12 de Junho de 2020, Sexta-feira: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério (vv. 31-32).

10ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: 1Rs 19,9a.11-16

Depois da derrota dos profetas do deus fenício Baal no monte Carmelo (cf. 18,20-40), a rainha Jezabel que introduziu este culto estrangeiro em Israel, persegue Elias, o profeta do verdadeiro Deus de Israel, Javé (vv. 1-3.10.18).

Elias, mortalmente perseguido, tem que fugir e empreende uma espécie de peregrinação, de retorno ao monte Sinai, chamado também de Horeb (Ex 3,1; 19,2.18; 24,16; Dt 1,6; 4,10-13; 5,2 etc.; cf. Eclo 48,7) como voltando ao passado de Moisés e do êxodo (“saída” da escravidão, libertação). Com Elias, algo de Israel volta à origem autêntica do povo, a sua aliança com Javé Deus. Começa como fuga, empurrado pela ira de Jezabel; deixa a cidade, o reino do Norte, passa pelo reino do Sul (Judá) e a cidade de Bersabeia no limite entre civilização e deserto. Sua fuga se torna peregrinação, seu retiro físico torna-se um retiro espiritual. Não é a força da rainha que o afasta, mas a força de Deus que o atrai. No limite urbano da cultura, um mensageiro (anjo) de Deus lhe faz compreender o sentido da marcha (vv. 4-7). Antes do deserto, a fuga quis desembocar na morte; a partir do deserto, a nova comida milagrosa preparada pelo anjo o transporta à experiência da caminhada do povo antigo no deserto. “Levantou-se, comeu e bebeu, e depois, sustentado por aquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta notes até a montanha de Deus, o Horeb” (v. 8). No cume do Horeb culmina a vida de Elias.

A Bíblia de Jerusalém (p. 541) comenta: Querendo salvaguardar a aliança e restabelecer a pureza da fé, Elias irá ao lugar onde o verdadeiro Deus se revelou (Ex 3 e 33,18-34,9) e onde a aliança foi concluída (Ex 19; 24; 34,10-28): une diretamente sua obra com a de Moisés. Relacionados pela teofania do Horeb, Moisés e Elias o estarão também na Transfiguração de Cristo, teofania do NT (Mt 17,1-9p).

(Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus,) o profeta Elias entrou numa gruta, onde passou a noite. E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos: “Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar” (vv. 9a.11).

Esta “gruta” no monte Horeb-Sinai é uma caverna bem determinada pela tradição, aquela onde se pensava que o próprio Moises habitara, ou seja a “fenda do rochedo” onde se refugiou Moisés durante a aparição divina (Ex 33,22).

Nossa liturgia saltou o diálogo de vv. 9b-10, porque se repete em vv. 13s: a pergunta do Senhor convida Elias a tomar consciência da sua atividade, a desabafar confiante. Interpelado por Deus, Elias se confessa. A ordem de sair e permanecer – “o Senhor vai passar” – lembra a passagem do Senhor em Ex 12,12; 33,19.22; 34,6.

Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo (vv. 11b-12a).

Normalmente, uma teofania (aparição do Divino) se cerca de fenômenos extraordinários da natureza que mostra o poder soberano e a beleza do Deus criador (cf. Is 30,27; Sl 18,8-16). O pesquisador das religiões, Rudolf Otto, chamou a experiência do fenômeno do Sagrado “fascinante e terrível”, ao mesmo tempo.

E depois do fogo ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu, então, uma voz que dizia: “Que fazes aqui, Elias?” (vv. 12b-13).

A Elias, Deus não se mostra nesses fenômenos extraordinários do Sinai de antigamente (cf. Ex 19,16-19), mas no silêncio, no “murmúrio de uma leve brisa”. Nisso, Elias reconhece a presença do Senhor e “cobriu o rosto com o manto” antes de sair da gruta, porque nenhuma criatura pode ver Deus face-a-face; deve, por tanto, ocultar o rosto diante dele (Ex 33,20-23; Is 6,5; cf. Jo 1,18; 6,46; 1Jo 4,12 e a exceção de Ex 33,11 e Nm 12,8). Por isso, os judeus têm o costume de cobrir a cabeça com um chapéu ou a kippa para rezar.

A Bíblia Tradição Ecumênica (p. 534) comenta sobre o “murmúrio de uma leve brisa”, lit. ruído (voz) de um silêncio tênue: Para Elias, este silêncio devia ser tão inquietante e cheio de significado quanto o vento, o terremoto ou o fogo. Mas se estes anunciavam uma ação negativa, destruidora da parte de Deus (cf. vv. 15-17), o “sussurrar de um sopro tênue” deve ser posto em relação com ação positiva, criadora ou salvífica do Senhor, que manteve no seu povo e para ele um remanescente vivo e crente, os sete mil homens de que o v. 18 falará. O silêncio que envolve a vinda do Senhor talvez seja também uma nota antibaalista, já que Baal era o deus da tempestade.

A Bíblia do Peregrino (p. 653) comenta: A revelação do Senhor, simples passagem, é um momento capital que deve ser comparada com a que Moisés recebeu, segundo Ex 33,18-23. Furação, terremoto e fogo são elementos comuns da teofania (entre muitos outros textos, ver Sl 50,3; 97,3-5); neles o homem pode perceber uma presença de poder que transforma e consome o mais forte e estável. Vento e fogo estão particularmente ligados à vida do profeta. Mas Elias, o fogoso e impetuoso, descobre o Senhor numa brisa tênue, num sussurro que mal se ouve. Primeiro, teve de afastar-se da cidade, atravessar o deserto, subir a solidão da montanha; depois, teve de descobrir a ausência de Deus nos elementos barulhentos; finalmente, calado o tumulto, a voz cessada traz presença que surpreende.

Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus Todo-poderoso, porque os filhos de Israel abandonaram tua aliança, demoliram teus altares e mataram à espada teus profetas. Só eu escapei. Mas, agora, também querem matar-me” (v. 14).

A pergunta de Deus em v. 13b e a resposta de Elias em v. 14 repetem o diálogo de vv. 9s, que soa diferente. Embora seja uma voz única e tênue, salva da matança, Elias poderá agora medir a presença do Senhor. Embora o persigam mortalmente, sua vida está repleta da realidade de Deus.

O Senhor disse-lhe: “Vai e toma o teu caminho de volta, na direção do deserto de Damasco. Chegando lá, ungirás Hazael como rei da Síria. Unge também a Jeú, filho de Namsi, como rei de Israel, e a Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar” (vv. 15-16).

O que esta voz tênua anuncia, porém, é a mudança do poder político (cf. Eclo 48,6-8). Estas missões serão na realidade cumpridas por Eliseu: ungir os reis que farão guerra contra a casa de Acab e Jezabel. Hazael foi um oficial da corte arameu e matou seu rei para tornar­-se ele mesmo o rei em Damasco (2Rs 8,7-15; foi vencido pelo rei assírio Salmanassar III em 841). Jeú (Iehu) era general durante o reinado do filho de Acab, Jorão (852-841) e lutou contra os arameus. Foi ungido rei de Israel clandestinamente por um discípulo de Eliseu (2Rs 9,1-10) e iniciou depois uma revolução matando Jorão com toda sua família (incluindo Jezabel, cf. 2Rs 9-10). Com zelo religioso por Javé, eliminou a maior parte dos profetas e sacerdotes de Baal e destruiu seus altares (2Rs 10,18-30).

Sobre a atividade profética de Eliseu, cf. 2Rs 2-8. Aqui em v. 16, acha-se a única menção à unção de um profeta (fora da figura enigmática do Servo de Javé em Is 61,1). Nos textos mais antigos, a unção era reservada aos reis e lhes conferiu um caráter sagrado (1Sm 9,26; 10,1s; 16,1-13; 24,7 etc.). A unção (Ex 28,41; 29,7.29; 30,22-33; etc.) não era dada aos profetas, mas aos sacerdotes (ao que as pesquisas indicam, não antes da época persa). O paralelismo aqui faz aparecer esse termo impróprio da unção para um profeta.

A Bíblia de Jerusalém (p. 541) comenta: Furacão, terremoto, raios, que manifestavam em Ex 19 a presença de Iahweh, aqui não são mais sinais precursores de sua passagem; o murmúrio de um vento tranquilo simboliza a intimidade do seu trato com os seus profetas, mas não suavidade da sua ação: as ordens terríveis dos vv. 15-17 provam a falsidade dessa interpretação, que, no entanto, é comum.

Por isso, nosso texto litúrgico omite o final da mensagem divina (cf. também a omissão litúrgica da mensagem na vocação de Samuel em 1Sm 3,11-18): “Quem escapar da espada de Hazael, será morto por Jeú. E quem escapar da espada de Jeú, será morto por Eliseu. Mas eu vou poupar em Israel sete mil homens: são todos os joelhos que não se dobraram diante de Baal e todos os lábios que não o beijaram” (vv. 17-18).

Evangelho: Mt 5,27-32

No sermão da montanha (cap. 5-7), Mt apresenta Jesus como novo Moisés que transmite a nova lei na montanha (vv. 1-2). Ele não veio para abolir a lei, mas para aperfeiçoar seu cumprimento (vv. 16-19).

Em 5,21-48, Mt apresenta seis exemplos em forma de antítese, para mostrar como é que uma lei deve ser entendida. Nas sinagogas se transmitia o ensino oralmente (“vós ouvistes”) ao povo simples. Na forma repetida da antítese “Vós ouvistes que foi dito aos antigos… Eu, porém, vos digo” (vv. 21-25.27-28.31-34.38-39.43-44), Jesus se apresenta como autoridade soberana, maior que Moisés. A primeira antítese foi sobre o 5º mandamento, a segunda e terceira são sobre o 6º e 9º mandamento.

Ouvistes o que foi dito: “Não cometerás adultério”. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração (vv. 27-28).

Na segunda antítese do sermão da montanha, Jesus se manifesta sobre o adultério. De novo se apresenta como autoridade soberana, maior que Moisés, e repete: “Vós ouvistes que foi dito aos antigos… Eu, porém, vos digo” (vv. 21-25.27-28.31-34.38-39.43-44). Depois de radicalizar o quinto mandamento – “não matar” – para não ter mais raiva nem xingar com nome feio (vv. 21-26; cf. evangelho de ontem), agora o mesmo com o sexto. A proibição de decálogo (Ex 20,14; Dt 5,18), sob pena de morte (Lv 20,10), radicaliza-se até a atitude interior, o desejo consentido que induz ao ato (cf. Pr 6,25.27; Jó 31,1; Eclo 9,5): “Todo aquele que olha para uma mulher e deseja possuí-la, já cometeu adultério com ela no coração” (v. 28).

Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno (vv. 29-30).

Que o desejo já pode ser pecado não é novidade, porque já o nono mandamento (“não cobiçar a mulher do próximo”) alerta para um possível delito contra o sexto mandamento (Dt 5,21; Ex 20,17). Mas Jesus é mais radical ainda alerta sobre os sentidos, pois pela visão entre o desejo (cf. Davi em 2Sm 11,2 e o episodio de Suzana em Dn 14), ao passo que a mão é o membro do tato e da ação. Mt repete os mesmos vv. 29-30 em 18,8-9 (no contexto do escândalo contra os pequeninos que copiou de Mc 9,43-48). O adultério começa com o olhar de desejo, e o mal deve ser cortado pela raiz.

Agir desta maneira contra a própria natureza parece ser automutilação, mas Jesus exige isso em vista à vida eterna. A expressão é hiperbólica, exagero de poesia oriental, ou devemos levá-la ao pé da letra? Orígenes, um teólogo do século III, se castrou a partir dessas palavras, mas depois descobriu que ainda estava com desejos sexuais na cabeça. E se você tem maus pensamentos, o que deve então cortar? A cabeça? Jesus alerta do perigo da cobiça, ou seja, de sentimentos e pensamentos que podem levar ao pecado. Não se deve considerar como pecado apenas o ato cometido (adultério, assassinato, …), mas estar atento ao seu começo no pensamento na cabeça ou ao sentimento nos membros do corpo. Devemos cortar os maus pensamentos, a cobiça, não a cabeça. Depois de reconhecer seu erro, Orígenes desenvolveu a interpretação alegórica da Bíblia (simbólica, nem sempre ao pé da letra).

Mesmo sem praticar essas palavras ao pé da letra, não se deve desconsiderá-las, pois Jesus fala seriamente do inferno, castigo escatológico. Apesar da bondade divina, o ser humano pode perder seu destino. Quem não reconhece que seu futuro depende das próprias decisões, subestima o valor da sua própria vida. Nosso pensar, agir e omitir tem consequências positivas ou negativas para nossa vida e para nosso futuro.

Foi dito também: “Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio”. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério (vv. 31-32).

Jesus radicaliza até à interioridade a fidelidade matrimonial, apelando ao amor verdadeiro e leal. Mt inclui aqui a terceira antítese, uma norma que se entende na Igreja Católica não só como ética do coração, mas como lei canônica.

A tradução do nosso texto “a não ser por motivo de união irregular” não corresponde ao original grego. A palavra grega porneia não significa “união ilegítima” entre parentes (cf. Lv 18; At 15,20.29), mas um mau comportamento sexual que pode ser muitas coisas (a Bíblia Pastoral traduz: “fornicação”), mas em v. 32 que fala de mulheres casadas designa o ato sexual fora do casamento, então adultério.

Mt copiou esta norma já de Mc no contexto da questão do divórcio (19,9; Mc 10,11; cf. Lc 16,18; 1Cor 7,10-11) e a inclui aqui como exemplo da radicalização da lei por Jesus. Jesus revela a vontade de Deus (19,6: “o que Deus uniu, o homem não separe”) e restabelece o sentido original da lei porque Moisés só permitiu o divórcio “por causa da dureza dos vossos corações” (19,8).

Mas existe uma diferença em relação às antíteses anteriores (vv. 21-30): A raiva ou a cobiça dos olhos não são matérias, que se pode julgar num tribunal, mas a proibição de divórcio é: Quando alguém se casa outra vez sem ser viúvo, o divórcio se torna definitiva. Por isso estas palavras não são um mero apelo ao nosso coração, à nossa consciência, ao nosso amor. Já as primeiras comunidades cristãs tiraram conclusões jurídicas. Jesus não fundou uma igreja já pronta com estatutos do direito canônico, mas aqui temos uma sentença de direito em potencial. Mc e Lc não conhecem exceções; com seu “privilégio”, Paulo não aboliu a proibição de Jesus, mas toma uma decisão num dilema entre mundo (um cônjuge não cristão) e comunidade cristã (cf. 1Cor 7,12-17). Também Mt não questiona a regra de Jesus, só demonstra com sua cláusula – “a não ser por causa de fornicação”- uma exceção dentro desta regra.

Pode haver perdão e reconciliação depois de um adultério (cf. Jo 8,10-11; 1Cor 7,10)? Muitos judeus pensavam que em caso de adultério, o casamento já estava destruído; “fornicação” era uma abominação que tornou a terra impura (cf. Lv 18,25.28; Dt 24,4: Os 4,2-3; Jr 3,1-3,9) e em caso de adultério precisava-se divorciar. Para Mt, a questão fica aberta (cf. 18,15-17.21-22).

Já nos evangelhos, a proibição de Dt 24,4 de não se casar outra vez com sua própria mulher divorciada estendeu-se a todas as mulheres divorciadas. “Quem se casa com uma mulher divorciada, comete adultério” (v. 32; 19,9; Mc 10,11; Lc 16,18). A consequência desastrosa para tais mulheres, Mt atenua com sua clausula: como na sua comunidade o divórcio só se concede em caso de adultério, então só é proibido casar-se com uma adúltera.

A posição católica a respeito do divórcio é conhecida. Não existe divórcio, e um segundo casamento nesta igreja só existe para viúvos. Mas pode haver uma “separação de mesa, cama e residência” mantendo o vínculo do matrimônio. Assim a posição católica está perto de Mt que não permite casar-se com uma adúltera. Depois se iguala a situação da mulher ao do homem. Mt 5,32 (e o AT) se dirigiu apenas aos homens. Se valer a mesma coisa para mulheres, então é proibido casar-se com homens adúlteros também. O divórcio judaico admitiu outros casamentos; Mt 5,32 com igualdade para os gêneros diz que não, o que coincide em muito com a posição católica, não em termos (divórcio permitido só em caso de adultério, mas não um segundo casamento com adúlteros), mas de fato (só separação de mesa, cama e residência).

Na Igreja Ortodoxa, o divórcio possibilita um segundo casamento, mas só com penitência. O que destrói o casamento e serve de motivo para o divórcio, é o adultério (cf. Mt 5,32), mas pode haver outras razões. A possibilidade do segundo casamento não se vê como direito divino, mas como concessão por causa da fraqueza humana (cf. Mt 19,8).

Para as Igrejas protestantes, o casamento não é um sacramento, mas “coisa do mundo” (Lutero). Entendem Mt 5,32 como apelo ético aos corações, que se há de diferenciar do código civil. Lutero disse que o amor não precisava de leis. Isso possibilita um trabalho pastoral guiado pelo amor e não pela lei.

Mas ambas as igrejas ocidentais sofrem com sua posição. Os católicos lamentam a dureza da sua doutrina e do seu direito canônico que parecem contrariar o amor, o perdão e a misericórdia de Deus em casos concretos. Mas a ausência de um direito que regula o divórcio nas igrejas protestantes deixa o pastor sozinho nas suas decisões, geralmente ele escolhe o caminho de menor resistência, aceitando e abençoando tudo. O amor, porém, precisa do apoio de leis para ajudá-lo a não aceitar e ocultar tudo. A posição católica está mais perto de Mt 5,32, mas há uma certa tensão entre a norma de Mt 5,32 e o centro da pregação de Jesus: o amor incondicional de Deus aos seres humanos. Não é fácil ser justo (lei) e misericordioso (amor) ao mesmo tempo. É um dilema entre direito canônico e trabalho pastoral (ex. abençoar ou excluir casais de segunda união da comunhão eucarística).

Um pároco disse uma vez: “Melhor quebrar uma norma da igreja do que o coração de um ser humano”. As normas, porém, devem orientar para o melhor do ser humano (cf. o final do Código de Direito Canônico: a salvação das almas deve ser a lei suprema na Igreja).

O site da CNBB comenta: O valor da pessoa humana não pode ser diminuído em hipótese alguma. O Evangelho de hoje nos mostra o valor da pessoa como motivação para a vivência plena da Lei. Não é porque eu não fiz nada que eu não desrespeitei. Jesus não quer apenas ato, ele exige de nós uma postura evangélica de quem é capaz de ver o outro e a outra como seres criados à imagem e semelhança de Deus, mas também como renascidos em Cristo para uma vida nova, membros do Corpo Místico de Cristo, unidos a Cristo como o ramo está unido à videira, Templos vivos do Espírito Santo e como consagrados pela graça do Batismo, ou seja, pertencentes ao Pai, amados e amadas por ele e que devem ser respeitados e valorizados.

Voltar