22 de Julho- Sábado- St.ª Maria Madalena

Leitura: Ct 3,1-4a (ou opcional: 2Cor 5,14-17; cf. comentário de sábado da 10ª semana do tempo comum, ano impar)

O livro Cântico dos Cânticos é uma coleção de cantos populares de amor, usado talvez em festas de casamentos. No século V ou IV a.C., um redator uniu estes textos, formando drama poético e atribuindo-o ao rei Salomão, reconhecido em Israel como patrono de literatura sapiencial. Curiosamente, o livro não usa o nome de Deus, mas fala do amor humano. Mas como o ser humano (homem e mulher) é imagem e semelhança do criador (Gn 1,26-27), e “Deus é amor” (1Jo 4,8.16), podemos entender o amor humano como espelho, sacramento e manifestação do próprio Deus, que se torna presente nas pessoas, nos seres humanos que se amam. Assim a poesia deste livro pode-se ler como parábola que revela o amor de Deus pela humanidade e de Cristo pela sua Igreja.

Nossa leitura é um trecho do capítulo 3 do Cântico dos Cânticos e foi escolhido em função da procura incansável de Maria Madalena pelo corpo do amado Mestre (Jo 20), evangelho de hoje. Nossa leitura mostra que é um canto. Duas vezes o refrão é: “o amor de minha vida: procurei-o, e não o encontrei” (vv. 1.2). Na terceira vez, se inverte: “encontrei o amor de minha vida” (v. 4). Ela se levanta “durante a noite” para procurar o amado e não o encontra, pergunta “os guardas” e (sem nenhuma resposta deles) logo o encontra.

Mas nossa leitura de hoje não nos transmitiu o final de v. 4 que também combina com o gesto de Maria Madalena de tentar agarrar o ressuscitado (cf. Jo 20,17) “Agarrei-o e não vou soltá-lo até levá-lo à casa da minha mãe, ao quarto da que me levou em seu seio” (v. 4b).

Em meu leito, durante a noite, busquei o amor de minha vida: procurei-o, e não o encontrei (v. 1).

Vou levantar-me e percorrer a cidade, procurando pelas ruas e praças, o amor de minha vida: procurei-o, e não o encontrei (v. 2).

Encontraram-me os guardas que faziam a ronda pela cidade. “Vistes por ventura o amor de minha vida?” E logo que passei por eles, encontrei o amor de minha vida (vv. 3-4a).

Os vv. 1-4 formam um todo ao qual está ligado ainda o v. 5 (o mesmo refrão de 2,7; 8,4: “… não desperteis, não acordeis o amor até que ele queira”). O título poderia ser: o amado perdido e reencontrado. É o tema da busca como em 1,7-8; 5,2-8. Aqui o quadro é a cidade e o tempo é a noite. Esta corrida noturna de uma jovem e a decisão de trazer o amigo à casa de sua mãe (cf. Gn 24,67) é são contrárias aos costumes judaicos de modo que se pensou na narração de um sonho. Isso explicaria a incompreensível escapada noturna e o encontro nos becos escuros. Mas os poetas e os enamorados gostam de imaginar condições irreais. A

audácia da busca é a vontade de não deixar o amado partir de novo são provas de um amor

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