13 de maio de 2016 – Páscoa 7ª semana 6ª feira

 

Leitura: At 25,13b-21

Pela boca de Festo, governador (procurador) residente em Cesareia, para onde Paulo foi transferido e mantido em prisão.

O rei Agripa e Berenice chegaram a Cesaréia e foram cumprimentar Festo (v. 13b).

Agripa, Berenice e Drusila (cf. 24,24) eram três filhos de Herodes Agripa I (que mandou matar Tiago e prendeu Pedro, cf. 12,1-6; sua morte repentina é contada em 12,20-23). Agripa II, o mais velho, nascera em 27. Sua irmã Berenice vivia então com ele, o que era causa de comentários; ela se encontrará mais tarde ao lado de Tito, general romano que destruirá Jerusalém em 70 d. Agripa II favoreceu ao judaísmo, mas se manteve leal a Roma, e foi o último rei dos judeus.

Como ficassem alguns dias aí, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: “Está aqui um homem que Félix deixou como prisioneiro. Quando eu estive em Jerusalém, os sumos sacerdotes e os anciãos dos judeus apresentaram acusações contra ele e pediram-me que o condenasse. Mas eu lhes respondi que os romanos não costumam entregar um homem antes que o acusado tenha sido confrontado com os acusadores e possa defender-se da acusação (vv. 14-16).

Festo responde aqui (v. 16), em termos muito precisos, um princípio de equidade que os romanos realmente aplicavam e que o autor dos Atos admira.

Eles vieram para cá e, no dia seguinte, sem demora, sentei-me no tribunal e mandei trazer o homem. Seus acusadores compareceram diante dele, mas não trouxeram nenhuma acusação de crimes de que eu pudesse suspeitar. Tinham somente certas questões sobre a sua própria religião e a respeito de um certo Jesus que já morreu, mas que Paulo afirma estar vivo (vv. 17-19).

Nesta conversa com o ilustre visitante, Festo quer mostrar a correção legal com que agiu e de passagem confirma a inocência de Paulo. Não há delito nem acusação fundada contra as leis do Império, existem apenas polêmicas religiosas que as autoridades judaicas devem resolver. A palavra pode significar também “superstição”, mas o sentido “religião” se impõe porque Festo fala com um judeu.

Mas este romano se mantém distante perante as singularidades de uma religião estrangeira. Do ponto de vista romano, deixa cair uma observação que contada pelo narrador soa com ironia dramática: a morte de um “certo Jesus” e sua pretensa ressurreição, um detalhe a mais nas disputas entre judeus.

É brutal o contraste com a atitude de Paulo, que considera a ressurreição de Jesus o ponto substancial do seu testemunho. O comunicado de Festo excita a curiosidade do rei Agripa que queira ver Jesus (como também seu tio avó, Herodes Antipas quisera ver Jesus; cf. Lc 9,9; 23,8). A ele Paulo vai dirigir mais um discurso (cap. 26).

Eu não sabia o que fazer para averiguar o assunto. Perguntei então a Paulo se ele preferia ir a Jerusalém, para ser julgado lá. Mas Paulo fez uma apelação para que a sua causa fosse reservada ao juízo do Augusto Imperador. Então ordenei que ficasse preso até que eu pudesse enviá-lo a César” (vv. 20-21).

De novo a ambiguidade de antes: que alcance tem “ser julgado em Jerusalém”? Questão de sede ou de competência? Como cidadão romano (cf. 21,24-29), Paulo apelou a César (25,10-12); “César”, “Augusto” (vv. 21.25) era título do imperador reinante (na ocasião: Nero, nos anos de 54 a 68).

Este apelo não está esclarecido na historia do direito: A Tradição Ecumênica da Bíblia (pag. 2156) pergunta: Em que casos era possível apela ao imperador? Teriam só os cidadãos romanos o direito de recorrer a essa instância suprema? Seria possível o apelo antes que a sentença fosse proferida? Após a apelação, prescreveria a lei do magistrado de dar-lhe seguimento? O que interessa aos Atos é menos a exposição da maneira de tratar a demanda do que a ênfase quanto a pôr em destaque a inocência de Paulo e a ação de Deus nos acontecimentos.

Então era precisa transferir o prisioneiro Paulo a Roma para onde o Senhor queria que testemunhasse (cf. a visão noturno de 23,11). Lc não narra mais o processo em Roma, mas aqui já explicou a versão romana.

 

 

Evangelho: Jo 21,15-19

Obviamente, o capítulo 21 é um anexo posterior, porque o evangelista já escreveu um final bonito em 20,20-31. Pouco tempo depois, uma redação eclesial acrescentou este capítulo (e também os capítulos 15-17 e partes de 10). O foco principal do cap. 21 é o papel de Pedro como líder da Igreja mesmo depois da sua negação tríplice e o papel do discípulo amado a quem o anexo atribui o evangelho (v. 24).

21,1-14 narrou uma terceira aparição de Jesus ressuscitado, não em Jerusalém, mas a beira do lago (mar da Galileia ou de Tiberíades, v. 1) diante de sete discípulos no barco sob a liderança de Pedro. O discípulo amado é mais rápido (cf. 20,2-9) e reconheceu logo que aquele anônimo, que deu o conselho certo para a pesca milagrosa, era o Senhor (vv. 6s). Pedro arrastou para a terra a rede com 153 peixes, mas a rede não se rompeu (v. 11; alusão à unidade da Igreja de tantos povos). Mas Jesus já havia preparado uma “brasa acesa” (v. alusão à negação de Pedro no pátio do sumo sacerdote, cf. 18,18) e convidou para comer (alusão à Eucaristia, v. 12).

Depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros” (v. 15).

A nota temporal do café da manhã (com pão e peixe) em v. 15 quer unir essa cena com a aparição e a refeição precedentes: o individual fica enquadrado no comunitário. A brasa acesa já aludiu à negação de Pedro. Jesus não espera até Pedro confessar ou pedir perdão. Ele toma iniciativa com sua pergunta.

Esta pergunta sobre o amor pode ser relacionada com 14,21 e 15,13, e a imagem do pastor com o cap. 10. Se Mateus propõe a confissão de fé com a fator de sua consistência firme “pétrea” (Mt 16,16-18), João propõe o amor a Jesus como condição e garantia de sua ação pastoral. Pedro amadureceu no amor, como se dirigisse ao mestre e Senhor um “amor com todo o coração e todas as forças” (Dt 6,5; o primeiro mandamento em Mc 12,30p)

E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas (vv. 16-17).

Pedro “ficou triste”, porque vê nisso uma alusão a sua tríplice negação (13,38 18,17.25-27). Apesar do seu fracasso na negação, ele ama Jesus. “Tu sabes tudo” (v. 17): Jesus lê o pensamento e não menos o sentimento, como demonstrou na predição (13,38) e segundo a confissão dos discípulos (16,30).

A Bíblia do Peregrino (pag. 2621) comenta: O dialogo com Pedro desperta várias ressonâncias. Dos sinóticos e para a reconciliação, Lc 5,1-11 (“afasta-te de mim… não temas”) e Mt 14,30-31 (“por que duvidaste?”); para a missão Lc 5,10 (“pescador de homens”) e Mt 16,16 (“edificarei minha Igreja”). Mais fortes e obvias são as ressonâncias da tríplice negação que é preciso cancelar com a tríplice declaração, humilde, de amor: “ao entardecer sereis examinados no amor” (João da Cruz).

“Amar” é expresso no texto, por dois verbos diferentes, que correspondem, respectivamente, a amar e a querer, ter amizade, gostar. Não é certo, porém, que essa alternância- como a alternância “cordeiros”, “cordeirinhas”, “ovelhas” seja mais do que uma questão de estilo.

A Bíblia de Jerusalém (pág. 2040) comenta: À tríplice profissão de amor a Pedro, Jesus responde por uma tríplice investidura. Ele confia a Pedro o encargo em seu nome, reger o rebanho (cf. Mt 16,18; Lc 22,31s). Pode ser que a tríplice repetição seja sinal de um compromisso, um contrato em boa e devida forma, conforme o costume do Antigo Oriente (cf. Gn 23,3-15).

Pedro recebe um encargo especial e único para a comunidade da Igreja (1Pd 5,1s) que continua sendo rebanho de Jesus (10,1-18.26-29). Jesus é o bom pastor das ovelhas, mas vai ao Pai e as deixa aos cuidados de Pedro. Que Pedro não seja de novo como um mercenário que foge do perigo (10,11-15), mas dê sua vida pelas ovelhas (martírio).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (pág. 2093) comenta: Jesus é, ao mesmo tempo, o enviado do Pai e o único pastor (cf. 10,14-16; Lc 12,32…). Com base no amor confessado e vivido por Pedro, ele lhe confia a tarefa pastoral para com o seu rebanho (cf. 10,1-16). Assim como a missão apostólica só toma sentido ligando-se à missão do filho encarnado (17,17; 20,21), assim também a função pastoral se liga à dele (Mt 10,6; At 20,28-29; 1Pd 5,1-4); um amor sem reservas para com Cristo revela-se aqui como condição de tal tarefa, e será a alma da mesma. A tradição católica elaborou pouco a pouco, notadamente a partir deste texto, a doutrina da função do colégio apostólico e do papa que o preside (cf. Mt 16,17-19; Lc 22,31-32).

Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir.” Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me” (vv. 18-19).

O destino de Pedro se expressa em imagens que apontam para o martírio, talvez para a cruz com o “estender os braços”. O “cingir-se” da tarefa cotidiana transforma-se em “ser cingido” ou atado à força (cf. At 21,11-12) e conduzido a morrer.

Reconciliado com Jesus, Pedro “o seguirá até a morte” (13,37). O martírio “glorifica” a Deus (12,33; 1 Pd 4,16). “Segue-me”, Jesus retoma a palavra dirigida a Pedro, após o lava-pés: “Não podes me seguir agora aonde vou, mas me seguirás mais tarde” (13,36).

Os autores desse apêndice (redação eclesial: “nós”, v. 24) já sabem do martírio de Pedro na cruz em Roma (65 ou 67 d.C., segundo a lenda, foi crucificado de cabeça para baixo porque não se achava digno de morrer da mesma maneira do que o Senhor). A redação reconhece Pedro como chefe da Igreja. É o primeiro entre os apóstolos, apesar de não ter sido o primeiro a seguir (1,41), recebe o nome Céfas (Pedro, 1,42; cf. 1Cor 9,5; 15,5) e tem a preferência (20,6). Como aqui não se fala de um sucessor, a intenção da redação só pode ser: afirmar que sua comunidade é parte do único rebanho (10,16) e tem comunhão com as outras (ovelhas, comunidades).

O site da CNBB comenta: O amor a Jesus é a condição fundamental para que possamos participar da missão evangelizadora da Igreja. Qualquer outra motivação é insuficiente para tal e está fadada ao fracasso. Não é a toa que Jesus pergunta três vezes a Pedro se ele o ama. Isso quer dizer que todos os que querem de fato participar da missão evangelizadora da Igreja devem se questionar constantemente sobre o seu amor a Jesus, renovar este amor a cada dia e buscar formas de aprofundar ainda mais este amor, principalmente através da participação na Eucaristia, leitura e meditação da Palavra, cultivo da vida interior e vivência cada vez maior do amor para com os pobres e necessitados.

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