de ação. Paulo frisa que o cristão é chamado à santificação, e isso significa compreender de maneira nova a si mesmo, os outros e as relações humanas. Embora os membros da comunidade já sejam “santos”, ou seja, consagrados pelo batismo, sua santificação deve continuar. A exortação clássica do Levítico (Lv 20,7) passa ao NT relacionada com o Espírito Santo (v. 8; cf. 1,5s).

“Esta é a vontade de Deus” (v. 3; cf. Mt 6,10), a realizadora da santidade (vv. 3.7; 2 Ts 2,13; Ef 1,4). É Deus que santifica (5,23; 1Cor 6,11; cf. Jo 17,17; At 20,32); Cristo se fez nossa santificação (1Cor 1,30), para a qual também o Espírito colabora (v. 8; 2Ts 2,13; 1Cor 6,11). Os cristãos devem pô-la em prática (Rm 6,19). Eles, habitualmente, são chamados “santos” (os de Palestina: 1Cor 16,1.15; 2Cor 8,4; 9,1.12; cf. At 9,13.32.41; os de todas as igrejas: Rm 8,27; 12,13; 16,2.15; 1Cor 6,1s; 14,33; 2Cor 13,12; Ef 1,15; 3,18; 4,12; 6,18; Fl 4,21s; Cl 1,4; 1Tm 5,10; Fm 5.7; cf. Hb 6,10; 13,24; Jd 3; e no início das cartas: 2Cor 1,1; 8,4; Ef 1,1; Fl 1,1; Cl 1,2; cf. Rm 1,7; 1Cor 1,2).

O chamado Código de Santidade no Levítico dedicava uma seção a relações sexuais (Lv 18), e outra aos deveres para com o próximo (Lv 19). Dois temas que Paulo toca aqui na leitura de hoje (vv. 3-8) e de amanhã (vv. 9-11). Na vida sexual, quem comanda o comportamento do cristão é o respeito ao próprio corpo e ao corpo do outro, que foi criado por Deus e é chamado a participar da ressurreição. O texto literal – ”cada um saiba adquirir seu próprio vaso (recipiente, utensílio)” – pode significar o próprio corpo” (assim traduz a Bíblia Pastoral; cf. 5,23; cf. Rm 12,1; 1Cor 6,19), ou melhor o “corpo da própria esposa” (a liturgia traduz: “tratar seu parceiro conjugal”, como se vê nos textos rabínicos e em 1Pd 3,7).

À “libertinagem” (v. 3: porneia, imoralidade) dos pagãos, Paulo opões o matrimônio (como em 1Cor 7,2). A vida sexual não está isenta de regras, antes fica submetida à santificação, ou seja, entra numa esfera nobre e exigente, relacionada com o “conhecimento” do verdadeiro Deus. “Como os pagãos que não conhecem a Deus”: a admoestação de Lv 18 insiste em que os israelitas não devem ser como os povos cananeus (Lv 18,3.24-29; cf. Jr 10,1-10.25; Sl 79,6; Tb 8,5.9).

Que ninguém, nessa matéria, prejudique ou engane seu irmão, porque o Senhor se vinga de tudo, como já vos dissemos e comprovamos (v. 6).

Prejudicar ou enganar o irmão refere-se mais ao adultério (cf. Pr 6,20-35) do que a negócios porque em seguida Paulo ainda fala de “impureza” (v. 7). “Porque o Senhor se vinga“; também o citado capitulo do Lv menciona o castigo (Lv 18,28s).

Deus não nos chamou à impureza mas à santidade. Portanto, desprezar estes preceitos não é desprezar um homem e sim, a Deus, que nos deu o Espírito Santo (vv. 7-8).

Paulo indica que o chamamento de Deus é transformador: primeiro estado em que nos encontra: “impureza”, imoralidade. Segundo, aquilo para qual somos chamados: a “santidade”. O Concílio Vaticano II escreveu um capítulo sobre a vocação universal à santidade (LG 39-42). Estas normas, Paulo as iguala à palavra da pregação que não é só palavra humana, mas de Deus: “desprezar estes preceitos não é desprezar um homem e sim, a Deus” (v. 8; cf. 1,5; 2,13). O desregramento sexual é inconciliável com a presença ativa do Espírito Santo no fiel cristão.

O profeta Ezequiel (36,27; 37,14) anunciava o dom do Espírito ao povo messiânico; essa alusão reforça a continuidade entre a igreja de Tessalônica e a comunidade primitiva que recebeu este dom (At 2,16s.33.38, etc.). A respeito do dom interior do Espírito dado a todo cristão (cf. Rm 5,5; Rm 8,2-27 etc.): Este Espírito da promessa caracteriza a nova aliança em oposição à antiga (2 Cor 3). Não se manifesta somente em ações como milagres ou carismas (cf. 1Cor 12-14). É sobretudo um princípio interior da vida nova que Deus dá, envia, outorga, derrama; é o mesmo espírito de Cristo que torna o cristão filho de Deus (Rm 8,14-17; Gl 4,6s). Recebido pela fé no batismo, ele habita no cristão no seu espírito, e mesmo em seu corpo (1Cor 6,9). Substituindo o mau princípio da carne (Rm 7,5), torna-se no homem um princípio de fé, de conhecimento sobrenatural, de amor, de santificação, de conduta moral, de coragem apostólica, de esperança e de oração. Não se deve extingui-lo (5,19).

 

Evangelho: Mt 25,1-13

O evangelho de hoje só se encontra em Mt. É uma parábola sobre o reino de Deus, precisamente da vinda do Jesus (parusia). O noivo da parábola é Jesus que virá no fim da história. Como a parábola anterior (24,45-51; evangelho de ontem), a de hoje centraliza-se na demora do Senhor (24,48; 25,5); mas em vez de fixar a atenção na má-conduta dos servos, focaliza a obrigação de estar preparado (24,44; 25,10), quando ressoar o grito que anuncia a chegada do noivo/esposo.

O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes (vv. 1-2).

As moças são classificadas em “previdentes” (prudentes, sensatas), e “imprevidentes” (insensatas, sem juízo). Duas categorias contrapostas de sólida tradição em livros como Pr e Eclo, ou no final do sermão da montanha como aqueles que constroem sobre a rocha ou sobre a areia (Mt 7,24-27). São adjetivos de enorme peso, a ponto de as qualidades aparecerem personificadas como Sabedoria (Sensatez) e Senhora Insensatez (Pr 9). Nesta parábola, por sua sensatez, está em jogo o sentido último da vida.

As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. 4As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas. O noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e dormindo. No meio da noite, ouviu-se um grito: “O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!” (vv. 3-6)

Circunstâncias de um casamento são transformadas e rodeadas de um halo misterioso. Não há quem conduza a noiva (Sl 45,14s; Gn 2,22), mas é o noivo que está para chegar (Ct 2,8; 5,2). A noiva é substituída por dois grupos contrapostos de moças, o que introduz o tema do julgamento e da escolha (cf. Sl 45,15s). O banquete é celebrado à meia-noite, e assim se introduz o tema da vigilância (cf. Ct 3,1; 5,2); entra-se no casamento ou festa nupcial (Ct 1,4; 2,4). As reminiscências do Cântico dos Cânticos se acumulam e conferem certo ar de realismo à cena. Ao mesmo tempo se sobrepõem outros traços que geram uma atmosfera irreal. Não esqueçamos que o Apocalipse (e com ele, a Bíblia cristã) termina com espera ansiosa da esposa/comunidade pela vinda do esposo (Ap 21-22; cf. 22,17.20).

Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas. As imprevidentes disseram às previdentes: ”Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando.” As previdentes responderam: “De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar aos vendedores”. Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que estavam preparadas entraram com ele para a festa de casamento. E a porta se fechou (vv. 7-10).

As virgens representam pessoas e comunidades cristãs, que devem sempre estar preparadas para o encontro com o Senhor, mediante a “prática da justiça” (essa pode ser o significado do “óleo” no contexto de Mt; cf. 7,21-23.24-27). As lâmpadas e o óleo que as alimenta são expressões da vigilância noturna (Pr 31,18; Jr 25,10; Ap 18,22), e ao mesmo tempo servem para inculcar a responsabilidade pessoal, não vale omitir-se afiando-se no outro. Parece-nos uma atitude bastante egoísta das virgens prudentes que não querem repartir seu óleo, mas no contexto há de se considerar: se os prudentes repartissem o óleo, a procissão das luzes acabaria no meio do caminho em escuridão, “porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós”.

Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram: “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!” Ele, porém, respondeu: “Em verdade eu vos digo: Não vos conheço!” Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora (vv. 11-13).

O noivo (Jesus) responde às insensatas e atrasadas com a mesma conclusão de 7,23 (cf. Lc 13,25-27) e adverte os ouvintes com a mesma ordem de vigiar semelhante à de 24,42. “Daquele dia e daquela hora, ninguém sabe, nem os anjos, nem o Filho, mas só o Pai” (24,36p).

Essa noite não é para dormir (cf. Ct 5,2-6; Is 51,17; 52,1); de fato, todas as virgens adormeceram (25,5). Mas a recomendação “ficai vigiando”, pode significar só “estais preparado” (cf. 24,42.44).

Essa parábola é exclusiva de Mt e é a terceira referência ao tema nupcial (cf. 9,15; 22,1-14). Jesus já se comparou com um noivo na festa de casamento (9,15; cf. Ct 5,1). O messias (Cristo) é o noivo (22,1-14; 25,1-13), esposa da nova aliança (26,28p).

Sobre o simbolismo do matrimônio no AT (Antigo Testamento): Javé Deus é o esposo de Israel, com que selou aliança (cf. Os 2; 3,16-25; Is 49; 54; 62; Ez 16 etc., aplicado a Jesus no NT em Ef 5,22-32). O casamento é tempo de alegria partilhada (Jr 16,8-9; Ct 3,11; 5,1; Sl 45).

Se quisermos participar da festa do amor e da alegria no céu, precisamos vigiar aqui na terra no sentido de preparar-se com obras de justiça e misericórdia e ser perseverante, não relaxar neste tempo de espera, cuja duração só Deus sabe (cf. 1Ts 5,1-11; 2Pd 3,8-14).

O site da CNBB comenta: A Igreja, que somos todos nós, é a esposa de Cristo, e realiza sua maior felicidade no relacionamento com ele, relacionamento que exige de todos nós fidelidade, amor e sensatez, ou seja, uma fé vigilante, que faz com que vivamos constantemente na presença de Jesus, Luz que ilumina nossa vida e não permite que vivamos nas trevas do erro. Como vivemos na presença de Jesus e somos iluminados por ele, nossa fé é cada vez mais ativa e torna-se luz para as pessoas, de modo que todos possam descobrir-se amados por Deus, busquem constantemente um relacionamento com ele, e assim estejam sempre prontos para o momento em que esse relacionamento atingirá sua plenitude, quando seremos todos um só em Cristo.

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