13 de Janeiro de 2020, Segunda-feira: Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus (vv. 16-17).

1ª Semana do Tempo Comum 

Leitura: 1Sm 1,1-8

O Tempo Comum deste ano par (II) inicia com leituras de livros históricos sobre a ascensão de Davi até a divisão do reino depois de Salomão. Estes livros 1-2Sm e 1-2Rs, juntos com Js e Jz (cf. ano ímpar) pertencem a história deuteronomista cuja redação que foi influenciada pela teologia de Dt. É um relato mais ou menos contínuo, apresentando a história do povo desde a conquista da terra até o exílio na Babilônia. Tais livros mostram que a história de Israel depende da atitude que o povo toma na aliança com Deus. Se o povo é fiel à aliança, Deus lhe concede a bênção, que se concretiza no dom da terra e na prosperidade. Se o povo é infiel, atrai para si mesmo a maldição, que se traduz em fracasso histórico e perda da terra.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 302) introduz: Os livros de Samuel fazem parte dos chamados “livros históricos” (Js, Jz, 1-2Sm; 1-2Rs). Na Bíblia Hebraica, pertencem ao bloco dos profetas anteriores. No passado, formavam um único livro, juntamente com os livros dos reis. Aparecem separados pela primeira vez na Setenta [tradução grega], onde o texto é menor, e na qual, seguida pela Vulgata [tradição latina], os livros de Samuel e Reis formam um grupo: os quatro livros dos Reis.

Em 721 a.C., a Assíria invadiu a Samaria, destruindo a cidade e deportando seus habitantes. Muita gente fugiu para o sul e se refugiou em Jerusalém, levando consigo suas tradições. Com isso, Jerusalém, que era uma aldeia de pouco mais de mil habitantes, se expandiu. Em poucos anos passou a ser uma cidade de mais de quinze mil habitantes. Com o vazio de poder em Samaria, os reis de Jerusalém arriscam ampliar seu território e domínio na região. A primeira tentativa, com o rei Ezequias (716-687 a.C.), não teve sucesso, pois a Assíria não o permitiu (cf. 2Rs 18-19). Mas tarde, com o enfraquecimento da Assíria, houve uma segunda tentativa, com o rei Josias (640-609 a.C.), que teve êxito, mas acabou sento morto pelos egípcios em Meguido (cf. 2Rs 23,29). É, portanto, no período do rei Josias que nasce de fato um Estado em Jerusalém. Para dar identidade a esse Estado e respaldar as conquistas de Josias, os escribas de Jerusalém reúnem tradições do Norte e do Sul, muitas apenas orais, outras já escritas, e compõem um passado glorioso para Judá. Esse contexto histórico e literário é que está por trás dos interesses de Jerusalém, os escribas enfatizam a casa davídica, da qual Josias é remanescente. Portanto, em muitos textos é possível encontrar três níveis de redação: um mais antigo, outro do período de Josias e um terceiro do pós-exílio.

Os livros de Samuel podem dividir-se em quatro partes: 1. Introdução dos Juízes para a monarquia (1Sm 1-15); 2. Ascensão de Davi (1Sm 16-2Sm 8); 3. Lutas pela sucessão de Davi (2Sm 9-20); 4. Apêndices (2Sm 21-24).

Segundo a história deuteronomista, os israelitas ocuparam a terra prometida que foi dividida numa reforma agrária entre as doze tribos de Israel (cf. Js). De 1200 a 1025 a.C. aproximadamente, estas tribos viviam numa liga sem capital nem governo central. Juízes resolviam disputas internas e defenderam o povo contra invasores (cf. Jz). 1Sm começa com o nascimento do último juiz deste tipo, Samuel. Ele fará a transição da liga tribal para a monarquia ungindo os primeiros reis (cf. 1Sm 8-9; 16).

Havia um homem sufita, oriundo de Ramá, no monte Efraim, que se chamava Elcana, filho de Jeroam, filho de Eliú, filho de Tou, filho de Suf, efraimita. Elcana tinha duas mulheres; uma chamava-se Ana e a outra Fenena. Fenena tinha filhos; Ana, porém, não tinha (vv. 1-2).

O nascimento de Samuel entra na categoria do nascimento de heróis, como os de Isaac ou Sansão. Com o primeiro tem em comum outro elemento: o tema das suas mulheres, como Sara e Agar, esposas de Abraão, ou Raquel e Lia, esposas de Jacó. A fecundidade de uma e a esterilidade da outra destacam o caráter maravilhoso do nascimento: o nascituro será filho da promessa e da oração, mais que simples filho da carne. O Senhor da vida demonstra o seu poder precisamente na fraqueza, outorgando com sua palavra explícita uma fecundidade que o homem ia considerar natural. Por isso a oração de Ana ocupa na narração um lugar primordial; e ela e ao seu cumprimento se subordina o resto da narração, a peregrinação, o papel do sacerdote, as reprovações. Seu marido a repreende carinhosamente, ela não responde, dirige-se a Deus; o sacerdote a censura duramente, e ela se explica. Uma romaria no princípio e outra no final compõem o capitulo.

Elcana significa “Deus cria ou compra”. Conforme 1Cr 6,19-23 (testemunha propriamente parcial), Elcana era de família levítica, residente no território de Efraim. Ana significa “graça” e Fenena “corais”. A cidade de Ramataim é idêntica a Ramá (v. 19; 2,11; 7,17) e chamada “Arimateia” em Mc 15,43p e Jo 19,38 (José de Arimateia sepultou o corpo de Jesus).

Todos os anos, esse homem subia da sua cidade para adorar e oferecer sacrifícios ao Senhor Todo-poderoso, em Silo. Os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, eram sacerdotes do Senhor naquele santuário (v. 3).

A peregrinação anual é a da Festa das Tendas (cf. Lv 23,39-43). A expressão “Senhor dos Exércitos” (vv. 3.11, hebr. Yhwh [Javé] Sebaot, aqui traduzido por “Senhor Todo-poderoso”) aparece aqui pela primeira vez na Bíblia; está ligada ao âmbito militar (os exércitos de Israel) ou ao culto (exércitos celestes, astros, anjos, ou todas as forças cósmicas, cf. Gn 2,1). O título aqui está ligado ao culto de Silo; a expressão “Senhor dos Exércitos entronizado entre os querubins” voltará a aparecer em 4,4, a propósito da Arca da Aliança trazida de Silo. Esse título permanece ligado ao ritual da Arca e entra com ela em Jerusalém (no tempo de Davi: 2Sm 6,2.18; 7,8.27). É retomado pelos grandes profetas (salvo Ezequiel; cf. Is 25,6 etc.), pelos profetas pós-exílicos (principalmente Zacarias) e nos Salmos.

Siló, hoje Seilum, fica a cerca de 20 km ao sul de Naplusa. No tempo dos juízes, talvez já sob Josué (cf. Js 18,1), a arca foi instalada num santuário depois destruído (cf. Jr 7,12; 26,6.9; Sl 78,60), provavelmente pelos filisteus, em consequência da derrota contada em 1Sm 4 (cf. leitura de quinta-feira próxima). Silo foi durante bom tempo a cidade central do culto. Jz 21 a apresenta como centro de uma romaria celebrada com danças. Sua situação é geograficamente central. Não estão claras suas relações com Siquém, onde foi renovada a aliança (Js 24). A arca, que tinha sido paládio durante as campanhas militares, tem agora morada estável, não sabemos se em forma de tenda, segundo a tradição do deserto ou num edifício com pátio e anexos, no estilo cananeu. Em todo caso, dispõe de altar e de um sacerdote levítico. Os nomes dos filhos são egípcios: Pinehas (Finéias) é o nome de um influente vice-rei sob o ultimo faraó Ramsés.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 303) comenta: A situação de Ana se parece com a situação do povo. Ana é do Norte, da região montanhosa de Efraim, como Débora (cf. Jz 4-5). Aí o povo costumava frequentar o santuário de Silo (v. 3), onde se encontrava a arca (cf. 4,35). No tempo de Josias (640-609 a.C.), o centro passa a ser Jerusalém, no Sul, e o santuário de Silo é substituído pelo templo (cf. 2Rs 21-22). A religiosidade popular é assumida pela teologia do templo e já não serão as divindades camponesas que fecham o útero, e sim Javé (cf. Gn 20,18; 29,31; 30,14-17). No interior, o culto às divindades da fertilidade era comum. As mulheres costumavam ir aos santuários populares para conceber.

A Bíblia de Jerusalém (p. 319) comenta: Os caps. 1-3 constituem uma composição literária unificada (salvo a adição de 2,27-36) antes de sua inserção nos livros de Samuel; é uma tradição silonita que utiliza três elementos: 1° nascimento de Samuel e sua entrada no santuário de Silo; 2° os filhos do sacerdote Eli; 3° a revelação de Javé a Samuel. O 1° e 3° estão ligados pelo pecado dos filhos de Eli que atrai o castigo. Essa narrativa é antiga e conserva boas lembranças históricas.

Quando oferecia sacrifício, Elcana dava à sua mulher Fenena e a todos os seus filhos e filhas as porções que lhes cabiam. A Ana, embora a amasse, dava apenas uma porção escolhida, pois o Senhor a tinha deixado estéril (vv. 4-5).

Trata-se de “sacrifícios de comunhão” de cuja carne participavam os oferentes. Neste momento festivo e comunitário, Ana sente mais a solidão. Em 2Sm 6,18s, Davi distribui alimentos ao povo depois de oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão.

Sua rival também a magoava e atormentava, humilhando-a pelo fato de o Senhor a ter tornado estéril. E isso acontecia todos os anos. Sempre que subiam à casa do Senhor, ela a provocava do mesmo modo. E Ana chorava e não comia. Então, Elcana, seu marido, lhe disse: “Ana, por que estás chorando e não te alimentas? E por que se aflige o teu coração? Acaso não sou eu melhor para ti do que dez filhos? ” (vv. 6-8).

Sobre as rivalidades das mulheres pode-se ler Gn 16,4s; 29,31-30,24; Eclo 25,13-16. Uma mulher estéril era alvo de humilhações (cf. Lc 1,25). O santuário da Arca em Silo não é uma “tenda”, como no deserto, mas uma construção (“casa do Senhor”; cf. v. 9; 3,2.3.15).

Evangelho: Mc 1,14-20

Nossa liturgia inicia o Tempo Comum com a leitura do “Evangelho segundo Marcos” nos dias da semana, depois ouviremos Mateus e Lucas. Durante o ano litúrgico, passamos por estes três evangelistas chamados “sinóticos”, porque “olham juntos”, ou seja, tem o mesmo roteiro da atividade pública de Jesus com a duração de um ano, começando com o batismo na Galileia e terminando com a páscoa em Jerusalém. No quarto evangelho (João), porém, Jesus faz diversas viagens para a páscoa em Jerusalém. É fruto do Movimento bíblico e do Concilio Vaticano II que passamos por todos os evangelhos (João é lido no tempo da quaresma e da páscoa), iniciando com Marcos que é o evangelho mais velho (segundo as pesquisas dos séculos 19 e 20):

A tradição mais antiga da Igreja colocou Mt em primeiro lugar porque está ligado ao nome de um apóstolo (Mt 9,9) e faz muitas referências ao Antigo Testamento (AT). Mas nenhum evangelista assinou com seu nome; os evangelhos são obras anônimas, às quais a Igreja atribuiu posteriormente nomes do âmbito apostólico (de apóstolos, Mt e Jo, ou de discípulos deles, Mc e Lc). Uma análise literária demonstra claramente que Mt e Lc são independentes um do outro (cf. suas diferenças na narração da infância de Jesus), mas ambos dependem de Mc. Mt e Lc copiavam os relatos de Mc e seu itinerário, às vezes corrigindo e resumindo o estilo mais primitivo de Mc.

Portanto, Mc é o evangelho mais velho e mais original. É também o evangelho mais curto com apenas 16 capítulos: não narra nada da infância de Jesus, mas apresenta logo no início o batismo de Jesus por João Batista (cf. o evangelho de ontem), e em seguida, a vitória de Jesus sobre a tentação no deserto (evangelho do 1º domingo de quaresma).

Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (vv. 14-15).

Como a tentação é narrada em apenas dois versículos, nossa liturgia prefere acrescentar mais dois que já ouvimos há um mês atrás (3º Domingo do Tempo Comum), mas pelo tema quaresmal da “conversão” caem muito bem aqui.

O evangelista separa o tempo e o espaço de Jesus e do Batista. Mesmo comprovada sua missão como messias no batismo e na tentação, Jesus não começou a pregar, enquanto João ainda atuava na beira do rio Jordão. Será por coincidência ou por respeito? Em Jo 1, Jesus, Pedro e André já eram discípulos no âmbito de João Batista. Quando o Batista foi “preso” (lit: entregue, cf. 9,31; 10,33; 14,41), o grupo se desintegrou e voltou à sua pátria “Galileia” (cf. 1,9; Jo 1,43s). Como o menino Jesus obedeceu a seus pais (Lc 2,51), Jesus poderia ter respeitado seu mestre João (apesar de ser superior a ele, cf. Mt 3,14s; Jo 1,30), antes de começar sua própria pregação. A menção da prisão do Batista traz a expectativa de que Jesus anuncie uma mensagem de esperança e libertação. Mc resume a pregação de Jesus em poucas palavras: Jesus não anuncia a si mesmo (cf. 1,1: “evangelho de Jesus”), mas o “evangelho de Deus”, ou seja, o “Reino de Deus”.

“Anunciar o evangelho de Deus” corresponde à linguagem da missão helenista (1Ts 2,9; cf. Gl 2,2), enquanto “anunciar o Reino de Deus” à tradição da Palestina (Mt 10,7; Lc 10,9).

Jesus aparece ao arauto de Is 52,7: “Como são belos os pés dos mensageiro que anuncia a paz, do que proclama a boa nova (evangelho, cf. Is 61,1) e anuncia a salvação, do que diz a Sião: ‘O teu Deus reina’”.

No Antigo Oriente não havia estados democráticos, apenas monarquias (um rei ou imperador com todo poder em suas mãos). De maneira análoga no AT (Antigo Testamento), Deus é visto como “rei”, sentado no trono e cercado de uma corte celeste (anjos), governando toda a terra, a criação e as nações (cf. Sl 24; 145 etc.). De maneira especial, Deus é rei de Israel, seu povo escolhido. Atendendo ao pedido do povo, Deus concedeu um rei (monarca) para governar as doze tribos de Israel, mas não sem crítica e submetendo o rei à lei de Deus (cf. 1Sm 8). Ao segundo rei, Davi (cerca de 1000 a.C.), prometeu um descendente que governaria para sempre, o “messias” (rei “ungido”, 2Sm 7). Nos tempos difíceis, os profetas continuavam alimentando esta esperança por um messias salvador (Is 9,5s; 11,1-5; Jr 23,5-6 etc.). O termo e conceito próprio do “Reino de Deus” aparece pela primeira vez nas visões apocalípticas de Dn 2,44 e 7,14.

“O tempo já se completou” (v. 15); tem duas palavras gregas por tempo: chronos (duração, cf. Gl 4,4) e kairós (momento definido, certo); Mc usa o kairos que se completou, expressão apocalíptica para designar os momentos definidos por Deus (cf. Dn 7,22; Ez 7,12; 9,1; Lm 4,18; Ap 1,3; 1Pd 1,11). Deus fixou o tempo certo para a chegada de Jesus, é uma mudança de época, a grande virada do tempo, o “Reino de Deus está próximo”, mas em que sentido? É a parusia (vinda) triunfal do Filho do Homem no final dos tempos com raios, anjos, trombetas etc. (13,24-27)? Aqui ainda não, mas o Reino de Deus está presente já, a partir de agora começa se manifestar e crescer (cf. as parábolas do cap. 4) até a vida eterna (9,47).

Jesus é o “Filho do homem” (Mc 2,10.28 etc.) a quem Deus entregará este reino (cf. Dn 7,13s). Com ele, o reino “está próximo”; ele é o rei (Cristo=Messias) que representa este reino. Isto é o que a Igreja vai anunciar após a sua morte e ressurreição. Para Paulo, o centro da pregação já é o próprio Cristo, não mais o reino (cf. 1Cor 1,22-24; Gl 2,20 etc.).

Na história da Igreja, com o passar do tempo e a demora da parusia, o termo “reino de Deus” torna-se um termo da eclesiologia, ou seja, identifica-se mais e mais o reino com a Igreja, com a comunidade, onde Cristo se faz presente (aspecto presente do reino). No séc. 20, resgata-se o significado escatológico do reino (aspecto futuro). De fato, o termo Reino de Deus tem os dois significados, presente (desde já) e futuro (ainda não), e permanece um símbolo crítico contra absolutismo eclesial e mundano.

Como João Batista (v. 4), Jesus também anuncia a “conversão” (mudar de mentalidade, voltar-se a Deus), mas não com ameaças proféticas, sim com a “boa nova”. Os apóstolos continuarão esta pregação de conversão (6,12). A palavra grega “evangelho” (euaggelion) significa “boa mensagem” (cf. Is 40,9; 52,7), por ex. na ocasião de uma vitória ou do nascimento de um herdeiro, cf. Lc 2,10s). A pregação apostólica é a boa nova de Jesus Cristo (messias) morto e ressuscitado (cf. Rm 1,3s.9; 1Cor 15,2). Devemos “crer” (confiar) neste evangelho, nesta pessoa. Assim Mc entendeu a sua obra (cf. o título em 1,1), que se torna depois o protótipo de um novo gênero literário “Evangelho segundo …”, parecido à uma biografia, mas não quer passar informações neutras, sim convidar para fé: “Convertei-vos e crede no evangelho! ”.

E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus (vv. 16-17).

Um rei não faz as coisas sozinho, mas tem seus ministros. Também um profeta e um rabino têm seus discípulos. Então o Messias Jesus chama os primeiros discípulos como colaboradores. No “mar da Galileia” (o lago de Genesaré com 15 km de extensão) havia muitos pescadores; era uma profissão para os que não possuíam terras na Galileia, região de muitos latifúndios. Jesus chama dois irmãos, Simão, chamado depois de Pedro (cf. 3,16; Mt 16,18; Jo 1,42; 1Cor 15,5), e André para outra pesca, a “de homens” (cf. Lc 5,1-11; Jo 21) formando uma rede de evangelizadores. A boa notícia (Evangelho) do reino atrairá multidões.

Em Jo 1, os discípulos conheceram e seguiram Jesus a partir da indicação de outras pessoas (Joao Batista, parentes e outros discípulos). Em Mc, o próprio Jesus toma iniciativa, ele os chama enquanto exercem sua profissão (cf. 2,14), mas eles o seguem imediatamente deixando (quase) tudo. Simão Pedro e André deixaram “imediatamente as redes”, mas não logo a família e a casa em Cafarnaum onde Jesus curará a sogra de Pedro (cf. 1,21.29-31). Esta casa servirá como ponto de acolhida para Jesus (cf. 2,1; 3,20.31). Jesus usará também a barca de Pedro (3,9; 4,1.36 etc.; cf. Lc 5,3).

Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus (vv. 19-20).

Novamente Jesus chama dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu (apelidados “filhos do trovão”, cf. 3,17). Impressionante como deixam imediatamente as redes, a barca e ainda o pai e seguem Jesus (cf. 2,14; 9,34-35,10,28-30; Lc 9,57-62). Para Mc, a palavra de Jesus tem poder e autoridade (cf. o evangelho de amanhã), é diferente daquela dos escribas e maior do que a dos profetas (cf. 1,22.27; 8,27-29; Lc 9,57-62p; 1Rs 19,19-21). É a “palavra de rei (messias) ” que deve ser atendida e “seguida” logo, imediatamente. É Palavra eficaz de Deus (Deus falou e assim se fez, cf. Gn 1). A palavra euchtys (“logo, imediatamente”) é preferência de Mc.

Para refletir: o que responder a críticas modernas que dizem o seguinte: “Jesus não queria fundar uma igreja” e “Jesus anunciou a vinda do reino de Deus, mas o que veio? A Igreja! ” Fato é que Jesus chamou colaboradores para anunciar o reino de Deus. A Igreja continua fazendo isso.

O site da CNBB comenta: A pregação inicial de Jesus é um grande convite à mudança, e esta mudança tem como consequência o discipulado, o seguimento de Jesus. De fato, quem se converte verdadeiramente faz com que Jesus se torne o centro da sua própria vida e a razão da sua existência, e o discipulado é a grande manifestação dessa centralidade de Jesus, que pode acontecer tanto por meio das vocações de especial consagração, como a sacerdotal ou religiosa, como através da vocação laical, que leva o cristão a testemunhar a presença de Jesus em todos os meios em que vive e a ser fermento, sal e luz no meio da sociedade.

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