28 de Novembro de 2019, Quinta-feira: Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima (vv. 27-28).

34ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: Dn 6,12-28

Esta narração exemplar foi construída sobre o mesmo tema desenvolvido no cap.3 (os jovens na fornalha) e pertence à uma série das provas, em vez de fogo (cap. 3), agora as feras. Por fidelidade a Deus, Daniel enfrenta a morte; mas é maravilhosamente libertado, enquanto seus acusadores sofrem o castigo.

A Bíblia do Peregrino (p. 2145) comenta: Deus é posto à prova na pessoa de seu servo, e isso é o mais importante do relato. A prova desse Deus é esta: se ele se pode e quer salvar… O rei tenta “salvar” e “livrar” (v. 15), mas não pode; remete a “salvação” a Deus (v. 17), indaga se pôde “salvar” (v. 21) e o confessa no final (v. 28). A salvação do inocente violentado define esse Deus, e é a sua prova. Num plano, o homem supera a prova do fogo e das feras; em outro plano, Deus supera a prova de “seus fiéis”, que ele não abandona.

Daniel era digno de fé aos olhos do rei (v. 3), Deus é digno de fé para Daniel. Posto à prova, Deus transforma a situação num julgamento de inocentes e culpados. Os leões, presos e não domesticados, aprendem a discernir: recusam ser executores de uma sentença injusta e executam a justa sentença de Deus.

O episódio conhece variações na tradição judaica: os acréscimos gregos de Daniel apresentam outra versão, que se situa em Babilônia numa época indeterminada (14,31-42).

Aproximaram-se, pois, os chefes do reino e encontraram Daniel orando e fazendo preces a seu Deus (v. 12).

No início do cap. (vv. 1-4), o judeu Daniel é promovido primeiro ministro (cf. José no Egito em Gn 41,37-43) na corte do imperador persa Dario (521-486 a.C.). Uma turma anônima de invejosos (“os chefes do reino”, ministros e sátrapas, v. 5) se sente unida no ódio ao estrangeiro judeu que tinha conseguido esta posição na administração real por seu talento e sabedoria. Os adversários conspiram e põem em movimento um mecanismo para destruir legalmente o estrangeiro. Para isso dão três passos. Primeiro, comprometer o rei adulando sua vaidade (vv. 7-10; essa pretensão à divinização do rei encontra-se em Jt 3,8; 6,2; é anacrônica no tempo de Dario, mas no devido lugar sob o rei greco-sírio Antíoco IV Epífanes em 170-164 a.C., época do autor de Dn); segundo, comprometer Daniel contanto com sua fidelidade religiosa; terceiro, fazer condenar e executar Daniel para salvar a autoridade imperial. A Bíblia do Peregrino (p. 2145) comenta: Realmente são eles os verdadeiros leões, que afiam a língua do engano para devorar o inocente, contra o qual lançam redes e põem armadilhas (Sl 7; 17,10-13; 35,11-17).

Daniel, como judeu fiel, não deixa de adorar o Deus verdadeiro. Os judeus durante a perseguição de Antíoco IV Epífanes e os cristãos nos três séculos de perseguição romana, também se recusavam de adorar o rei-imperador, preferindo o martírio a abandonar a fé. Em v. 11, Daniel está rezando no exílio com as “janelas orientadas para Jerusalém” como sinal da sua lealdade à pátria (Sl 5,8; 28,2); não se sente obrigado a repatriar-se. Basta-lhe a oração, sem sacrifício, embora respeite o horário (Sl 141,2). Também os muçulmanos rezam, cinco vezes ao dia, prostrados em direção à cidade de Meca, cidade do profeta Maomé na Arábia Saudita. Os cristãos antigos construíam igrejas orientadas para o leste, esperando a vinda (parusia) de Cristo como o raiar do sol.

Foram ter com o rei e falaram a propósito do decreto: “Ó rei, acaso não assinaste um decreto segundo o qual toda pessoa que, nos próximos trinta dias, diria oração a qualquer divindade ou homem que não sejas tu, ó rei, seria atirada na cova dos leões?” O rei respondeu: “O que dizeis, é verdade, como manda a lei dos medos e persas, e que não se pode violar” (v. 13).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1378) comenta: O rei Dario, tal como apresenta o nosso texto, é um personagem bonachão submetido às exigências de seus cortesões: não se parece de modo nenhum com o autoritário organizador do império persa que os historiadores conhecem. Mas o narrador não procura evocar com realismo a história passada: ele visa ao presente por meio de palavras veladas para proporcionar um reconforto aos judeus perseguidos. Sabe-se que, a partir de 169, o rei Antíoco IV quis obrigar todos os seus súditos a participar do culto ao deus dinástico Baál-Shamêm, identificado com deus grego Zeus Olímpico (2Mc 6,2; 1Mc 1,41-64) do qual ele se considerava a manifestação (dando a Antíoco seu cognome de “deus manifestado” Epífanes, que se lê sobre suas moedas). Nesse quadro histórico, a narração adquire todo o seu sentido: é uma exortação ao martírio e à esperança.

Então eles disseram perante o rei: “Daniel, um dos cativos de Judá, não fez caso de ti, ó rei, nem do decreto que assinaste, mas três vezes por dia ele faz suas preces e orações.” Ao ouvir isto, o rei ficou muito desapontado, e tomou a resolução de salvar Daniel, empenhando-se em libertá-lo antes do pôr-do-sol. Mas aqueles homens instaram com o rei e disseram: “Não te esqueças, ó rei, de que é lei dos medos e persas que não se pode mudar nenhum decreto que o rei tenha promulgado” (vv. 14-16).

A Bíblia do Peregrino (p. 2145s) comenta: O político e o religioso se misturam perversamente na trama. A inveja dos funcionários é de ordem político; não tendo nesse plano recurso para vingar-se, provocam um caso religioso. No terreno da administração, o rei está satisfeito com Daniel, mas fica preso e enredado na estrutura de sua legislação. Quem promulga o decreto acaba escravizado por ele, ainda que seja injusto e contrário a seus interesses políticos. Daí o seu desgosto e o seu desejo de salvar Daniel, vítima de uma instituição absurda e opressiva, que os cortesãos sabem explorar legalmente. O imperador do mundo é escravo.

Então o rei deu ordem para buscar Daniel e lançá-lo na cova dos leões. E disse a ele: “O teu Deus, a quem prestas culto com perseverança, haverá de salvar-te” (v. 17).

O rei não fica nada feliz, mas sente-se obrigado a condenar o inocente (cf. Herodes com João Batista, cf. Mt 14,9; Mc 6,26; ou Pilatos com Jesus, cf. Jo 19). Na intenção do narrador, esta frase poderia ter tom socrático contra Dário; é ambígua de dois gumes.

Trouxeram uma pedra e colocaram-na sobre a boca da cova, que o rei marcou com seu anel e os dos grandes da corte, para que nada se tentasse contra Daniel. O rei retirou-se para o palácio e foi dormir sem cear, e não quis que lhe trouxessem comida; além disso, não conseguiu conciliar o sono (vv. 18-19).

O rei não consegue dormir (cf. Est 6,1), não quis que lhe trouxessem “comida” (ou “mulheres”? outros traduzem “distrações”). Depois deste versículo se enquadraria o episódio de Habacuc, narrado pelo suplemento grego em Dn 14,33-39.

Ao raiar do dia, levantou-se o rei e foi apressadamente à cova dos leões; aproximando-se da cova, chamou por Daniel com voz aflita, e disse: “Daniel, servo do Deus vivo, teu Deus, a quem prestas culto com perseverança, pôde salvar-te dos leões?” (vv. 20-21).

“Deus vivo” é título clássico que implica a rejeição de todos os deuses falsos que não têm vida e de suas imagens (cf. Dt 5,26; Js 3,10; 1Sm 17,26.36; Is 37,4; Jr 10,8-10; Os 2,1; Sl 42,2; 84,3, etc., no NT: Mt 16,16; 26,23; Rm 9,26; 1Ts 1,9; 1Tm 3,15, etc.). Será o Deus de Daniel mais forte do que os leões, cf. Os 11,10: Javé “rugirá como um leão”; Am 3,8: “Ruge o leão, quem não temerá? Fala o Senhor Javé: Quem não profetizará?”

E Daniel respondeu ao rei: “Ó rei, vive para sempre! O meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões; os leões não me fizeram mal, porque, na presença dele, foi provada a minha inocência; tampouco pratiquei qualquer crime contra ti, ó rei.” (vv. 22-23).

O anjo, que aparecia visivelmente no cap.3, é aqui evocado apenas no testemunho de Daniel em v. 23 a respeito de sua própria libertação. Uma alusão ao v. 23 é feita em Hb 11,33 (“fechou a boca dos leões”) segundo a tradução grega da Septuaginta.

Com isso, alegrou-se grandemente o rei; e mandou tirar Daniel da cova; quando o retiraram, nenhuma lesão mostrava ele, porque acreditara em seu Deus. O rei mandou vir os homens que acusaram Daniel, e os fez lançar na cova dos leões, juntamente com seus filhos e suas mulheres; estes não tinham chegado ao fundo da cova, e já os leões caíam sobre eles, esmagando-lhes os ossos (vv. 24-25).

Daniel não sofreu nenhuma lesão (igual aos três jovens saindo do meio do fogo em 3,26s). Os adversários são jogados aos leões “junto com suas famílias” (cf. Nm 16,32; Js 7,24s; Est 9,13s), segundo o antigo costume do princípio da responsabilidade coletiva e da solidariedade no castigo. O final do episódio vai mais longe do que o do cap.3, onde os acusadores se contentavam em constatar a maravilhosa libertação dos jovens.

Então o rei Dario escreveu a todos os povos, nações e línguas que habitavam a terra: “Que vossa paz se multiplique. Está decretado por mim que, em todo o território do meu império, todos respeitem e temam o Deus de Daniel: ele é o Deus vivo que permanece para sempre, seu reino não será destruído e seu poder durará eternamente; ele é o libertador e o salvador, que opera sinais e maravilhas no céu e na terra. Foi ele quem salvou Daniel das garras dos leões!” (vv. 26-28).

A Bíblia do Peregrino (p. 2145s) comenta: O Deus de Daniel, salvando seu fiel servidor, liberta também o rei do cerco de seus funcionários e da pressão legal. Tanto que no final, rezando e confessando o Deus proibido, o soberano viola publicamente seu decreto.

Libertado da sua pressão, o rei pode introduzir um decreto de tolerância religiosa, como fizeram o rei persa Ciro em 539 a.C. (cf. 2Cr 36,23; Esd 1,2-4) e o rei grego-seleucida Antíoco III em 200 a.C., abrindo no seu panteão (santuário de todos os deuses) lugar para esse Deus salvador que se introduziu por meio do primeiro ministro, Daniel (v. 4).

O imperador faz uma profissão de fé israelita: diz com artigo “o Deus vivo” (cf. v. 21; Sl 82) e eterno (Sl 102,13-28) que governa a história por cima dos impérios humanos, sem abandonar um pobre inocente condenado à morte.

A libertação da cova dos leões (como a libertação da fornalha) representa simbolicamente a libertação da morte que é a ressurreição (12,1-3; cf. Hb 11,33): a arte cristã primitiva verá aí a figura da ressurreição de Cristo com certos paralelos: o inocente é invejado por uma parte da elite e condenado à morte por um governador manipulado (Pilatos); a cova (sepultura) foi fechada com uma pedra e lacrada com um selo oficial (Dn 6,18; cf. Mt 27,60.65-66); a busca pelo condenado na cova ao raiar do novo dia (Dn 6,20; Mt 28,1p), mas este está vivo (Lc 24,5) enquanto os inimigos estão (como) mortos, pela intervenção do anjo do Senhor (Dn 6,22.25; Mt 28,2-4.9; Lc 24,5). Motivo para alegria e fé (Mt 28,8; Lc 24,41; Jo 20,20), Deus é mais forte do que a morte. No Sl 22 que Jesus rezou na cruz, aparecem os leões como símbolo da morte (Sl 22,2.14.22; cf. 91,13). Paulo foi “liberto da boca do leão” (2Tm 4,17-18), Pedro vê o mal como leão que nos rodeia (1Pd 5,8-11).

 

Evangelho: Lc 21,20-28

Continuamos ouvindo o discurso apocalíptico de Lc 21. Enquanto Mc escreveu no meio da guerra Judaica (66 a 73 d.C.); para Lc a destruição de Jerusalém (em 70 d.C.), anunciada por Jesus, já é fato consumado, passado. Em vez de medos apocalípticos gerais (Mc 13,19: “uma tribulação como nunca houve”), Lc resume os horrores da guerra acontecidos. O escritor contemporâneo Flávio Josefo mencionou 1.100.000 mortos pela espada e 97.000 levados para escravidão.

Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, ficai sabendo que a sua destruição está próxima (v. 20).

Lc sabe que Jerusalém estava “cercada de exércitos” (cf. 19,43s). Foi o assédio pelas tropas romanas de Tito no ano 70 d.C.. Nos tempos de Jeremias e Ezequiel foram as tropas da Babilônia (587/586 a.C.), agora foram as legiões romanas.

A Bíblia do Peregrino (p. 2526) comenta: Na base se encontra a teimosia pecadora da cidade, não somente um jogo político humano. Já Isaias anunciara um assédio frustrado (cf. Is 29,1-3; 2Rs 25,1). A tragédia passada se repetiu e as predições proféticas, como se não tivessem esgotado seu sentido, recuperam atualidade.

Por volta do ano 80 d.C., Lc escreve como historiador eliminando do texto de Mc (que lhe serve de modelo) a indefinida “abominação de desolação” (Mc 13,14p; refere-se a uma pessoa ou uma imagem de Zeus-Júpiter no templo de Jerusalém, cf. Dn 9,27; 11,31; 1Mc 1,54; 2Mc 6,2) e omitindo a oração “para não acontecer no inverno” (Mc 13,18) e o desejo de “abreviar esses dias”, porque a história já passou.

Então, os que estiverem na Judéia, devem fugir para as montanhas; os que estiverem no meio da cidade, devem afastar-se; os que estiverem no campo, não entrem na cidade (v. 21).

A Bíblia do Peregrino (p. 2526) comenta: A cidade amuralhada já não oferece segurança; os montes oferecem mais segurança, guaridas recônditas (1Mc 2; Sl 11,1), como na primeira fuga de Matatias (1Mc 2). Em tais circunstancias o deserto inóspito pode oferecer refúgio (Sl 55,7-9; Jr 50,8; 51,45).

Lc mantém o apelo para fugir da cidade, ou por fidelidade à sua fonte Mc, ou porque os cristãos de Jerusalém haviam fugido de fato da Judeia e da cidade de Jerusalém para Pela, cidade no outro lado do Jordão (não querendo a guerra eram considerados traidores pelos judeus, enquanto para os romanos continuavam sendo inimigos sendo da mesma raça dos judeus).

Pois esses dias são de vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escrituras (v. 22).

Lc reinterpreta a destruição da cidade e o incêndio do templo como castigo de Deus, como já tinham feito os profetas, porque Jerusalém não reconheceu o tempo de visitação da paz (19,41-44): “dias de vingança” (cf. Dt 32,35; Os 9,7) ou de justiça vindicativa, dia de ira ou de sentença de condenação conforme as Escrituras (cf. Jr 46,10; 51,6; Sl 79,10; Ex 25,14-17; Is 34,8; 61,2; 63,4; ou alusão a Dn 9,26s?).

Infelizes das mulheres grávidas e daquelas que estiverem amamentando naqueles dias, pois haverá uma grande calamidade na terra e ira contra este povo (v. 23).

As “grávidas e as que amamentam” não podem fugir e estão expostas à brutalidade da tropa inimiga (2Rs 8,12; 15,16; Os 14,1; Am 1,13). Em Lc, Jesus, no caminho ao calvário, não lamenta a própria sorte, mas a das mulheres de Jerusalém (cf. 22,27-31).

Serão mortos pela espada e levados presos para todas as nações e Jerusalém será pisada pelos infiéis, até que o tempo dos pagãos se complete (v. 24).

Com realismo, Lc escreve que “Jerusalém será pisada pelos infiéis” (lit. “pisada por pagãos”, cf. Lm 1,10). A Bíblia do Peregrino (p. 2526) comenta o “tempo dos pagãos”: a) com valor positivo, a etapa em que vão se convertendo, segundo a teologia de Paulo (Rm 11,25-26), apoiados no plural grego “tempos, estações” (kairoi); b) com valor negativo, até que chegou a hora deles (Lm 1,21-22; Sl 75,3; Jr 51,33). A nota temporal indica pausa longa, depois da qual chegará o fim.

O que interessa Lc é este novo prazo “até que se cumpram os tempos dos pagãos”. A salvação foi oferecida primeiramente a Israel, agora passa para outros povos, aos pagãos a serem evangelizados (cf. At 18,6; Rm 11,25). Podem ser lembrados os setenta anos de Jr 25,11; 29,10; 2 Cr 36,20-21; Dn 9,1-2, retomados na profecia das setenta semanas de anos de Dn 9,24-27: são cifras simbólicas e misteriosas do tempo concedido por Deus às nações pagãs para castigar a Israel culpado, mas depois este receberá a libertação (cf. Rm 9-11).

De fato, o templo nunca mais foi reconstruído; um santuário muçulmano está no seu lugar (só ficou o muro de lamentação pra os judeus), e Jerusalém até hoje, não está em paz, é disputada como capital pelos israelenses e pelos palestinos.

Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas (vv. 25-26).

Depois da historiografia em termos bíblicos, Lc passa para “apocalipse”, ou seja, “revelação” do que vai acontecer (nos fins dos tempos). O drama interno dos judeus (guerra etc.) já é insignificante.

Informar sobre uma possível data da vinda do reino de Deus, Jesus já se negou em 17,20. Lc não se detém muito em detalhes cósmicos: “Sinais no sol, na lua, e nas estrelas” iniciam a confusão, a angustia, o medo dos homens e das nações, porque o mundo com suas forças não oferece mais segurança.

Tradicionalmente, o cenário cósmico é dividido em três esferas: céu, terra e mar. Nas três sucederão portentos e agitações dispondo o cenário da parusia (volta gloriosa de Cristo).

A Bíblia do Peregrino (p. 2526) comenta: No céu sol, lua e astros, trio clássico (Is 13,9-20; 34, 4-5; Ez 32,7-8); na terra, que Deus “formou habitável” (Is 45,18) e que distribuiu entre as nações (Dt 32,8), acontece a “angustia” dos povos que já não acham segura sua moradia (Is 34,7-8). No mar acontece o retorno à sua condição primordial violenta (Sl 18,5-6.16; Dn 7,2). Os astros seriam as potências que regem a ordem do mundo (Ag 2,6.21).

Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima (vv. 27-28).

Para os cristãos chegará a “libertação” (ou “redenção”, termo paulino, cf. Rm 3,24 etc.), eles não precisam “desmaiar de medo” (v. 26), mas podem “erguer a cabeça e levantar-se” (cf. Sl 3,4; 27,6; 110;7), porque ”verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória.” Lucas contempla a parusia como acontecimento alegre e libertação definitiva.

A origem deste conceito de um “filho do homem vindo nas nuvens” para inaugurar o reino de Deus está num texto chave de Dn 7,13-14 (no ano impar, será a leitura de amanhã) o qual anuncia o seguinte: um “filho do homem”, uma figura humana (não já o quinto animal, cf. Dn 7,2-8) é elevada numa nuvem (não desce) e levada à presença do Ancião, do qual recebe o poder; esta figura humana é, segundo o texto Dn 7,18, a comunidade dos “santos do Altíssimo, que receberão o reino e o possuirão pelos séculos dos séculos”. Na leitura do evangelho, o Filho do homem é indivíduo: o Messias, Jesus, em sua humanidade arquetípica, recebeu de Deus o poder (depois de ascender ao céu) e agora “desce numa nuvem” para “libertar” os seus (cf. 1Ts 4,16s).

O site da CNBB comenta: A libertação verdadeira da pessoa humana é fruto de dois elementos importantes: o primeiro é o seu compromisso pessoal e comunitário com o Reino de Deus e com a comunidade à qual pertence, de modo que a sua vida passa a ser uma constante luta histórica de transformação da realidade tendo como critério os valores do Evangelho; o segundo é a confiança inabalável da presença atuante de Deus na sua vida e na história dos homens como o grande parceiro que está ao lado dos que assumem a luta por um mundo novo. Somente a união entre esses dois elementos pode garantir um processo histórico verdadeiramente libertador.

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