20 de Fevereiro de 2020, Quinta-feira: No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas” (v. 28).

6ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: Tg 2,1-9

A leitura de hoje apresenta exemplo concreto do favoritismo que deforma a comunidade cristã: dar mais atenção ao rico do que ao pobre.

A Bíblia do Peregrino (p. 2896) comenta: Se o AT admite parcialidade, é a favor do desvalido em qualquer situação. A inclinação para o necessitado é um ato de piedade que tempera uma justiça rigorosa, impiedosa; uma justiça abstrata, que impõe uma igualdade mecânica, ignorando as desigualdades humanas; uma justiça que se torna injustiça: summum ius summa iniuria.

Assim é a lei “do reino, de homens livres”, não fundada na escravidão (v.12); faz com que a piedade acompanhe a justiça, como no programa de governo no Sl 101. O autor menciona ricos e pobres como caso típico: ver o agudo e irônico comentário de Eclo 13,1-8. Discriminar, embora não seja feito em contexto de tribunal, tem algo de julgamento, porque se traduz em decisões.

Meus irmãos, a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas (v. 1).

Jesus é definido como objeto da fé dos destinatários desta carta, e assim nos orienta para o reino e a lei dos homens livres (1,25: “lei da liberdade”). A parcialidade e a acepção que fazem diferença entre as pessoas, opõem-se à fé no Senhor Jesus Cristo. De fato, para o cristão existe uma só glória: é a glória do Senhor. No “Senhor Jesus Cristo glorificado” (lit.: “de glória”; cf. 1Cor 2,8: “Senhor da glória”; Paulo identifica o crucificado com Javé; cf. Fl 2,5-11), Deus não tem nenhum favoritismo, particularmente no exercício de juízo (cf. Rm 2,11; Ef 6,9; Cl 3,25; 1Pd 1,17).  É a única menção explícita de Jesus Cristo na carta (fora do título em 1,1); por isso tem valor particular. A partir daí poderíamos identificar com Cristo outras menções de “o Senhor”. A raridade das menções de Jesus poderia ser um reflexo da tradição conservada na Igreja de Jerusalém sob o patrocínio de Tiago, mas formada e adaptada para os judeu-cristãos do mundo grego, para que não se perdessem os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo. De fato, Jesus histórico falava pouco de si mesmo, mas muito de Deus, seu Pai e do seu reino.

Pois bem, imaginai que na vossa reunião entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada, e vós dedicais atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: “Vem sentar-te aqui, à vontade”, enquanto dizeis ao pobre: “Fica aí, de pé”, ou então: “Senta-te aqui no chão, aos meus pés” – não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com critérios injustos? (vv. 2-4).

“Na vossa reunião”, lit.: “sinagoga”. É a única passagem do NT em que a reunião dos cristãos é chamada assim (cf. 5,14). Alguns querem ver aí um indício de que Tiago se dirigia a judeus convertidos ao cristianismo. De fato, a palavra grega sinagoga significa “reunião”. Quando dez homens se reunirem para rezar e ler a Bíblia judaica, é uma “sinagoga”. Para fazer diferença, os cristãos começaram usar a palavra grega ecclesia (Igreja) da raiz “chamar para fora” (para assembleia fora de casa) que vem do hebraico qahal (assembleia).

“Vos tornastes juízes com critérios injustos”, cf. o princípio enunciado pelo rei Josafá na sua reforma da magistratura: “Nosso Deus não admite injustiça, favoritismos, nem subornos” (2Cr 19,7).

Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? (v. 5).

A eleição divina já opera uma transformação da pobreza segundo o mundo em riqueza de fé, enquanto os ricos só acumulam tesouro ameaçado (cf. 1,11; 5,1-3). Os pobres (1,9-10) possuem riqueza e sabedoria verdadeiras (cf. a comunidade em Corinto, 1Cor 1,26-31). Essa eleição inclui a promessa de uma herança escatológica (eterna; cf. as bem aventuranças em 1,12; Mt 5,3p; cf. 11,25-27; 1Cor 6,9s; 15,50; Gl 5,21).

Mas vós desprezais o pobre! Ora, não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? (v. 6).

O autor indica uma distinção: não são os ricos simplesmente que também têm lugar na comunidade, mas os ricos injustos (cf. Mq 3,1-3).

Não são eles que blasfemam contra o nome sublime invocado sobre vós? (v. 7).

O “nome sublime (ilustre, belo)” é o título de cristãos, sinal de pertença a Cristo, cidadãos do seu reino. No AT, o nome de Javé (Senhor) pronunciado sobre uma pessoa atraída sobre ela a proteção divina (Am 9,12; Is 43,7; Jr 14,9). No NT é o nome de Jesus que, invocado, por exemplo, no batismo (At 2,38; 10,48), constitui o único meio de salvação (At 2,21.36; 3,16; 4,12; 9,14.21; 22,16; Rm 10,9-13; Fl 2,11 etc.). Os ricos blasfemam este nome, perseguindo o justo que pertence a Cristo (cf. 5,6; Mt 10,22; 24,9; At 9,5).

Entretanto, se cumpris a lei régia, conforme a Escritura: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, estais agindo bem (v. 8).

A lei régia é a lei do amor; “régia” porque resume (rege) a lei e deve ser seguida pelos cidadãos do reino de Deus e seu messias (messias que dizer rei ungido, Cristo). A citação é de Lv 19,18, citado também em Mc 12,31p; Rm 13,9; Gl 5,14 (cf. a chamada “regra de ouro” em Mt 7,12; Lc 6,31 que se encontra em muitas culturas). Os vv. 8-12 estabelecem equivalência entre esta lei régia, a lei (cf. 4,11) e a “lei da liberdade” (cf. 1,25).

Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e a Lei vos acusa como transgressores (v. 9).

 A lei de Moisés já diz em Dt 1,17: “Não fazeis acepção de pessoas no julgamento” (cf. Dt 16,10); Lv 19,15: “Não farás acepção de pessoas em relação ao pobre, nem te deixarás levar pela preferência ao grande.”; cf. Pr 24,23 e os profetas Am 2,6; 5,7.10; Is 10,2; Mq 3,9.11; Jr 5,28; Ez 22,12). O messias tornará esta justiça imparcial (Is 11,3-5; Jr 23,5s; Sl 72,4.12.14) como o próprio Deus (cf. Gl 2,6).

A Bíblia Sagrada Edição Pastoral (p. 1491) resume: Deus prefere os pobres e, portanto, essa é a única preferência que se justifica na sociedade humana. A dignidade dos pobres repousa no fato de que eles são ricos na fé e herdeiros do Reino (cf. Mt 5,3; 11,25-27). Os ricos são indignos porque difamam o nome, isto é, a própria pessoa de Jesus (cf. At 9,5) oprimindo, perseguindo e distorcendo a justiça contra aqueles que se comprometem com o projeto de Deus. O favoritismo em prol dos ricos não se concilia com a fé cristã, porque se choca com o mais importante dos mandamentos. Segundo o contexto, próximo, aqui, significa o pobre e oprimido. Qualquer tipo de favoritismo em favor do rico não é simplesmente desobediência a um dos pontos da lei de Deus, mas à lei inteira, que se resume no amor ao pobre. O cristão se rege pelo Evangelho, que tem como centro o mandamento do amor (= lei da liberdade, cf. nota em 1,19-25). E este mandamento se realiza na prática da misericórdia, concretizada na preferência pelos pobres e marginalizados, tornando-se a matéria única do julgamento (cf. Mt 25,31-46).

 

Evangelho: Mc 8,27-33

Chegamos a uma parte chave de Mc, por isso há de lembrar que é o evangelho mais antigo, e ao mesmo tempo o mais curto com apenas 16 capítulos. Não apresenta a infância de Jesus nem as aparições do ressuscitado (16,9-20 é um anexo posterior). Mc começa com o batismo de Jesus que revela (somente ao próprio Jesus) quem ele é: o Filho de Deus (1,10s). Isto é a meta deste Evangelho: mostrar que Jesus é o “Cristo, Filho de Deus” (1,1), mas em que sentido?

Na primeira metade do livro, Jesus demonstra seu poder, cura e faz milagres na Galileia até ser aclamado de “Cristo/Messias” por Simão Pedro (8,29). Mas a partir daí Jesus começa anunciar sua paixão e morte em Jerusalém (8,31; 9, 31, 10,33). O segredo do messias e a incompreensão até dos próprios discípulos são características do Ev de Mc.

Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe (v. 27).

Antes de ir ao sul para cumprir sua missão Jerusalém, Jesus e os discípulos encontram-se no ponto mais setentrional de sua trajetória, em Cesareia de Filipe, que era uma cidade construída junto às nascentes do Jordão, em 2-3 a.C., por Herodes Filipe em honra de César Augusto.

No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas” (v. 28).

A pergunta de Jesus força os discípulos a fazerem uma revisão de tudo o que ele realizou no meio de povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus.

O título “profeta”, que Jesus não reivindicou senão de maneira indireta e velada (Mt 13, 57 par; Lc 13,33), mas que as multidões lhe deram sem hesitar (Mt 16,14 par; 21,11.46; Mc 6,15p; Lc 7,16. 39; 24,19; Jo 4,19; 9,17), tinha valor messiânico, pois que o espírito de profecia, extinto desde Malaquias, devia reaparecer, segundo a opinião dominante entre os judeus, como sinal da era messiânica, seja na pessoa de Elias (Mt 17,10-11p), seja sob a forma de uma efusão geral do Espírito (At 2,17-18.33). De fato, no tempo de Jesus sugiram muitos (na maioria falsos) profetas (Mt 24,11.24p; etc.). Quanto a João Batista, esse foi realmente profeta (Mt 11,9p; 14,5; 21,26p; Lc 1,76), mas como precursor vindo com o espírito de Elias (Mt 11,10p. 14; 17,12p); ele negou (Jo 1,21) ser “o profeta”, que Moisés tinha predito (Dt 18,15). Este profeta, a fé cristã só reconheceu na pessoa de Jesus (At 3,22-26; Jo 6,14; 7,40). Contudo, por ter-se disseminado na Igreja primitiva o carisma da profecia, após o Pentecostes (At 11,27), este título deixou, bem cedo, de ser aplicado a Jesus, cedendo o lugar a títulos mais específicos da cristologia.

Então ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias” (v. 29).

Os discípulos, porém, que acompanham e veem tudo que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é “o Messias”.

“Cristo” não é nome, é título, tradução grega da palavra hebraica/aramaica messiah e quer dizer, “ungido”, consagrado por uma unção (crisma – a unção com óleo; cristo – o ungido). Quem foi ungido no AT (Antigo Testamento)? Geralmente reis, sacerdotes e raramente profetas (só 1Rs 19,15-16; Is 61,1; cf. Lc 4,18). Quanto aos membros do sacerdócio, não parece que a unção lhes tenha sido conferida antes da época persa. Os textos sacerdotais antigos a reservavam ao sumo sacerdote (Ex 29,7.29; Lv 4,3.5.16; 8,12). Depois foi estendida a todos os sacerdotes (Ex 28, 41; 30,30; 40,15; Lv 7,36; 10,7; Nm 3,3).

Nos textos históricos antigos, a unção é reservada ao rei (1Sm 10,1s; 16,1-13; 1Rs 1,39; 2Rs 9,6; 11,12). Esta unção confere ao rei um caráter sagrado: ele é o Ungido de Javé (1Sm 24,7; 26,9.11.23; 2Sm 1,14.16; 19,22). Aplicado muitas vezes pelos Salmos a Davi e à sua dinastia, este título tornou-se o título por excelência do rei do futuro, o messias, do qual Davi era o protótipo, e o NT (Novo Testamento) o atribui a “Cristo” Jesus.

A esperança (profecia) do messias inicia-se mil anos antes: em 2Sm 7,12-16 Deus promete a Davi que sua dinastia e seu trono permanecerá para sempre. O oráculo ultrapassa o sucessor de Davi, Salomão, e deixa entrever um descendente privilegiado em que Deus se comprazerá. É o primeiro elo das profecias sobre o messias, “filho (descendente) de Davi” (Is 7,14; 9,5-6; 11,1-5; 42,1; Jr 23,5-6; Mq 4,14; Ag 2,23). Mas a maioria dos sucessores no trono de Davi não seguiu os caminhos de Deus (cf. 1-2Rs), provocando assim a destruição e o exílio. Depois do exílio não havia mais rei da descendência de Davi em Israel. O rei Herodes não era nem judeu (era idumeu, povo vizinho ao sul da Judeia), instituído por imposição de César Augusto. Mas a esperança de um messias salvador que libertasse o povo dos seus opressores igual a Davi, se mantinha viva (e existe até hoje entre os judeus).

Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito (v. 30).

Messias ou Cristo é designação judaica do salvador esperado. Mc compreende esse título no sentido novo que lhe confere sua aplicação a Jesus (9,41; 12,35-37). Em Mc só um homem reconhece Jesus como Messias: Pedro, mas é logo intimado ao silêncio (8,29-30; em Mt 16,17-19 é instituído “Papa” primeiro). Jesus só aprova esse título Messias/Cristo durante seu processo (14,61-62).

Estas imposições de silêncio são particularmente frequentes em Mc (cf. 1,34; 9,9; a respeito dos milagres, cf. também 1,45; 5,43; 7,36s). Muitas vezes tal imposição não é respeitada, como se a irradiação do poder do Filho de Deus não pudesse ser contida. Aos demônios (1,25.43; 3,12), aos curados (1,44; 5,43; 7,36; 8,26) e mesmo aos apóstolos (8,30; 9,9), Jesus impõe, sobre sua identidade messiânica, uma recomendação de silêncio que só depois de sua morte será suspensa (Mc 9,9p; Mt 10,27p).

Como vulgarmente se fazia do messias uma ideia nacionalista e guerreira, muito diferente daquela que Jesus queria encarnar, ele precisava usar de muita prudência, pelo menos nas terras de Israel (cf. 5,19), a fim de evitar infelizes mal-entendidos sobre sua missão (cf. Jo 6,15; Mc 4,10-13p). Essa recomendação do “segredo messiânico” não corresponde a uma tese artificial inventada extemporaneamente por Marcos, como alguns têm afirmado; corresponde, sim, a uma atitude histórica de Jesus, tema sobre o qual, de fato, Marcos insiste, ele mesmo escrevendo durante a guerra Judaica em 70 d.C. Essa recomendação ocorre em Mt e Lc (que escrevem 10 aos depois da guerra Judaica) só nas passagens paralelas a Mc (exceção Mt 9,30), e, com frequência, chegam mesmo a omiti-la.

Esta reação de Jesus não implica, segundo Mc, nenhuma desaprovação quanto ao título de Cristo, que ele vai aceitar em 14,62. Este título fica incluído na norma do silêncio, tanto quando ao “Filho de Deus” (como era considerado o messias, cf. 2Sm 7,14; Sl 2,7) e as demais expressões da fé da Igreja (cf.1,34; 1,44) prematuras, segundo Mc, antes que a missão de Jesus se conclua pela morte e ressurreição (cf. 4,22; 9,9). Para compreender as insistências de Mc no segredo de Jesus, é preciso levar em conta não só as ambiguidades dos títulos messiânicos judaicos, insuficientes para definir a missão de Jesus, como também os progressos da fé da Igreja primitiva e o empenho de Mc em reler a vida terrestre de Jesus à luz da revelação da Páscoa.

Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias (v. 31).

Doravante o ensinamento de Jesus versa sobre o modo pelo qual deve cumprir sua missão (vv. 31-33; 9,30-32; 10,32-34). Tal ensinamento, reservado aos discípulos, empresta unidade a esta parte do livro até 10,45. Caracteriza uma segunda fase da revelação de Jesus, desta vez explícita (v. 32), após a das parábolas e milagres.

“O Filho do Homem deve sofrer muito”. Jesus junta a expressão apocalíptica de “Filho do Homem” (cf. Dn 7,13s) com a profecia de Is 53 sobre o “Servo de Javé”, que devia morrer para salvar seu povo dos pecados. Este texto profético Is 53 sobre o sofrimento do messias (cf. Is 42,1; 61,1), chamado o quarto canto do Servo de Javé, é o ápice de Deutero-Isaias e foi usado muito no anúncio dos primeiros cristãos (citado em Mt 8,17; Lc 22,37; At 8,30-35; 1Pd 2,21-25; cf. Mt 26,28.63; 27,29-31.38s.60; Jo 1,29; 19,5 etc.) para identificar a paixão de Cristo (cf. Sl 22).

“Ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas”, trata-se dos membros do Grande Sinédrio, colégio de 71 membros, que governava o povo judeu. Ele constava dos representantes da aristocracia leiga (“anciãos”), das grandes famílias sacerdotais (“sumos sacerdotes”), entre os quais se elegia o Sumo Sacerdote, e dos “escribas” ou intérpretes da lei (na maioria com tendência farisaica). O Sinédrio era presidido pelo Sumo Sacerdote em exercício, Caifás. Aqui, Mc não diz aqui de que maneira Jesus será morto, mas nos versículos seguintes já deixa claro que a pena de morte será a crucificação (v. 34).

“Ressuscitar depois de três dias”, pode significar “no terceiro dia”, contando sexta-feira, sábado e domingo (o Tríduo Pascal da liturgia começa na Quinta-feira Santa e termina no Domingo da Páscoa). O terceiro dia é tradicionalmente o dia da salvação (Os 6,2; Jn 2,1; Mt 12,40).

Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (vv. 32-33).

A reação de Pedro (cf. 2Sm 20,20; 23,17; 1Cr 11,19) ilustra bem a dificuldade de associar o título de Cristo às perspectivas da paixão e da morte. Talvez isto esclareça a preterição, em Mc, desse título (além dos de Santo e Filho de Deus) até a paixão: o centurião reconhece que o crucificado “era Filho de Deus” (15,39; cf. 1Cor 1,22-24). Opondo-se ao padecimento de Jesus, Pedro endossa o papel de “Satanás” (cf. Jó 1-2), que tenta desviar Jesus da obediência a Deus. Ele abandona a sua posição de discípulo que deve “seguir”, ou seja, caminhar atrás de Jesus (cf. 1,17,20; 8,34).

Em Mc, cada anúncio da paixão é seguido primeiro por uma falta de compreensão dos discípulos, e em seguida por palavras de Jesus, que tira as consequências para seus discípulos (8,32-38; 9,32-41; 10,35-45; cf. Lc 9,23 “para todos”): “renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir” (v. 34).

O site da CNBB resume: A resposta que damos à pergunta que Jesus faz aos discípulos e a cada um de nós no Evangelho de hoje mostra principalmente o significado que ele tem em nossas vidas e exige coerência no relacionamento que nós temos com ele. Para Pedro, Jesus é o Messias, o enviado de Deus, o Ungido, o Salvador, mas Pedro é incoerente no relacionamento, pois não quer submeter-se a ele e aceitar os caminhos da salvação. Assim também acontece conosco: dizemos que Jesus é amor, mas não amamos; que é Deus, mas não o servimos; que é o enviado do Pai, mas não o ouvimos; que é nosso irmão, mas não criamos fraternidade.

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