05 de Novembro de 2018, Segunda-feira: Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro (vv. 3-4).

Leitura: Fl 2,1-4

O apóstolo Paulo exorta a comunidade dos filipenses para viver na unidade, harmonia e humildade.  As palavras de Paulo podiam ser mal entendidas como ordem para uniformidade sem admitir opiniões divergentes. Mas lendo ainda os vv. do cap. anterior (1,27-30), compreendemos melhor a leitura de hoje. Paulo está na prisão (1,7.13-14.17). A comunidade dos filipenses tem adversários (cf. At 16,16-40). Estes devem perceber que não têm chance de fazer intrigas e instigar os irmãos uns contra os outros. Eles devem se surpreender com a “unidade” (v. 2) dos cristãos que vivem “como um só coração e uma só alma” (At 2,32).

Este tipo de exortação, frequente em Paulo (cf. Rm 12,16; 15,5; 2Cor 13,11), não contradiz a alegria confiante que se destaca na carta inteira (apesar da prisão).

Se existe consolação na vida em Cristo, se existe alento no mútuo amor, se existe comunhão no Espírito, se existe ternura e compaixão, tornai então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade (vv. 1-2).

“Se existe consolação” lit.: “se há algum apelo insistente, …”; uma espécie de adjuração afetuosa pelo que há de mais sagrado. Por comparação com a saudação trinitária de 2Cor 13,13, pode-se encontrar no começo deste v. uma alusão ao Filho; é uma alusão velada, mas provável à Trindade: o “amor” é dado como característica do Pai e a “comunhão” associada ao Espírito (cf. 2Cor 13,13).

Paulo sabe por experiência quão facilmente surgem nas comunidades as rixas e os conflitos. Ele percebeu sinais disso em Filipos (1,27; 2,14; 4,2). Por isso Paulo insiste em interpelar a “todos” juntos (1,1.4.7.8.25; 2,17.26; 4,21) e exorta os seus correspondentes à “unidade” e à “harmonia” (concórdia).

A unidade só se realizará por uma vida de humildade (v. 3), abnegação e serviço de que o próprio Cristo deu o exemplo: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (v. 5, cf. leitura de amanhã).

Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro (vv. 3-4).

Paulo convida a comunidade dos filipenses a evitar as divisões causadas pelo espírito de “competição”, pelo desejo de receber elogios (“vanglória”) e pela busca dos próprios interesses. A comunidade deve zelar pela harmonia interna e, para isso, é necessário que haja humildade, “cada um considerando os outros superiores a si” (v. 3), e que o empenho tenha sempre em vista o bem comum (v. 4).

Cuidar “do que é seu, … do outro”, lit. “o que pertence” a ele mesmo e aos outros: não somente seus “interesses”, mas os dons recebidos, os serviços prestados; poder-se-ia traduzir o “seu bem e o bem dos outros” (cf. 1Cor 10,24.33; 13,5).

Com esta série de motivações de vv. 1-4, Paulo chama para a “humildade” (v. 3) e o “amor” (vv. 1-2). Cada qual deve valorizar o outro, até mais do que a si mesmo (v. 3). Com esse convite a esvaziar-se de si mesmo, Paulo prepara o hino sobre o exemplo de Jesus Cristo (2,5-11; cf. Rm 15,1-6).

A Bíblia do Peregrino (p. 2819) comenta: Com um desenrolar avassalador de motivações, Paulo introduz sua exortação à caridade e à humildade. Ambos os temas são conhecidos de sobra; o acerto e a importância desses vv. estão na conexão: a humildade, resultado e condição de uma caridade autêntica e duradoura. Se o egoísmo é o contrário do amor (1Cor 10,24), o orgulho é seu inimigo capital. Deve-se colocar essas linhas entre a simples proposta do amor como resumo de todos os mandamentos (Mt 22,37-40 par.) e a grande explanação de 1Cor 13.

 

Evangelho: Lc 14,12-14

No cap. 14, Lc junta quatro episódios que têm a ver com banquete, ou seja, convite à refeição. Em Lc, Jesus é convidado com frequência por fariseus (cf. 7,36; 11,37), desta vez por “um dos chefes” deles (14,1; cf. em 19,2 fará refeição com o chefe dos publicanos). O que Jesus fala nestas refeições deve ter significado também nas refeições dos cristãos e na Eucaristia.

Em seguida, Jesus disse àquele que o tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa” (v. 12).

Sobre retribuição ou generosidade desinteressada, Jesus já falou no sermão da planície em 6,32-33 (cf. Mt 5,46s e a “recompensa” em Mt 6). Os convites mútuos, como costume social, criam e afiançam um círculo de bem-estar, do qual são excluídos (ou se excluem) os mais necessitados.

“Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (vv. 13-14).

A generosidade para como os pobres é motivo tradicional (Is 58,7-12; Sl 112,9; Eclo 7,32-33). A novidade está no modelo de convidados (todos os enumerados são pobres e excluídos) e na recompensa escatológica (cf. o reino de Deus em v. 15; 6,20). A “recompensa na ressurreição dos justos” (cf. Dn 12,2s; 2Mc 7) é a glorificação a exemplo e pelo dom de Jesus Cristo (no dia da sua vinda; cf. 17,22-37).

A Bíblia do Peregrino (p. 2506) comenta: A caridade que Jesus prega e pratica rompe esse círculo de convites mútuos a favor dos indigentes e também em proveito de quem é caridoso. O convite interesseiro atinge seu pagamento neste mundo e nesta vida. A caridade desinteressada tem pagamento transcendente.

Segundo 2Rs 5,8 (versão grega), os cegos e os aleijados não podiam entrar no Templo (mas mendigavam na porta, cf. At 3,2; Jo 8,59-9,1; cf. Lc 19,35p). A comunidade de Qumran não aceitava aleijados e surdos no meio dela. Jesus, porém, dá preferência a eles no reino de Deus. A nossa sociedade atual ainda está no começo de dar preferência a eles (ex. assentos no ônibus, fila preferencial etc.). O que a comunidade cristã está fazendo para incluí-los mais na vida da Igreja e na Eucaristia?

O site da CNBB comenta: O nosso relacionamento com as pessoas não pode ter como ponto de partida o interesse ou a retribuição, mas a gratuidade. Afinal de contas, Deus nos ama gratuitamente e nos concede tudo o que somos e temos sem nada exigir em troca. Mas o amor de Deus para conosco vai além da gratuidade: ele nos retribui por tudo o que fazemos gratuitamente em favor dos nossos irmãos e irmãs. Vivamos a gratuidade para que o próprio Deus seja a nossa eterna recompensa por tudo o que fizermos em favor dos sofridos e marginalizados deste mundo, que não têm ninguém por si e que são rejeitados em todos os ambientes, por não poderem retribuir de acordo com os critérios do mundo.

 

 

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