23 de julho de 2017 – Domingo 16º semana – Ano A

1ª Leitura: Sb 12,13.16-19

A 1ª leitura foi escolhida em vista do evangelho de hoje que fala da justiça divina frente ao mal que se espalha junto do bem (a parábola do joio e do trigo). O livro de Sabedoria atribui sua autoria a Salomão (caps. 7-9), mas na verdade foi escrito em grego na cidade de Alexandria no Egito entre de 50 e 30 a.C.. Nesta cidade viviam 200.000 judeus, na maioria pobres e escravos. Era polo de muitos migrantes e considerada um segundo Canaã, com sua cultura grega e administração romana. Os destinatários de Sb são os governantes para que ajam sempre com justiça, e também os intelectuais gregos, para conhecerem melhor a sabedoria de Israel, por fim os jovens judeus que precisavam de uma exortação para manter-se firme nas suas tradições frente a cultura globalizada do helenismo (cultura grega por todo Oriente Médio).

Depois de um convite para justiça (1,1-6,21) e um louvor à sabedoria (6,22-90,18), o autor relembra a ação sábia de Deus na história de Israel, o êxodo do Egito no tempo de Moisés e a conquista de Canãa por Josué. Explica a moderação divina para com Egito (11,15-20) e com Canaã (12,3-11a) e as razões desta moderação (11,21-12,2; 12,11b-18). Assim os castigos (pragas) não são vingança, mas corretivos para quem se desviou do bom caminho (idolatria). Deus não quer a morte, mas que o injusto mude de conduta e aprenda que só Deus é o Senhor, o “amigo da vida” (11,26).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 847) comenta os vv. 3-18: Como justificar a morte dos cananeus causada pela conquista de Israel, narrada nos livros de Josué? Se Deus ama todas as criaturas (11,23-26), como pode exterminar nações inteiras? A justificava é atribuir a culpa aos ritos cananeus, o que serve de advertência aos judeus que simpatizam com os rituais nativos no Egito.

Podemos compara-se esse capítulo especialmente com 6,1-11 (convite aos governantes de agir com retidão porque serão submetidos a um julgamento insubornável de Deus).

Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto (v. 13).

O monoteísmo exclusivo é base desde o exílio babilônico onde o Segundo (Deutero-) Isaías repetiu muitas vezes: “Não há, além de ti, outro Deus” (Is 43,11; 44,6.8; 45,5.14.21; 46,9 …).

A Bíblia do Peregrino (p. 1552) comenta o contexto do capítulo (12,3-22): Esses versículos colecionam grande número de palavras da raiz “just” – (dik-) e da raiz “julg” – (krin-). A esses devem-se acrescentar outros verbos do mesmo sentido … O discurso é paradoxal, pois o autor diz que Deus não precisa de justificação. Deus castiga porque o homem merece (vv. 4-6). Deus perdoa porque é dono de tudo (v. 16), porque compreende o homem (v. 8a), porque é livre e não vítima da paixão (v. 18), para ensinar o homem (vv. 19.22), para animá-lo e dar-lhe esperança (vv. 21-22).

A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente (v. 16).

A Bíblia do Peregrino (p. 1554) comenta: A frase é muito densa e admite várias leituras: princípio criador da ordem da justiça; princípio da instauração e execução de uma ordem histórica de justiça.

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