05 de Abril de 2020, Domingo de Ramos – Semana Santa: As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!” (vv. 8-9).

Semana Santa: Domingo de Ramos 

A liturgia do Domingo de Ramos é bipolar. Iniciamos com a alegre procissão de ramos cantando a aclamação do povo “Hosana ao Filho de Davi”. Depois entramos na igreja onde cai a ficha, ouvimos do Servo Sofredor e da obediência de Cristo até a morte de cruz, e o povo todo grita agora “Seja crucificado!”. No entanto, é a morte de Jesus que dá vida até nas profundezas (morada dos mortos, cf. Mt 27,51-53) e converte os pagãos.

Evangelho: Procissão: Mt 21,1-11

Nos evangelho sinóticos (Mt, Mc e Lc), Jesus chega a Jerusalém depois de um ano de atuação pública na Galileia e regiões vizinhas. Está junto com seus discípulos e outros peregrinos, porque todo judeu deve ir a Jerusalém para celebrar as festas principais, a maior delas é a Páscoa (chamada também festa dos Ázimos; cf. Dt 16,16). Jesus chega consciente do seu destino de morrer (cf. os três anúncios durante o caminho: 16,21p; 17,22p; 20,17-19p).

A Bíblia do Peregrino (p. 2365) comenta: A cena faz o papel de pórtico para o que se segue; realiza a mudança de cenário e oferece um fundo de contraste. O que pode ter sido uma simples caravana de galileus peregrinando a Jerusalém para a Páscoa se transforma em entrada reveladora, acompanhada pelo fervor popular. Deve-se ler sobre o pano de fundo das aclamações na entrada de um rei: Salomão (1Rs 1,38-40), Jéu (2Rs 9,13.30). O episódio é iluminado por três citações combinadas e adaptadas: chegada do Salvador (Is 62,11), entrada humilde do Messias (Zc 9,9), hosana de súplica e aclamação (Sl 118,25-26). Jesus é recebido como o rei messiânico: ele o aceita, mas salientando o caráter pacífico, sem aparato militar ou cortesão (não alarma os romanos). Não monta um espetáculo: inclusive o jumentinho está à sua disposição, por desígnio superior. Jesus age como diretor de cena sapiente e dominador.

Mt copia o relato do evangelho mais antigo de Mc (cf. vv. 1-3 preparação, e vv. 6-9 entrada) mas acrescenta uns detalhes significativos: a fórmula de cumprimento das Escrituras (vv. 4s) indica a intenção de Mt: a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém realiza a profecia de Zc 9,9. Depois ainda capricha no efeito produzido (vv. 10s).

Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram a Betfagé, no monte das Oliveiras. Então Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide até o povoado que está ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim! Se alguém vos disser alguma coisa, direis: “O Senhor precisa deles, mas logo os devolverá” (vv. 1-3).

Jerusalém é mais do que uma capital regional, ela é “a cidade do grande rei” (5,35). Mt omite “Betânia” (Mc 11,1) que não está na rota direta dos peregrinos vindos de Jericó a Jerusalém. “Betfagé” é uma aldeia situada no flanco oriental do monte das Oliveiras (cf. Mc 11,1; Lc 19,29); atualmente Kefr-et-Tur. O monte da Oliveiras fica 952m a distância da cidade (cf. At 1,12); havia uma expectativa de que o messias ia se revelar neste monte (Flavio Josefo relata que poucos anos depois da morte de Jesus, um pretendente de messias queria fazer isso).

A menção no v. 1 antecipa a designação do “povoado” de v. 2 para onde Jesus envia dois discípulos (anônimos, cf. o envio de discípulos para preparar a páscoa em 26,17-19p; cf. Mc 6,6; 11,1-6; 14,12-15; Lc 10,1; 19,28-34 e 23,8: Pedro e João, cf. At 3-4).

A procura da jumenta tem antecedentes: no AT, Saul procurava as jumentas do seu pai e entrou em êxtase profético (1Sm 10,1-12). Em Gn 49,11, Jacó pronunciou uma bênção sobre seu filho Judá: “Liga à vinha seu jumentinho, à cepa o filhote de sua jumenta…”; o messias devia vir da tribo de Judá (cf. no v. anterior: “O cetro não se afastará de Judá … que lhe obedeçam todos os povos”, Gn 49,10). Neste contexto, o jumento é animal para nobres (cf. Jz 10,4; 12,14 e Zc 9,9).

Os outros evangelistas têm “jumentinho amarrado” (Mc e Lc: “que ninguém montou ainda”), Mt muda para “uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho”, por causa da citação do profeta Zacarias que se segue no v. 6.

“O Senhor precisa deles”; a única vez em Mt que Jesus se designa a si mesmo como Senhor. O proprietário dos animais não vai se opor.

Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta.” (vv. 4-5).

Mt costuma inserir citações do AT (Antigo Testamento) para provar a seus leitores judeu-cristãos, que tudo na vida de Jesus corresponde ao plano de Deus, ou seja, à Escritura, aqui ao profeta Zacarias (Zc 9,9), cujo nome Mt não menciona porque introduz com Is 62,11: “Dizei à filha de Sião”, ou seja, à população de Jerusalém, amada por Deus (Sião é a colina do templo e representa Jerusalém). Is 62,1 e Zc anunciam o salvador que trará paz e convidam Jerusalém para acolhê-lo com júbilo.

O jumentinho era cavalgadura régia; Salomão tomou posse montado num jumentinho (1Rs 1,38-40.44); para a guerra serviam mulas e cavalos (Jz 5,22; 1Sm 8,11; 2Sm 15,1; 18,9; 1Rs 1,5). O contexto de Zacarias fala da destruição do aparato bélico. O aparato modesto do Rei messiânico devia revelar o caráter humilde e pacifico do seu reinado. Realizando esse gesto, Jesus aplica a si a profecia e seu ensinamento (cf. 11,29: “sou manso e humilde”). Jesus não vem como juiz severo, nem ostenta poder militar ou riqueza, mas vem como rei pacífico, oferecendo a salvação.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1898) comenta: Citação de Zc 9,9, com introdução modificada (talvez segundo Is 62,11) e ligeiras variantes (“sobre uma jumenta e sobre um jumentinho, o filho de um animal de carga”, em vez de “sobre um animal de carga e um filhote [ainda] novo”). É a entrada do Rei messiânico em sua Cidade, fazendo a primeira parada sobre o monte das Oliveiras (cf. Zc 14,4); ele a efetua montado, não nos corcéis dos ricos e poderosos, mas na cavalgadura dos patriarcas de Israel (cf. Gn 49,11; Jz 5,10).

A Bíblia do Peregrino (p. 2365) comenta: Cita a primeira frase: os ouvintes ou leitores conheciam o contexto, que anuncia a chegada de “teu Salvador”. O texto grego de Zacarias tem três adjetivos: justo, salvador, humilde (o hebraico diz “vitorioso” em segundo lugar). Mateus retém só o terceiro adjetivo, que não contradiz as bem-aventuranças.

Então os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia mandado. Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou (vv. 6-7).

Mt resume (omitindo detalhes como o consentimento dos proprietários, cf. Mc 11,4-6), usando uma fórmula típica do AT para mostrar a obediência ao executar uma ordem: “Foram e fizeram como lhes … havia mandado”.

Parece que Jesus montou os dois animais? Mt não está preocupado com a inverossimilhança, mas unicamente em ver a profecia realizada. Jesus cumpre a Escritura ao pé da letra (cf. 5,1s). Outros interpretam: “Jesus sentou-se sobre as vestes”.

A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho. As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!” (vv. 8-9).

A multidão (Mt acrescenta: “numerosa”, a maior parte da população) estendeu suas vestes pelo caminho, como na posse do rei Jeú (2Rs 9,13). “Cortavam ramos das árvores” (Mc 11,8: ramos que haviam apanhado nos campos), como na alegre festa das tendas (Lc 23,40) durante a qual se cantava o Salmo 118 com o grito “Hosana” (Sl 118,25a: hoshia’ná), uma palavra hebraica que era antes um grito por socorro (“Salva, por favor”; dá a salvação; cf. 2Rs 6,26s). Depois se tornou aclamação familiar por causa do Salmo 118, recitado na festa das Tendas.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1898) comenta: Inicialmente, grito de apelo (2Sm 14,4; “hoshia” dirigido ao rei), lançado em particular no sétimo dia da festa das Tendas, agitando-se ramos (mas também em outras ocasiões. cf. 2Mc 10,6-7), este termo tornou-se, talvez já no judaísmo, em todo o caso no cristianismo primitivo, uma aclamação cujo destinatário se indica e eventualmente (em grego) por um complemento na dativo.

“Ao Filho de Davi”; em Mt não é “o reino que vem, do nosso Pai Davi” (Mc 11,10) que é aclamado, mas com mais exatidão o messias, descendente de Davi. “Filho de Davi” é título messiânico, usado no episódio anterior pelo cego em Jericó (20,29.31p).

A aclamação do povo cita o próximo versículo do mesmo: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1898s) comenta: Citação (como em 23,39) dos versículos 25a e 26 do Sl 118, não raras vezes evocados a propósito da paixão (e da exaltação) de Cristo (cf. Mt 21,42, citando os vv. 22-23). Como João Batista já pressentira (Mt 3,11; 11,2-6). Jesus é “Aquele-que-vem” inaugurar a era messiânica (Hab 2,3 grego; cf. Hb 10,37; Mt 3,1: o Senhor vem ao seu santuário, cf. o episódio seguinte).

A Bíblia do Peregrino (p. 2365) comenta: O ato de bendizer admite duas leituras: a) “Em nome do Senhor” ligado com “bendito”, bendiz invocando o Senhor (como diz o original hebraico; ver o texto clássico de Nm 6,24-26). b) “Vem em nome do Senhor”, como seu representante.

Esta aclamação do povo entrou na liturgia católica com o hino do “Santo” (junto com Is 6,3), cantado antes da “vinda” sacramental de Cristo (transformação do pão e vinho no seu copo e sangue).

Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: “Quem é este homem?” E as multidões respondiam: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia” (vv. 10-11).

Em Mc 10,11, a cena encerra com Jesus entrando no templo para observar; em Mt 21,10, “a cidade inteira se agitou” (lit. tremeu, verbo usado só nos terremotos de 27,51 e 28,4; cf. 8,24; Ap 6,13). Compara-se essa agitação da cidade com a de 2,3, quando os reis magos perguntaram: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido?” (2,2).

“Quem é este homem?” Aqui Mt deixa claro que o povo mal informado de Jerusalém não tinha saído ao encontro de Jesus para acolhê-lo (como relata Jo 12,12s); “as multidões” que aclamaram Jesus e agora respondem são os peregrinos e discípulos. A resposta “o profeta” poderia despertar a recordação de Dt 18,15; “De Nazaré”, cf. 2,23.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1899) comenta: Somente Mt refere o que as “multidões” dizem de Jesus (cf. 9,33 e 12,33). Jesus é reconhecido como um profeta (cf. Mt 16,14; Mc 6,15; Lc 7,16,39; 24,19), sem que se objete a isto a sua origem da Galileia, como em Jo 7,52 (cf. Mt 13,57). A comunidade primitiva veria nele o profeta (At 3,22-23; citando Dt 18,15; cf. Mt 17,5 par.; Jo 1,21; 6,14; 7,40).

Mt tem uma continuação que nossa liturgia não apresenta mais: Jesus vai logo ao templo onde expulsa o vendedores (nos outros evangelho no outro dia; cf. Mc 11,12-19p), e cura “cegos e coxos” lá (vv. 12-14). Indignados, os chefes dos sacerdotes e os escribas reclamam das “crianças que aclamavam no templo: ‘Hosana ao Filho de Davi’”. Jesus lhes responde com Sl 8,3: “Da boca dos pequeninos e das crianças de peito preparaste um louvor para ti” (cf. vv. 15-16).

1ª Leitura: Is 50,4-7

O texto da 1ª leitura de hoje é tirado do Segundo Isaías (“Deutero-Isaías”, caps. 40-55), é o 3º de quatro cantos (poemas) do “Servo” de Javé (Deus). Enquanto o 1º canto apresentou a missão pacífica do servo (42,1-4; leitura do Batismo do Senhor) e o 2º a reafirmou diante do insucesso (49,1-6), o 3º fala da experiência do sofrimento injusto. Todos os quatro cantos serão lidos nesta semana (2ª, 3ª, 4ª e 6ª feira Santa).

Quem está a falar no 3ª canto parece o próprio servo, embora não seja aqui nomeado, mas é o que se deduz do contexto (cf. v. 10). Não se chama profeta, mas narra sua vocação como de um profeta (cf. 49,1s). Ele inicia quatro vezes com “o Senhor Deus”, lit. “o Senhor Javé” (vv. 4.5.7.9; cf. 40,10; 48,16; 49,14.22; 51,22; 52,4): ao ouvir a palavra (v. 4, cf. Jr 1,2.7.9; 15,16.19; 17,15; 20,8s), ao sofrer na missão (vv. 5-6; cf. Jr 1,8.17; 10,17s; 17,17s; 18,18; 20,7-10) e para confiar no Senhor (vv. 7-9; cf. Jr 15,20s; 20,11-13).

Pelo gênero literário, é um salmo de confiança com confissão, e a mesmo tempo, uma alegação de defesa pelo próprio réu num tribunal. Suas palavras se dirigem aos homens, não a Deus.

O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo (v. 4).

O autor descreve sua vocação profética. Só pode falar o que ele ouve de Javé (cf. Jo 7,16; 14,24). Ele é um “discípulo” (v. 4; cf. 54,13), talvez saído de uma escola que remonta ao primeiro Isaias (cf. 8,16)? Nas escolas do Oriente, o método didático no primário era e, às vezes, ainda é: o mestre fala, e os discípulos repetem suas palavras.

O profeta está com uma “língua adestrada”, porque Deus “desperta cada manhã e me excita o ouvido” (v. 4). A primeira impressão do dia é a palavra de Deus que o orienta e envia (cf. a oração pela manhã em Sl 5,4; 57,9; 88,14; 90,14; Mc 1,35). Sua missão tem um alcance mais restrito do que 42,1.4.6; 49,6, mas uma nova qualidade: responder às angustias dos fracos e abatidos (cf. o início do Segundo Isaias em 40,1: “Consolai, consolai meu povo”). O povo no exílio está cansado, abatido, deprimido, fatigado, mas o profeta quer dar novo ânimo com sua palavra (cf. 40,27-31; Mt 9,36; 11,28-30).

O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás (v. 5).

  1. 5 a repete que Deus lhe “abriu os ouvidos” (uma metáfora na Babilônia para uma divina revelação verbal a um ser humano). Para isso, o profeta não resiste o que o Senhor Javé pede também a outro profeta no exílio: “Não seja rebelde como esta casa de rebeldes” (Ez 2,8; cf. 3,24-27; 24,27; 33,22). Ele não resiste nem volta atrás, nem faz objeções como Moisés e Jeremias (cf. Ex 3,11; 4,10; Jr 1,6). Nas confissões de Jr (Jr 15,14s; 20,8b-10), o profeta parece deprimido entre o recado de Deus e as hostilidades dos homens, mas a palavra de Javé alimenta seu coração todo dia. Deutero-Isaías já aceita este destino de profeta como intrínseca. Como depois Jesus, ele se identifica com a vontade de Deus (cf. Jo 4,34; Mc 14,36p).

Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas (v. 6).

O profeta não recua diante das dificuldades e ataques de adversários. Além de agressões físicas, sofre ações para envergonhar: cusperadas (Jó 30,10), bofetões, tapas no rosto, eram considerados uma vergonha (cf. Jó 16,10; Mt 5,39), principalmente quando bate numa autoridade, ex. num profeta (1Rs 22,24), num juiz (Mq 4,14; Lc 18,5) ou num rei (cf. Jo 18,22) “Ofereci minhas costas para me baterem, … não desviei o rosto de bofetões e cusparadas” (v. 7). A barba era símbolo da força e honra masculina. Só escravos estavam sem barba. Existem fotos em que soldados nazistas arrancaram a barba de judeus idosos. Os evangelistas veem o cumprimento destas palavras proféticas na paixão de Cristo (cf. Mc 10,34; 15,19; Mt 26,67; 27,26-30; 27,30; Lc 22,63-64).

Não se sabe o porquê destas agressões. O profeta apanhou dos seus conterrâneos, porque não escondeu que a culpa do exílio era do povo de Israel (42,18-25; 43,22-28; 50,1; etc.)? Ou ficaram cansados e enfurecidos por causa das suas promessas de um novo êxodo maravilhoso enquanto, na vida real, nada mudou (ainda). Maltrataram este “falso profeta” (cf. Jr 29,8ss) ou o denunciaram diante das autoridades babilônicas?

Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado (v. 7).

O profeta-servo torna se firma na sua confiança, faz seu rosto como pedra (cf. Jr 1,18s; Ez 3,8s; Jó 28,9; cf. Lc 9,51). É para esconder a dor ou esconder sua ira? É a sua resistência aos adversários, porque ele não recorre à violência (42,2-3) nem foge dos agressores. Ele pode ter medo dos inimigos, mas aplica a si mesmo o que falou aos exilados desanimados: “Não temas” (cf. 41,10-13), e confia na sua defesa pelo Senhor. Como ele é inocente e cumpre o que Deus ordenou, o próprio Deus fará sua defesa.

“Mas o Senhor Javé é meu auxiliador” (vv. 7.9). Mas quem acusará, se seu advogado é o próprio Deus? (v. 8; cf. a função do Espírito-paráclito em Jo 16,8-11; Mt 10,20, e a grande confiança de Paulo em Rm 8,31-34). Deus demonstrará a inocência do acusado, conseguirá sua absolvição, enquanto os adversários serão apanhados na mesma armadilha que lhe tinham preparado (cf. v. 9.11).

Neste terceiro canto, o Servo de Javé se revela como indivíduo. É um profeta que expressa como recebe a palavra de Deus, quais sofrimentos lhe surgem no seu ofício e como os suporta. Está perto das confissões de Jeremias e da vocação de Ez 2, mas tem seu perfil próprio. Suas palavras aqui se relacionam a outros trechos de Deutero-Isaías (cf. 40,27-31; 41,8-13; 51,8) e não deixam dúvidas: o Servo é o próprio profeta: Deutero-Isaías. Sua solicitude pastoral para com os fracos, cansados e abatidos prefigura Jesus, que os convida como bom pastor, manso e humilde (cf. Mt 11,28; Lc 13,34; 19,9s; cf. Is também Is 40,27-31; 46,1-4; 55,1ss;); sua recusa de violência reencontra-se na ética de Jesus (Mt 5,39b). Mas o servo-profeta espera ser reconhecido, justificado no tribunal. No tempo do Antigo Testamento (AT), moralidade e legalidade ainda eram uma coisa só. Ainda não havia a crença numa possível justificação após a morte. Mas os cantos do servo, na sequência de 50,4-9; 53 representam um salto na fé. O servo renuncia a vingar-se e espera que sua honra seja recuperada, que injustiça e violência não tenham a última palavra. Como, onde e quando o servo será justificado não se fala ainda. A comunidade falará depois na liturgia funeral em 52,13-55,12 (leitura de Sexta-feira Santa).

 

2ª Leitura: Fl 2,6-11

A carta aos Filipenses foi escrita pelo próprio Paulo na prisão de Éfeso entre os anos de 54 e 57. Apesar dos sofrimentos, a carta demonstra que o evangelho é boa notícia. A comunidade de Filipos era a primeira igreja que Paulo fundou na Europa (At 16,11-40) e a única da qual aceitou donativos para suprir suas privações (4,10-20).

Paulo convida a comunidade dos filipenses a evitar as divisões causadas pelo espírito de “competição” (v. 3), pelo desejo de receber elogios e pela busca dos próprios interesses. A comunidade deve zelar pela harmonia interna e, para isso, é necessário que haja humildade, “cada um considerando os outros superiores a si” (v. 3), e que o empenho tenha sempre em vista o bem comum (v. 4).

Paulo sabe por experiência quão facilmente nascem rixas e conflitos nas comunidades (cf. 1Cor). Ele percebeu sinais disso em Filipos (1,27; 2,14; 4,2) e por isso exorta os seus correspondentes à unidade e à concórdia. A unidade só se realizará por uma vida de humildade, abnegação e serviço de que o próprio Cristo deu o exemplo: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (v. 5).

Citando um hino conhecido, Paulo apresenta em Cristo o modelo da humildade. Embora tivesse a “mesma condição de Deus”, Jesus se apresentou entre os homens como simples homem. E mais: abriu mão de qualquer privilégio, tornando-se apenas homem que obedece a Deus e serve aos homens. Não bastasse isso, Jesus serviu até o fim, perdendo a honra ao morrer na cruz, como se fosse criminoso. Por isso Deus o ressuscitou e o colocou no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do universo e da história. Os cristãos são convidados a fazer o mesmo: abrir mão de todo e qualquer privilégio, até mesmo da boa fama, para pôr-se a serviço dos outros, até o fim (cf. o lema da CF 2105, inspirada em Mc 10,45).

O esquema “humilhação”/ “exaltação” pode-se detectar já em Pr 15,33; 18,12; Sl 113,7-8; cf. 1 Sm 2; Sl 22; 118; Is 53. As diversas etapas do ministério de Cristo estão assim marcadas, cada uma numa estrofe: 1. a descida (vv. 6-8): a partir da preexistência divina, o aniquilamento da encarnação, o aniquilamento ulterior da morte, 2. a subida (vv. 9-11): a glorificação celestial, a adoração do universo, o título novo de “Senhor”.

Trata-se do Cristo histórico, Deus e homem, na unidade da sua personalidade concreta, que Paulo jamais divide, se bem que distinga seus diversos estados de existência (cf. Cl 1,13s).

Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz (vv. 6-8).

“Existindo em condição (lit. forma) divina” (v. 6a). Aqui e no v. 7, “forma” exprime mais do que uma aparência; é figura visível manifestando o ser profundo, ou, então, por alusão a Gn 1,27; 5,1: a imagem de Deus, i. é, o próprio ser de Deus em Cristo. A tradução “condição/forma” permite repetir a palavra em v. 7 (“com aspecto humano”). Cristo, sendo Deus, tinha por direito todas as prerrogativas divinas.

Considerando que a Carta aos Filipenses foi escrita pelo próprio Paulo entre 56 e 64, temos aqui é o testemunho mais antigo da preexistência de Jesus, 20 a 40 anos antes de Cl 1; Hb 1; Jo 10. A descida e a ascensão de Cristo neste hino antecipam a cristologia joanina (cf. Jo 1,14; 3,13-14; 12,32; 13,1…)

“Não fez do ser igual a Deus uma usurpação” (v. 6b; lit. “não considerou o estado de igualdade com Deus como uma presa”, que não se largar, ou, antes, que se deve agarrar). Não se trata da igualdade de natureza, suposta pela “condição divina” e da qual Cristo não poderia despojar-se, mas de uma igualdade de tratamento, de dignidade manifesta e reconhecida, que Jesus poderia ter reivindicado mesmo na sua existência humana. Pode-se pensar na atitude oposta de Adão (Gn 3,5.22).

Duas explicações se confrontam. Para uns, a condição divina é o estado do Cristo antes de sua encarnação, e esta é a primeira forma do rebaixamento de Cristo. Neste curso, a “presa” (a igualdade com Deus) deve ser conservada e defendida, não conquistada. A palavra grega parece sugerir antes uma presa da qual alguém quer se apropriar. Neste caso, o reflexo do ser de Deus (imagem de Deus) se manifesta no comportamento terrestre de Cristo. Haveria aí uma alusão a Adão que procurou fazer-se igual a Deus (Gn 3,5,22): Cristo escolheu na terra a humildade e a obediência em vez do orgulho e da revolta. Este paralelo antitético entre Adão e Cristo, iniciado aqui, será novamente tratado por Paulo em perspectivas mais amplas (Rm 5,14; 1Cor 15,45-47). Como ilustração por contraste podem-se ver as pretensões divinas do rei do Tiro (Ez 28,6.9), do rei da Babilônia (Is 14,13-14) e o convite irônico a Jó (Jó 40,7-14).

“Mas esvaziou-se a si mesmo” (v. 7a). Do verbo grego que significa “esvaziar” veio o termo Kênosis (oposto do pleroma, plenitude divina, cf. Cl 1,19; 2,9; Ef 1,23; 4,10; Jo 1,16). Trata-se menos da encarnação do que do seu modo. Aquilo de que Cristo feito homem se despojou livremente não é a natureza divina, mas a glória que por direito ela lhe conferia, glória que ele possuía na sua preexistência (cf. Jo 17,5) e que deveria normalmente resplandecer sobre a sua humanidade (cf. a transfiguração, Mt 17,1-8p). Ele preferiu privar-se dela para recebê-la apenas do Pai (cf. Jo 8,50.54), como preço do seu sacrifício (vv. 9-11).

“Assumindo a condição de escravo” (v. 7b). A condição de escravo/servo é simplesmente a condição humana submetida a Deus. O termo “servo” opõe-se ao título de “senhor” (v. 11; cf. Gl 4,1; Cl 3,22s). Cristo feito homem adotou um caminho de submissão e de humilde obediência (v. 8). É provável que Paulo esteja pensando aí no “servo de Javé” de Is 52,13-53,12 (cf. Is 42,1).

“Tornando-se igual aos homens” (v. 7c), portanto, não apenas um verdadeiro homem, mas um homem como os outros, partilhando de todas as fraquezas da condição humana, exceto o pecado (cf. Hb 2,17).

“Humilhou-se a si mesmo” (v. 8). Se a encarnação é um primeiro aspecto da kênosis, eis o segundo.  Como o Servo de Is 53, Cristo escolheu o rebaixamento por obediência até a morrer (cf. Is 53,8.12), “e morte na cruz”, reservada aos malfeitores (Hb 12,2). É o escândalo da cruz, um dos pontos fundamentais da pregação de Paulo (1Cor 1,18-25; 2,1-2; Gl 6,14).

Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai (vv. 9-11).

“Por isso, Deus o exaltou” (v. 9a; lit.: superexaltou). Foi exaltado (cf. Is 52,13; 53,10-12) pela ressurreição e ascensão, obra por excelência do poder de Deus (cf. 1Ts 1,10; Rm 1,4)

“Lhe deu o Nome” (v. 9b). Conferir um nome é não somente atribuir um título, mas uma dignidade autêntica (cf. Ef 1,21; Hb 1,4). Aqui Paulo pensa no nome de “Senhor” (cf. v. 11; At 2,21.36; Hb 1,4) que no AT grego é a palavra empregada para exprimir o nome impronunciável de Deus (Yhwh, portuguesado: “Javé”; Ex 3,14s). Assim o senhorio de Deus se revela em Jesus na sua extrema humilhação.

O Servo é exaltado acima do universo inteiro a fim de que o gesto de adoração e homenagem devida a Deus somente doravante dirija-se também a Jesus “Senhor” em que Deus se revela e age (cf. Is 45,23; Fl 3,21; Ef 1,20-23; 3,14; 4,10; Cl 1,18-20; Rm 14,11; 1Cor 24-28; Mt 28,9.17; Lc 24,51-52). “Nos céus, na terra e abaixo da terra” é a tríplice divisão do mundo criado (cf. Ap 5,3.13). Debaixo da terra visa aos habitantes da morada dos mortos, de preferência aos demônios (no AT era opinião comum que os mortos não louvem a Deus, cf. Is 38,18-19; Sl 30,10; 88,11-13, aqui está mais em sintonia Sl 22,30).

Evangelho: Mt 27,11-54 (versão longa 26,14-27,66)

No relato da paixão, como no resto da narrativa, Mt segue o evangelho mais velho, o de Mc. Apenas acrescenta umas partes do interesse do seu público, uma comunidade judeu-cristã vivendo no exterior (Síria ou Egito) no meio de muitos outros judeus que não reconhecem Jesus como messias e se mostram hostis aos cristãos.

No domingo de Ramos, a leitura da paixão (e a 1ª e 2ª leitura) é um contraste ao evangelho do início da celebração: Começando a procissão, o povo gritava: “Hosana ao Filho de Davi (rei-messias)”. Agora (uma hora na mesma liturgia) grita: “Crucifica-o”. O que provocou esta mudança brusca de opinião, uma atitude bipolar?

Na liturgia, a versão mais longa do evangelho da paixão narra o que aconteceu desde quinta-feira Santa: a última ceia, a traição de Judas e negação de Pedro e o processo noturno diante do sinédrio que resultou na condenação à morte de Jesus pelo sumo sacerdote (Mt acrescentou ainda a morte de Judas, cf. 27,3-11). A versão mais breve da paixão começa só com o interrogatório de Jesus diante do governador romano, Pôncio Pilatos, na sexta-feira pela manhã (cf. 27,1s).

Jesus foi posto diante de Pôncio Pilatos, e este o interrogou: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus declarou: “É como dizes”, e nada respondeu, quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos. Então Pilatos perguntou: “Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?” Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou muito impressionado (vv. 11-14).

Na reunião do sinédrio (supremo tribunal e conselho dos judeus), Jesus foi sentenciado à morte, mas os romanos ocupavam o país e reservavam para si o direito de sentenciar à morte (Jo 18,31). Por isso, os conselheiros tinham que levar Jesus a Pilatos, governador romano da Judeia (26 a 36 d.C.), e mudaram a acusação religiosa (blasfêmia, falso profeta, cf. Dt 13) em assunto político: ele se faz “rei dos judeus”, assim os pagãos chamam o messias (Pilatos e depois os soldados em vv. 29.37; cf. os reis magos em 2,2); para os próprios judeus, ele é “rei de Israel” (v. 42).

Quem se faz rei dos judeus questiona a soberania de César (lesão de majestade, alta traição contra Roma). Poderia ser um terrorista que luta numa guerrilha pela libertação do poder estrangeiro (como Davi, como os macabeus, etc.). Na época, havia várias insurreições e revoltas contra Roma (e seus tributos), lideradas por pretendentes de messias (cf. At 5,35s).

Durante o processo, Pilatos só faz perguntas, primeiramente a Jesus, depois várias vezes ao povo, ao qual ele deixa finalmente a responsabilidade da sentença (vv. 24s).

Mt já destacou a realeza de Jesus diversas vezes (21,5; 22,2ss; 25,34ss). Jesus só declara: “É como dizes”, confirmando (como em 26,64), mas não diz em que sentido é rei (cf. Jo 18,36s); a cena dos soldados e a cruz mostrará.

Depois Jesus se cala; Mt reforça: “não respondeu uma só palavra”. Isto alude ao sofrimento do justo no salmos (Sl 37,12; 38,14-16; 39,10; 109,3) e ao Servo de Javé em Is 53,7: “como um cordeiro conduzido ao matadouro … ele não abriu a boca” (cf. Jr 11,19). Este Servo de Javé serviu de modelo para os cristãos entenderem o sofrimento do messias (cf. Mc 1,11p; 15,28 citam Is 42,1; 53,12; e Mt 11,17; 12,17; 26,28 citam Is 53,4; 42,1-4; 53,12; Jo 12,38 cita Is 53,1; At 8,32s cita Is 53,7-8).

Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse. Naquela ocasião, tinham um prisioneiro famoso, chamado (Jesus) Barrabás. Então Pilatos perguntou à multidão reunida: “Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo?” Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja (vv. 15-18).

Pilatos não falou aos chefes dos judeus, mas dirige-se a “multidão” na praça; o processo acontece na frente do palácio, porque os judeus não entravam nas casas de pagãos (cf. Jo 18,28; Mt 8,8p; At 11,2s). Mc 15,7 caracterizou Barrabás com detalhes, um “preso com outros amotinadores que, numa revolta, haviam cometido um homicídio” (provavelmente um zelota (terrorista). Para Mt é apenas um “prisoneiro famoso” (talvez porque a guerra judaica já era passado para Mt, não havia mais zelotas nem sacerdotes, restaram apenas os fariseus). Uma variante do texto de Mt acrescenta o cognome “Jesus” a Barrabás; com isso, talvez queira dizer o seguinte: Barrabás, nome aramaico comum na época, significa “filho do pai”, mas este prisioneiro não o é, desviou-se. O verdadeiro Filho do Pai é outro, Jesus Cristo. O povo tem que decidir quem é Filho de Deus e quem não é.

Os evangelistas apresentam Pilatos como fraco, mas segundo relatos fora da Bíblia (Filon, Josefo), ele era um militar cruel que odiava os judeus (cf. Lc 13,1). Mas ele percebeu que Jesus não representava um perigo para Roma, “bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja.” Na sua fala, o título “Cristo” (vv. 17.22) substitui o de “rei” (v. 11). O costume de soltar um preso na ocasião da festa poderia servir para soltar Jesus.

Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: “Não te envolvas com esse justo! Porque esta noite, em sonho, sofri muito por causa dele” (v. 19).

Mt acrescenta a mulher de Pilatos (o nome dela era Prócula Claudia) intercedendo por causa de um “sonho”. Na infância, Jesus foi salvo da morte pelos sonhos de José e dos reis magos (cf. 1,20; 2,12s.19.22). Também no meio de tantos homens na genealogia de Jesus, Mt apresentou três mulheres (Tamar, Raab, Rut) que não eram judias e uma que era casada com um estrangeiro heteu (Betsabeia).

Não sabemos o conteúdo deste sonho, só que a esposa de Pilatos quer preservar o marido de uma coisa ruim que poderia acontecer. A mulher de Júlio César sonhou na noite antes do assassinato dele. Também aqui a mulher está preocupado como marido. Jesus é “justo”, portanto inocente (cf. Lc 23,47). No AT, não é título de messias, mas ele traz a justiça (cf. Is 9,6; 11,4s; 16,5; Jr 23,5s; 33,15).

Porém, os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus morrer. O governador tornou a perguntar: “Qual dos dois quereis que eu solte?” Eles gritaram: “Barrabás.” Pilatos perguntou: “Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?” Todos gritaram: “Seja crucificado!” Pilatos falou: “Mas, que mal ele fez?” Eles, porém, gritaram com mais força: “Seja crucificado!” (vv. 20-23).

Mas sumos sacerdotes (Mt acrescenta: e os anciãos) “convenceram” (Mc: instigaram) a multidão para pedir a soltura de Barrabás. Pilatos pensou que o povo, antes indeciso, ia soltar Jesus, mas se enganou. Impressionante, como a popularidade de Jesus despencou em poucos dias, de “Hosana ao filho de Davi” (21,9p) a “Seja crucificado”.

“Mas, que mal ele fez?” A última pergunta de Pilatos fica sem resposta, o grito se impõe ao argumento. Seja crucificado”, talvez a forma jurídica da sentença, só aqui pronunciada pelo povo (cf. Mc 15,22-23p: “Crucifica-o!”).

Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso!” O povo todo respondeu: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos” (vv. 24-25).

Numa linguagem do AT, Mt acrescenta a cena de Pilatos lavando as mãos como gesto simbólico (ele se inocenta a si mesmo) e a resposta do povo todo que assume a consequência da sentença desta morte.

O gesto não é greco-romano, mas um ritual tirado do AT, p. ex. Sl 26,6: “Na inocência lavo as minhas mãos, para rodar teu altar, Javé” (cf. Sl 73,13), ou Is 1,15s: “As vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos…”.

O sangue pode ser “justo” (23,35) e “inocente” (Judas o diz arrependido em 27,4). “Este é um problema vosso” (corresponde a resposta a Judas em 27,4). O sangue derramado de um inocente pode se tornar um poder ameaçador (cf. 27,6.8), uma maldição que grita por justiça a Deus (cf. Gn 4,10s; 9,5s). No caso de um homicídio cujo autor é desconhecido, os anciãos devem lavar suas mãos e dizer: “Nossas mãos não derramaram este sangue, e nossos olhos não viram … ó Senhor, não permitas que um sangue inocente recaia sobre o teu povo Israel, e este sangue lhe será perdoado” (Dt 21,1-9).

Mt escolheu bem as palavras: no início era a “multidão” (vv. 15.17), depois “as multidões” (v. 20), “todos” (v. 22) e aqui finalmente “o povo todo” que se manifesta contra Jesus. No AT, era comum usar esta expressão para desviar maus consequências e responsabilizar (e matar) a outras pessoas (2Sm 1,16; “Que teu sangue caia sobre a tua cabeça”), incluindo até descendentes (1Rs 2,33). Mas invocar o sangue alheio sobre a si mesmo e seus próprio filhos é mesmo inédito (em 2Sm 14,9 é expressão de medo).

O “povo todo” se dispõe de assumir todas as consequências do sangue derramado de Jesus. Mt, que escreve cerca de 80 d.C., vê a desgraça que resultou em duas coisas: 1) Na guerra Judaica (66-70 d.C.) contra os romanos veio a catástrofe em que o país foi devastado, a cidade e o templo foram destruídos, quase um milhão de judeus foram mortos e muitos escravizados ou crucificados (cf. 22,6s; 23,37-39). 2) O povo de Israel será substituído por outro povo de Deus (de todas a nações), ou seja, a Igreja (cf. 21,41.43; 28,19).

Na história seguinte, este grito do povo todo foi muito mal interpretado. Não se trata de “auto-maldição” (Dt 27,24 é outra situação) nem de uma “culpa coletiva” do povo judeu, porque disso surgiu a ideia de que os judeus seriam os responsáveis pela morte de Jesus por toda eternidade, e assim se justificariam perseguições e massacres aos judeus (cf. as cruzadas e o antissemitismo na igreja que preparou um terreno para os campos de concentração dos nazistas).

Em 1965, o Concílio Vaticano II, declarou que a culpa da morte de Jesus “não pode ser indistintamente ser imputada a todos os judeus que então viviam nem aos de hoje. Embora a Igreja seja o novo povo de Deus, os judeus, no entanto não devem ser apresentados nem como condenados por Deus nem como amaldiçoados, como se isso decorresse das Sagradas Escrituras … Além disso, a Igreja, que reprova toda perseguição contra quaisquer homens, lembrada do comum patrimônio com os judeus, … lamenta os ódios, as perseguições, as manifestações antissemíticas, em qualquer tempo e por qualquer pessoa dirigidas contra os judeus” (NA 4,1591s).

Em outros trechos, Mt destacou o perdão dos pecados incluindo seu povo judeu: o nome de Jesus é dado, “pois ele salvará o seu povo dos seus pecados” (1,21), e na última ceia, Mt acrescenta que o sangue de Jesus será o sangue da Aliança derramado por muitos (= todos) “para remissão dos pecados” (26,28, cf. Is 53,12). Deste perdão e desta aliança, Israel não pode ser excluído, mas faz parte.

Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e entregou-o para ser crucificado.  Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta dele. Tiraram sua roupa e o vestiram com um manto vermelho; depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, dizendo: “Salve, rei dos judeus!” Cuspiram nele e, pegando uma vara, bateram na sua cabeça. Depois de zombar dele, tiraram-lhe o manto vermelho e, de novo, o vestiram com suas próprias roupas. Daí o levaram para crucificar (vv. 26-31).

O criminoso foi soltado, mas Jesus morrerá no lugar dele (cf. Is 53); “entregue” (como foi repetido tantas vezes no relato da paixão, cf. 26,2.15s.21.23s.25.45s.48; 27,2-4.18) para ser crucificado. Depois da condenação segue-se uma cena de zombaria, como no processo anterior no sinédrio (cf. 26,67).

A pena da crucificação, inventada pelos persas, era aplicada no Império Romano para escravos e subversivos. Costumava ser acompanhada por uma flagelação (esta tortura não é descrita com nenhum detalhe) e maus tratos. Os soldados de Pilatos levam Jesus para dentro, “ao palácio do governador”, e reúnem “toda a tropa” para ter público. Divertem-se fazendo de Jesus uma caricatura de rei, com “manto vermelho, … e coroa de espinhos”. As insígnias de um rei helenista eram um manto vermelho e uma coroa de outro (cf. 1Mc 10,20). “Salve, rei dos judeus!” lembra a saudação “Ave, César”. A cena já foi prefigurada no terceiro canto do Servo de Deus: “Ofereci as costas para me baterem … não desviei o rosto de bofetões e cusparada” (Is 50,6; cf. 1ª leitura).

Mt modifica um pouco o escárnio dos soldados relatada em Mc. Mt aumenta a humilhação (“tiraram sua roupa”; Mc não mencionou, porque a flagelação já é sem roupas) e troca a cor do manto, não é de púrpura (Mc 15,17), mas “vermelho” (escarlate), como os mantos dos soldados.

Antes de bateram na cabeça com uma vara, o colocaram uma “vara na a mão direita” de Jesus (aludindo ao cetro como símbolo dos reis); e não o “adoraram/prostraram-se” como em Mc 15,19 (Mt quer usar este verbo de maneira positiva; os reis magos representando os pagãos “adoraram” em 2,11).

Mas alguns estes zombadores se converterão em v. 54.

Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar de caveira”. Ali deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber.  Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. E ficaram ali sentados, montando guarda. Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus.” Com ele também crucificaram dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus (vv. 32-38).

Os romanos costumavam obrigar a população civil para serviços humilhantes como este (cf. 5,41). Simão de Cirene é obrigado ao que Jesus convidou a seus discípulos, “carregar a cruz” (16,24p). Mt não menciona mais o detalhe de que Simão Cireneu estava vindo do campo, e tampouco os nomes dos filhos dele que devem ter sido conhecidos (membros) da comunidade de Mc (Mc 15,21), mas não mais de Mt.

Gólgota ficava fora dos muros da cidade (cf. Mt 21,39; Hb 13,12). Aos condenados costumava-se oferecer uma bebida para anestesiar a dor (cf. Pr 31,6). Mt troca o “vinho com mirra” (Mc 15,23) por “vinho misturado com fel” (talvez pensando em Sl 69,22; cf Mt 27,64), mas Jesus “não quis beber”.

Todos os evangelhos descrevem a crucificação sem detalhes. Os soldados podiam ficar com os pertences do réu, que foi crucificado nu, porque “fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes” (cf. Sl 22,19). Em vez de mencionar a hora da crucificação (Mc 15,25: terceira hora), fala da “guarda” que se sentava (cf. v. 54); com isso Mt prepara o leitor para a guarda no túmulo nos vv. 62-66 e 28,4.11).

O título (inscrição numa placa na cruz) mostra o “motivo da sua condenação” (Mc: sua culpa) e é mais extenso: não apenas “O rei dos judeus” (Mc 15,26), mas “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”; Mt destaca que foi colocado “acima da cabeça” (normalmente era colocado no pé da cruz ou pendurado no pescoço do réu já no caminho para cruz).

Havia outros dois que foram crucificados que eram “ladrões” (assaltantes), como em Mc 15,27, talvez zelotas.

As pessoas que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: “Tu que ias destruir o Templo e construí-lo de novo em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, junto com os mestres da Lei e os anciãos, também zombaram de Jesus: “A outros salvou… a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel … Desça agora da cruz! e acreditaremos nele. Confiou em Deus; que o livre agora, se é que Deus o ama! Já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus.” Do mesmo modo, também os dois ladrões que foram crucificados com Jesus, o insultavam (vv. 39-44).

Como em Mc, três grupos zombam de Jesus crucificado:

Os transeuntes “balançando a cabeça” (expressão de desprezo, cf. Lm 2,15; Sl 22,8; 109,25; Is 37,22; Jr 18,16), se referem à palavra sobre a destruição do templo, citada em 26,61p no processo do sinédrio. O que Jesus realmente havia anunciado foi a destruição do templo (24,2p; aconteceu em 70 d.C.) e que o seu próprio corpo ressuscitará no terceiro dia (16,21p; 17,23p; 20,19p); para os cristãos a presença de Deus não está mais no templo, mas no corpo de Cristo (Jo 2,19-22); o culto novo será a memória da sua morte e ressurreição na Eucaristia (Mt 26,26p).

Os transeuntes desafiam o poder de Jesus, “salva a ti mesmo … desce da cruz”, Mt acrescenta “Se és o Filho de Deus, …” (como na tentação pelo do diabo em 4,3.5p), citando Sl 22,9 (cf. Sb 2,18-20).

Em Mc 15,31 apenas os sumos sacerdotes e os escribas caçoavam de Jesus, Mt acrescenta os “anciãos” (famílias tradicionais influentes), com isso todos os três grupos do sinédrio estão presentes (cf. 26,57; Mc 14,53.55; 15,1) e falam do messias como “rei de Israel” (em Zf 3,15 é Javé). Outra vez recorre-se a pretensão de Jesus de ser o messias, “já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus”; Jesus confirma isso no processo diante do sumo sacerdote Caifás (23,63s).

Como em Mc, os dois ladrões também insultam (em Lc 23,39-43, um dos dois se converte).

Desde o meio-dia até às três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o, disseram: “Ele está chamando Elias!” E logo um deles, correndo, pegou uma esponja, ensopou-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e lhe deu para beber. Outros, porém, disseram: “Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo!” Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito (vv. 45-50).

A escuridão pode simbolizar a tristeza (de Deus), ignorância, ira, abandono (cf. o fim em 24,29p; o julgamento em Am 5,18-20 e Jr 15,9). Em Mc 15,34 Jesus gritou as palavras de Sl 22,2 em aramaico “Eloi, Eloi…”. Mt, porém, muda a invocação para o hebraico: “Eli, Eli …”; provavelmente porque “Eli” (Deus meu) se parece mais com “Elias” (hebraico Eliyahu – Meu Deus é Javé). Assim os leitores podem compreender melhor por que o grito foi mal entendido, como se Jesus chamasse o profeta Elias, que era, para os judeus, protetor nas últimas coisas e precursor do Messias (cf. 11,10; 17,10-13; Ml 3,1.23s). Dando de beber vinagre (misturado com água era bebida comum e barata), talvez queira dar mais uns minutos de vida para ver se Elias vier, ou alude ao Sl 69,22 (cf. acima v. 34).

Em Mc, Jesus “expirou”, em Mt “entregou o espírito” (cf. Jo 19,30).

E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muito corpos dos santos falecidos ressuscitaram! Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: “Ele era mesmo Filho de Deus!” (vv. 51-54).

De Mc, Mt copia a cortina resgada e a aclamação de que Jesus “era mesmo Filho de Deus” (cf. Mc 15,38s).

A cortina separava a parte mais reservado do templo, o santíssimo (onde ficava a arca da aliança no templo de Salomão, cf. 1Rs 8,6), onde apenas o sumo sacerdote podia entra, e só uma vez por ano (cf. Hb 9,3-7), pronunciando o nome de Yhwh-Javé. A cortina rasgada pode significar três coisas ao mesmo tempo: o luto do próprio Deus pela morte do seu Filho (rasgar as vestes é sinal de tristeza e luto, cf. 26,65p; Jl 2,13), o fim do templo (70 d.C.) profetizado por Jesus (23,38; 24,2p; cf. 26,61; 27,40), e o acesso livre para Deus agora para “todos os povos” (cf. 28,19s), através de Jesus que substitui o culto no templo (cf. Ef 2,13-22).

Mas Mt inseriu aqui um cena apocalíptica sobre a ressurreição dos mortos (cf. Dn 12,2s) e a aplica a morte d ressurreição de Jesus: um terremoto (sinal de epifania, cf. Ex 19,18; Jz 5,4; 2Sm 22,8; Sl 68,9; Is 24,18.20; Jr 8,16; Ag 2,6s.21) tem aqui a função de abrir os túmulos; talvez influência de  Zc 14,4 onde o monte de Oliveiras se racha no “dia do Senhor” (o vale de Cedron que separa Jerusalém do monte de Oliveiras, é lugar tradicional de sepulturas; no idêntico vale de Josafá acontecerá o julgamento de Deus, no fim do tempos, cf. Jl 4,2.12.14.16s).

Com certeza, Mt alude à famosa visão de Ezequiel no exílio da Babilônia sobre a ressurreição dos mortos (Ez 37; cf. 1ª leitura do domingo passado), cf. Ez 37,12: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel”. O terremoto como sinal do poder de Deus abre os túmulos “e muito corpos dos santos falecidos ressuscitaram” nesta mesma hora da morte de Jesus, e apareceram na “Cidade Santa” (cf. 4,5) “depois da ressurreição de Jesus” (para salvaguardar a preferência de Jesus como “primogênito dentre os mortos”, Cl 1,18; 1Cor 15,20.23; Ap 1,5). Os “santos” podem ser os patriarcas, ou os profetas e os justos que foram vítimas da violência (23, 29), e libertados pela morte de Jesus testemunham aos habitantes de Jerusalém. Sua libertação entre morte e ressurreição de Jesus está ligada à tradição da descida de Jesus na morada dos mortos (12,40; cf. 1Pd 3,18s; Credo apostólico; anástasis = ícone da ressurreição).

Em Mc 15,39, apenas o “oficial” aclamou que Jesus era verdadeiramente Filho de Deus, “vendo que havia expirado deste modo”. Em Mc (que escreveu no meio da guerra Judaica), só na morte de Jesus se esclarece que tipo de messias Jesus era: não um guerrilheiro com Davi, mas dando sua própria vida em resgate, cf. Mc 10,45). O oficial representa a comunidade de Mc e sua profissão oficial de fé: o Filho de Deus é mesmo o Cristo morto e ressuscitado (o que era um segredo até então, agora deve ser professado).

Mt não escreve mais durante a guerra e o oficial pagão (Mc usa o termo romano “centurião”, cf. 8,5.8) não representa a comunidade de leitores judeu-cristãos de Mt. Mas o oficial “e os soldados que estavam com ele guardando Jesus” (acréscimo de Mt) representam o povos da terra que se abrem ao Filho de Deus, enquanto o povo judeu o rejeitou e zombou (cf. v. 25; 39-44). Mt assemelha a aclamação dos soldados ao título da cruz (lit. “Este …”) e ao que Pedro professou (16,18) e Jesus confirmou à pergunta de Caifás (26,63). No seu Evangelho, Mt destaca a passagem da salvação dos judeus aos pagãos (cf. na infância, as mulheres na genealogia e os magos; o centurião em 8,5-8; nas parábolas em 21,43 e 22,10; nos envios de 10,5 e 28,19).

Talvez a aclamação dos soldados romanos seja inspirada pelo final do Sl 22 (cujo início Jesus rezou na cruz): “Todos os confins da terra se lembrarão e voltarão ao Senhor, todas as famílias das nações diante dele prostrarão” (Sl 22,28). O oficial e os outros soldados chegam a profissão de fé por “muito medo” do “terremoto e tudo que havia acontecido”, situação semelhante na ressurreição de Jesus (um terremoto, um anjo e os guardas no túmulo em 28,2-4).

Voltar