18 de maio de 2016 – 7ª semana 4ª feira

Leitura: Tg 4,13-17

Na leitura de hoje e amanhã, o autor da carta adverte os homens de negócios. Em dois trechos trata da ânsia de enriquecer-se (leitura de hoje) e das riquezas injustamente adquiridas (5,1-6; leitura de amanhã).

A Bíblia do Peregrino (pag. 2900) comenta: O mestre sapiencial prolonga ensinamentos do AT que nos convidam a distinguir e precisar. Há riquezas que são bênçãos de Deus, como as de Abraão ao voltar do Egito (Gn 13). Há ricos, talvez ilegitimamente enriquecidos que põem sua confiança ou arrogância nas riquezas. Arrogância é declarar que são criação exclusiva do rico, excluindo a intervenção de Deus (Ez 28); confiança é tratá-las como apoio da existência, fazendo as rivais de Deus (Sl 49; 62). Tiago detecta na ânsia de enriquecer-se um esquecimento prático de Deus e da condição humana mortal.

E agora, vós que dizeis: “Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, passaremos ali um ano, negociando e ganhando dinheiro”. No entanto, não sabeis nem mesmo o que será da vossa vida, amanhã! Com efeito, não passais de uma neblina que se vê por um instante e logo desaparece (vv. 13-14).

O autor invectiva a glorióla dos negociantes que fazem projetos inspirados pela corrida em busca de riquezas (cf. Am 8,5; Eclo 11,10s; 38,24-34). Enriquecer-se dentro de um ano é considerado precipitado e suspeito: “Fortuna feita do nada encolhe” (Pr 13,11). Os comerciantes (traficantes) eram malvistos na literatura sapiencial e também pelos profetas (cf. Am 8,5s; Os 12,8; Zc 14,21; Ez 17,4; Is 23,8; Jesus no templo: Mc 11,15-17p; “dinheiro injusto” em Lc 16; “Babilônia” em Ap 18,11-17).

O homem não controla o amanhã: “Não te glories do amanhã, não sabes o que o dia vai gerar” (Pr 27,1; cf. Lc 12,19-20; Mt 6,11.34). Temos aqui o tema sapiencial da fraqueza humana (Sl 90,5s; 102,4; Sb 2,4; 5,9-14), que obriga o homem a colocar a sua confiança em Deus e a submeter-se a ele (v. 7). “Não passais de uma neblina” (ou “vapor, névoa”, nuvem, fumaça; cf. Os 13,3; Sb 2,4; Sl 39,6s.12; 102,4; Sb 5,14).

Em vez de dizer: “Se o Senhor quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo”, vós vos gloriais de vossas fanfarronadas. Ora, toda a arrogância deste tipo é um mal (vv. 15-16).

Daqui vem a expressão portuguesa: “Se Deus quiser”. Entre os protestantes pode-se dizer “com a cláusula de Tiago” para indicar a condição teológica de uma promessa ou projeto (cf. At 15,20).

Ao lado dessas “fanfarronadas” das riquezas (cf. Jr 9,22s; 1 Jo 2,16), o autor da carta reconhece uma justa ufania que procede da fé (cf. 1,9s; Rm 5,2s.11; 1 Cor 1,31; 2 Cor 10,17s; 12,9s).

Assim, aquele que sabe fazer o bem e não o faz incorre em pecado (v. 17).

Este aforismo está ligado de maneira frouxa ao que o precede e constitui uma advertência ao grupo dos negociantes (cf. Lc 12,47s). Não só praticar a injustiça, mas omitir-se de caridade e solidariedade também é pecado.

 

Evangelho: Mc 9,38-40

Não só o desejo de conseguir os primeiros lugares, querer ser o primeiro entre os discípulos (cf. evangelho de ontem) é um obstáculo de entender e seguir o caminho de Jesus, mas também o fechamento e a falta de generosidade como demonstra a continuação do Evangelho hoje.

João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue” (v. 38).

A capacidade de cura em Jesus ganhou tanta fama que seu nome se tornou uma palavra mágica que outras pessoas ou grupos usavam para suas atividades de cura e exorcismo (cf. At 19,13-14). O apóstolo João reclama de um homem que expulsava demônios em nome de Jesus: “Mas nós o proibimos, porque não ele não nos segue” (v. 38). O fato de ser a única vez nos quatro evangelhos que o apóstolo “João” fala aqui sozinho, pode ser mera coincidência, mas existe no quarto evangelho uma tendência dualista, ou seja, fechar-se no seu mundo espiritual contra um mundo mau de fora.

Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (vv. 39-40).

Jesus não resolve o problema, mas dá uma regra generosa: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim” (v. 39). Quem se refere ao nome de Jesus, está ligado a ele de certo modo, mesmo não pertencendo ao grupo dos apóstolos. É um apelo à tolerância que nem sempre foi ouvido na história da Igreja. Quantas vezes foram proibidos, condenados e até mortos diversos grupos ou pessoas que não seguiram em tudo à doutrina oficial.

Jesus conclui: “Quem não é contra nós, é a nosso favor”, mas também diz em Mt 12,30: ”Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, espalha.” Não há contradição, porque em Mc, se fala da tolerância na Igreja (“nós”), enquanto em Mt se trata da mediação única da pessoa de Jesus (“comigo”), único caminho ao Pai (cf. Jo 14,6).

Na visão de Jesus, a Igreja oficial não deve ser uma panela intolerante que exclui e proíbe tudo que não está 100% sob seu controle. Papa Francisco fala que a Igreja não é uma alfândega que quer controlar tudo. O nome (e a pessoa) de Jesus não é uma marca registrada pertencente somente à Igreja Católica, mas pertence à humanidade, e o Espírito sopra onde ele quer, não só onde a Igreja quer. É necessário definir a doutrina para maior clareza e evitar confusão, mas há de reconhecer também que existem elementos de verdade e santidade em outras religiões, embora somente na Igreja Católica encontrem-se todos os meios para salvação. Assim falam os documentos do Concílio Vaticano II (LG, UR, NA) que nos animam no caminho do diálogo inter-religioso (entre religiões) e ecumênico (entre aqueles que crêem em Cristo, ou seja, Igrejas cristãs). A existência de outras igrejas e religiões pode nos desafiar e incomodar, mas por outro lado, a liberdade e a concorrência num mercado (estado) livre estimulam também para melhor qualidade. A Igreja Católica não se deve subestimar, mas também não acomodar na tradição. Jesus quer liberdade e tolerância, generosidade e qualidade.

O site da CNBB comenta: Uma das maiores dificuldades que podemos encontrar para a compreensão da ação divina no mundo encontra-se no fato de querermos submetê-la aos nossos critérios de inteligibilidade, principalmente no que diz respeito à religião institucional. O que acontece é que muitas vezes o agir divino fica vinculado a critérios meramente humanos ou a ritualismos que estão mais para prática de magia, alquimia e bruxaria do que para um relacionamento filial, de confiança e entrega. Outras vezes, esse agir divino é condicionado ao cumprimento de princípios legais que determinam se Deus pode agir ou não. Devemos nos lembrar que o Senhor é Deus e não nós.

 

 

 

Voltar