28 de Abril de 2019, 2º Domingo da Pascal – Festa da Misericórdia: Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (v. 27).

 1ª Leitura: At 5,12-16

 

A 1ª leitura nos apresenta o terceiro de três retratos da comunidade primitiva em Jerusalém (cf. 2,42-47; 4,32-35). Enquanto os dois primeiros enfatizaram a partilha de modo que ninguém passasse necessidade, este novo sumário destaca os milagres realizados pelos apóstolos e por Pedro.

Muitos sinais e maravilhaseram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos (v. 12a).

Este terceiro sumário desenvolve o tema do poder miraculoso dos apóstolos (cf. 2,43; 4,33), conforme o pedido de uma reunião precedente “para que se realizam curas, sinais e prodígios” (4,30). Os vv. 12b-14 interrompem a explanação.

Todos os fiéis se reuniam, com muita união,no Pórtico de Salomão. Nenhum dos outros ousava juntar-se a eles,mas o povo estimava-os muito.Crescia sempre maiso número dos que aderiam ao Senhor pela fé;era uma multidão de homens e mulheres (vv. 12b-14).

“Todos (os fiéis) se reuniam, com muita união”; já não se trata dos apóstolos, ao que parece (no texto grego tem apenas “todos”), mas de todos os fiéis como acrescenta nossa tradução.

A igreja-mãe em Jerusalém é uma comunidade definida, diferente, e também aberta. A união dos fiéis já se destacou em 2,1.42.46; 4,32 (apesar de 5,1-11) e sua oração no Templo já em 2,46; 3,1 (cf. Lc 24,53). Lá também ensinaram (5,20s.25.42), “no pórtico de Salomão” (3,12), uma colunata que se estendia por todo lado oriental.

Outras pessoas não se misturam a eles nas suas reuniões no templo; mas os que abraçam a fé no “Senhor” (Jesus) se incorporam a elas. Juntando-se à comunidade, é ao Senhor que se ajuntam: o que sugere uma espécie de identificação entre Jesus e eles (cf. 9,5).

O autor Lc costuma anotar o crescimento da igreja (1,15; 2,41.47; 4,4; 6,7; 11,24; 12,24 etc.). No v. anterior mencionou, pela primeira vez em Atos, o termo “igreja” (4,11; cf. Mt 16,18; 18,17; 1Cor 1,2 etc.) que foi tirada da “assembleia” a antiga aliança (cf. 7,38) para designar a comunidademessiânica (cristã, cf. 11,26). Primeiramente se refere à comunidade em Jerusalém (8,1; 11,22), depois às igrejas particulares da Judeia e redor (9,31; cf. Gl 1,22; 1Ts 2,14) e do mundo pagão (13,1; 14,23; 15,41; 16,5; cf. 1Ts 1,1; 1Cor 1,2 etc.), suas assembleias e locais (19,32; 1Cor 11,18; 14,23s; cf. Rm 16,5; Cl 4,15; Fm 2) como depois à sua unidade teológica e cósmica (20,18; 1Cor 10,32; 12,28; Cl 1,18; Ef 1,23; 5,23-32).

Chegavam a transportar para as praças os doentesem camas e macas,a fim de que, quando Pedro passasse,pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles.A multidão vinha até das cidades vizinhas de Jerusalém,trazendo doentese pessoas atormentadas por maus espíritos.E todos eram curados (vv. 15-16).

Como a medicina e a saúde público não era desenvolvida na época, as pessoas ansiavam por pessoas com poder de curar. Como antes Jesus, agora os apóstolos curam, com sua palavra (3,6-8; 9,40s; cf. Lc 5,24-25p; 8,54-55p) e até com sua sombra (Paulo em 19,11s).

A Bíblia do Peregrino (p. 2636) comenta: O poder curador da sombra de Pedro não é contado como hipérbole. Basta pensar na importância da “sombra” como símbolo no AT, aplicado também ao homem (Jz 9,15; Ct 2,3; Lm 4,20); também nas línguas modernas se conserva como fóssil linguístico “boa/má sombra”). A afluência de doentes recorda a atração de Jesus (Mc 6,56; Lc 4,40) e permite cumprir seu mandamento (Lc 9,2; 10,9).

A Nova BíbliaPastoral (p. 1331) comenta: O texto aponta para a força da união. Uma proposta clara e definida leva as pessoas a optar pelo caminho de Jesus. A comunidade cristã é espaço aberto que acolhe os excluídos e marginalizados em nome de Deus, pelas antigas leis da pureza. Agora, em nome da nova experiência de Deus revelada por Jesus, a comunidade se torna um espaço de cura para os corpos oprimidos pela doença e pela religião excludente.

2ª Leitura: Ap 1,9-11a.12-13.17-19

Durante o tempo pascal do ano C, ouvimos a 2ª leitura do Apocalipse de João.A palavra grega apocalípsis significa “revelação” (cf. 1,1). Trata-se de um gênero literário (desde o livro de Dn) que descreve visões sobre o futuro (o plano de Deus era escondido, mas agora será revelado); na verdade visa o tempo difícil no presente e quer consolar com o projeto de Deus que vencerá na história.

Em Dn, a época difícil era a perseguição da religião judaica pelo rei selucida (grego-sírio) AntíocoEpífanes IV (167-164 a.C.), no Apocalipse de Jo, a Igreja sofreu pela perseguição do imperador romano Domiciano (cerca de 95 d.C.) que queria ser venerado como “Senhor e deus” (no cap. 13, a besta-fera o representa). Como os cristãos foram excluídos da sinagoga no sínodo de Jâmnia (perto de TelAviv) no ano 90, não podiam se valer da isenção da qual gozavam os judeus, mas eram forçados a adorar o imperador ou arriscar sua vida.

Eu, João,vosso irmão e companheiro na tribulação,e também no reino e na perseverança em Jesus,fui levado à ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deuse do testemunho que eu dava de Jesus (v. 9).

Assim, João, o autor do Ap, “fui levado à ilha de Patmos” perto do litoral ocidental da atual Turquia.A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2427) comenta: Trata-se, sem dúvida, de uma sentença de exílio que atingiu o autor em razão de sua fé e sua pregação. O fato de que a revelação tenha sido recebida em Patmos (pequena ilha das Espóradas) não implica que a obra tenha sido escrita aí. Alguns falam de Éfeso.

A Bíblia do Peregrino (p. 2944) comenta: Aquele que fala se apresenta sem categoria nem privilegio, em sua pura irmandade e igualdade. Pelo sofrimento mereceu entrar no “reinado” de Jesus. Padeceu a serviço da palavra ou mensagem de Deus e do testemunho que Jesus Cristo deu, ou seja, do evangelho. Recebe e vai comunicar, por escrito (cf. Is 8,16; Jr 29,1), uma mensagem profética.

“Eu, João”, o autor não é anônimo, na tradição é o apóstolo João, filho de Zebedeu, que teria escrito também o quarto evangelho. Este evangelho, porém, se atribui a uma pessoa anônima o “discípulo amado” (cf. Jo 21,20-24) e contém nada dos acontecimentos dos quais o filho do Zebedeu participa nos evangelhos sinóticos (cf. Mc 1,19s; 3,17; 5,37; 9,2; 13,3; 14,33). Também está escrito num estilo totalmente diferente do Apocalipse. Então, deve tratar-se de três pessoas diferentes: o “apóstolo” João de quem não temos escritos, o “discípulo amado” que fica no anonimato e este “João”, autor do Ap, provavelmente um bispo ou presbítero da Ásia Menor (atual Turquia), conhecido pelas sete igrejas (cf. 1,4.11b) na Ásia Menor às quais escreve (caps. 2-3).

No dia do Senhor,fui arrebatado pelo Espíritoe ouvi atrás de mim uma voz forte,como de trombeta,a qual dizia: “O que vais ver, escreve-o num livro” (vv. 10-11a).

João foi “arrebatado pelo Espírito” (lit. esteve em espírito). A voz da trombeta não é sua (cf. Is 58,1), mas da que lhe manda escrever (Jr 36,28).

Jesus ressuscitou no “primeiro dia da semana” (cf. Mc 16,2; Mt 28,1; Lc 24; Jo20,1.19), que se torna o dia dos cristãos para se reunireme celebrarem a presença do ressuscitado na eucaristia (cf. Jo 20,19.26; At 20,7). “O dia do Senhor”; após o sábado, recebe já seu nome pelo adjetivo derivado de Senhor: Kyriakós, dominicus, domingo.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2427) comenta:A expressão “dia do Senhor” aparece muitas vezes no AT para designar uma intervenção particular de Deus na história; no judaísmo pós-exílico, ela vai tomando um significado sempre mais escatológico. Para os cristãos, os tempos escatológicos foram inaugurados com a ressurreição do Cristo; a expressão “Dia do Senhor” designa ao mesmo tempo a comemoração do triunfo pascal e o anuncio da Parusia, que será sua manifestação plena e definitiva. Muito cedo, as comunidades cristãs celebraram cultualmente, cada domingo, essa comemoração e essa expectativa (cf. At 20,7; 1Cor 11,26 e 16,2).

Então voltei-mepara ver quem estava falando; e ao voltar-me,vi sete candelabros de ouro.No meio dos candelabroshavia alguém semelhante a um “filho de homem”, vestido com uma túnica compridae com uma faixa de ouro em volta do peito (vv. 12-13).

“Sete candelabros de ouro” significam as sete igrejas da Ásia menor (cf. v. 20). É uma referência provável à menorá, o candelabro de sete braços, que estava natenda do Encontro e depois no templo ardia sem interrupção diante de Deus (cf. Ex 25,31-40;27,20-21). Em Zc 4,1-14 descreve-se uma visão onde também aparece o candelabro de ouro, ao lado de outros símbolos que João do Apocalipsevai explorar repetidas vezes (cf. Zc 4,10 e Ap5,6; Zc 4, 3.14 e Ap11,4).

“No meio dos candelabros, havia alguém semelhante a um ‘filho de homem’”. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2427) comenta:Designação simbólica que, sob influência de Dn 7,13-14, foi utilizada na apocalíptica judaica pós-bíblica para indicar um ser misterioso, executor escatológico do desígnio de Deus e detentor de uma autoridade régia e judicial. Na descrição que segue, os diversos símbolos, vários dos quais são também tirados da visão de Dn 7,9-14, contribuem para ressaltar a transcendência, a majestade os atributos desse “filho do homem” ou “filho de homem” no qual se deve evidentemente reconhecer Jesus Cristo.

A “túnica comprida” poderia ser sacerdotal e o cinto (“faixa de ouro”) real (cf. Is 11,5).A Bíblia de Jerusalém (p. 2302) comenta os vv. 12-16 (14-16 omitidos por nossa liturgia).O messias aparece com suas funções de Juiz escatológico, como em Dn 7,13-14 (cf. Dn 10,5-6). Seus atributos são representados por meio de símbolos: “sacerdócio” (representado pela túnica longa, cf. Ex 28,4; 29,5; Zc 3,4); “realeza” (cinto de ouro, cf. 1Mc 10,89; 11,58); “eternidade” (cabelos brancos, cf. Dn 7,9); “ciência divina” (olhos chamejantes, para “sondar os rins e os corações”, cf. 2,23); “estabilidade” (pés de bronze, cf. Dn 2,31-45). Sua majestade é terrificante (brilho das pernas, do rosto, potência da voz). Ele retém as sete Igrejas (as estrelas, cf. v. 20) em seu poder (mão direita) e sua boca está pronta para lançar seus decretos mortais (espada afiada) contra os cristãos infiéis (cf. 19,15; 2,16; e Is 49,2; Ef 6,17; Hb 4,12). No início de cada uma das sete cartas encontram-se um ao outro destes atributos do Juiz, adaptados à situação particular das Igrejas.

Ao vê-lo, caí como morto a seus pés,mas ele colocou sobre mim sua mão direita e disse:“Não tenhas medo.Eu sou o Primeiro e o Último,aquele que vive.Estive morto,mas agora estou vivo para sempre.Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos (vv. 17-18).

João cai “como morto a seus pés” (cf. Ez 1,28; Dn 8,17), mas Jesus o levanta e se apresenta como “Primeiro e último”, abrangendo a totalidade sem termos; cf. Is 44,6 e 48,12, onde a mesma expressão é aplicada a Deus. Aqui ele designa o Cristo, como também em Ap 2,8 e 22, 13. Ele é “aquele que vive” (lit. o vivente), possui a vida como coisa própria (cf. Jo 1,4; 3,15; 5, 21.26; etc.). Aqui o acento é colocado sobre a vida presente do Ressuscitado que estava morto, mas está “vivo para sempre”, porque sua vida depois da ressurreição é perpétua (Rm 6,9; 8,34; Hb 7,24s), e com as chaves, controla esse poder da morte agora antes ilimitado (cf. Os 13,14 interpretado como afirmação em 1Cor 15,54).

O abismo (hebraicoXeol) é o reino, e a morte é o seu senhor: dupla paralela frequente no AT (p. ex. Sl 49,15: “a morte é seu pastor… o abismo é sua casa”). Aqui o autor escreve “a região dos mortos”, lit. hades,nome que os gregos deram ao lugar onde residiam os mortos (cf. Nm 16,33; Mt 16,18). Mas Cristo tem o poder de fazer sair do Hades (cf. Jo 5,26-28)

Escreve pois o que viste,aquilo que está acontecendo e que vai acontecer depois” (v. 19).

A Bíblia do Peregrino (p. 2945) comenta:Alguns dividem o livro em duas partes: separação da igreja do judaísmo (as coisas de agora), perseguição e fracasso de Roma (o que vem depois). Outros o dividem entre a carta e o resto.

“Escreve pois o que viste”; a profecia toma aqui a forma de visões. “Aquilo que está acontecendo” são as coisas presentes mencionadas nas cartas dos caps. 2e 3. O “que vai acontecer depois” são as revelações dos capítulos 4-22.

A Nova Bíblia Pastoral(p. 1508) comenta:Esta visão é fundamental para tudo o que no livro está por vir; notem-se as referências a ela nas cartas dos caps. 2 e 3. É a partir daí que João se põem a escrever e estabelecer o contato com as comunidades. O cenário é de uma possível perseguição que tenha levado João a ilha de Patmos: a visão acontece no momento do culto, quando as comunidades celebram a ressurreição de Jesus. O conteúdo é decisivo para o entendimento do livro todo: Jesus é o vencedor da morte e o juiz que vira no fim dos tempos, e que em Dn 7,13 aparece como o filho do Homem. Jesus está nas comunidades, sustentando-as em meio aos desafios a enfrentar, para darem conta do testemunho. A reação de João mostra claramente as condições de medo e segurança nas quais elas se encontram. Mas o Ressuscitado é o Senhor da vida e da história. Esta é a certeza que João deve comunicar às comunidades, falhando-lhes tanto das coisas presentes (as cartas dos caps. 2 e 3) como das coisas que ainda estão para vir (o restante do livro).

 

Evangelho: Jo 20,19-31

O evangelho de hoje apresenta a aparição de Jesus ressuscitado diante dos discípulos “no primeiro dia da semana”,e depois diante de Tomé “oito dias depois”, ou seja, novamente num dia de domingo.

Nos dois domingos, Jesus apresenta as marcas da crucificação nas mãos e no lado. Uma irmã polonesa, Faustina Kowalska(1905-1938), teve uma visão de Jesus mostrando o mesmo gesto e incentivando-a a divulgar a misericórdia divina. Por isso, o seu conterrâneo, o santo papa João Paulo II, canonizou em 2000 a irmã e declarou este domingo o da “Divina misericórdia”.

O quarto evangelho narra que “no primeiro dia da semana”, Maria Madalena “viu” o túmulo vazio (vv. 1-2; cf. Mc 16,1-7); Pedro e o outro discípulo, que Jesus amava, verificaram o túmulo (vv. 3-10; em Lc 24,12, Pedro sozinho); o discípulo amado (suposto autor do evangelho, cf. 21,24) “viu e acreditou”. Em seguida, o próprio Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (vv. 11-18). Ela foi anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor” (v. 18). Como os discípulos reagiram a este anúncio pela mulher? Jo nos diz nada a respeito (cf. Lc 24,11).

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana,estando fechadas, por medo dos judeus,as portas do lugar onde os discípulos se encontravam,Jesus entrou e pondo-se no meio deles,disse: “A paz esteja convosco” (v. 19).

Como em Lc 24, a aparição diante dos discípulos acontece em Jerusalém e é a segunda no mesmo dia, “o primeiro da semana” (futuramente chamado pelos os cristãos: “domingo”, dies dominicus = dia do Senhor).

Os discípulos tinham fechados “as portas do lugar onde se encontravam” (pela tradição era o lugar da última ceia, o cenáculo no andar superior, cf. Lc 22,11s; At 1,13) “por medo dos judeus”, quer dizer, das autoridades judaicas que condenaram Jesus, não do povo em geral (os próprios discípulos eram judeus). Mas o Ev de Jo generaliza, sua comunidade estava sendo perseguida pelos “judeus” que excluiram os cristãos da sinagoga no ano 90 d.C. (9,22; 16,2).

Mas o Cristo ressuscitado acabou de vencer a morte; o seu corpo não pode ser barrado pelas barreiras deste mundo, nem por uma pedra no túmulo, nem por portas fechadas que aqui servem para demonstrar mais o podersobrenatural do corpo do ressuscitado.

Como em Lc 24,36, Jesus pronuncia a saudação costumeira da paz (“shalômalehem”) que só na boca do ressuscitado ganha sentido pleno (vv. 19.26; cf. 14,27): ele venceu o mundo com todos seus inimigos e medos (16,33; cf. 1Jo 5,4s).

Depois destas palavras,mostrou-lhes as mãos e o lado.Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor (v. 20).

O relato em Lc 24,36-42 parece ter servido de modelo: a aparição de Jesus diante dos discípulos no mesmo dia e a saudação de paz; como primeira prova mostra as mãos (em Jo também o lado, cf. 19,34), para não ser uma ilusão, alucinação, fantasma ou espírito desencarnado. Como segunda prova, come um pedaço de peixe assado (Lc 24,42s); em Jo, a segunda prova será o convite a Tomé de tocar nas marcas dos pregos, vv. 24-29 (e o peixe assado encontramos no anexo de Jo 21,9-14).

Jesus identifica-se com as marcas da cruz. O ressuscitado é o crucificado, não é outra pessoa nem outro corpo, nem apenas a alma. Como ressuscitado, Jesus levou suas chagas para eternidade, fazem parte da sua identidade, como a cruz é seu símbolo que virou a bandeira da vitória (cf. 1Cor 1,23s).

A reação dos discípulos é a alegria “por verem o Senhor”; agora eles sabem que é o próprio Senhor. Como ele havia prometido em 16,16-20, agora voltou depois de uma breve separação e dá a alegria. O medo e a tristeza dão lugar a alegria (cf. Mc 16,8; Mt 28,8), mas ainda continuam portas fechadas na comunidade da Igreja que Jesus vai superar (cf. v. 26).

Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados;a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (vv. 21-23).

No Ev de Jo, Jesus é o Enviado (missionário) do Pai (3,34; 5,23s etc.; cf. 9,7), agora o Filho envia os discípulos no mesmo movimento (o Filho fez o que viu do Pai, os discípulos devem fazer o que viram e ouviram de Jesus, cf. 5,19).

Em Jo acontece tudo de vez: sua Páscoa já é Pentecostes. Nos outros evangelistas, acontece mais em etapas: a aparição (“ver Jesus”, testemunho ocular), o envio (missão da Igreja) e o dom do Espírito (capacidade para esta missão; cf. At 1-2). Como o Pai enviou seu Filho, Jesus ressuscitado envia os apóstolos e dá o mesmo Espírito de Deus, o Espírito Santo.

Dando o Espírito, Jesus atua como o Pai na criação do ser humano (Adão), formado de barro: “Soprou nas narinas, e Adão tornou-se um ser vivo” (Gn 2,7). O Espirito vivificante renova a Igreja, a ressurreição equivale uma nova criação (cf. Ez 37,1-14; 2Cor 5,17; Rm 8,11; cf. o significado do “primeiro dia da semana”, aludindo ao início da criação, da luz: Mt 28,1p e Gn 1,3-5).

Assim será a missão dos apóstolos igual a de Jesus: não condenar, mas perdoar, salvar (3,17). Em Mt 28,19 é para batizar e ensinar (com o batismo, os pecados são perdoados, cf. At 2,38; Lc 24,27). Perdoar pecados é privilégio divino (Mc 2,7p), mas como enviados de Jesus e com o Espírito divino, os apóstolos têm poder para isso. E quando não perdoarem, não haverá perdão sem eles? Deus é sempre maior, mas eles devem se empenhar para transmitir e viver este perdão e a reconciliação de maneira radical como fez Jesus, até entregar sua própria vida como Cordeiro que tira o pecado do mundo (1,29).

Podemos comparar estes vv. com a terceira parte dos credos da missa: o Espírito Santo e suas obras: Igreja e comunhão, batismo e remissão dos pecados, ressurreição e nova vida (eterna). O Espírito de Deus e de Jesus simboliza paz (a pomba em Mc 1,10p; cf. Is 42,1-4). Paz e nova vida só haverá, se tiver o perdão e não continuar a vingança (cf. a dificuldade de reconciliar famílias desunidas ou nações inteiras em guerra, p. ex. no Oriente Médio).

Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze,não estava com eles quando Jesus veio (v. 24).

“Tomé, chamado Dídimo”, era um dos doze apóstolos. Dídimo é tradução grega do nome hebraico Tomás (=Tomé) e significa “gêmeo”. Como os outros apóstolos, deve ser natural da Galileia, provavelmente pescador (21,2), embora sua dúvida no evangelho de hoje o faça parecer como cético moderno que só quer acreditar em evidências e provas científicas. No evangelho de Jo, além de crítico, Tomé é sincero, espontâneo, com caráter impulsivo, como o de Pedro, com o qual tem certas semelhanças. Mateus, Marcos e Lucas, os três primeiros evangelistas, apenas o recordam na lista geral dos doze apóstolos (Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15 e At 1,13). O evangelho de João, porém, refere-se a Tomé em quatro episódios (11,16; 14,15; 20,24-28; 21,2). O Evangelho de hoje apresenta o terceiro e mais extenso episódio. Ele está na mesma situação que nós hoje: ouve a mensagem da ressurreição, mas não viu Jesus.

Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!”. Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregose não puser a mão no seu lado, não acreditarei”(v. 25).

Como antes Maria Madalena(v. 18), agora os discípulos afirmam: “Vimos o Senhor” (cf. 14,19; 16,16; 21,7). Tomé, porém, não acredita na palavra deles (cf. Lc 24,11), quer ver para crer. Tomé quer identificar Jesus pelas marcas corporais da crucificação que os outros devem ter mencionado no seu relato (cf. 20,20).

Na narração, Tomé ainda estava sob o impacto da Sexta-feira Santa: a prisão de Jesus, os golpes dos soldados, a flagelação, a crucificação e o furo com a lança do soldado que verificou a morte (19,34). Tomé quer certificar-se com os próprios dedos e as próprias mãos, apalpando as chagas das mãos e do peito. Não exige um milagre para acreditar. O papa Bento XIV (séc. 18) disse quem determina se é milagre ou não, é a ciência. Se ela chegar à conclusão que algo não pode ser explicado por nenhuma causa natural, física, humana, então é milagre.

Todos os evangelhos apresentam narrações que querem mostrar a realidade da ressurreição. Contudo, como a ressurreição é meta-história, é impossível prová-la (como é impossível provar a existência de Deus, porque ele é metafísico; provar só se pode coisas deste mundo). É uma questão de fé, não de ciência. Mas a ressurreição de Jesus também não está totalmente fora deste mundo (no fim do mundo), porque se situa a partir de certo momento da história e de certas pessoas que a testemunham e anunciam.

Em defesa (apologia) da ressurreição, Mc apresentou o túmulo vazio; Mt acrescentou o suborno de soldados que vigiavam o túmulo lacrado; em Lc, Pedro verificou o túmulo vazio e o ressuscitado come um peixe para mostrar aos discípulos que não era um fantasma. Em Jo, Pedro verificou os panos de linho dentro do túmulo e Tomé quer uma prova empírica de que os apóstolos não sonharam nem alucinaram nem se enganaram nem mentiram. Ele representa a dúvida de qualquer pessoa de fora, daquela época e de hoje, “que não estava presente quando Jesus veio” (v. 24).

Agora Jesus será identificado pela cruz (cf. Mc 16,6p). Já em Lc 24,39, o próprio ressuscitado convida para tocar suas mãos e seus pés para os discípulos verificarem que não é um fantasma. Em Jo 20,20.27 trata-se da continuidade entre o Jesus que sofreu e o Jesus que está sempre com eles (cf. Hb 2,18). Tomé conhecia bem o rosto de Jesus, mas pede somente tocar nas chagas que são sinais de um infinito amor (15,13) e foram gloriosamente conservados.

“Jesus pode agora ser reconhecido mais por suas feridas do que por sua face. Os sinais que confirmam a sua identidade são acima de tudo as suas chagas, nas quais ele revela o quanto nos amou. Nisso o Apóstolo não está errado” (Bento XVI).

Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa,e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco” (v. 26).

Importante é a data “oito dias depois”, quer dizer, é domingo novamente, o “primeiro dia da semana” em que os discípulos (e a comunidade dos leitores) se reúnem e Jesus ressuscitado se faz novamente presente na fração do pão, i.é. na celebração da eucaristia (At 20,7). A maneira como o evangelista colocou esta data, já é um reflexo do costume dos primeiros cristãos de se reunirem e celebrarem o domingo, mais do que o sábado (cf. Mc 2,27s; 3,4; Jo 5,17 etc.). “Domingo” (do latim dies dómini) significa: “dia do Senhor” (cf. Ap 1,10) por causa da ressurreição do Senhor. Hoje em dia, todas as igrejas cristãs celebram o domingo como dia sagrado (exceto os Adventistas do sétimo dia que voltaram ao costume judaico de celebrar o sábado).

Como antes no v. 19, “as portas estavam fechadas”, mas já não se mencionao medo dos judeus. Novamente, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse (pela terceira vez): “A paz esteja convosco”.

Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (v. 27).

Jesus se apresentou no meio de todos, exatamente como no domingo anterior. Não dedica a Tomé uma aparição a sós: é no meio da comunidade que poderá ver Jesus e professar a fé. Também na aparição de Mt 28,16s, “alguns duvidaram”, e Jesus veio “aproximando-se deles”

Diferente de Maria Madalena (v. 17), Jesus concede a Tomé de tocar nele. Como que desafiando, Jesus aceita submeter-se à prova exigida, mas exige fé: “Põe o teu dedo aqui … e não sejas incrédulo, mas fiel”. O ressuscitado não foge da prova empírica, mas necessária não seria para fé, porque Tomé podia ter chegado à fé antes dela, como? Acreditando nos outros apóstolos.

O evangelho não diz se Tomé verificou ainda com o tato ou se contentou com o ver. Importante é que as chagas do crucificado estão em destaque outra vez. O corpo torturado do homem Jesus permanece o templo de Deus (cf. 2,19-22). A unidade entre o verbo divino (logos, 1,1s) e o homem de Nazaré, iniciada pela encarnação (1,14) não foi suspensa, nem pela morte. O verbo não volta ao céu deixando o corpo atrás como embalagem vazia.

Em Jo, o sofrimento na cruz é chamado de (início da) glorificação (cf. 12,23; 17,1), portanto o ressuscitado na sua glória não pode ser outro do que o homem sofrido. Sobre o lado aberto pela lança (19,34), Pedro Canísio diz: “Abrindo-me o teu corpo, deu-me de beber a água da fonte, agora estou salvo!” No quadro pintado a mando da Ir. Faustina, do lado aberto do ressuscitado saem dois raios, um azul-branco (água) e outro vermelho (sangue).

Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28).

Agora Tomé pode pronunciar a profissão mais sublime em todo este evangelho: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28).A profissão de fé em Tomé é plena. No judaísmo depois do exílio, “meu Senhor” (adonai)substituia o nome não pronunciado de Javé (Yhwh). “Meu/nosso Deus” é título clássico da aliança. Os dois títulos estão unidos em Sl 35,23: “Desperta, levanta-te em minha defesa, meu Deus e meu Senhor, em minha causa” (os dois verbos, “despertar, levantar”, aludem à ressurreição). Com esta profissão de Tomé chegam ao cume todas as afirmações do caráter divino de Jesusao longo do evangelho (cf. 1,34; 3,35; 6,69; 9,33; 10,30.36.38; 14,7.9ff; 16,27; 17,11.21).

Jesus não substitui o Deus de Israel, mas ele é Deus no sentido de 1,1-18: Sendo o verbo divino, o encarnado participa da divindade e representa Deus no mundo. Neste sentido, no judaísmo helenista, também Moisés podia ser chamado “deus para Israel” (cf. Ex 14,31; Nm 12,6-8; Jo 1,18). O ressuscitado é para Tomé e para todos quantos desdobrem no crucificado a presença divina, o “seu Deus”.

A fórmula usada por Tomé pode demonstrar uma crítica à ideologia dos imperadores romanos que se deixavam chamar “senhor e deus” (p. ex. Domiciano, a besta-fera do Ap 13) para se apresentarem como representantes dos deuses. Para um cristão, porém, o poder divino não pode ser representado por nenhum rei ou imperador, mas somente por Cristo.

“Mais nos serviu a incredulidade de Tomé do que a fé dos discípulos fiéis” (S. Gregório Magno). A dúvida do cético dá lugar à fé em Jesus, Senhor e Deus (cf. 1,1.14; 8,24.27.57; 10,30; 13,19; 18,6). Tomé tornou-se testemunha ocular também. Da realidade do ressuscitado, Tomé podia ter se verificado com seus olhos e suas mãos, e hoje poderia ainda fazer exames com aparelhos científicos. Tomé era incrédulo pedindo provas palpáveis, somente crê nos milagres indubitáveis; que ironicamente, pela sua teimosia, acaba sendo testemunha excepcional. Serve de aviso para todos os que no futuro terão de crer por sua palavra, pela mediação do testemunho apostólico dos que “viram”, ou seja, conviveram com Jesus (cf. 1Jo 1,1-3: “o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos e nossas mãos tocaram…”).

Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (v. 29).

Jesus não repreendeu a Tomé, também os outros discípulos “viram” Jesus oito dias antes. O “ver” devia levar a “crer” (cf. 1,14; 1,39.50s; 2,11; 4,48; 6,2; 11,45), O evangelista não dispensa sinais que ajudam acreditar (cf. 20,8: o discípulo amado diante dos lençóis no túmulo vazio,“viu e creu”), mas muitos dos que viram Jesus (não como ressuscitado), não creram (6,26.36; 15,24).Tomé está agora junto com os outros discípulos que viram e acreditaram (1,34; 9,37f; 19,35; 20,8).

Ao mesmo tempo, Jesus fala indiretamente que o tempo dos testemunhos oculares acabou. Felicita aqueles que não poderão mais vê-lo, mas acreditarão (cf. a definição da fé em Hb 11,1). A atuação visível de Jesus chegou ao fim, afora poderiaterminar o livro do evangelho em 20,30s.

A profissão de fé feita por Tomé e a declaração final de Jesus finalizam a versão original do evangelho de João (cap. 21 é um acréscimo evidente, cf. o final do evangelho em vv. 30-31 e outro em 21,25). Igual aos finais dos outros evangelhos, dirige-se o olhar ao futuro (como em 17,20). Os apóstolos têm tido uma função especial, a de testemunhas oculares para dar testemunho do ressuscitado. Os futuros terão de aceitar esse testemunho e crer. Para eles há uma bem-aventurança especial (1Pd 1,8). Tomé representa o leitor que não participou da aparição. Na dúvida de Tomé, os leitores devem reconhecer a sua própria; através desta narração devem desistir a exigir provas palpáveis que não são mais possíveis (como para Tomé foram concedidas), mas chegar a mesma conclusão de fé como Tomé.

O nome de Tomé aparece outra vez no anexo de João numa lista de sete apóstolos a caminho da pesca milagrosa (21,2). Seu nome está em segundo lugar, depois de Simão Pedro! O cap. 21 foi acrescentado para esclarecer melhor o papel de Pedro como primeiro dos apóstolos (21,15-19), porque na versão original do evangelho se falava pouco dele, mencionava mais outros apóstolos. Pedro aparece mais vezes só no relato da paixão (e não muito favorável, cf. 13,6.8.36-37; 18,10.15-18.25-27; 20,2-10); antes, só fala uma única vez professando sua fé em 6,68, enquanto os outros também a professam, antes e depois: André já em 1,41; Natanael em 1,49; os samaritanos em 4,42; o cego curado em 9,38; Marta em 11,27 e Tomé em 20,28.

Tomé, desligado do grupo dos “doze”, representa um papel importante. Fora da comunidade, estamos em perigo de duvidar, dentro da comunidade reencontramos o ressuscitado e a fé. De certo modo, devemos ser críticos e não acreditar em qualquer coisa, em qualquer pessoa, em qualquer religião. No testemunho dos apóstolos, porém, há de se acreditar, porque antes eram fracos na fé, mas depois da ressurreição de Jesus deram sua própria vida pela sua fé. S. Tomé também era “mártir” (palavra grega que significa simplesmente “testemunha”, mas no sentido atual é alguém que deu testemunho com seu sangue, com sua vida). A tradição afirma que Tomé foi para o oriente (Síria, Iraque, Pérsia e Índia), onde foi martirizado. Os cristãos caldeus no Iraque (hoje tal perseguidos) e os de rito malabar no sul da Índia se consideram “discípulos de São Tomé”.

Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (vv. 30-31).

Estes dois vv. são o primeiro final do evangelho (mais tarde, uma redação eclesial acrescentou mais um capítulo com outro final: 21,24s). O termo “sinais” se refere no contexto próximo às aparições do ressuscitado, mas também à toda atividade anterior de Jesus (cf. At 1,1-3). A seleção desses sinais “neste livro” não é negativa, mas serve para promover a fé em Cristo (não é uma pesquisa histórica sobre Jesus no sentido moderno, mas um livro sobre seu significado). Quem crer em Jesus, se abre àquele que tem vida divina em si (5,21.26), ou seja, quem é a vida em pessoa (11,25).

A Bíblia do Peregrino (p. 2619) comenta: O epílogo descreve o livro como antologia ou seleção e declara sua finalidade. O evangelho mostrou sete sinais milagrosos, em várias ocasiões falou de “sinais” no plural (ver 11,47; 12,18) feitos diante dos discípulos como testemunhas. A finalidade do escrito é suscitar a fé (não satisfazer a curiosidade). Na forma absoluta, com dativo ou acusativo, com partículas, o verbo “crer” se repete sem cessar no evangelho, sendo uma das palavras dominantes. Pela fé se alcança a vida autêntica e perdurável que Jesus dá. Também “vida” é palavra-chave do evangelho. 

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2092) comenta: Trata-se sobretudo do progresso na fé dos que já pertencem à comunidade dos crentes; mas não exclui uma intenção missionária. A fé se refere essencialmente a Jesus, e reconhecido em sua condição de Filho de Deus e em sua missão de Messias, ele dá aos que creem verdadeiramente a vida eterna em comunhão com ele (cf. 1,12-16; 3,16 etc.).

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