22 de outubro de 2017 – 29º Domingo Ano A

 

1ª Leitura: Is 45,1.4-6

A 1ª leitura foi escolhida em vista do evangelho de hoje que apresenta a legitimidade da autoridade civil (César, imperador, estado) em relação a Deus. A separação completa de estado e religião é um fenómeno recente (desde a revolução francesa em 1789), mas já existia uma divisão de funções antiga desde os povos tradicionais (por ex. nas tribos indígenas o cacique-rei e o pajé-sacerdote). Na antiguidade e na Idade Média, muitos reis assumiram o poder religioso (por ex. o faraó como filho do Deus solar), ou autoridades religiosas assumiram o poder temporal (por ex. no Tibete, no estado papal ou ainda hoje os aiatolás no Irã). A leitura de hoje nos apresenta o oráculo e a investidura de um rei da Pérsia (atual Irã), Ciro II (555-530 a.C.).

Isto diz o Senhor sobre Ciro, seu Ungido: “Tomei-o pela mão para submeter os povos ao seu domínio, dobrar o orgulho dos reis, abrir todas as portas à sua marcha, e para não deixar trancar os portões (v. 1).

Também em Israel, o templo em Jerusalém e a dinastia de Davi eram intimamente ligadas; Davi exerceu também funções sacerdotais (cf. Gn 14,18-20; 2Sm 5,13s; Sl 110). O rei em Israel foi chamado “ungido” (hebraico messias; grego christo, de crisma, óleo; cf. Sl 18,51 etc.) e na sua posse considerado “filho” (adotivo) de Javé Deus (Sl 2,7; 2Sm 7,14).

A unção com óleo era sinal da penetração do Espirito Santo de Deus (1Sm 10,1.6; 16,13), investindo um homem para uma missão, quer seja o rei (2Sm 5,3), quer seja o sacerdote (Ex 29,7), quer seja o profeta (1Rs 19,16; Is 61,1).

Os vv. 1-3 (vv. 2-3 omitidos pela nossa liturgia) nos apresentam o oráculo de investidura (cf. os oráculos régios de Sl 2 e 110; sobre Ciro, Esd 1,2-4; 6,3-6). O Senhor (Javé Deus), como verdadeiro soberano da história, dispõe de reinos, reis, cidades e tesouros (vv. 1b-3; cf. Sl 2; 18; 20; 72). “Dobrar o orgulho”, lit. “soltar os rins (cinto)” que carregam as espadas (cf. 1Rs 20,11).

Aqui, pela primeira vez na história do povo escolhido, Deus dirige uma palavra favorável a um monarca estrangeiro, chamando-o “meu ungido”, equiparando-o de certa forma ao monarca davídico. Em Jr 27,6 chamou o rei babilônico Nabucodonosor de “servo” para exercer o castigo divino sobre Jerusalém. Em 597 e 586 a.C., grande parte do povo judeu foi levada ao exílio na Babilônia (cf. 2Rs 24-25).

É lá onde escreve um profeta, dando sequência a Isaías como Segundo (Deutero-) Isaías (Is 40-55), dando esperança aos exilados desanimados: Num novo êxodo poderão sair, porque Deus chamou o rei da Pérsia, Ciro II, para vencer os babilônios (em 539) e deixar os judeus voltarem para sua pátria. Por meio de Ciro, o desígnio de Deus se cumprirá (44,48; cf. 40,13; 41,1-5.25-42,9; 45,1-13; 46,8-13; 48,12-16).

Por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel, chamei-te pelo nome; reservei-te, e não me reconheceste. Eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há deus. Armei-te guerreiro, sem me reconheceres, para que todos saibam, do oriente ao ocidente, que fora de mim outro não existe. Eu sou o Senhor, não há outro” (vv. 4-6).

Os vv. 4-5 são um rito de investidura mencionado: Deus dá “nome” (41,25), título (traduzido aqui por “reservei-te”), insígnia/armas (Is 11,5; 22,21). Ciro não conhece o Senhor (Javé), o Deus de Israel, mas é ungido (messias) em função (“por causa”) de Israel, porque o povo “eleito” é centro da história, não é limite (Jacó=Israel, cf. Gn 32,29; 35,10). É o povo eleito de Israel que transmite o conhecimento do único Deus (cf. Dt 4,6s; Is 49,6; Lc 2,32).

Nos vv. 6-7 continua o hino a si próprio com formulas audazes. A criação é uma realidade polar e existe um só criador: luzes e trevas na ordem natural, paz e desgraça na ordem histórica (v. 7 omitido). Ben Sirac desenvolve essa doutrina (Eclo 39,12-35).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1334) comenta: É um oraculo real de entronização, como os dos Sl 2 e 110: Ciro é chamado “pelo seu nome” (vv. 3.4; cf. 41,25) e recebe o título de “Ungido de Iahweh”, que era reservado aos reis de Israel e que tornou o título do rei-salvador esperado …  O paradoxo consiste em que esse título é dado aqui a um soberano estrangeiro que não conhece Iahweh (vv. 4-5). Este oraculo é curiosamente paralelo de um texto babilônico, o “cilindro de Ciro”, no qual Marduc, que não é um Deus persa, “proferiu o nome de Ciro e chamou-o para dominar sobre toda a terra “. O texto, redigido pelos sacerdotes da Babilônia, foi escrito, como o oraculo do Segundo Isaias, por ocasião da marcha vitoriosa de Ciro, em 538.

A função deste texto de Deutero-Isaías é transmitir esperança aos judeus exilados na Babilônia, fazendo-os acreditar que as campanhas militares de Ciro estavam sob a proteção de Javé, Criador, único Deus e Senhor da história.

É Deutero-Isaías que expressa como nunca antes o monoteísmo exclusivo. No antigo Israel havia ainda crença em vários deuses, mas o Senhor (Yhwh-Javé que se mesclou com o El dos cananeus) era o Deus do êxodo e único a ser venerado (monolatria) pelo povo de Israel. Mas no exílio da Babilônia, o desafio era maior: ou desistir da fé no Deus de Israel longe da pátria e ceder ao politeísmo esplêndido da Babilônia, ou reconhecer a ilusão dos outros deuses (ídolos, um nada; assim negar não só a veneração, mas a existência deles) e proclamar o Deus de Israel como deus universal (“do oriente ao ocidente”), o Deus Criador do universo, o único que existe: “Eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há deus”. No mesmo período, a redação sacerdotal escreveu o poema sobra a criação do único Deus (Gn 1) em que os astros, deuses na Babilônia, são vistos apenas como lâmpadas no céu (Gn 1,14s).

2ª Leitura: 1Ts 1,1-5a

Até o 33º Domingo do Tempo Comum ouviremos agora trechos da carta mais antiga do apóstolo Paulo. Redigida em Corinto cerca de 50-51 d.C., a carta 1Ts é o primeiro documento escrito do Novo Testamento (NT) e do cristianismo.

Na sua segunda viagem missionária, Paulo entrou na Grécia, primeiro país da Europa a receber o Evangelho. Atingido pela perseguição, Paulo teve que deixar às pressas a cidade de Filipos. Dirigiu-se a Tessalônica (At 16,19-40), grande cidade comercial na Macedônia e ponto de encontro para muitos pensadores e pregadores das mais diversas filosofias e religiões. Paulo anunciou o Evangelho e formou aí um pequeno grupo. Mas, perseguido outra vez, tinha que fugir (At 17,1-10) e seu trabalho corria o risco de se esvaziar diante das inúmeras propostas dessa grande cidade. Então, de Atenas, Paulo enviou seu colaborador Timóteo para visitar e trazer notícias dessa comunidade perseguida (1Ts 3,1-2). Timóteo reencontrou Paulo em Corinto (3,6). Ao receber dele a boa notícia de que a comunidade de Tessalônica continuava fervorosa e ativa, ele escreveu esta carta para comunicar a sua alegria e estimular a perseverança da comunidade.

Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, reunida em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: a vós, graça e paz! (v. 1)

A saudação segue os costumes da época: N. a N. deseja X; depois acrescente uma oração, ação de graças ou suplica. O esquema convencional se enche de conteúdo novo, cristão. Embora os remetentes sejam três (os mesmos em 2Ts 1,1), além de Paulo, Silvano (2Cor 1,19; 1Pd 5,12; idêntico com Silas: At 15,22.40-18,5) e Timóteo (At 16,1-3; 17,14s; 18,5; 19,22; 20,4; 1Ts 3,2.6; 1Cor 4,17; 16,10; 2Cor 1,19; Rm 16,21; 1 e 2Tm), um é o autor da carta: Paulo que se apresenta aqui sem mencionar o título de apóstolo.

Destinatário é a “igreja … em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo”. A igreja é a comunidade cristã local formada pelas pessoas que acreditam em Deus e se comprometem com o testemunho de Jesus Cristo. “Igreja” é palavra grega (ekklésia) que designa o grupo de dirigentes nas cidades gregas. Mas corresponde ao hebraico “assembleia (qahal) de Deus (Javé, Senhor)”, que é o povo, cf. Nm 16,3 (contraposto a autoridade); Dt 23,4; Mq 2,5; 1Cr 28,8 (título de Israel). Para Paulo, nesta carta o lugar de Deus ou Javé é ocupado igualmente por Deus e Senhor, o Pai, e o próprio Jesus Cristo (cf. Jo 8,24.27.58; 10,30).

“Graça” (cháris – benevolência) é a uma saudação grega; em chave cristã é o favor de Deus, agora concedido por meio do seu Filho. “Paz” é a saudação hebraica (shalom); em concreto, os peregrinos saúdam Jerusalém com a paz (cf. Sl 122,6-8; 128,5s); o contexto cristão enriquece o conteúdo da palavra (cf. Mt 5,9; 10,12s; Lc 10,5s; Jo 14,27; 20,19.21.26).

Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações (v. 2).

Depois da saudação, Paulo costuma agradecer primeiro (Rm 1,8; 1Cor 1,4; Fl 1,3; Cl 1,3; 2Ts 1,3; 2Tm 1,3; Fm 1,4; cf. Fl 4,6), aqui pela evangelização em Tessalônica.

Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo (v. 3).

Com frequência, Paulo destaca estas três virtudes teologais “fé, amor, esperança” (1Cor 13,13; Rm 5,2-5; Gl 5,5s; Cl 1,4s; 1Ts 5,3; cf. Hb 6,10-12; 1Pd 1,21s). A “fé” é aceitar a vida e ação de Jesus e continuá-las de maneira viva e ativa em obras de caridade (Gl 5,6): o “amor” (agape) é o fraterno que implica solidariedade, partilha, esforço e disposição ao sacrifício (cf. Jo 15,12s); a “esperança” no reino de Deus e na vinda de Jesus (v. 10) torna a comunidade paciente e perseverante. A carta propõe uma transformação do indivíduo e de toda a sociedade.

Sabemos, irmãos amados por Deus, que sois do número dos escolhidos (v. 4).

O judeu Paulo chama os pagãos convertidos de “irmãos”, título cristão, e “escolhidos”. A escolha, um dos termos básicos do AT, é ato do amor de Deus (cf. Dt 7,7-8).

Porque o nosso evangelho não chegou até vós somente por meio de palavras, mas também mediante a força que é o Espírito Santo; e isso, com toda a abundância (v. 5a).

Esta doutrina sobre o anúncio evangélico se estende depois a outros escritos. “Agradecemos a Deus porque acolhestes a sua Palavra que pregamos a vós não como palavra humana, mas como ela realmente é, como Palavra de Deus que age com eficácia em vós que acreditais” (2,13). A pregação não é simples palavra humana, mais vai carregada ou vitalizada com a energia e eficácia do Espírito Santo; por isso é fecundada e produz fruto (cf. Is 55,10s sem menção do Espírito; Rm 15,19; 1Cor 2,4).

 

Evangelho: Mt 22,15-21

Continuamos nas controvérsias de Jesus em Jerusalém, o lugar continua o templo, onde Jesus circulava (até 24,1). Os “sumos sacerdotes e anciãos” que foram derrotados pelas palavras de Jesus (21,15-22,14), saem de cena; por enquanto eles tem medo de prender Jesus por causa do povo que o considerava um profeta (21,45s; cf. 26,3-5). Nos próximos diálogos, as perguntas e os interlocutores vão mudando. Mt segue agora a narração do evangelho mais velho, de Mc.

(Naquele tempo:) Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido de Herodes, para dizerem a Jesus: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências. Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?” (vv. 15-17).

Agora outros adversários entram em ação. Os “fariseus” também fazem parte do sinédrio (conselho que condenará Jesus em Jerusalém), juntos com os “sumos sacerdotes e anciãos” (21,45; 26,59; 27,41.62). Em Mt, os fariseus não são enviados pelos sacerdotes (Mc 12,13), mas eles mesmo “fizeram um plano” e enviam os seus discípulos (na época de Mt, só restaram os fariseus como liderança judaica; não existia mais o templo que foi destruído pelos romanos em 70 d.C.). Na Galileia, eles já tramaram como acabar com Jesus (12,14; em Mc 3,6, juntos com os herodianos), porque ele interpretou a lei de maneira mais liberal e humana, curando no sábado.

Os fariseus eram escribas que instruíam o povo nas sinagogas por todo pais e no exterior. Aqui eles estão juntos “com alguns do partido de Herodes”. Fariseus e herodianos não costumam concordar entre si. Só se unem contra o inimigo comum (Mc 3,6).

Elogiam com hipocrisia a veracidade e a imparcialidade do mestre (cf. Pr 29,5; 28,23; 26,23): “Ensinas o caminho de Deus”, os caminhos traçados por Deus, ou talvez os caminhos que levam a Deus. A pergunta sobre o “imposto a César” é uma armadilha para desacreditar Jesus como colaboracionista dos romanos ou acusá-lo como revoltoso (os zelotes, terroristas como Barrabás; cf. as revoltas por causa do censo em At 5,36s). Os fariseus aceitavam resignados o império romano e seus tributos como castigo divino que cessaria por ação do Messias. Os partidários de Herodes aceitavam e tiravam até proveito da situação atual.

A Bíblia do Peregrino (p. 2369s) comenta: Os discípulos de fariseus podem perguntar fingindo curiosidade inocente e antecipando um elogio; os herodianos são dependentes de um poder estabelecido ou respaldado pelos romanos. Os fariseus em geral não simpatizavam com Herodes. A pergunta tenta conduzir Jesus a um terreno extremamente perigoso. É a vertente econômica da política, na qual entram em jogo a lealdade e a submissão ao poder imperial. Pode ter conotação religiosa porque a inscrição da moeda reza: Tiberius Caesar divi Augusti filius Augustus. Os publicanos andavam às vezes acompanhados por soldados romanos.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1902) comenta: Partidários da família reinante de Herodes, os “herodianos” eram favoráveis aos romanos e, por conseguinte, adversários dos zelotes. Os “fariseus”, por seu lado, consideravam a presença romana como um castigo de Deus e insistiam na piedade pessoal … Além dos impostos indiretos (pedágios, alfândegas, taxas inumeráveis), as províncias pagavam ao Império romano o “tributo”, que era o mesmo para os judeus; só as crianças e os anciãos estavam isentos; ele era considerado como sinal infamante da sujeição do povo a Roma; os zelotes proibiam que seus partidários o pagassem.

Em Mt 17,24-27, Jesus admitiu o pagamento do tributo para o templo através da didracma (moeda grega), mas o imposto a César era para o poder romano pagão. O tributo de César significava no campo econômico a submissão política ao imperador. Se Jesus responde “sim”, os fariseus o desacreditarão diante do povo: não seria profeta nem messias; se ele diz “não”, os partidários da dinastia de Herodes poderão acusá-lo de subversão, já que eles foram expressamente escolhidos para que fossem transmitir à autoridade a declaração hostil a César que, como esperavam, Jesus devia pronunciar.

Jesus percebeu a maldade deles e disse: “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha? Mostrai-me a moeda do imposto!” Trouxeram-lhe então a moeda. E Jesus disse: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?” Eles responderam: “De César.” Jesus então lhes disse: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (vv. 18-21).

Jesus “percebeu a maldade (Mc: hipocrisia) deles” e antes de responder exige que lhe mostrem uma moeda. Os adversários levam uma moeda, fato que prova que eles mesmos fazem uso da moeda imperial, pior ainda dentro da área sagrada do templo (11,27; 12,41; 13,1; 14,49), onde imagens de César não deveriam entrar.

A moeda para pagar o imposto era o denário (moeda de prata que corresponde uma diária, cf. Mt 20,2). A imagem de César na moeda cunhada multiplicava sua presença e circulava na vida econômica cotidiana do país. Além disso, a moeda ostentava símbolos do culto imperial. Desde a época do rei persa Dario, as moedas eram um meio excelente de propaganda. Alexandre Magno começou a cunhar não só símbolos, mas um retrato idealizado do seu próprio rosto (os primeiros “santinhos” da política).

O denário de César Tibério (14-37 d.C., cf. Lc 3,1) traz seu retrato e uma inscrição que o identifica como divi Augusti filius (filho do divino Augusto). Para os judeus, a imagem de Deus era terminantemente proibida e a imagem de reis judeus tradicionais nunca fora usada em moeda (foi usada pelos Asmoneus e pela família de Herodes). A única imagem de Deus é o homem (cf. Gn 1,26s).

A frase de Jesus, por sua forma lapidar e amplidão indiferenciada, tornou-se proverbial e aplicável a múltiplas situações. Mas Jesus não discute a questão do imposto. Ele se preocupa é com o povo: a moeda é “de César”, mas o povo é “de Deus”. O imposto só é justo quando se reverte em benefício do bem comum (cf. Rm 13,1-7). Jesus não é revolucionário igual aos zelotes que faziam ataques terroristas contra o império romano, nem quer justificar qualquer submissão ao sistema vigente.

Jesus aceita o imposto e o imperador, mas ao mesmo tempo os coloca dentro dos limites. Deus é mais do que o imperador, se houver concorrência ou conflito entre os poderes político e divino, há de decidir em favor de Deus (At 4,19; 5,29; cf. o livro do Ap que apresenta o imperador como besta-fera porque persegue os cristãos).

A frase de Jesus incentiva a cidadania e permite uma secularização sadia, ou seja, certa independência de assuntos políticos, econômicos, culturais… (o Concílio Vaticano a chama “justa autonomia das realidades terrestres”, GS 36).  A “separação de estado e igreja” não pode ser total, porque os fiéis da igreja também são cidadãos. Mas a falta desta separação se pode lamentar nos estados islâmicos onde não há tolerância. No Brasil atual se pode aplicar a frase de Jesus assim: O estado é laico, mas o povo é religioso.

O site da CNBB comenta: Dois pontos nos são sugeridos pelo Evangelho de hoje. O primeiro é: por que nos aproximamos de Jesus? Condenamos as autoridades porque mandaram pessoas até Jesus para o apanharem em alguma palavra, mas muitas vezes nos aproximamos de Jesus para a satisfação de nossos interesses pessoais e não para o encontro pessoal com aquele que é nosso Deus e que nos ama com amor eterno. O segundo é: dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, o que significa que César deve dar a Deus o que é de Deus, de modo que Jesus nos mostra também as responsabilidades dos dirigentes das nações em relação a Deus e nós devemos cobrar isso deles.

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