27 de Novembro de 2020, Sexta-feira: O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (v. 33).

34ª Semana do Tempo do Comum 

 Leitura: Ap 20,1-4.11-21,2

Nos últimos capítulos do Ap, as imagens se tornam mais fortes ainda. Ao mesmo tempo, João assegura o auxílio divino aos cristãos aflitos que resistem ao culto do imperador Domiciano que exigia ser adorado como “Senhor e deus”. Não só Babilônia (Roma), a cidade prostituta (idólatra), foi destruída no cap. 18 (leitura de ontem). Em 19,20, também “a Besta foi capturada juntamente com o falso profeta” (o imperador romano com sua máquina de propaganda), “ambos foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (cf. Gn 19,24; Mt 5,22; 18,9; 25,41Mc 9,43). Agora o julgamento atinge também o dragão (Satanás).

(Eu, João,) vi um anjo descer do céu. Nas mãos tinha a chave do Abismo e uma grande corrente. Ele agarrou o Dragão, a antiga Serpente, que é o Diabo, Satanás. Acorrentou-o por mil anos e lançou-o dentro do Abismo. Depois, trancou e lacrou o Abismo, para que o Dragão não seduzisse mais as nações da terra, até que terminassem os mil anos. Depois dos mil anos, o Dragão deve ser solto, mas por pouco tempo (20,1-3).

Depois das duas bestas (“do mar”, o imperador; “da terra”, o falso profeta da propaganda, cf. cap. 13) e seus exércitos, é o seu chefe, o “Dragão”, que é aniquilado. Este dragão perseguiu a mulher (o povo de Deus) no cap. 12, é “a antiga Serpente, que é o Diabo, Satanás” (12,9; cf. Gn 3). Segundo o conceito oriental, a essência se conhece pelo nome. Os nomes do dragão já são conhecidos, por isso é vencido em contraste do messias-juiz, “cujo nome ninguém conhece, exceto ele” (19,12b).

O dragão já foi expulso do céu pelo arcanjo Miguel (12,7-12), agora perde seu poder na terra sendo lançado “dentro do abismo” por um anjo que tinha “a chave do Abismo” (9,1s). “Trancou e lacrou o Abismo”: em chave histórica, Js 10,18-19; em chaves escatológica, Is 24,22. Como quer que se interprete esta frase, é preciso relacioná-la com o seu paralelo (Ap 12,12: “lhe resta pouco tempo”): a ação de Satanás é sempre limitada e destinada ao fracasso final. Pode se comparar com os três anos e meio (cf. 11,2 etc.).

A ideia da força do mal ser acorrentada é antiga (cf. Is 24,21s). Na mitologia persa, a serpente Azhi Dalaka é acorrentada, depois solta para depois ser vencida definitivamente. Talvez este mito tenha influenciado o judaísmo. Aqui, o castigo efetua-se em duas fases: Satanás é reduzido à impotência durante “mil anos”, nos quais reinam os mártires. Depois revoltar-se-á de novo (vv. 7-10) antes da destruição definitiva de suas forças armadas.

O conceito de um “reino de mil anos” nasceu pela junção de duas expectativas apocalípticas independentes. A primeira é nacional: o messias vencerá os inimigos de Israel e estabelecerá um reino de paz que nunca acabará. A outra é universal: imagina-se um juízo universal sobre o mundo que decidirá sobre o acesso no mundo novo de Deus. A expectativa nacional transforma-se num reino temporário que antecederá à ressurreição e ao juízo universal (assim no livro apócrifo 4 Esd 7,26-33 onde não dura 1000, mas 400 anos; depois deste período, até o messias morre). Nos escritos rabínicos, o tempo do messias coincide com o mundo vindouro. Assim também em Ap 20,4-6, porque o reinado do messias não terminará depois dos 1000 anos (cf. 22,5). 1000 é um número simbólico; havia um esquema de uma semana mundial de sete vezes 1000 anos, e os sétimos 1000 anos correspondem ao descanso sabático. Usando este esquema, João quer destacar a posição privilegiada dos cristãos fiéis; já o usou em 14,13: “Felizes os mortos que desde agora morrem no Senhor… que descansem de suas fadigas, pois suas obras aos acompanham”.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2449) comenta estes “mil anos” de maneira diferente:

Esta notação cronológica, que volta nos vv. 3.4.5.6 e 7, é interpretada diversamente. Podem-se distinguir, de modo geral, dois tipos de explicação, ambos ainda hoje representados:

  1. A interpretação chamada milenarista ou, mais exatamente, futurista. Ap anuncia um reino terrestre de mil anos, distinto do reino de Deus. As especulações desenfreadas que esta interpretação ocasionou têm levado os exegetas a defendê-la com mais prudência: eles distinguem aqui o anúncio profético de um cumprimento na história. Deus quer que o próprio mundo, num primeiro tempo do Fim, seja o lugar onde se manifesta a glória da revelação.
  2. A interpretação simbólica ou espiritual: o período visado não deve ser aguardado para o futuro, mas trata-se da época intermédia entre a vinda do Cristo e o Fim. Se os verbos estão no futuro, não se deve ver aí mais do que um recurso tradicional de expressão profética. Com efeito, desde a manifestação de Jesus, Satanás está amassado (cf. Mt 12,25-29). Explica-se, então, a menção aos mil anos, quer como empréstimo a uma cronologia do mundo construída sobre o esquema de uma semana cósmica de 7.000 anos, quer, mais provavelmente, como uma alusão às especulações sobre a permanência do primeiro homem no paraíso: Deus disse a Adão que ele morreria no dia em que comesse do fruto proibido (Gn 2,17), e Adão morreu com a idade de 930 anos (Gn 5,5). Ora, segundo o Sl 90, mil anos são um dia para Deus… o reino dos mil anos significaria então que a vinda de Cristo permite ao crente, desde agora, um verdadeiro acesso à vida paradisíaca (cf. Ap 2,7).

Vi então tronos, e os seus ocupantes sentaram-se e receberam o poder de julgar. Vi também as almas daqueles que foram decapitados por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus e aqueles que não tinham adorado a besta, nem a imagem dela, nem tinham recebido na fronte ou na mão a marca da besta. Eles voltaram a viver, para reinarem com Cristo durante mil anos (v. 4).

Os “tronos” são os assentos do tribunal (Dn 7,9.22). Lit.: “eles se sentaram ali e lhes foi dado o julgamento”. Segundo Mt 19,28p; 1Cor 6,2-3, são os apóstolos e os “santos” que julgarão Israel e o mundo e até os anjos. Mas em Ap, o trono é primeiramente símbolo do poder e só Deus julga. Aqui pode significar que todos os cristãos aflitos (não só os mártires, mas todos os fiéis) recebem “julgamento favorável” e começam reinar (como em Dn 7,22) com Cristo (cf. 3,21), “também as almas aqueles que foram decapitados” (cf. 6,9-11); as “almas” dos mártires é um modo de dizer que estão vivos (“as vidas dos mártires” = os mártires vivos).

Segundo o v. 5, trata-se da “primeira ressurreição”. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2449) comenta: Encontram-se novamente aqui os dois tipos de interpretação evocados a propósito dos mil anos: 1. Trata-se de uma ressurreição (corporal) para o penúltimo período da história da salvação. 2. Deve-se entender esta ressurreição num sentido espiritual: é a vida nova que o Cristo nos dá (cf. Cl 2,12; 3,1).

A Bíblia de Jerusalém (pag. 2325) comenta: Esta “ressurreição” dos mártires (cf. Is 26,19; Ez 37) é simbólica: é a renovação da Igreja depois do término da perseguição romana, com a mesma duração que o cativeiro do Dragão. Os mártires que esperam sob o altar (6,9-11) estão desde agora felizes com Cristo. O “reino de mil anos” é, portanto, a fase terrestre do Reino de Deus, desde a queda de Roma até à vinda de Cristo (20,11ss). – Para santo Agostinho é muitos outros, os “mil anos” se iniciam com a ressurreição de Cristo; a “primeira ressureição” seria então o batismo (cf. Rm 6,1-11; Jo 5,25-28). – Desde a Igreja antiga, uma corrente da Tradição interpretou literalmente este versículo: após uma primeira ressurreição real, a dos mártires, Cristo voltaria sobre a terra para um reino feliz de mil anos, em companhia de seus fiéis. Este milenarismo literal nunca foi favorecido na Igreja.

Nossa liturgia omitiu a descrição da última batalha (vv. 7-10) quando depois de 1000 anos Satanás será solto e reunirá as nações da terra (Gog e Magog) contra a os santos e “Cidade amada” (cf. 21,2). Mas “um fogo desceu do céu e os devorou. O Diabo que os seduzira foi então lançado no lago de fogo e de enxofre, onde já se achava a Besta e o falso profeta. E serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos.”

Vi ainda um grande trono branco e aquele que estava sentado nele. O céu e a terra fugiram da sua presença e não se achou mais o lugar deles (v. 11).

Segundo v. 4 os cristãos fiéis já participam da vida e do reinado de Cristo, mas os outros falecidos “não voltaram à vida até o término dos mil anos” (v. 5b). Serão julgados em seguida (vv. 11-15).

“Alguém sentado”, poderia ser o Messias (3,21; At 10,42; 17,31; 2Cor 5,10 etc.); é mais provável que seja Deus (Mt 18,35; Rm 14,10; a não ser que prefiramos a fórmula de Rm 2,16 “por meio de Jesus Cristo, Deus julgará”). É como em 4,2 (cf. Dn 7,9), que João vê primeiro o trono e depois “aquele que estava sentado nele” (cf. Ez 1,26; Is 6,1). O trono é grande (majestade) e branco (pureza celestial), ao que corresponde que “o céu e a terra fugiram da sua presença”. “Céu e terra” são as clássicas testemunhas notariais de Deus (Dt 32,1; Is 1,2; Sl 50,4): aqui se retiram e deixam só o juiz, que criará outros novos (21,1). O julgamento divino é tal irresistível que o universo não pode subsistir, “não se achou mais o lugar deles” (cf. Satanás em 12,8), significa sua destruição. O vidente não quer descrever como o mundo irá acabar (cf. Mc 13,24p; 2Pd 3,7.10.12), mas destacar a grandeza do juízo de Deus.

Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, em pé diante do trono. Foram abertos livros, e mais um outro livro ainda: o livro da vida. Então foram julgados os mortos, de acordo com sua conduta, conforme está escrito nos livros (v. 12).

Os mortos estão “em pé diante do trono”, era de esperar que ressuscitem primeiro, mas João quer deixar claro que nem todos estão diante do tribunal, só aqueles que “não voltaram à vida até o término dos mil anos” (v. 5b). “Os grandes e os pequenos” (11,8; 13,16; 19,5; 19,18), quer dizer que o juízo é universal e imparcial.

Há uns livros nos quais se registra a conduta, boa ou má (cf. Dn 7,10) e há um “livro da vida” (3,5; 13,8; 17,8; 20,12.15; 21,27 cf. Dn 12,1; Ex 32,32; Sl 69,28s; Fl 4,3) que registra os que alcançarão seu destino à imortalidade. O julgamento se faz segundo as obras (Pr 24,12; Jo 5,28-29). Os primeiros livros abertos contêm as ações boas ou más dos homens; o livro da vida (3,5) contém o nome dos predestinados (3,6; 17,8; 20,12.15; 21,27; cf. Fl 4,3; Dn 7,10; 12,1; At 13,48).

O mar devolveu os mortos que se encontravam nele. A morte e a morada dos mortos entregaram de volta os seus mortos. E cada um foi julgado conforme sua conduta. A morte e a morada dos mortos foram então lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte: o lago de fogo. Quem não tinha o seu nome escrito no livro da vida, foi também lançado no lago de fogo (vv. 13-15).

Nem as profundezas do mar (cf. Mt 18,6p) podem esconder os mortos diante de Deus. O hades (cf. 1,18; Mt 16,18 etc.; em hebraico xeol, cf. Nm 16,33 etc.) é o reino ou lugar dos mortos; a morte é seu senhor supremo (cf. Sl 49,15s). A morte é, segundo Paulo, “o último inimigo” (1Cor 15,26). Segundo Hb 2,14, “o diabo tinha controle sobre a morte”. Depois do julgamento final, a própria morte será reduzia à impotência (cf. 20,10; 21,4 e 20,6). As últimas duas forças da desgraça, “a morte e a morada dos mortos” (cf. 1Cor 15,26.54s), sofrem o mesmo destino do que Satanás e seus ajudantes (19,20; 20,10), “foram então lançadas no lago de fogo”. O lago de fogo é a “segunda morte” (2,11; 20,6; 21,4.8), a morte eterna oposta à morte corporal.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2442) comenta os tormentos de fogo e enxofre (14,10; 19,20; 20,15; 21,8), figura tradicional do castigo dos ímpios: Esta imagem é às vezes associada à da “geena” de fogo e talvez deriva dela (cf. Mt 18,8-9). O vale de Guê-Hinom, que delimitava Jerusalém a sudoeste, tinha sido outrora tristemente célebre por causa do culto de Moloc; os profetas o consideravam como um lugar impuro (cf. 2Rs 23,10; Jr 7,31; 19,5-6; 32,35). Depois do exílio, aí queimavam-se os cadáveres impuros e o lixo. Tal prática influenciou provavelmente as representações ulteriores do castigo escatológico (cf. Is 66,24). Em certos apócrifos judeus e escritos rabínicos, a “geena” designa o lugar de suplício dos ímpios, e vários textos do NT parecem tributários desta tradição e das imagens que a acompanham (cf. Henoc 22,27; 4 Esd 7; Mt 5,22.29; 10,28; 18,9; c 9,43; Lc 12,5; Tg 3,6).

Também os mortos que “não tinha o seu nome escrito no livro da vida” serão lançados no “lago de fogo”. Quantas pessoas irão sofrer esta segunda morte? Ao vidente João não interessa esta pergunta. Ele quer admoestar para perseverança na fé; que seus leitores se cuidem a pertencerem àqueles cujos nomes estão no livro da vida (vv. 12.15) e que participam da primeira ressurreição (vv. 5s).

Todas estas descrições de julgamentos em etapas não querem afirmar uma doutrina de diversos julgamentos separados (que poderiam contrariar outros textos do NT, cf. Mt 25,31-46), mas João usa a dramaturgia com os meios literários da sua época para consolar seus leitores com o reinado de Deus que vencerá mais e mais todas as forças adversas até se manifestar a felicidade completa para seus fiéis.

Vi então um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido (21,1-2).

Nossa liturgia apresenta apenas o início desta nova visão que, no final do livro, mostra a meta da história. Para além do tempo, é a plena realização da Aliança de Deus com a humanidade, numa vida inteiramente imortal. O fim da história é a vida e o amor.

 “Vi então um novo céu e uma nova terra”. O espaço ficou livre para o novo universo (cf. 20,11), a nova criação e a nova cidade para celebrar o casamento do Cordeiro (Jesus, cf. cap. 5), já anunciado em 19,7.9. O universo é descrito com traços conjugados: ausência de males, presença de bens (vv. 3-7).

O mar que desaparece é o oceano primordial, caótico e rebelde (Sl 74,13-14; 93,3-4). “O mar já não existe” porque os antigos o consideravam moradia dos poderes do mal. O mar, moradia do dragão e símbolo do mal, desaparecerá como nos dias do êxodo, mas desta vez para sempre, diante da marcha vitoriosa do novo Israel (15,2s; cf. Is 51,9-10; Jó 26,12-13; Is 27,1).

O início desta nova visão é inspirado em Isaias (sobretudo 51 e 65) com o tema clássico da eliminação da primeira criação e de sua substituição por uma criação nova, a outra ordem. Esta representação da fase última da obra regenerada de Deus já aparece em Is 65,17 e 66,22 e depois na literatura apocalíptica (cf. Henoc 45,4-5;71,1;91, 16; 4 Esd 7,75), bem como no NT (cf. Mt 19,28; Mc 13,24.31; 2Cor 5,17; Cl 3,10; 2Pd 3,13).

Nos profetas antigos, a felicidade messiânica anunciada para o futuro era mais ou menos descrita como um retorno ao paraíso (cf. a paz entre animais em Is 11,6-9). Mas nas obras apocalípticas, sem repudiar as antigas representações (Is 65,25 cita Is 11,7) espera-se uma renovação total. Em Isaias (65,17; 66,22), a expressão era apenas o símbolo da renovação da era messiânica. Em consonância com Cristo (cf. Mt 19,28; 2Pd 3,13), Paulo abre perspectivas mais realistas: toda a criação será um dia renovada, libertada da servidão e da corrupção, transformada pela glória de Deus (Rm 8,19-22).

A humanidade nova é apresentada como “nova Jerusalém”, a “cidade santa“ que Deus vai construir como dom (“desce do céu”) para os homens. É a “esposa do Cordeiro” (21,9), o novo Adão que esposa a nova Eva; realiza-se a nova aliança de Deus com seu povo fiel. Como morada (“tenda”, v. 3; Ex 25,8), esta cidade-esposa acolhe Deus e a comunidade cristã. Aqui, a “cidade santa” designa a Igreja, mas vista em sua realidade gloriosa e ideal. Ela pode chamar-se Jerusalém enquanto lugar (tenda) de reunião do povo consagrado. Ela vem do céu, porque não se trata de uma realização humana, mas de uma comunidade fundada e animada por Deus (cf. igualmente Gl 4,26).

São as novas núpcias de Jerusalém com seu Deus, na alegria e no jubilo (19,7; cf. Is 65,18; 61,10; 62,4-6). E o ideal do êxodo enfim atingido (Os 2,16). No AT, Deus é às vezes chamado de esposo de Israel (Is 54,1-8; Os 2.16-18). O cristianismo adota este simbolismo, embora o modificando um pouco: É Cristo que é o esposo da Igreja (cf. Ef 5,23,25.32; Mc 2,19; Jo 2,1) e as núpcias, realização perfeita da aliança, são esperadas para o fim dos tempos (cf. Mt 22,2; 25,1-13).

A nova Jerusalém como “esposa” está em contraste total com a Babilônia, que era a cidade “prostituta” em Ap 17-18 (na verdade representa Roma com suas sete colinas em Ap 17,9; cf. leitura de ontem). A Bíblia de Jerusalém (p. 2326) comenta: Jerusalém, cidade de Davi, capital e centro religioso de Israel (2Sm 5,9; 24,25; 1Rs 6,2; Sl 122), cidade de Deus (Sl 46,5), cidade santa (Is 52,1; Dn 9,24; Mt 4,5; etc.), cujo coração era a montanha (Sl 2,6), onde o Templo fora construído (Dt 12,2-3), era tida em Israel como a futura metrópole do povo messiânico (Is 2,1-5; 54,11; 60; Jr 3,17; Sl 87,1; 122; Lc 2,38). Foi lá que o Espírito Santo fundou a Igreja cristã (At 1,4.8; 2; 8,1.4; etc.). Aqui ela foi transportada para o céu onde se cumpre o desígnio salvífico de Deus (3,12; 11,1; 20,9; 22,19; cf. Gl 4,26; Fl 3,20; At 2,22-24) quando são celebradas suas núpcias com o Cordeiro (19,7-8; cf. Is 61,10; 62,4-5; Os 1,2; 2,16ss; etc.)

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1526) comenta: João é encaminhada a comtemplar uma nova cidade que vem ao mundo e se apresenta em ambiente todo diverso, o novo céu e a nova terra (cf. Is 65,17-15). Este cenário, livre da dominação e da violência, proclama a presença eterna de Deus no meio da humanidade. O povo das comunidades é chamado a experimentar desde já a esperança e a certeza dessa aliança, na fidelidade ao testemunho de Jesus, e a não ceder diante da covardia e da mentira.

Evangelho: Lc 21,29-33

Continuamos ouvindo o discurso de Jesus sobre o fim do mundo, desembocando na parábola da figueira. Lc não transmitiu a maldição da figueira estéril que simbolizava o fim do templo (Mc 12,12-21p). Como escreve cerca de 80 d.C., ele distingue claramente entre o fim do templo (acontecido em 70 d.C.) e o fim do mundo no futuro.

Jesus contou-lhes uma parábola: “Olhai a figueira e todas as árvores (v. 29).

Lc segue aqui o Ev de Mc, só acrescentando outras, “todas as arvores”. Lc está interessado em “outros discípulos” (10,1) ou “outras mulheres” (24,10). Aqui deve pensar nos sinais em “outras nações”, não só em Israel.

Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração (vv. 30-32).

Lc acrescenta também em v. 31: “o “Reino de Deus está próximo” (cf. 10,9.11; Mc 1,15p; Mt 3,2; 10,7); em Mc e Mt está próximo apenas “o verão”, o que pode se referir ao fim do mundo ou a destruição de Jerusalém com o fim do templo que “esta geração” ainda presenciará (70. d.C.). Em Lc 21,32, “esta geração” (geralmente com significado pejorativo, cf. Mc 8,38; Mt 12,25; Lc 11,29 = Mt 12,39; 16,4; 17,17 = Lc 9,41) pode significar aqui positivamente a nova geração (cf. At 8,33) que se forma na missão da Igreja.

O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (v. 33).

Como Mc e Mt, também Lc afirma solenemente: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”. Todo mundo visível e material passará (cf. Am 8,9; Jr 4,23-26; Is 51,6; Jó 14,12; Ap 21,1), mas a Palavra permanecerá. Já foi dito isso sobre a Lei de Moisés (cf. Mt 5,18; Lc 16,17), agora é a Palavra de Jesus que é eterna (cf. 1Pd 1,25: “A Palavra do Senhor permanece para sempre”, que deu o título, em latim, da exortação apostólica do Papa Bento XVI em 2010: Verbum Domini).

Lc dispensa a advertência de fazer cálculos sobre o fim (Mc 13,32p: “daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, somente o Pai”). Para seus leitores greco-romanos a questão não é a hora quando chegará o fim, mas será que vem mesmo, ou faz sentido de refletir sobre o fim? Para responder isso, basta a afirmação do Senhor.

O site da CNBB comenta: Devemos ser capazes de reconhecer os sinais dos tempos para que possamos perceber os apelos do Reino de Deus na nossa vida, assim como sermos capazes de descobrir a presença de Jesus na história das pessoas. Somente quando somos capazes de analisar os acontecimentos a partir da ótica da fé é que somos capazes de interpretar os fatos como sendo sinal dos tempos e ação da graça divina no nosso dia a dia. Para que isso seja possível, a Palavra de Jesus deve ser o critério fundamental para a interpretação dos acontecimentos.

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