1º de Outubro de 2019, Terça-feira – S. Teresinha do Menino Jesus: Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém (v. 51).

26ª Semana do Tempo Comum
S. Teresinha do Menino Jesus

Leitura: Zc 8,20-23

No final da primeira parte da profecia (caps. 1-8), Zacarias encorajou mais uma vez o povo para concluir a reconstrução do templo em Jerusalém (no ano 520 a.C.), viver em união, falar a verdade e praticar a justiça. A casa (povo) de Judá deve amar fidelidade e paz (8,9-19). Depois a profecia encerra com os versículos da leitura de hoje ampliando a promessa da volta dos judeus exilados para uma romaria das nações a Jerusalém (cf. Is 56,6s: “Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”; cf. Mc 11,17p).

Isto diz o Senhor dos exércitos: Virão ainda povos e habitantes de cidades grandes, dizendo os habitantes de uma para os de outra cidade: “Vamos orar na presença do Senhor, vamos visitar o Senhor dos exércitos; eu irei também.” Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor (vv. 20-22).

Deus promete ampliar o povo eleito, mediante a agregação dos pagãos. É uma versão menos poética de Is 2,2-5 com alguns decalques verbais. Subsiste, todavia certa limitação do pensamento universalista pelo fato de que é em Jerusalém que todos se devem concentrar. Jerusalém se converte em centro de uma romaria internacional. A aliança de Deus com seu povo vale mais do que poder político e riquezas, por isso também “nações poderosas virão”, não mais para destruir Jerusalém, mas para “orar na presença” (ou aplacar a ira) do Senhor por seus delitos, talvez por terem maltratado os judeus.

Isto diz o Senhor dos exércitos: Naqueles dias, dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá, dizendo: “Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco” (v. 23).

Na Bíblia o número dez representa de modo simbólico ora um grupo numeroso (Lv 26,26), ora uma espécie de corpo constituído (Jz 6,27; Rt 4,2; 2Rs 25,25). Os novos adeptos vêm numerosos e em grupos compactos.

“Um homem de Judá”, lit. um judeu; o termo “judeu” é empregado de maneira corrente só a partir dos livros de Ne e Est (Ne 1,2; Est 2,5; 3,6.10,13). A nota acentuadamente “judaica” deste último oráculo pode indicar uma origem posterior a Zacarias. Nos evangelhos, os doentes procuram tocar a “barra (as franjas) do manto” de Jesus (Mc 5,28p; 6,56; Lc 6,19), como gesto de súplica e fé no poder de cura em Jesus.

Os judeus servem de mediadores, atraindo e guiando outros povos para o Senhor (Is 19,23-25). A frase final faz eco ao nome de Emanuel (“Deus conosco”: Is 7,14; Mt 1,23). Os outros povos devem experimentar que Deus está com seu povo e após as décadas da opressão dará “um futuro e uma esperança” (Jr 29,11).

“Todas as línguas” do mundo estão representadas, invertendo a dispersão de Babel (Gn 11), prefigurando Pentecostes (At 2). A profecia de Zacarias termina com essa tonalidade exaltada. Nos caps. 9-14 do mesmo livro segue-se a obra de outro autor, amparado pelo nome de Zacarias, mas de uma época posterior, do séc. IV a.C. após a conquista do império persa pelo grego Alexandre Magno.

Evangelho: Lc 9,51-56

Nos capítulos precedentes, Lc seguiu o roteiro de Mc, mas a partir do evangelho de hoje, de 9,51 até 18,14, Lc se afasta de Mc e apresenta, no quadro literário fornecido por Mc 10,1, uma subida a Jerusalém (9,53.57; 10,1; 13,22.33; 17,11; cf. 2,38). Ele estende este caminho a Jerusalém por dez capítulos (9,51-18,13), incluindo diversos ensinamentos aos discípulos, parábolas, milagres e controvérsias.

A viagem é balizada por referências sem muita preocupação com a geografia (9,52; 17,11; 18,35; 19,1.28). Lc apresenta aí materiais que hauriu de uma coleção igualmente utilizada por Mt (chamada de fonte Q) e de outras tradições que lhe são próprias. Enquanto Mt desmembrou essa coleção para espalhar os fragmentos por todo o evangelho, Lc preferiu reproduzi-la em blocos, precisamente nesta seção 9,51-18,14, para a qual fornece a contribuição principal. A cena do evangelho de hoje, porém, é própria de Lc.

Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém (v. 51).

Neste versículo começa a parte central do evangelho de Lc, a subida de Jesus para Jerusalém (a capital está 800 metros acima do nível do mar), será o caminho para a cruz e para o céu. O substantivo grego (analempsis) corresponde ao verbo de “arrebatamento” de Elias (2Rs 2,3.5, solicitado em 1Rs 19,4). O significado é “tomar, levar” (em latim assumire); logicamente se aquele que toma está no alto, no céu, tomar é levantar (cf. 2Rs 2,11; Eclo 48,9). A “assunção” ou o “arrebatamento” de Jesus (cf. 2Rs 2,9-11; Mc 16,19; At 1,2.10-11; 1Tm 3,16) compreende os últimos dias de seu destino de sofrimento e os primeiros dias de seu destino glorioso (paixão, morte, ressurreição e ascensão; cf. o significado do “êxodo” em 9,31). Jo empregará para o mesmo conjunto o termo mais teológico, “glorificar” (Jo 7,39; 12,16.23; 13,31s); a crucifixão será para ele uma “elevação” (Jo 3,14; 12,32).

Jesus já sabe o que enfrentará na capital (cf. vv. 22.44), o início desta viagem é um ato consciente e decidido, “tomou a firme decisão”, lit. “endureceu a sua face para…”. Jesus não apresenta moleza, é decidido como o servo sofredor de Deutero-Isaías: “Por isso não me acovardava, por isso endureci o rosto como pedra” (Is 50,7), como a dureza de Jeremias: “coluna de ferro, muralha de bronze” (Jr 1,18), como Ezequiel: “Parti decidido e inflamado” (Ez 2,6).

E enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho, e entraram num povoado de samaritanos, para preparar hospedagem para Jesus. Mas, os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém (vv. 52-53).

A viagem começa solenemente, enviando à frente quem prepare o caminho e alojamento (como João Batista na primeira parte, depois dois discípulos em 19,29p e Pedro e João em 22,8). Logo tropeça em resistência. Desta vez são os antigos rancores dos samaritanos contra os judeus, radicados na conquista do reino do norte pela Assíria (2Rs 17,24-41), rancores esses manifestados no tempo de Esdras quando se opuseram a reconstrução do templo pelos judeus (Esd 4). Os samaritanos têm a lei de Moisés (Torá, ou seja, Pentateuco, os primeiros cinco livros da Bíblia), mas seu templo estava no monte Garizim e não reconheciam o de Jerusalém (cf. Jo 4,20).

Sempre muito mal dispostos para com os judeus (cf. Jo 4,9), os samaritanos deviam mostrar-se particularmente hostis para com os peregrinos que se dirigiam a Jerusalém. Os judeus evitavam as relações com os samaritanos e os odiavam por causa de suas origens bastardas e divergências religiosas (Eclo 50,25-26; Jo 4,9). Assim evitava-se geralmente a travessia de seu território (cf. Mt 10,5). Lc e Jo (4,1-42) são os únicos a mencionar a passagem de Jesus pelo território cismático (cf. 17,11.16). Logo em seguida, a Igreja primitiva imitará o seu Mestre. Jesus rompe com essas querelas (cf. 10,33-37; 17,16-19). Lc deve ver nisto um prelúdio à missão de Filipe na Samaria (At 8,5-25).

Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” Jesus, porém, voltou-se e os repreendeu. E partiram para outro povoado (vv. 54-55).

Tiago e João se mostram verdadeiros “filhos do trovão” (Mc 3,17) que querem aplicar o mesmo castigo que Elias infligia a seus adversários (cf. 2Rs 1,10-12). Numerosos manuscritos acrescentam “como fez Elias” e uma resposta de Jesus: “Não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para perder a vida dos homens, mas para salvá-la” (cf. 19,10). Por enquanto, nem os samaritanos entendem que Jesus vai a Jerusalém para salvá-los (cf. Jo 4). E os discípulos não imaginam que a Samaria será um dos primeiros lugares que eles evangelizarão ao saírem de Jerusalém (At 1,8; 8,1-25). Mais uma vez, Jesus mostra tolerância à divergência religiosa (cf. vv. 49-50p; evangelho de ontem) e não quer usar de violência nem quando é insultado (cf. 6,27-35; 23,34). Jesus é coerente à sua mensagem; na história, a Igreja nem sempre foi (por ex. a inquisição com a pena da fogueira e as cruzadas em terras de outras religiões e etnias etc.).

O site da CNBB comenta: A mentalidade dos homens é bem diferente da mentalidade de Deus e o Evangelho de hoje nos mostra muito bem essa verdade. Deus não abandona o homem ao poder do pecado e da morte, mas vem em seu socorro através do seu próprio Filho que, com sua morte, destrói o pecado e a morte, e conquista para todos nós a vida. Os apóstolos agem de maneira completamente diferente. Diante da resistência do povo da Samaria em receber Jesus, querem que caia fogo do céu e devore a todos. Os homens querem punição e morte, enquanto Deus quer misericórdia e vida.

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