15 de Abril de 2021, Quinta-feira: Eles levaram os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los, dizendo: Nós tínhamos proibido expressamente que vós ensinásseis em nome de Jesus.

Páscoa 2ª semana 5ª feira

Leitura: At 5,27-33

Ouvimo na leitura de ontem, como o anjo do Senhor havia libertado os apóstolos da cadeia e mandado de anunciar a palavra da Vida no templo. Eles obedeceram à ordem divina (vv. 19-21). Novamente foram trazidos ao Tribunal (sinédrio) que lhes havia proibido de ensinar em nome de Jesus (4,18).

Eles levaram os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los, dizendo: Nós tínhamos proibido expressamente que vós ensinásseis em nome de Jesus. Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E ainda nos quereis tornar responsáveis pela morte desse homem!” (vv. 27-28).

As palavras do sacerdote soam com dramática ironia. Evita pronunciar um nome que quer apagar, e tem de confessar o sucesso dos apóstolos “enchendo” a cidade de Jerusalém com seu ensinamento. Deve-se recordar o papel central de Jerusalém para Lucas: sem querer, o sumo sacerdote se faz testemunha do progresso da pregação na capital (segundo a recomendação de 1,8).

“E ainda nos quereis tornar responsáveis pela morte desse homem!” (v. 28), literalmente: “Quereis lançar sobre nós o sangue desse homem“ (cf. Mt 27,25), que é fazer-nos responsáveis de homicídio. Pedro o dissera no julgamento anterior (4,10) e agora o reafirma com ligeiras variantes nos vv. 29-32.

Então Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. Deus, por seu poder, o exaltou, tornando-o Guia Supremo e Salvador, para dar ao povo de Israel a conversão e o perdão dos seus pecados. E disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem.” Quando ouviram isto, ficaram furiosos e queriam matá-los (vv. 29-33).

Pedro pronuncia uma regra importante: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens” (v. 29; cf. 4,19). Os cristãos costumam obedecer às autoridades civis e militares (cf. Mc 12,13-17; Rm 13,1-7; Tt 3,1) e rezam por elas (cf. 1Tm 2,1s), mas em conflito a “obediência da fé” (cf. 6,7; Jo 3,36; Rm 1,5; 6,16-17; 10,16; 15,18; 16,19.26; 2Cor 10,5-6; 2Ts 1,8; 1Pd 1,22; Hb 5,9; 11,8) obriga mais.

Muitos mártires seguiram esta frase de Pedro até hoje. Em conflito com autoridades religiosas, o problema se complica: quem é que interpreta a vontade de Deus, o sumo sacerdote na capital ou o pescador da Galileia? Mas Deus falou claramente através dos acontecimentos: a ressurreição de Cristo e o dom do Espírito.

“Vós matastes, pregando-o numa cruz” (v. 30, lit. “na madeira”, cf. 10,39; a expressão lembra Dt 21,23; cf. Gl 3,13; 1Pd 2,24). À ressurreição seguiu-se a exaltação (Sl 110,1), não para condenar Israel, mas para perdoar os que arrependem (v. 31; cf. 2,38).

“O Deus de nossos pais” se refere a história dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó (cf. 3,13). Jesus como “guia supremo e salvador” (cf. 3,15) lembra a Moisés (cf. 7,35); alusão que se elaborará mais ainda no discurso de Estêvão (7,2-53; cf. Hb 2,10; 12,2).

“Disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo” (v. 32; 1,8; 15,28). O testemunho do Espírito Santo (Jo 15,26-27) soma-se ao dos apóstolos (Lc 24,48; 12,12; 21,25; Mt 10,20). Este Espírito, “Deus concedeu aqueles que lhe obedecem”, ou seja, os que creem (cf. 2,38; Jo 7,39).

 

Evangelho: Jo 3,31-36

Depois de inserir o último testemunho do Batista (vv. 22-30), o evangelista (ou a redação eclesial posterior) reflete sobre Jesus continuando as ideias da conversa com Nicodemos (vv. 13-21). O texto parece continuar a fala de João Batista e se desdobra em antíteses elementares, conforme o gosto do evangelista: celeste/terreno, crer/não crer, vida/ira de Deus.

“Aquele que vem do alto está acima de todos. O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra. Aquele que vem do céu está acima de todos” (v. 31).

No contexto imediato, o v. 31 pode ser aplicado a João Batista e a Jesus: Com toda sua grandeza e práticas válidas, o Batista ainda “é da terra, pertence a terra e fala coisas da terra”; Jesus pertence à outra esfera: “Aquele que vem do alto/céu, está a cima de todos” (v. 31). Isolado do contexto, o mesmo versículo apresenta Jesus como revelacão definitiva pela origem e pela glorificacão (cf. 1Jo 4,5; Fl 2,6-11). Ele vem de cima; o que ele fala, é válido e verdadeiro; ele mesmo é a Palavra (1,1) e a Verdade (14,6)

Dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. Quem aceita o seu testemunho atesta que Deus é verdadeiro (v. 32).

“Dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita seu testemunho” (v. 32; cf. v.11; 1Jo 1,1-3). Jesus em íntima união com o Pai não fala de si mesmo, mas diz o que ouve do Pai (cf. 7,17-18), ele é a palavra do Pai (1,1.18, a “testemunha fiel” (Ap 1,5). O “ninguém” se relativiza nas palavras seguintes (como ocorre p.ex. no Sl 14): “ninguém”, se não for por revelacão(cf. Mt 11,27; 16;17), “aceita seu testemunho, atesta que Deus é verdadeiro” (v. 33); “atesta” ou “poe um selo”: aceita que Deus e “verdadeiro” no que revela, ou “fiel” no que promete.

De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida. O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mão (vv. 34-35).

Em João, Jesus é “aquele que Deus enviou” por excelência (os profetas foram enviados em funcão dele). Ele “fala as palavras de Deus, porque (Deus lhe) dá o Espírito sem medida” (v. 34). É o Espírito que permite pronunciar as palavras de Deus (cf. a inspiração da escritura em 2Tm 3,16). Deus dá o Espírito a Jesus em plenitude (enquanto profetas e juizes só receberam porções do espírito; cf. Nm 11,17.25; 2Rs 2,9), ou pode ser lido também que o próprio Jesus dá o Espírito, como o diz o acréscimo católico ao texto grego do Credo Niceno-Constantinopolitano: o Espírito procede do Pai “e do Filho” (em latim “filioque”; este acréscimo não foi não aceito pela Igreja Ortodoxa que afirma: o Espírito somente procede do Pai, “pelo” Filho).

De certo, o discurso mostra uma visão trinitária que permite definir “Deus é amor” (1Jo 4,8.16): “O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mao” (v. 35). Como o Filho recebe tudo em suas maos, pode comunicar o Espírito (6,63). Segundo a vontade do Pai, tudo está na mão do Filho, é a base do seu reino (12,13-15; 18,36-37) que inaugurará no dia da sua exaltacão (12,32; 19,19; At 2,33; Ef 4,8), enquanto o reinado do príncipe deste mundo acabará (12,31).

Aquele que acredita no Filho possui a vida eterna. Aquele, porém, que rejeita o Filho não verá a vida, pois a ira de Deus permanece sobre ele” (v. 36).

Quem “acredita no Filho, possui a vida eterna”. Em vez de falar “Reino de Deus” (exceto em vv. 3.5) como os outros três evangelistas, o quarto evangelista prefere falar da “vida”, eterna ou plena (cf. 1,4; 3,16; 4,14; 5,24.26; 6,27.33 etc., cf. 8,12; 10,10; 11,25; 14,6; 20,31). “Aquele porém, quem rejeita (lit. desobedece) o Filho, não verá a vida, pois a ira de Deus permanece sobre ele” (v. 36). A fé liberta da “ira de Deus”, ou seja, do julgamento (cf. Mt 3,7: os frutos da fé), como já em v. 18 se afirmou: “Quem acredita no Filho, não será julgado…”. O ser humano que ouve a palavra divina, a verdade testemunhada por Jesus, pode crer ou nao, aceitar ou rejeitar. A felicidade (“ver” a vida, Deus) ou o fracasso definitivo dependem da nossa decisão, da nossa fé.

O site da CNBB comenta: Devemos procurar Jesus para que, a partir do encontro pessoal com ele, possamos conhecer o próprio Pai. Quando isso acontece, deixamos de pertencer às coisas da terra, porque assumimos novos valores e encontramos em Deus uma nova motivação para viver: a motivação das coisas do alto. A fonte dessa motivação é o dom do Espírito Santo que é derramado sem medida sobre nós e faz com que reconheçamos nas palavras de Jesus as palavras do próprio Deus, que são fonte de verdadeira alegria e de felicidade eterna para todos os que crêem nelas e as colocam em prática no dia a dia.

Voltar