15 de Julho de 2017 – Sábado, 14° Semana

Leitura: Gn 49,29-32; 50,15-26a

Concluímos hoje a última parte do livro de Gênesis que era a história de José (salvo os capítulos 38 e 49), apresentado no gênero literário de novela, numa trama de família sem intervenção visível de Deus, sem nova revelação, mas toda ela é um ensinamento, claramente expresso no fim (50,20 e já 45,5-8).

Ouvimos hoje sobre a morte de Jacó (=Israel) e de José. Jacó tornou próspero no Egito e sua família multiplicou-se, mas ele declarou para seu filho José que era vice-faraó que não queria ser enterrado no Egito, mas no túmulo de seu pais Isaac e Rebeca e de seus avós Abrão e Sara Assim a redação final expressa a subordinação das tribos do norte (Jacó-Israel às tradições de Abraão, o patriarca do sul (cf. 23,1-20; 35,21-29; 49,29-50,14).

Jacó transmitiu as suas ordens a seus filhos, dizendo: ”Eu vou juntar-me ao meu povo; sepultai-me com meus pais na gruta de Macpela, que está no campo de Efron, o hitita, defronte de Mambré, no país de Canaã. É a gruta que Abraão comprou a Efron, o hitita, junto com o campo, como propriedade funerária. Lá foram sepultados Abraão e Sara, sua mulher, ali se sepultaram também Isaac e sua mulher Rebeca; e foi lá que sepultei Lia”. Quando Jacó acabou de dar suas instruções aos filhos, recolheu os pés sobre a cama e morreu; e foi reunido aos seus (49,29-32).

Jací acabou de abençoar cada um dos seus doze filhos e a “casa de José” (os dois filhos de José: Efraím e Manassé) com um oráculo sobre o destino das doze tribos (49,1-28; não fala nada do Egito; esta bênção vinha logo depois de 35,26). Depois manifesta sua última vontade: “Sepultai-me com os meus pais na gruta de Macpela” (49,29; cf. cap. 23) em Hebron, onde já jazem os ossos de Abraão e Sara, de Isaac e Rebecca e uma esposa de Jacó, Lia (Raquel foi sepultada em Belém, cf. 35,19). Jacó “recolheu os pés sobre a cama e morreu; e foi reunido aos seus”, recolheu os pés porque estava sentado no leito desde 48,2. A expressão “ser reunido aos seus” (49,29.32(33); cf. 25,8) tem origem no costume de enterrar o falecido na sepultura familiar.

José ordenou aos médicos fazer o embalsamento do seu pai que o transformou em múmia, procedimento que durou quarenta dias. Depois de setenta dias de pranto egípcio, com a permissão do faraó, “todos os anciãos do Egito e toda a casa de José” foram a Canaã para enterrar Jacó na gruta de Macpela (vv. 1-14, omitidos na leitura hoje). Em 50,10s, porém, está guardada a memória de um enterro de Jacó na Transjordânia que não fica na rota do Egito a Hebron.

Ao verem que seu pai tinha morrido, os irmãos de José disseram entre si: “Não aconteça que José se lembre da injúria que padeceu, e nos faça pagar todo o mal que lhe fizemos”. E mandaram dizer-lhe: “Teu pai, antes de morrer, ordenou-nos que te disséssemos estas palavras: “Peço-te que esqueças o crime de teus irmãos, e o pecado e a maldade que usaram contra ti”. Nós pedimos, pois, que perdoes o crime dos servos do Deus de teu pai”. Ouvindo isto, José pôs-se a chorar. Vieram seus irmãos e prostraram-se diante dele, dizendo: “Somos teus servos”. Ele respondeu: “Não tenhais medo.  Sou eu, porventura, Deus? Vós pensastes fazer mal contra mim. Deus, porém, converteu-o em bem, para dar vida a um povo numeroso, como vedes presentemente. Não temais: eu vos sustentarei e a vossos filhos”. E assim os consolou, falando-lhes com doçura e mansidão (50,15-21).

A história de José termina retomando 45,1-8. Com a morte do pai, os irmãos de José tinham medo de uma vingança por parte dele (cf. 27,41; 1Sm 24,18; 2Sm 2,5s.8s). O pai reunia os irmãos e os mantinham unidos. Agora que ele veio falecer, ressurgirão as lembranças amargas, se avivará um rancor encoberto e não apagado? Embora tenha ouvido reconciliação, os culpados não superam totalmente o sentimento da culpa. Como dependem de José para a moradia e o alimento, assim dependem de seu perdão para tranquilidade de Espírito.

Para acobertar-se, os irmãos mandaram dizer a José uma última vontade do pai, são “servos do Deus do pai dele” (50,17; cf. 31,53). José chora pela quinta vez (v. 18; cf. 42,24; 43,30; 45,2; 46,29), chora pela preocupação e pelo medo dos irmãos, chora vendo que o consideram capaz de guardar rancor, lembrando o pai. “Vieram seus irmãos e prostraram-se diante dele dizendo ’Somos teus servos’” (v. 18; cumprem-se agora os sonhos de Gn 37,7.9 conscientemente).

José responde com a fórmula clássica “Não tenhais medo” (vv. 19.21). Acrescenta que não usurpará o lugar de Deus: “Sou eu porventura, Deus?” Só Deus deve receber a homenagem da prostração, só dele é a vingança, só ele dispõe de vida e morte, só ele dirige o curso dos acontecimentos da história. José sabe quem é Deus e qual é o projeto de Deus: salvar seu povo. Antes José interpretava o futuro através de sonhos, agora dá a chave de interpretação dos acontecimentos passados (50,20 e já 45,5-8).

Não se trata mais somente da história do pai e dos filhos, mas a maneira como Deus tira o bem do mal, uma teologia mais elaborada e orientada para o problema da salvação do povo (conservar a vida): “Vós pensastes fazer mal de mim. Deus, porém, converteu-o em bem, para dar vida a um povo numeroso” (50,20). A providência se diverte com os cálculos dos homens e sabe transformar em bem o seu malquerer. Não somente José é salvo, mas o crime de seus irmãos torna-se instrumento do desígnio de Deus: a vinda dos filhos de Jacó-Israel ao Egito prepara o nascimento do povo eleito. Sempre a mesma perspectiva de salvação (“salvar a vida de um povo numeroso”, 50,20) que atravessa todo o AT para desembocar e ampliar-se no NT. É um esboço da redenção, como mais tarde o êxodo que vamos acompanhar a partir de segunda-feira próxima.

E José ficou morando no Egito, com toda a família de seu pai, e viveu cento e dez anos. José viu os filhos de Efraim até à terceira geração, e os filhos de Maquir, filho de Manassés, que José também recebeu sobre seus joelhos. José disse aos seus irmãos:  “Eu vou morrer. Deus vos visitará e vos fará subir deste país para a terra que ele jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó”. Depois de tê-los feito jurar e de ter dito: “Quando Deus vos visitar, levai daqui os meus ossos convosco”. José morreu, completando cento e dez anos de vida (vv. 22-26a).

O livro de Gn termina com a morte de José. “Ficou morando no Egito com toda a família do seu pai, e viveu 110 anos” (v. 22; idade ideal de sábio egípcios). Viu ainda os filhos dos seus filhos Efraim e Manassés que “José também recebeu sobre seus joelhos” É um rito de adoção como a de Efraim e Manassés por Jacó-Israel em 48,12 (cf. 30,3). A verdadeira descendência de José, porém, é Efraim.

Os redatores preparam a transição para o livro do Êxodo fazendo as últimas palavras de José serem uma profecia do êxodo: “Deus vos visitará e vos fará subir deste país para a terra que ele jurou a dar a Abraão, Isaac e Jacó” (v. 24; cf. 22,16; 24,7; 26,3; 28,15 e Ex 13,5). E fez jurá-los, “quando Deus vos visitará, levai daqui os meus ossos convosco” (v. 25). Será cumprido em Ex 13,19; Js 24,32. Depois morreu e foi mumificado (cf. v. 26b).

A Bíblia do Peregrino (p. 103) comenta a conclusão de Gn:

Podemos agora olhar par trás e abranger amplo espaço narrativo. No princípio da criação, Deus viu que tudo era muito bom. O mal penetrou, e por ela a morte, o fratricídio. Deus intervém, evita o mal extremo, faz com que o bem vá se impondo. A partir de Abrão, embora continuem a hostilidade e a rivalidade, vai triunfando laboriosamente o bem. A tensão entre Abrão e Ló se resolve pacificamente, a ruptura entre Jacó e Esaú é sanada, José abraça os irmãos. No final, até o mal se põe a serviço do bem. Tal é o desígnio de poder de Deus. Palavra de consolo dirigida ao coração de todos os leitores.

 

Evangelho: Mt 10,24-33

Continuamos ouvindo o segundo grande discurso de Jesus no evangelho de Mt com o tema da missão dos apóstolos. Nos evangelhos dos dias passados já se falava da tarefa de anunciar o reino e das perseguições que podem surgir de dentro (sinagogas) e ou de fora (reis, governadores).

O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo basta ser como o seu mestre, e, para o servo, ser como o seu senhor (vv. 24-25a).

O grande princípio da relação do apóstolo com Jesus (cf. Lc 6,40; Jo 13,16; 15,20) é ser como o mestre (aliás, só existe um; cf. 23,8), nunca deixará de ser servo e discípulo, aprende para servir e servindo aprende. A respeito das perseguições antes mencionadas (vv. 17-22), significa: também os discípulos serão entregues (vv. 17.19.21), açoitados (v.17), levados diante de governadores (v. 18) e mortos (v. 21) como Jesus. Estas experiências sofridas não só farão parte da missão específica em Israel (v. 5s), mas do discipulado em si. Eles seguirão nos passos da paixão do mestre, mas também farão parte da sua ressurreição. Por isso, S. Tomas de Aquino fala do “dom do sofrimento por Cristo”.

Se ao dono da casa eles chamaram de Belzebu, quanto mais aos seus familiares! (v. 25b).

No discurso aos discípulos que também devem expulsar os demônios (vv. 1.8), Jesus aplica o princípio do discipulado. O dono da casa é Jesus, os “seus familiares” são seus discípulos (cf. 12,46-50). Em seguida (no evangelho de amanhã) falará da divisão nas famílias (vv. 34-37) e da nova comunidade (família) no nome de Jesus (vv. 40-42; cf. Jo 15,15).

Já em 9,33, os fariseus acusaram Jesus: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios” e retomarão a acusação em 12,24, chamando o chefe dos demônios “Belzebu”. É um dos nomes tradicionais do diabo, tomado do deus de Acaron em 2Rs 1, onde o nome Beel-Zebul, “senhor príncipe” ou “senhor da morada (celeste)”, é transformado maliciosamente em Baal Zebub, “senhor das moscas”. Atribuir ao diabo (Belzebu) a ação de Deus é para Jesus a máxima blasfêmia e pecado contra Espírito Santo (12,24-32).

Não tenhais medo deles, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido (v. 26; cf. Mc 4,22; Lc 12,3).

É preciso superar o medo na perseguição. Jesus talvez tenha transformado um ditado popular “Tudo acaba aparecendo à luz do dia”, mas refere-se à vinda do reino (v. 7). A questão é, quando se revelará a verdade? Aqui na história ou no juízo final? Pode-se pensar na história (por ex., no Edito de Milão em 313 d.C. pelo qual César Constantino encerrou a perseguição dos cristãos no Império Romano). Mt pensa mais no Juízo final (cf. vv. 15.23.28-31.32s.39.41s)

O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia, e o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados (v. 27).

O servo da sinagoga anunciava o início do sábado tocando o chofar (chifre do carneiro) do telhado mais alto da cidade. Jesus não podia transmitir a sua mensagem senão de maneira velada, porque os seus ouvintes não podiam compreendê-la (cf. o segredo messiânico em Mc 1,34; etc.) e porque ele mesmo não tinha ainda acabado a sua obra, morrendo e ressuscitando. Mais tarde os seus discípulos podiam e deviam proclamar tudo sem medo nenhum. Hoje a imagem do anúncio sobre os telhados corresponde à evangelização moderna usando as antenas de televisão, rádio, internet.

A mensagem de Jesus não é esotérica, embora, por enquanto, seja comunicada a um círculo escolhido. O medo não deve induzir a escondê-la (Jr 1,8.17). Tampouco é propriedade exclusiva. Embora se aprenda privadamente, está destinada aos outros. Como diz Ben Sirac: “Farei brilhar meu ensinamento como aurora para que ilumine as distâncias” (Eclo 24,32). A comparação indica o caráter expansivo da mensagem. O sentido das mesmas palavras em Lc 12,3 é inteiramente diferente: os discípulos não devem imitar a hipocrisia dos fariseus, porque tudo quanto eles quiserem ocultar acabará por ser conhecido ao mesmo modo. Assim o que importava é que falassem abertamente.

Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Pelo contrário, tenham medo daquele que pode arruinar a alma e o corpo no inferno (v. 28).

Uma palavra dessa mostra que os membros da comunidade estavam sendo perseguidos e contavam com o perigo concreto do martírio (cf. 2Mc 6,30). Aparece aqui a distinção grega de uma “alma” imortal e um “corpo” que os homens podem matar, mas o judeu-cristão Mt distingue entre uma vida simplesmente biológica e a vida plena e transcendente. Na Bíblia, a palavra grega psykhé equivale muitas vezes a vida (v. 39; 16,25-26). Aqui, Mt não identifica simplesmente alma e vida; o corpo é aquilo pelo qual o ser humano se exprime, a alma é o princípio que o mantém em relação com o Deus da vida. Interessante é que a alma aqui não é imortal como era tida na antropologia grega. Deus pode arruinar também a alma no inferno (cf. Ap 20,6; 21,8). Este detalhe que parece contrariar a doutrina cristã da imortalidade da alma interpretava-se assim: Deus pode matar a alma humana, mas não o faz, ou: a palavra não é “matar”, mas fazer perecer, destruir, “arruinar”, o que equivale o castigo eterno no inferno. O fogo é símbolo do castigo escatológico, definitivo (cf. Is 66,24; Mc 9,48).

Quem faz arruinar o corpo e a alma no inferno, não é o diabo, mas Deus, e por isso devemos temê-lo. O “temor de Deus”, porém, está relacionado ao amor a Deus (cf. Dt 6,5; 10,12.20; 13,5). O temor e o amor convergem na obediência à sua vontade (expressa na Lei, cf. 6,10; 12,50; 22,36s; Jo 14,21.23; 1Jo 4,16-18). Teologicamente, o temor a Deus está relacionado ao seu poder imenso, sua soberania. O que consola os discípulos não é a imortalidade da alma, mas a soberania de Deus, enquanto o poder dos homens está limitado apenas ao corpo visível.

Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais (vv. 29-31).

Com dois exemplos, Jesus apresenta o poder de Deus que se manifesta na sua providência (cf. 6,26-30p: aves e lírios). O Deus todo-poderoso no céu, que é “vosso Pai”, cuida também dos humildes e pequeninos (cf. Is 66,1-2), até dos pardais. Pardais eram as aves mais baratas no mercado, o frango dos pobres; o preço de dois pardais correspondia ao de um pão. Para estipular o valor de um ser humano precisaria de muitos pardais. “Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais” (v. 31). De ambos, Deus se ocupa paternalmente: um filho de Deus é mais que qualquer animal (cf. Sl 8; 36,7-10). “Nenhum deles cai no chão”, ou seja, nenhum discípulo morre “sem o consentimento do vosso Pai”, o Pai estará presente; sua morte não será em vão ou fortuita, terá um significado.

“Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados” (v. 30). Os cabelos da cabeça são minúsculos e exemplo proverbial de algo incontável (Sl 40,13; 69,5). Tudo está nas mãos de Deus (Sl 31,6.16). Em Lc, as testemunhas de Jesus não perderão “um só fio de cabelo” (cf. Lc 21,18; cf. 12,7; 1Sm 14,45). Deus, o Senhor sobre o corpo e a alma, é também um Pai que ama e sustenta a comunidade no sofrimento, como ela é sustentada pelo Espírito (v. 20) e pelo Senhor ressuscitado (28,20). O poder e o amor de Deus estão juntos, influem o temor de Deus e libertam do medo diante os homens.

Poderia concluir que nada nos acontece por acaso ou sem a vontade do nosso Pai celeste. Mas não quer dizer que Deus queira as guerras, os assaltos, as traições e mortes violentas, etc. O sentido da frase de Jesus é consolar-nos em grandes perigos com a afirmação de que Deus é nosso Pai. Não devemos interpretar essa frase fora do seu contexto e não insistir na especulação sobre a realidade do mundo e o mistério de Deus que ultrapassa os nossos limites (teodiceia).

Portanto, todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante do meu Pai que está no céu. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai que está no céu (vv. 32-33).

Esta frase já concluiu o tema na fonte Q (cf. Lc 12,8-9) que Mt usava aqui. Ele só destaca que o Senhor do juízo será o mesmo “Pai que está no céu” que cuida dos seus e a quem se dirigem na oração (cf. 6,5-14), em contraste está a ruptura em seguida com os pais (familiares) aqui na terra (vv. 35-37).

A “revelação” decisiva (v. 26) acontecerá neste juízo final. Diante do Pai que está no céu, caberá a Jesus como testemunha (“darei testemunho”) reconhecer os seus ou os estranhos (cf. 25,12). O testemunho do discípulo é sua prática da fé que pode incluir derramar o próprio sangue (vv. 26-31; cf. Lc 12,8-9), unindo o próprio destino ao de Cristo. “Negar” Jesus é dizer: “Não conheço este homem” (Pedro em 26,34.74); aos que o renegam, Jesus dirá por sua vez: “Eu não vos conheço” (7,23; 25,12). Não admite a neutralidade nem as concessões, afirma a reciprocidade (no entanto, perdoou a Pedro em Jo 21,15-19; cf. Mt 16,18s). Aos que o seguem na prática, dirá: “Vinde, benditos do meu Pai” (25,34). Jesus é mais do que uma testemunha neste juízo (“eu”), mais do que intercessor (cf. Rm 8,34; 1Jo 2,10), ele é também o “Filho do Homem” a quem o Pai entregou a sentença (25,31-46; cf. Lc 12,8s). Sua palavra decide sobre vida e morte, salvação ou condenação. É a primeira vez que Mt fala da salvação dos discípulos no juízo.

Na história da Igreja, nosso texto animou a confissão de fé diante dos juízes e carrascos deste mundo em tempos de perseguição, depois a profissão da doutrina ortodoxa (Cristo é Deus) frente às heresias (Cristo é só homem etc.). Hoje, o texto convida a professar a nossa fé através da prática da justiça (cf. 6,33), testemunhar Jesus numa existência humilde, indefesa e sofrida, e não ter medo dos homens, mas assumir a missão de discípulos missionários com coragem contando com a providência e o amor do Pai e sua recompensa no reino.

O site da CNBB comenta: Aos homens, é impossível entrar no Reino de Deus, mas para Deus, tudo é possível. A salvação não é obra nossa, é ação divina sobre todos nós e é gratuidade do amor misericordioso do nosso Deus que vem ao nosso encontro. Mas, se é obra divina, por que devemos desenvolver o trabalho evangelizador? É porque o próprio Deus, que é amor infinito e poderia ter feito tudo sozinho, quis que todos nós participássemos da divina missão da salvação da humanidade, fazendo de todos nós colaboradores seus. Para nós, cabe corresponder a esse amor através do nosso sim e do anúncio desse Deus amoroso a todas as pessoas.

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