30 de Novembro de 2019, Sábado: Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem (vv. 34-36).

34ª Semana do Tempo Comum

Leitura: Dn 7,15-27

Na leitura deste último dia do ano litúrgico, ouvimos a interpretação da visão anterior (vv. 2-14), que era o ápice de Dn (cf. leitura de ontem).

Fiquei chocado em meu íntimo: eu, Daniel, fiquei aterrorizado com estas coisas, e as visões da imaginação me deixaram perturbado. Aproximei-me de um dos presentes e pedi-lhe que me desse explicações sobre o significado de tudo aquilo. Respondeu-me, fazendo-me conhecer a interpretação das coisas: “Estes quatro possantes animais são quatro reinos que surgirão na terra; mas os que receberão o reino, são os santos do Altíssimo; eles ficarão de posse do reino por todos os séculos, eternamente” (vv. 15-18).

Aterrorizado pela visão das quatro bestas-feras, ele pergunta um dos presentes (anjo intérprete). Este dá uma explicação concisa, não exata em 7,17: “Estes quatro possantes animais são quatro reinos que surgirão na terra”. Comparando com a interpretação do sonho de Nabucodonosor (cap. 2), lemos um esquema convencional de sucessão dos impérios que dominaram o antigo Oriente: Babilônia (leão), a Média (urso), a Pérsia (leopardo) e depois o império de Alexandro o Grande (“o quarto animal, terrível, estranho e extremamente forte; com suas dentuças de ferro”) com seus sucessores, entre eles o rei seleucida Antíoco IV Epífanes (o chifre blasfemo desta fera, cf. vv. seguintes).

O silêncio do texto e as mudanças históricas provocaram outras identificações posteriores: p. ex. babilônios, medo-persas, gregos, romanos; mais tarde identificou-se a quarta fera com o Islã, com o império turco. A leitura messiânica condicionou a identificação: o quarto tinha de ser o romano. A polêmica protestante quer identificar a Igreja católica romana com o quarto reino.

A Bíblia do Peregrino (p. 2150) comenta a interpretação do “filho do homem” (v. 13s) no v. 18: A interpretação que o autor dá não é messiânica nem individual. Os “santos do Altíssimo” formam a comunidade de judeus “consagrados” ao Senhor (Ex 19,6). Pode-se comentar com dados do Sl 34: não é um império a mais na série, não é uma revanche dos oprimidos, é um modo novo no qual a consagração a Deus garante o humanismo autêntico.

A Bíblia de Jerusalém (p. 1698) comenta: É assim que o Sto. Efrém pensava ao dizer que a profecia visa em primeiro lugar os judeus (os Macabeus) e depois, ultrapassando-os de maneira perfeita, o próprio Jesus.

Aqui com v. 18 poderia terminar a visão.

Depois, quis ser mais bem informado a respeito do quarto animal, que era bastante diferente dos outros e o mais terrível de todos, com seus dentes de ferro e garras de bronze, sempre devorando e triturando, e calcando aos pés o que restava; e ainda a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e sobre o outro que nascera e fizera cair outros três, sobre o chifre que tinha olhos e boca, e que fazia ouvir uma fala forte, e era maior que os outros. 

Eu continuava a olhar, e eis que este chifre combatia contra os santos e vencia, até que veio o Ancião de muitos dias e fez justiça aos santos do Altíssimo, e chegou o tempo para os santos entrarem na posse do reino. 

Respondeu-me assim: “O quarto animal é um quarto reino que surgirá na terra, e que será maior do que todos os outros reinos; há de devorar a terra inteira, espezinhá-la e esmagá-la. Quanto aos dez chifres do reino, serão dez reis; um outro surgirá depois deles, e este será mais poderoso do que seus antecessores, e abaterá os três reis, e articulará insolências contra o Altíssimo e perseguirá seus santos e se julgará em condições de mudar os tempos e a lei; os santos serão entregues ao seu arbítrio por um tempo, por tempos e por um meio-tempo; o tribunal se estabelecerá, e ao chifre será tirado o poder, até ser destruído e desaparecer para sempre; e então, que seja dado o reino, o poder e a grandeza dos reinos que existem sob o céu ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é um reino eterno, e a quem todos os reis servirão e prestarão obediência” (vv. 19-27).

Provavelmente um autor (glosador) posterior explica a visão até o v. 26 e acrescenta o v. 27 para ligar com o final. Os dez chifres parecem ser os sucessores de Alexandre Magno, os diádocos e os selêucidas até Antíoco IV, o perseguidor, que “se julgará em condições de mudar os tempos e a lei” (v. 25). O melhor comentário se lê em 1Mc 1,46-63 (cf. leitura de 2ª-feira da semana passada). Era sacrilégio modificar um calendário estabelecido por Deus. “Três anos e meio”, conforme 1Mc 4,45 (168-165 a. C.), é tempo de desgraça na linguagem apocalíptica (metade de sete anos, número sagrado da plenitude; cf. Gn 1 etc.).

A Bíblia do Peregrino (p. 2150) comenta: Uma interpretação posterior identificou a figura humana com o Messias, e o chifre com o Anticristo. A interpretação do livro apócrifo de Henoc, na seção Livro das parábolas, descreve um personagem diferente e oposto à figura humana de Dn 7.

Também já no livro apócrifo de Henoc, a interpretação coletiva dá lugar a interpretação individual do Filho do Homem: É um indivíduo (rei-messias) a quem Deus entregará não só o seu Reino, mas também o juízo final sobre os povos (cf. Mt 25,31s). Os cristãos o identificam com Jesus Cristo.

 

Evangelho: Lc 21,34-36

No evangelho de hoje lemos a conclusão do discurso escatológico/apocalíptico em Lc 21,34-36 que difere bastante do seu modelo em Mc 13,33-37 cujo conteúdo já foi aproveitado em Lc 12,38.40 e 19,12. O texto de hoje se refere a parusia (volta gloriosa de Cristo, cf. v. 27). Embora preceda a preparação do cenário cósmico (vv. 25s), pode-se dizer que “aquele dia” chegará “de repente” (Sf 1,15).

Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem (vv. 34-36).

Jesus lembra outra vez (cf. 8,14) que as preocupações da vida, como a riqueza e a busca do poder, podem distrair daquilo que é realmente essencial. A oração poderá ser poderosa aliada nessa vigilância permanente: “Ficai atentos e orai a todo momento” (v. 36)

Lc manteve somente o motivo de vigiar, “ficar atentos”, mas tem semelhanças com advertências de Paulo (1Ts 5,13.7-10; Rm 13,13). Excessos como gula, embriaguez, mas também preocupações justas de sustento da vida do dia-dia, podem tornar o coração insensível (8,14; 17,26-30; cf. Mt 25,42-45 omissão a respeito dos necessitados). Nunca se deve esquecer da nossa responsabilidade, ou seja, de que responderemos um dia ao tribunal de Deus (cf. Rm 14,10-12; 2Cor 5,10).

Em vez de expectativa imediata ou fazer cálculos sobre o fim, Lc destaca o momento de surpresa, porque “aquele dia” (cf. Lc 10,12; 17,31; Mc 13,32p) “cairá como uma armadilha” (v. 35) para os despreparados e insensíveis (cf. 1Tm 6,9; 3,7; 2Tm 2,26; Ecl 9,12; Is 24,17). Aqui não se trata de sinais, ao contrário dos vv. 11 e 25. Pode-se comparar a 1Ts 5,3.

Não só os judeus, mas “todos os habitantes de toda terra” serão atingidos (Jr 25,29). Ninguém pense que já esteja salvo; o julgamento sobre a cidade de Nínive (Lc11,29,s) e a catástrofe de Jerusalém (586 a.C. e 70 d.C.) foram sinais e advertência.

“Portanto, ficai atentos e orai a todo tempo” (cf. Lc 18,1; 24,53; Rm 1,9s; 1Cor 1,4; Ef 5,20; Fl 1,3s; Cl 1,3; 4,12; 1Ts 1,2; 2Ts 1,3; 2,13; Fm 4 etc.)

“Afim de terdes força”, mas esta palavra corresponde menos ao uso de Lc; melhor tradução: “para serdes julgados dignos” (20,35; At 5,41).

“Para escapar de tudo” (Mc 13,30, diferente Lc 21,32); trata de se resistir a provocação terrível ao seu julgamento, “e ficar em pé diante do Filho do Homem”, para comparecer ao julgamento ou para pôr-se ao serviço. Ao Filho do Homem será entregue o reino de Deus e o juízo final (v. 27; cf. Dn 7,9-14; Jo 5,27). Este último v. pode significar a aprovação diante do juízo de Deus (2 Cor 5,10; cf. Sl 1,5). Não é por acaso que a última palavra deste discurso é “o Filho do Homem.” O caminho deste discurso começa no templo junto com a multidão, passa pelos adversários no sinédrio para o sofrimento e a morte. Esta, porém, leva à glória do Filho do Homem. Quem tem a palavra final é o Filho do Homem.

O site da CNBB comenta: A nossa vida é marcada por preocupações constantes que são exigências da agitada vida moderna. Essas preocupações muitas vezes acabam por fazer de si mesmas o centro da nossa vida. Na verdade, a gente deixa de viver a vida que a gente quer para viver a vida que é exigida de nós. Assim, não temos tempo para a oração, para a contemplação, para o encontro com Deus e o estabelecimento de comunhão com ele. O resultado de tudo isso é que deixamos de viver na sua presença e nos fechamos num mundo que cada vez mais nos escraviza e nos impede de viver a verdadeira vida, a vida dos filhos e filhas de Deus em perfeita comunhão e relação com o Pai.

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