09 de outubro de 2017 – Segunda-feira, 27ª semana

Leitura: Jn 1,1-2,1.11

A leitura de hoje nos apresenta o início do livro de Jonas (Jn 1) e o salmo responsorial é a continuação (Jn 2). O livro de Jonas se encontra entre os 12 profetas menores do AT; é considerado profético unicamente porque em 2Rs 14,25 se menciona um profeta com o mesmo nome e sobrenome, anterior a Jeroboão II (782-753). Mas a data do livro é bem posterior, e seu estilo e tema diferem muito dos livros proféticos, que em geral são escritos em verso. Enquanto os profetas ameaçam as nações pagãs, o livro de Jonas relata a conversão dos ninivitas e anuncia a misericórdia a esses que eram um dos povos mais odiados por Israel. Nínive era a capital da Assíria na Mesopotâmia. Os assírios invadiram o reino de Israel (reino do Norte) em 722 a.C. Os profetas estão solidamente enraizados na situação político-social; Jonas parece estar solto no ar.

Na verdade, trata-se de um livro sapiencial. Não pertence ao gênero histórico, mas ao gênero parabólico desenvolvido, uma espécie de “mininovela” para ilustrar o tema da misericórdia de Javé, que não é um Deus nacional, mas um Deus de toda a humanidade; ele quer que todos se convertam, para que tenham a vida (cf. 4,2).

Jonas, em hebraico significa “pomba”, um dos símbolos de Israel (cf. Os 7,11; 11,11), o que torna possível entendê-lo como a personificação de um grupo do povo.

A obra nasceu no pós-exílio, quando o povo judeu estava se fechando num exagerado nacionalismo exclusivista (cf. Esd 4,1-3; Ne 13,3), bem refletido na mesquinhez do “justo” Jonas. Todavia os caminhos de Deus são diferentes dos caminhos dos homens: Deus quer salvar também os inimigos, os pagãos de Nínive, modelo de crueldade e opressão contra o povo de Israel. Deus não quer que suas criaturas se percam (cf. Sb 1,12ss) e para ele ninguém está irremediavelmente perdido (cf. Ez 18,23.32; Lc 15)

A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amati, que dizia: “Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe que sua perversidade subiu até à minha presença” (1,1-2).

O começo do livro é claramente profético, mas com a primeira surpresa do livro: Um profeta de Israel enviado à capital do império agressor e expansionista (vv.1-2). Ainda bem que a mensagem soa ameaçadora, como a de Gn 18,20-21; mas aí está precisamente o grave perigo.

Jonas pôs-se a caminho, a fim de fugir para Társis, longe da presença do Senhor; desceu a Jope e encontrou um navio com destino a Társis, adquiriu passagem e embarcou com os outros passageiros para essa cidade, para longe da presença do Senhor (v. 3).

Segunda surpresa: Jonas recusa obedecer a Javé porque Nínive, capital da Assíria, representa um dos maiores e mais encarniçados inimigos de Israel. Ele foge exatamente para a direção oposta (v. 3). Razão? O narrador não a adianta, deixa-nos com a suspeita genérica do medo (cf. Jr 1,17-19). Para outras fugas, ver Am 9,1-4; Sl 139; 1Rs 19. “Jope” (cf. At 9,36) (em hebraico Jafa) é o porto da Palestina, hoje periferia de Tel Aviv. “Társis” (cf. 1Rs 10,1; Sl 48,8; Is 66,19) representava aos olhos dos hebreus o fim do mundo. Supõe-se que Társis se encontrasse em alguma costa do mediterrâneo ocidental (Espanha? Tunísia?) enquanto Nínive fica no leste (a Mesopotâmia abrange hoje é a Síria e o Iraque). “Longe”: porque o Senhor mora em Sião. Jonas quer subtrair-se à sua missão fugindo para o lugar mais longe possível. Mas não será possível, fugir da presença de Deus (cf. Sl 139,7-12).

Mas o Senhor mandou um vento violento sobre o mar, levantando uma grande tempestade, que ameaçava destruir o navio (v. 4).

A tempestade lhe impede a fuga, e no curso da tumultuada viagem, sem querer, Jonas torna-se instrumento das primeiras conversões: os marinheiros invocam a Javé (vv. 4-15).

Os ventos (1,4) são “ministros” de Deus (Sl 104,4), e a tempestade costuma ser teofania ou manifestação divina (Ex 19,16.19; Jó 38,1).

Tomados de pavor, os marinheiros começaram a gritar, cada qual a seu deus, e a lançar ao mar a carga do navio para o aliviar. Jonas havia descido ao porão do navio, deitara-se e dormia a sono solto. O chefe do navio foi vê-lo e disse: “Como! Tu dormes? Levanta-te e reza ao teu deus; talvez ele se lembre de nós, e não morreremos”. Disseram entre si os marinheiros: “Vamos tirar a sorte, para saber por que nos acontece esta desgraça”. Lançaram a sorte, e esta caiu sobre Jonas (vv. 5-7).

Em 1,5 o autor começa a brincar com o contraste entre os marinheiros, lúcidos e decididos, e o profeta inconsciente, dormindo no porão do navio (cf. Jesus em Mc 4,37-38). O verbo “temer” (pavor) é usado três vezes para expressar o sentimento dos marinheiros (vv. 5.10.16), que têm certeza de ser a tempestade uma punição divina. O pavor irá mudando de significado para balizar o desenvolvimento: começa como simples medo e terminará como reconhecimento do Senhor. Os marinheiros são de nacionalidades diferentes; cada um tem o seu deus, mas crê no poder dos outros deuses (v. 6). Ao falharem as orações, a tripulação conjetura que a desgraça acontece por causa de algum criminoso presente, e decide aplicar o procedimento habitual da época (cf. Js 7; 1Sm 14 e o princípio em Pr 16,33). Encontra-se em outros lugares, na antiguidade, esta idéia de que a presença de um culpado em navio é um perigo para todos.

Disseram-lhe: “Explica-nos, por culpa de quem nos acontece esta desgraça? Qual é a tua ocupação e donde vens? Qual é a tua terra, de que povo és?” Ele respondeu: “Eu sou hebreu e temo o Senhor, Deus do céu, que fez o mar e a terra firme”. Aqueles homens ficaram possuídos de grande medo, e disseram: “Como é que fizeste tal coisa?” Pelas palavras dele, acabavam de saber que estava fugindo da presença do Senhor. Disseram então: “Que faremos contigo, para acalmar o mar?” Pois o mar enfurecia-se cada vez mais. Respondeu Jonas: “Pegai em mim e lançai-me ao mar, e o mar vos deixará em paz: eu sei que, por minha culpa, se desencadeou sobre vós esta grande borrasca.” Os marinheiros, à força de remar, tentavam voltar à terra, mas em vão, porque o mar cada vez mais se encapelava contra eles. Então invocaram o Senhor e rezaram: “Suplicamos-te, Senhor, não nos deixes morrer em paga pela vida deste homem, não faças cair sobre nós este sangue inocente; fizeste, Senhor, valer tua vontade” (vv. 8-14).

Apontado o culpado, abre-se o interrogatório. É curioso entre as cinco perguntas falte ainda uma: o que fizeste? Na mente do leitor, as mais importantes são: de onde vens? Qual é a tua ocupação? Por isso surpreende a resposta, que confessa apenas a nacionalidade e a confissão religiosa; esta em termos inteligíveis para os marinheiros e adaptados à situação. A inversão da ordem cronológica para introduzir a pergunta-chave – o que fizeste? – transforma o temor dos marinheiros agora em temor religioso diante do Deus de Jonas, que na perseguição ao passageiro “hebreu” se mostrou eficaz e terrível.
“Eu sou hebreu” (v. 9) Como este termo, Jonas quer dizer que ele não é pagão, mas um membro desse povo em favor do qual Deus interveio na época do Êxodo. O apelativo hebreu não foi mais usado depois do exílio. Jonas o retoma, intencionalmente, para exprimir uma profissão de fé. O NT o retomará por sua vez (cf. At 6,1; 2Cor 11,22; Fl 3,5).

“O que fizeste?”- “O que faremos?” Só o passageiro hebreu possui um saber superior e pode fazer seu Deus desistir da perseguição. Jonas começa a ser bom: toma sobre si a pena de morte, para que os demais de salvem (v. 12). Não menos bons são os marinheiros: eles se escandalizam com a rebelião de Jonas a Javé (v. 10); com seu esforço pretendem neutralizar a fuga de Jonas, sem sacrificar sua vida, temem ofender Javé, sacrificando Jonas (v. 14); finalmente, reconhecendo seu poder, rendem-lhe culto. Em v. 14, a oração dos marinheiros se dirige agora expressamente ao Senhor (Yhwh, Javé), e nela cita-se uma frase de Jeremias aos seus juízes (Jr 26,14s; sobre derramar sangue inocente, cf. Dt 21,8s). A frase final parece reminiscência do Sl 115,3.

Então, pegaram em Jonas e atiraram-no ao mar; e cessou a fúria do mar. Invadiu esses homens um grande temor do Senhor, ofereceram-lhe sacrifícios e fizeram-lhe votos (vv. 15-16).

“Cessou a fúria do mar” (v. 15). O mar é quase personificado (cf. Mc 4,39). Ao cair Jonas, acalma-se instantaneamente, como se tivesse recebido uma presa. O versículo 1,16 conclui o primeiro episódio do relato. A imprevista tarefa missionária de Jonas foi um êxito: o profeta que embarcou para fugir do Senhor pregou seu nome a pagãos. E o narrador completa o resultado, informando-nos sobre uma ação cultual dos marinheiros.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1136s) comenta: A primeira ironia é o fato de Jonas ir em direção contrária a Nínive, símbolo da cidade opressora: ele vai para Társis, … Outra ironia: o fato de os marinheiros tentarem salvar Jonas, fazendo o que ele mesmo deveria fazer, e o ato de oferecem sacrifício a Javé, coisa que só o sacerdote oficial podia fazer no Templo

Determinou o Senhor que um grande peixe viesse engolir Jonas; e ele ficou três dias no ventre do peixe. Então o Senhor fez o peixe vomitar Jonas na praia (2,1.11).

Depois da tempestade no mar, que atrasa a viagem de Jonas, o Senhor envia um peixe gigantesco que o conduzirá na viagem de volta (2,1-11). Jonas não pode fugir. Pelo contrário, é forçado a encontrar-se consigo mesmo e com Deus; a experiência é feita dentro de uma angústia mortal, figurada pelo mar e pelo ventre do peixe. Desse modo, Jonas parece aprender a lição: a salvação pertence a Javé, que a concede a quem ele quiser. A oração de Jonas (2,2-10, salmo responsorial) é uma verdadeira síntese de trechos, cujos paralelos podem ser encontrados em vários Salmos.

O Senhor se serve até de elementos hostis para realizar seu plano narrativo, o autor nos convida a imaginar um peixe, de porções tais que pode comodamente engolir um homem interior. Assim o imaginaram ingenuamente comentaristas antigos, e os artistas o representaram incansavelmente. No plano simbólico, esse peixe devorador (Sl 69,16; Pr 1,12) é o xeol (2,3), a “cova” (2,7), da qual o Senhor o “extrai vivo”. A terra firme por ora é salvação (2,11; cf. Sl 18,17-20). O cetáceo cumpre as ordens sem muitas considerações (cf. Jr 51,34).

Para um leitor do AT, equivale a uma volta à vida (cf. Dt 32,39); um leitor no NT lê uma imagem da ressurreição. De fato, os evangelhos celebrizam a figura e aventura de Jonas como sinal da morte e ressurreição de Jesus: assim como Jonas ficou três dias no ventre do peixe, Jesus vai ficar três dias no ventre da terra; depois ressuscitará, como Jonas voltou à luz do dia (cf. Mt 12,39-41; Lc 11,29-32).

Evangelho: Lc 10,25-37

Ouvimos hoje a questão do maior mandamento. Enquanto Mc e Mt relatam este episódio durante os últimos dias de Jesus em Jerusalém, Lc o insere no começo da viagem de Jesus a Jerusalém, encabeçando os ensinamentos dados aos discípulos. Ele completa a lição acrescentando-lhe uma parábola própria, a do bom Samaritano que demonstra como o discípulo deve ser o “próximo” de todos.

Um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” Jesus lhe disse: “O que está escrito na Lei? Como lês?” Ele então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!” Jesus lhe disse: “Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás” (vv. 25-28).

Antes de analisar o texto de Lc, devemos compará-lo com Mc 12,28-24 que Lc copiou, mas modificou. Em Mc, era um “escriba” e sua pergunta era diferente: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” No AT, precisamente na Lei de Moises (Torá, ou Pentateuco, os primeiros cinco livros) existem 613 leis ou mandamentos. As repostas dos rabinos geralmente citaram um mandamento do decálogo (1º ou 3º ou 4º ou 5º mandamento). Jesus, porém, responde citando nenhuma lei do decálogo, mas duas frases distintas de dois livros do Pentateuco: Dt 6,4-5 e Lv 19,18. A resposta resume as duas tábuas do decálogo: amor a Deus (1º a 3º mandamento) e ao próximo (4º a 10º mandamento), mais ainda, resume a essência e o espírito da vida humana num ato único com duas faces inseparáveis: “Amar a Deus” com entrega total (“coração, alma, força e inteligência”) de si mesmo, porque o Deus verdadeiro e absoluto “é um só” (Dt 6,4) e, entregando-se a Deus, o homem desabsolutiza a si mesmo, o próximo e as coisas. “Amar ao próximo” como a si mesmo, isto é, a relação num espírito de fraternidade e não de opressão ou de submissão. O dinamismo da vida é o amor que tece as relações entre os homens, levando todos os encontros, confrontos e conflitos que geram uma sociedade cada vez mais justa e mais próxima do Reino de Deus.

Em Mt 22,36 e Mc 12,38, a pergunta refere-se, à maneira judaica, ao “maior” (Mt) ou ao “primeiro” (Mc) mandamento. Lc prefere uma formulação mais significativa para os seus leitores gregos e romanos, não interessados numa disputa entre rabinos sobre a lei mosaica (Mt sim), por isso o “mestre da Lei” (legista) lança uma pergunta mais ampla sobre a salvação ou seja “ganhar a vida eterna” (cf. 18,18p). Em Lc, porém, Jesus responde com outra pergunta (cf. 20,3). Assim, ele obriga o seu interlocutor a tomar por si mesmo uma posição.

Em Mc 12,34, Jesus reconheceu que o escriba “não está longe do Reino de Deus”. Em Mt 22,35, um dos legistas fariseus arma uma cilada a Jesus. Em Lc, o escriba quer “pôr Jesus em dificuldade”, no entanto, Jesus encontra nele um interlocutor bem-disposto (vv. 27s.37): Aqui é o mestre da Lei quem acha a resposta certa, enquanto em Mt 22,37 e Mc 12.29 é Jesus quem a dá. Na realidade, os rabinos da época poderiam ter citado ambos os textos, um depois do outro: mas é duvidoso que eles atribuíssem a mesma importância ao segundo e ao primeiro. Lc quer mostra aqui como a mensagem de Jesus estava preparada pelo AT.

O teólogo (mestre da Lei) sabe que o amor total a Deus e ao próximo é que leva à vida (Lc 10,28; cf. Lv 18,5). Mas, não basta saber. É preciso amar concretamente.

Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” (v. 29).

Para justificar sua pergunta inicial, ou antes, querendo mostrar a seriedade da sua indagação, o legista pergunta: “Quem é o meu próximo?”

Na época de Jesus, a maioria dos judeus já vivia fora do pais, enquanto muitos pagãos residiam no pais. Então havia respostas diferentes. Para os fariseus, o “próximo” era aquele que guardava a Lei de Moisés. Na comunidade de Qumran, só os próprios membros daquela seita se consideravam “próximos”. Para os zelotas, o “próximo” era aquele que se dispôs para a luta contra os romanos.

No AT, a questão quase não se põe: o próximo é todo membro do seu povo, excluindo os estrangeiros (Ex 20,16s; 21,14. 18,35; Lv 19.11.13.15-18…). Parece que foi Lc quem formulou essa pergunta para apresentar a ampliação, por Jesus, da noção tradicional.

Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto (vv. 30).

Jesus responde com uma parábola, como em 7,40-43; 14,16-24; 15,3-32. Esta não é uma historinha de comparação (o reino de Deus é como…), mas de um exemplo que apresenta uma atitude a imitar ou evitar (cf. 12.16-21; 14,28-32; 16,1-8; 18.9-14); ela vai conduzir o legista a ultrapassar a sua estreita perspectiva (vv. 36-37).

Um homem “descia de Jerusalém” (capital da Judéia) “para Jericó” (antiguíssima cidade perto da foz do rio Jordão, famosa por suas palmeiras, onde Herodes construiu sua residência de inverno, cf. Js 6; Lc 18,35-19,28). Era um judeu, como se pode concluir do contexto e do lugar. A estrada de Jericó para Jerusalém, de aproximadamente 35 km, atravessa o deserto de Judá, e era, naquela época, infestada de bandidos.

Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais” (vv. 31-35).

Segundo um uso corrente nas parábolas, aqui aparecem três personagens (cf. Lc 14,18-20; 19,16-24p; 20,10-12). Dois são representantes de Israel, um “sacerdote” e um “levita” (ajudante no templo). De ambos esperava-se que ajudassem seu conterrâneo assaltado, mas passaram adiante.

O sacerdote “estava descendo” de Jerusalém e, em vez de ajudar, “seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita”.  Os dois não queriam se contaminar com o “quase morto” (os mortos eram considerados impuros, cf. cf. Lv 21,1.11; Nm 6,9; 19,11-13; 31,19; Ag 2,13; Ez 44,25-27; Is 65,4)? Mas eles não subiram para um serviço religioso no templo de Jerusalém (800m acima do nível do mar), mas “desceram” em direção à cidade das palmeiras, Jericó (200m abaixo do nível do mar), foram ao descanso na chácara?

Inútil conjeturar sobre os seus motivos: eles não passam de um contraste destinado a valorizar a terceira pessoa. Espera-se agora um judeu comum que não tem obrigações cultuais. Mas vem o “samaritano”, o outro, o estrangeiro e o herege, do qual não se esperava normalmente senão ódio.

Os judeus evitaram as relações com samaritanos, a quem odiavam por causa de suas origens bastardas e divergências religiosas (2Rs 17; Esd 4; Eclo 50,25-26; Jo 4,9; 8,48). Jesus rompe com essas querelas (9,51-56; 10,33-37; 17,16-19; At 8,5-25; cf. Jo 4,4-42). Os samaritanos serão os primeiros a acolher o Evangelho fora de Israel (At 1,8; 8,4-8).

O inimigo/estrangeiro faz o que os amigos/conterrâneos deviam ter feito. Ajuda em tudo quanto pode. A medicina desse tempo utilizava o azeite para acalmar a dor (Is 1,6) e o vinho para desinfetar as feridas.

(E Jesus perguntou:) “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele.” Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa” (vv. 36-37).

A parábola do samaritano mostra que o próximo é quem se aproxima do outro para lhe dar uma resposta às necessidades. Nessa tarefa prática, o amor não leva em conta barreiras de raça, religião, nação, ou classe social. O próximo é aquele que eu encontro no meu caminho. O mestre da Lei estabeleceu limites para o amor: “Quem é o meu próximo?” Jesus muda a pergunta: “O que você faz para se tornar próximo do outro?” Jesus lhe sugere através desta parábola: o próximo é todo homem que se aproxima dos outros com amor, mesmo quando são estrangeiros ou hereges. Ninguém mais deve perguntar como o legista: Quem é o meu próximo? Mas: Como serei eu o próximo de todo homem? O velho particularismo de Israel, bem como o judaísmo dos doutores, estilhaça-se diante do evangelho. O orgulho de Israel ser o povo eleito deu lugar ao universalismo da Igreja, que Lc narrará no seu segundo volume (cf. At 10,34s).

O site da CNBB comenta: O maior mandamento que Jesus nos deu foi a Lei do Amor. Mas infelizmente, a palavra amor tem inúmeras conotações no dia de hoje, a maioria delas contrária ao espírito do Evangelho e aos valores do Reino, daí a importância da parábola do Bom Samaritano que nos mostra que amor de verdade é gesto concreto, é sair do próprio comodismo e ir ao encontro do outro, seja ele ou ela quem for, ser capaz de perceber todos os seus problemas e todas as suas necessidades, deixar-se mover pelo sentimento de compaixão e, cheio de misericórdia, fazer tudo o que estiver ao alcance para que a vida seja melhor para todos.

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