09 de Fevereiro de 2019, sábado: Por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus (vv. 15-16).

Leitura: Hb 13,15-17.20-21

O autor anônimo termina a carta numa linguagem litúrgica, já que boa parte da carta tratava de temas litúrgicos, principalmente sobre o sumo sacerdócio de Jesus (2,17-10,18). Na exortação, que ouvimos nos dias passados, quer encorajar a comunidade enfraquecida, cansada na fé, relaxada no zelo e nas boas ações, com pouca disposição de defender a fé ou sofrer por ela (10,19-13,9). Nos vv. 11-14 voltou a lembrar o sacrifício de Cristo superior ao dos animais no Templo de Jerusalém. O templo foi incendiado em 70 d.C. pelos romanos e nunca mais reconstruído (hoje um santuário muçulmano está no lugar). Provavelmente o autor da carte escreveu depois da destruição da cidade com que cessou o culto no templo (cf. 9,10).  “Não temos aqui uma cidade permanente, mas estamos a procura da cidade que está para vir” (v. 14; cf. 11,10; Ap 21-22).

Por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus (vv. 15-16).

O culto verdadeiro dos cristãos não é mais oferecer animais no templo de Jerusalém, mas oferecer um culto espiritual (cf. Rm 12,1-2; Jo 4,23), um “perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios, que celebram o seu nome” (cf. Sl 50,14.23; Os 14,5; Rm 10,9; At 2,21).

O culto fundamental a Deus é o louvor que o reconhece como Deus (agradecendo pela vida, pelas maravilhas da criação, sua atuação na história, etc.) e ao mesmo tempo relativa tudo mais (só o Senhor é absoluto; adorar só Deus, que é único; tudo fora de Cristo, Paulo considera como esterco, Fl 3,8). O culto cristão que substitui o do templo, então, é o sacrifício de louvor, o culto da Palavra. Não fala explicitamente da Eucaristia, mas já tem tratado do sacrifício de Cristo que ofereceu preces, súplicas e sua humanidade, seu corpo e seu sangue uma só vez para a salvação eterna (cf. 4,7-10; 9,11-14; 10,5-12).

O culto cristão não é outro sacrifício com sangue de animais, mas louvar a Deus por Cristo (memória do sacrifício único dele), oferecer nossa própria vida em favor dos outros. Assim, em relação ao próximo, esse culto consiste na partilha e na solidariedade. As “boas ações” e a “comunhão” são os “sacrifícios que agradam a Deus” (cf. Eclo 35,2; Fl 4,18).

Obedecei aos vossos líderes e segui suas orientações, porque eles cuidam de vós como quem há de prestar contas. Que possam fazê-lo com alegria, e não com queixas, que não seriam coisa boa para vós (v. 17).

Em seguida, o autor volta ao tema dos “dirigentes” (v. 7); a mesma palavra grega hegoumenos, aqui em v. 17, é traduzido por “líderes”. Em v. 7 eram da geração dos apóstolos que já morreram, aqui em v. 17 são os vivos, que “cuidam de vós como quem há de prestar contas”. A Igreja é povo de Deus que precisa de líderes autênticos (na tradição dos apóstolos), dedicados (cf. 1Pd 5,1-4) e reconhecidos pela comunidade (cf. 1Ts 5,12; 1Cor 16,16; Ef 3,18).

O Deus da paz, que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna, o grande pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, vos torne aptos a todo bem, para fazerdes a sua vontade; que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém! (vv. 20-21)

A carta conclui com uma frase de tom solene que associa invocação, votos e louvor a Deus (vv. 20-22): “O Deus da paz” (cf. 12,14; paz no sentido bíblico é felicidade plena, que se realiza na ressurreição) “que fez subir dentre os mortos” (alusão a Moisés em Is 63,11, “aquele que tirou da água o pastor do seu rebanho”) “aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna o grande pastor das ovelhas” (v. 20; cf. 10,29; 12,24; 13,11-12; Zc 9,11; Ex 24,8; 34; 1Pd 2,25; 5,4; Jo 10; Sl 23).

A expressão “aliança eterna” (cf. Gn 9,16; 17,7.13.19; Ex 31,16s; Lv 24,8; Nm 18,19;; Sl 105,10; 111,9; 2Sm 23,5; Eclo 17,10; Is 24,5; 55,3; 61,8; Jr 50,5; Br 2,35; Ez 16,60; 37,26), única no NT, se refere ao sangue de Jesus e inspirou o texto da consagração no centro da Oração Eucarística: “o sangue da nova e eterna aliança” (cf. Mc 14,24s; Mt 26,28; Lc 22,20; 1Cor 11,25).

Segue-se o voto (v. 21) com expressões usuais, “fazer sua vontade” (cf. 10,9.36 citando Sl 40,8-9) e “o que lhe é agradável” (cf. 12,28; 13,16), e conclui-se com a doxologia (fórmula de louvor) “por Jesus Cristo ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. ” (cf. Rm 16,17).

Obs.: Os últimos versos (vv. 22-25; fora da nossa leitura) parecem ter sido acrescentado posteriormente como um bilhete de remessa que poderia ser do apostolo Paulo, diferente do estilo e teor da carta anônima. Lembramos que a carta aos hebreus não é de Paulo (nem pretende ser), não é uma carta (é um sermão sacerdotal com uma exortação, cf. 13,22), nem se dirige aos hebreus (não consta destinatário, que no texto são cristãos desanimados que precisam de encorajamento). Provavelmente, o nome “carta aos hebreus” foi dado para enquadrar o escrito no NT: entre as cartas de Paulo e de outros autores (as cartas 1-2Pd; 1-3 Jo; Jd e o Apocalipse de João) e para caracterizar o conteúdo que fala dos sacrifícios sacerdotais e cita bastante o AT (Antigo Testamento), a Bíblia Hebraica, porém, na versão grega.

Evangelho: Mc 6,30-34

O evangelista contou o envio dos apóstolos (vv. 7-13), e depois inseriu o relato retrospectivo da morte de João Batista. Assim deu impressão de certa demora da missão dos “apóstolos”. Aqui em v. 30 é a única vez que Mc usa esta palavra grega apóstolos, que significa “enviados”, nas outras vezes, Mc prefere os “Doze”.

Os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer (vv. 30-31).

Os apóstolos voltaram da sua missão e havia uma reunião de avaliação de “tudo o que haviam feito e ensinado” (cf. At 11,1-18; 14,27s). Depois Jesus convida para descansar “num lugar deserto” (palavra chave para a multiplicação dos pães que será contada em seguida lembrando o maná no “deserto”, cf. v. 35; Ex 16). Este gesto humano é motivado também pelo fato de que havia tanta gente chegando (em consequência do sucesso da missão?), “que não tinham tempo nem para comer” (cf. 2,2; 3,20).

Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas (vv. 32-34).

Neste retiro, sozinho com os discípulos, Jesus poderia instruí-los sobre os mistérios do reino (4,10s) e seu segredo messiânico (cf. 10,32), mas as multidões “saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles”. Mc não explica porque o barco demorou mais (vento contrário ou cansaço dos apóstolos?), mas prepara-se uma assembleia do povo de Deus (cf. 3,7s) no deserto para multiplicação dos pães (vv. 35-44). Jesus não fugiu, mas “teve compaixão, porque era como ovelhas sem pastor“ (v. 34; cf. Mt 9,36; Nm 27,17; 1Rs 22,17; Jr 10,21; 23,1-2; Ez 34,5-6.15; Zc 10,2).  O ofício do pastor é feito de cuidado e compaixão.

As multidões não encontraram guias autênticos (cf. 1,22; Jo 10), mas seguiam Jesus até ao deserto (como a Moises ou a Davi: Ex 15,22-16,31; Sl 77,21; 78, 52-53; Jo 6,4,10; Ez 34,23-24; cf. Sl 23,1; 74,1; 80,1). Jesus “começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”; primeiro Jesus distribui a palavra (sobre o reino) e depois o pão (necessário de cada dia). Neste contexto do deserto, podemos lembrar que “o homem não vive somente do pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8,2-3; Mt 4,4; Lc 4,4). Também na Pastoral Social, é importante “ensinar” pescar e não só dar um peixe. Mc insiste na solidariedade dos apóstolos com Jesus em relação à multidão (vv. 31-33), na participação ativa deles no seu ensino (vv. 30.34) e na obrigação de alimentar o povo em seguida (vv. 35-44).

O site da CNBB comenta (talvez no contexto do evangelho de ontem): Devemos colocar a nossa felicidade onde se encontram os verdadeiros valores. As pessoas que vivem segundo os valores desse mundo colocam a sua felicidade nas coisas do mundo. São pessoas materialistas e hedonistas, marcadas pelo desejo do acúmulo de bens materiais e de poder e também na busca desenfreada de todos os prazeres proporcionados por este mundo, como é o caso do sexo e dos vícios em geral. São pessoas insatisfeitas porque na verdade foram criadas à imagem e semelhança de Deus e só podem ser satisfeitas plenamente em Deus, uma vez que são abertas ao infinito. Somente quem coloca a sua felicidade nos valores eternos encontra em Deus a sua plena satisfação.

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