02 de agosto de 2016 – 18ª semana 3ª feira

Leitura: Jr 30,1-2.12-15.18-22

Os caps. 30 e 31 são um “livrinho” dentro do grande livro de Jeremias, é um texto de consolação com diversas promessas de salvação num futuro indefinido.

A maior parte deste “Livro da Consolação” (30,1-31,22) foi escrita entre a reforma de 622 a.C. e a morte do rei Josias (609). A reforma deuteronômica (cf. 2Rs 22,3-23,24) fizera ressurgir simultaneamente a fé javista (rompendo com o sincretismo religioso promovido pelo rei Manassés) e a esperança nacional (o declínio do império da Assíria permitiria a Josias levar a cabo a reconquista do Israel do norte, Samaria e Galiléia, cf. 2Rs 23,15.19, 2Cr 35,18). Nasceu a esperança da volta dos deportados deste reino do Norte (destruído em 721 a.C.; cf. 2Rs 17) ao reino do Sul, a Judá (capital Jerusalém), ao reino de Davi restaurado.

Os poemas que se seguem expressam esta esperança: Javé Deus ainda ama Israel do Norte (31,3.15-20; cf. Os 11,8-9); ele fará voltar os exilados às suas terras (30,3; 31,2-14; cf. Os 10,11), na unidade religiosa reencontrada em torno de Sião, da colina do templo em Jerusalém (31,6; cf. Is 11,10-16). Trata-se então de oráculos paralelos ao de 3,11-18 e remontando provavelmente à mesma época (início do ministério de Jeremias).

Mais tarde, o anúncio do retorno foi estendido a Judá, por sua vez conquistada e deportada pelos babilônios (587 a.C.). Os oráculos posteriores (30,8-9; 31,1.23-26.27-28; cf. as glosas em 30,3.4; 31,3) associam Judá a Israel, dando assim ao “Livro da Consolação” de Jeremias seu alcance definitivo e messiânico: Israel e Judá serão reunidos (cf. 3,18) para que sirvam na terra a “Javé, seu Deus, e a Davi, o seu rei” (30,9). Essa reunião de Israel disperso tornar-se-á um dos temas maiores dos profetas do exílio (Is 45,5s; 49,5-6.12.18-23, etc.; Ez 11,17; 20,34; 28,25; 34,12-13, etc.), e depois do exílio (Zc 10,6-12; cf. ainda Jo 11,52).

Estes caps. não somente frisam o caráter inevitável do sofrimento, que representa a educação necessária (30,11.14; 31,18) do povo indócil (30,14-15; 31,19.32.27), mas também a abundância do amor divino (31,3.20.32) e da graça destinada a inscrever a vontade de Deus no mais profundo do ser humano (31,31-34).

Palavra que foi dirigida a Jeremias, da parte do Senhor: ”Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Escreve para ti, num livro, todas as palavras que te falei (vv. 1-2).

Introdução a toda a série de oráculos; como falam do futuro, devem ser escritos e conservados (Is 8,16). Além disso, por serem promessas de felicidade, o cumprimento lhes dará crédito (28,9).

De todas estas promessas de salvação, Deus é o autor, como se expressa na fórmula da palavra-evento: “Palavra que foi dirigida a … da parte do Senhor” (v. 1) e na formula para o mensageiro: “Isto diz o Senhor, Deus…” (vv. 2.5.12.18…).

Como em 36,2, Jeremias recebe a ordem de escrever as palavras de Deus: os vv. 1-3 são provavelmente uma introdução redacional ao “livro das consolações” (caps. 30-31), sendo que a introdução primitiva se encontra em 30,4 (nossa liturgia saltou os vv. 3-10).

Tratando-se de introdução a toda a série, é lógico que os destinatários sejam Israel e Judá (v. 3), reinos irmãos na desgraça (deportação), mas esta fraternidade é um dos conteúdos do futuro feliz. Ressoa a referência a um futuro indefinido e o anúncio “mudarei a sorte” (vv. 3.18; 31,23; 32,44; 33,7.11.26; cf. 29,14; Dt 30,3; Os 6,11; Jl 4,1; Am 9,14; Sf 3,20; Sl 126).

Isto diz o Senhor: Incurável é tua ferida, maligna tua chaga; não há quem conheça teu diagnóstico; uma úlcera tem remédio, mas em ti não se produz cicatrização. Todos os teus amigos te esqueceram, não te procuram mais; eu te causei uma ferida, como se fosses inimigo, como um castigo cruel: por causa do grande número de maldades que te fez endurecer no pecado. Por que gritas em teu sofrimento? É insanável a tua dor. Eu te tratei com rudeza por causa das tuas inúmeras maldades e por causa do teu endurecimento no pecado (vv. 12-15).

Antes de a salvação iniciar, reflete-se sobre a penúria, angústia e miséria (vv. 5-7), mas Javé Deus quebrará, no tempo devido, o jugo estrangeiro que pesou sobre o povo (cf. Jr 27-28). Aqui apresenta outra imagem: ferida e chaga (cf. 4,6.20; 6.1.14; 8,11.21; 10,19; 14,17); poder-se-ia traduzir esta palavra, que literalmente significa quebra, por “fratura”, aqui e no v. 15.

Nem a paciente (Jerusalém) pode fazer coisa alguma para sarar, nem seus “amigos” de antes lhe prestarão seus serviços: está doente e abandonada (Sl 41,5-10). Os amigos (lit. “amantes”) são aqui, como em 22,20 ou Lm 1,2.19, os aliados, as nações sobre as quais se apoiava Israel, e que traíram ou abandonaram Israel.

O Senhor intervém, primeiro diagnosticando a causa do mal e a justiça do castigo; isso por si é uma cura interna, pois provoca o arrependimento. Depois, a cura completa virá como consequência (os vv. 16-17 faltam na nossa liturgia).

Isto diz o Senhor: Eis que eu mudarei a sorte das tendas de Jacó e terei compaixão de suas moradias, a cidade ressurgirá das suas ruínas e a fortaleza terá lugar para suas fundações; de lá sairão cânticos de louvor e sons festivos (vv. 18-19a).

Se o original se referia ao reino do Norte e sua capital Samaria “abandonada” depois da invasão assíria (721 a.C., cf. 2Rs 17), é lógico que não mencione um templo (o legitimo existia só em Jerusalém; cf. Dt 12), apenas a “cidade” e a “fortaleza”. Ao atualizar o oráculo, alguém acrescentou a nova identificação: “é Sião” (v. 17b). A capital representa o povo todo.

Hei de multiplicá-los, eles não diminuirão, hei de glorificá-los, eles não serão humilhados. Teus filhos serão felizes como outrora, e sua comunidade, estável na minha presença; e agirei contra todos os que os molestarem (v. 19b-20).

A população, dizimada na guerra e na deportação, volta a crescer. E se chama “assembleia” (“comunidade”), título do povo escolhido em Nm, raro na literatura profética.

Para chefe será escolhido um dos seus, e o soberano sairá do seu meio; eu o incitarei, e ele se aproximará de mim. Quem dará a vida em penhor da sua aproximação de mim? – diz o Senhor (v. 21).

O “chefe” já não será um estrangeiro, mas um nativo; e sua nomeação será confirmada pelo Senhor (Dt 17,15). Mas evita o título de “rei”. Talvez polemize com as usurpações e mudanças de dinastia no reino do Norte. “O soberano sairá do seu meio”, por oposição ao período de dominação assíria, em que o governador representava o poder estrangeiro.

“Quem dará a vida em penhor da sua aproximação de mim?” Lit.: pois quem poria seu coração em risco para se aproximar de mim? – “Avançar, aproximar-se”: estes verbos pertencem ao vocabulário cultual (cf. Lv 9.5-9; Nm 8,19), mas são usados também para indicar uma audiência junto ao rei (2Sm 15,5; cf. Gn 43,19; 44,18; Is 48,16); não é possível aproximar-se de uma personalidade de alto nível sem seguir todo um cerimonial (cf. Est. 4,11). Quem ousa se aproximar de Deus “põe em risco a vida”, pois seja quem for, quem vê Deus arrisca-se a morrer (cf. Ex 33,20; Jz 6,22.23; 13,22; Is 6,5), a não ser que Deus lhe “permita avançar” para participar das deliberações da corte celeste, cf. Zc 4,7.

Sereis meu povo e eu serei vosso Deus (v. 22).

Este v., que é um acréscimo, contém a fórmula clássica da Aliança (cf. Dt 26,17-18; 27,9; 28,9 etc.) muitas vezes relembrada por Jeremias (cf. 7,23; 11,4; 13,11; 24,7; 31,1.33; 32,38.

 

Evangelho: Mt 14,22-36 (Anos B e C; Ano A: Mt 15,1-2.10-14)

Nos evangelhos desses dias, Mt segue o roteiro de Mc 6,14-52. Depois do banquete da morte (martírio de João Batista, lido no sábado passado e em 29 de agosto), Jesus organiza o banquete da vida, ou seja, a multiplicação dos pães (lida ontem). Em seguida apresenta a caminhada de Jesus sobre a água. O evangelista com investigação histórica, Lucas (cf. Lc 1,1-4), omitiu esta narrativa simbólica. Mt, porém, acrescentou mais ainda o simbolismo: a tentativa de Pedro de caminhar sobre as águas.

(Depois que a multidão comera até saciar-se,) Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho (vv. 22-23).

Depois da multiplicação dos pães, Jesus queria estar só para rezar (cf. Jo 6,15) e “mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar” (cf. 8,18.23-28, onde “Jesus entrou no barco e os discípulos o seguiram”). Coloca-os no meio do mar e aí os deixa sós, enquanto ele sozinho “subiu ao monte para orar a sós”. O monte é lugar próximo do céu, ou seja, de Deus (cf. 17,1-8p e os montes em 5,1; 24,3p; 26,30p; 28,16). Mt reforça a lembrança de Moisés e Elias no monte Sinai que assistiram uma teofania (Ex 19; 24; 33-34; 1Rs 19); Jesus fará sua manifestação (epifania, cristofania) em ação e palavra.

A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário (v. 24).

Em 8,23-27p, Jesus estava com os discípulos no barco durante a tempestade e acalmou o mar e o vento. Outra vez, os discípulos têm que experimentar a oposição dos elementos, água e vento, e mais ainda a ausência do Senhor (cf. 1Rs 19,11). A palavra grega “agitada” é usada mais para pessoas, pode-se imaginar a comunidade (“barca”) dos discípulos como aflita, atormentada, perseguida. Água, vento tempestuoso e noite são metáforas por tribulações, medo e morte (água: Sl 18,16s; 32,6; 69,2s.15; noite: Sl 91,5; 107,10-12; tempestade: Sl 107,23-32; Jn 1-2).

Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar (v. 25).

Aproxima-se a aurora, hora do auxílio divino (cf. Ex 14,24.27; 2Rs 19,35; Sl. 90,14) por volta da “quarta vigília da noite” (lit., traduzido: entre 03 e 06h da manhã; cf. Mc 13,35); para os cristãos é a hora da ressurreição de Jesus (28,1).

Nesta hora, Jesus foi até eles “andando sobre o mar”. Em Mc 6,48, Jesus queria “passar na frente deles” (cf. Lc 24,28), oferecendo as costas ao olhar (cf. a passagem da glória de Deus diante de Moises e Elias no monte Sinai/Horeb em Ex 33,18-23; 34,6; 1Rs 19,11). Conforme seu costume, Mt resumiu mais e tirou este detalhe.

Não se trata de uma passagem pelo mar a pé enxuto (Ex 14), nem pelos fundos do mar (Jó 38,16; Eclo 24,5), mas é um andar “sobre as águas”. Um sonho da antiguidade, não só dos judeus, mas de muitas culturas (cf. a epopeia mesopotâmica de Gilgamesh 10,71-77: o deus solar pode correr sobre as águas). É próprio de Deus caminhar sobre as alturas do mar (Jó 9,8; cf. Sl 77,20) e dominá-lo (cf. 4,41; Sl 65,8; 77,17; 89,10; 107,29; Eclo 24,5s).

Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (vv. 26-27).

Os discípulos não são capazes ainda de reconhecê-lo (detalhe comum nas aparições do ressuscitado, cf. Lc 24,16.31; Jo 20,15; 21,4). Então Jesus se identifica: “Sou eu”. Refere-se, à primeira vista, ao lado humano de Jesus que os discípulos já conhecem. Mas é também a clássica frase da auto-apresentação de Deus: em grego, o nome Yhwh (Javé) de Ex 3,14 e traduzido por “Eu sou aquele que sou” (cf. Dt 32,39; Is 41,4; 43,10.13; 45,18s; 48,12; 51,12). Jesus a aplica a si mesmo em Jo 8,24.28.58 (cf. Jo 18,5-6). Mt (como já Mc) compreende esta narrativa como manifestação do ser secreto de Jesus, “Filho de Deus” (cf. 2,15; 3,17p; 4,3.5p; 8,29p; 11,27p; 14,33; 16,16; 17,5p; 21,37-39p; 22,2; 26,63; 27,40.43.53p; 28,19), daí a costumeira recomendação nos relatos de revelação sobrenatural: “Não tenhais medo” (cf. 1,20; 17,7; 28,5.10; Mc 16,6p; Lc 1,13.30; 2,10; At 18,9; 23,11; Gn 15,1; 21,17; 26,14; 38,13; 46,3; Is 41,13; cf. 10; 43,1.3).

Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.” E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (vv. 28-31).

Jesus ainda não acalma a tempestade, mas Pedro lhe responde. Para os leitores, ele é o primeiro dos que foram chamados por Jesus (4,18; 10,2). Agora o homem quer fazer o que Deus faz; coisa tal impossível como transportar montanhas (21,21p). Mas o pedido de Pedro mostra sua fé no impossível, a sua confiança naquele que tem toda autoridade (todo poder) sobre o céu e a terra (cf. 28,18). Mas Pedro não age por impulso próprio nem tenta fazer o papel de mágico, mas age apenas por ordem do Senhor: “Vem”. Tem coragem de atender ao chamado de Jesus, mas depois teve medo, não mais o medo de um fantasma sobrenatural, mas o medo de afundar. Como em Sl 69,2s.15, ele pede socorro: “Senhor, salve-me” (cf. o grito dos discípulos em 8,25). Nele, o leitor reconhece seu próprio medo diante das ameaças: morte, insegurança, descrença, inimizade, doença, culpa. Mas Jesus “estendeu a mão” (como já o fez em 12,49 sobre seus discípulos, sua nova família), se aproxima e salva no meio das dúvidas e fraquezas na fé (cf. 8,26; 16,8; 17,19s; 28,17).

Estes vv. 28-31 são próprios de Mt, mas podem se basear numa tradição como a aparição do ressuscitado diante de Pedro no mar (cf. Jo 21,7s, onde Pedro se atira no mar enquanto os outros discípulos ficam no barco). Nesta cena de coragem e fracasso em seguida, o narrador antecipa o comportamento de Pedro na paixão de Cristo (26,33-35.69-75). Mt destaca o papel de Pedro também em 16,17-19; 17,24-27. O evangelista já sabe do martírio de Pedro que se arriscou em Roma, seguindo Jesus no perigo e na morte da cruz, entre 65 e 67 d.C.

Assim que subiram na barca, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!” (vv. 32-33).

Jesus subiu com Pedro na barca e “o vento se acalmou” (cf. 8,26). Em Mc, apesar da manifestação procedente dos pães, os discípulos continuam sem entender (Mc 6,52, cf. 8,17-21). Mas em Mt, eles “prostraram-se diante dele”. Este gesto, os judeus devem fazer diante de Deus (cf. os magos em 2,11), não diante de homens (cf. Est 3,1-6). Antecipando as profissões de Pedro em 16,16 e do centurião em 27,54, os discípulos o confessam “Filho de Deus”.

Mc assimilou a epifania dos pães à do mar porque em Jesus se manifesta o poder libertador de Deus, que já no êxodo saciou seu povo no deserto (Ex 16) e dominou o vento e o mar (Ex 14). A barca simboliza a Igreja, a comunidade que se sente pequena e ameaçada na ausência de Jesus. Mt, porém, destaca o papel de Pedro e convida o leitor para “transcendência”, superar seus limites, seus medos e sair do barco, arriscando-se ao seguir “em direção de Jesus”, com “fé” no poder salvador do “Filho de Deus”. Apesar de dificuldades, ventos e ondas contrários e da aparente ausência do Senhor, ele continua, como ressuscitado, presente no meio de nós e nos salva (Jesus é o “Deus conosco”, o Emanuel, cf. 1,23; 18,20; 28,20).

Obs.: O paralelo mais próximo é uma história budista de um irmão leigo que queria visitar um mestre e chegou à beira de um rio; mas não havia balsa nem barca: Impulsionado por pensamentos alegres em Buda, o irmão andou sobre a água. Mas no meio do rio, reparou as ondas; seus pensamentos em Buda se enfraqueceram e seus pés começaram afundar. Mas ele reforçou seu pensamento em Buda e continuou andando na superfície d’água (Jataka 190). As religiões hinduísta e budista têm uma tradição rica que fala em levitação na meditação ou voar sobre rios. É possível uma influência indireta desta tradição pré-cristã ao nosso texto bíblico, ou é uma simples convergência de experiências transcendentais? O diferencial cristão, porém, é o contexto: Para Mt, Jesus é o Filho de Deus que caminha em obediência ao Pai “à outra margem do rio” (para o “além”; cf. Elias e Eliseu em 2Rs 2). Não é qualquer caminho, mas o do amor e da obediência. O que segura na água, é a madeira da cruz.

Após a travessia desembarcaram em Genesaré. Os habitantes daquele lugar, reconheceram Jesus e espalharam a notícia por toda a região. Então levaram a ele todos os doentes; e pediam que pudessem, ao menos, tocar a barra de sua veste. E todos os que a tocaram, ficaram curados (vv. 34-36).

O evangelho de hoje termina com um resumo que serve de transição e ignora os conflitos anteriores. O judeu Jesus está no meio do seu povo simpatizante. Os sumários de curas são frequentes em Mt (4,24; 8,16; 9,35; 12,15; 14,14; 15,29-31; 21,14): assim o evangelista quer apresentar Jesus não só como um judeu fiel à lei e aos mandamentos, mas também o seu carinho e seu contato com o povo sofrido.

Mt retoma expressões de 4,24; 8,16; 9,20s, resumindo o relato de Mc 6,53-56. Os discípulos desembarcam em “Genesaré”; não se sabe muito bem, onde fica este lugar que deu nome ao lago de Genesaré, chamado também de mar da Galileia ou de Tiberíades (cf. Jo 6,1 etc.); provavelmente está na margem oeste do lago perto de Magdala.

Como em 4,24, a notícia de Jesus se espalha para longe. Os homens da região levam a ele “todos os doentes”. Cheios de expectativa, estes querem “tocar a barra da sua veste”, como já fez a mulher hemorrissa em 9,20s, onde Mt especificou a roupa de Jesus: um manto com “barra” ou orla como judeus piedosos costumam vestir (Nm 15,38-40; Dt 22,12). Tocar esta orla é um gesto de petição (Zc 8,23; 1Sm 15,27). Através do contato mediato do manto, acontece o contato profundo com Jesus pela fé. Esse é o contato que cura também aqui.

O site da CNBB resume: O fato de Jesus caminhar sobre as águas é causa de assombro para os seus discípulos, principalmente porque, segundo o livro de Jó, somente Deus caminha sobre o mar, de modo que este fato revela aos discípulos que estão diante do verdadeiro Deus que se fez homem e está no meio de nós, mas inicialmente a surpresa é tão grande que gera dúvida em seus corações que, depois de serem iluminados pela fé, os levam ao reconhecimento da pessoa divina que está diante dele. Assim também nós, que recebemos muitas graças de Deus, só o reconheceremos quando nossos corações forem iluminados pela fé, de modo que possamos superar o nosso assombro inicial.

Voltar