05 de maio de 2016 – Páscoa 6ª semana 5ª feira

Leitura: At 18,1-8

Depois de pouco sucesso de Paulo na capital da cultura intelectual dos gregos, em Atenas (cf. 17,16-34), ele se dirige a outra cidade na Grécia, onde a mensagem cristã é acolhida melhor no meio popular.

Paulo deixou Atenas e foi para Corinto (v. 1).

Corinto é uma cidade de duas culturas, antes grega e agora romana, de “dois mares” (Horácio), de dois portos (Licaon a oeste e Cencréia a leste). Reconstruída por Júlio César, tornou-se a capital da província romana da Acaia. O elemento romano e latino nela predominava; mas o comércio atraia para lá uma população cosmopolita. Também a colônia judaica era importante. Corinto tinha péssima reputação devido ao culto de Afrodite (deusa grega de amor) e à licenciosidade dos costumes.

Corinto é cidade do amor e da dor de Paulo, à qual dedica muito tempo, muitos afãs e várias cartas (cf. 1 e 2 Cor). Lucas vai oferecer-nos um mosaico de informações sobre a chegada e primeira atuação de Paulo.

Aí encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que acabava de chegar da Itália, e sua esposa Priscila, pois o imperador Cláudio tinha decretado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo entrou em contato com eles. E, como tinham a mesma profissão – eram fabricantes de tendas – Paulo passou a morar com eles e trabalhavam juntos (vv. 2-3).

A expulsão dos judeus de Roma pelo imperador Cláudio (41-54), conhecida por Suetônio, poderia datar de 49 ou 50. Seus efeitos foram passageiros; ignoramos até que ponto e por quanto tempo foi observado (cf. Rm 16,3; At 28,17). Segundo esse historiador, foi consequência indireta da penetração do cristianismo.

Áquila e Priscila (chamada também Prisca (Rm 16,3; 1 Cor 16,19; 2 Tm 4,19) eram um casal de judeu-cristão que fabricava material para tendas de campanha. Interessante que em diante Priscila é nomeada antes do seu marido; ela deve ter tido o papel principal do casal (cf. vv. 18.26; Rm 16,3; 2 Tm 4,19) que se torna um excelente colaborador na missão de Paulo, primeiro em Corinto e Éfeso (vv. 18s.; 1 Cor 16,19); depois em Roma (Rm 16,3; cf. 2 Tm 4,19).

Paulo começa trabalhar com eles, não só era mestre da lei, mas exercia também uma profissão com as mãos (como Jesus e os apóstolos; os rabinos também praticavam um ofício manual). Embora reconheça o direito dos missionários à sua subsistência (1 Cor 9,6-14; Gl 6,6, 2 Ts 3,9; Cf; Lc 10,7), Paulo quis sempre trabalhar com as próprias mãos (1 Cor 4,12), para não ser pesado a ninguém (1 Ts 2,9; 2 Ts 3,8; 2 Cor 12,13s) e provar seu desinteresse (At 20,33s; 1 Cor 9,15-18; 2 Cor 11,7-12). Só aceitou auxílios dos filipenses (Fl 4,10-19, 2 Cor 11,8s, cf. At 16,15). Recomenda também aos fiéis que trabalhem para proverem às próprias necessidades (1Ts 4,11s; 2Ts 3,10-12) e às dos indigentes (At 20,35; Ef 4,28).

Todos os sábados, Paulo discutia na sinagoga, procurando convencer judeus e gregos (v. 4).

Como em outros lugares, também gregos simpatizantes, tementes a Deus, acorriam à sinagoga.

Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à Palavra, testemunhando diante dos judeus que Jesus era o Messias (v. 5).

Chegaram finalmente os dois colaboradores desta segunda viagem missionária com recursos das outras comunidades (cf. 17,14; 1 Ts 3,1-6). Paulo escreveu suas duas cartas aos fiéis de Tessalônica somente depois do regresso de Silas e Timóteo (cf. 1 Ts 1,1; 3,6; 2 Ts 1,1). 1 Ts é a carta mais velha de Paulo que temos, escrita por volta de 50 d.C. é a parte mais antiga do NT (Novo Testamento). Muitos exegetas, porém, consideram, 2 Ts uma carta posterior, escrita por um discípulo da terceira geração.

Chegando da Macedônia com auxílios (2 Cor 11,8-9; Fl 4,15), Timóteo e Silas assistiram a Paulo na evangelização de Corinto (2 Cor 1,19). Com a ajuda deles, Paulo dispunha de mais tempo para a pregação, chamada também “testemunho”, ou seja, demonstrar pela Escritura que Jesus era o Messias. O caráter messiânico de Jesus era o objetivo especifico da pregação para aos judeus (cf. 2,36; 3,18.20; 5,42; 8,5.12; 9,22; 17,3; 18,28; 24,24; 26,23).

Mas, por causa da resistência e blasfêmias deles, Paulo sacudiu as vestes e disse: “Vós sois responsáveis pelo que acontecer. Eu não tenho culpa; de agora em diante, vou dirigir-me aos pagãos” (v. 6).

Bem cedo acontece a ruptura, que Paulo expressa com uma variante do gesto conhecido (Lc 9,5p: sacudir a poeira dos pés). As palavras que o seguem são bíblicas (cf. Lv 20,9-16; 2Sm 1,16) e dão a entender aos judeus que toda a responsabilidade de sua atitude e as consequências dela pesam sobre eles: “Vós sois responsáveis pelo que acontecer” (lit. “Que vosso sangue caia sobre a vossa cabeça”; cf. 5,28; Mt 27,24s), é uma acusação greve: o sangue é a vida (Ez 33; 1 Sm 25,31). Paulo não tem “culpa” (lit. está “puro”) do sangue do castigo deles (cf. Ez 3,17-21). Depois da rejeição pelos judeus, é a vez de pregar dos pagãos (cf. 13,45-47).

Então, saindo dali, Paulo foi para a casa de um pagão, um certo Tício Justo, adorador do Deus único, que morava ao lado da sinagoga. Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor com toda a sua família; e muitos coríntios, que escutavam Paulo, acreditavam e recebiam o batismo (vv. 7-8).

A outra face da moeda compensa amplamente o fracasso procedente (talvez alterando a ordem cronológica). Tício (var. Tito) Justo era provavelmente um incircunciso, temente a Deus. Indo na casa dele, Paulo rompe com a sinagoga (cf. 11,28). Mas converte-se nada menos que o chefe da sinagoga (1 Cor 1,14.16) e muitos pagãos. Crispo foi batizado pessoalmente por Paulo, como também Gaio (1 Cor 1,14, cf. Rm 16,23) e “a família de Estéfanas” (1 Cor 1,16).

O batismo com “toda a sua família” (lit. “casa”, incluindo também servos e empregados) é normal nessa sociedade. Já antes em Cesareia, o romano Cornélio foi batizado com sua família (10,2-48); na cidade de Filipos, a comerciante Lídia e o carcereiro com suas famílias (16,15.31-34), agora é um judeu e chefe da sinagoga em Corinto que se converte com toda sua família.

Que o chefe da sinagoga “acredita no Senhor” não é novidade, porque “Senhor” é tradução grega do nome de Deus, Javé, mas Senhor aqui designa Jesus Cristo (cf. 2,36 etc.). Funda-se uma comunidade, que será uma das mais importantes em território europeu. Os incansáveis viajantes fazem uma parada muito longa, de “um ano e meio”, dedicados ao “ensinamento” (v. 11, cf. a leitura de amanhã). Depois da evangelização pelo querigma (primeiro anúncio), essa atividade se poderia chamar catequese (aprofundamento e formação mais sistemática incluindo preparação para sacramentos).

A leitura de hoje nos mostra como a Igreja nasceu nas casas dos cristãos. Só mais tarde, no século III, surgiram os edifícios para o culto. Antes as casas dos cristãos eram “igreja”. Paulo chamou um casal de colaboradores. Quando as famílias se comprometem, a Igreja cresce. O testemunho para os filhos e para os colegas no trabalho é importante.

 

Evangelho: Jo 16,16-20

No discurso de despedida da última ceia, Jesus volta ao tema da sua partida e da tristeza dos discípulos. O gênero dos discursos de despedida, porém, quer se referir além do tempo narrado ao tempo atual das gerações posteriores.

“Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo” (v. 16).

Pela terceira vez no discurso de despedida, Jesus fala de “pouco tempo” (cf. 13,33; 14,19). “Já não me vereis” é um anúncio velado da sua morte.

“Pouco tempo” (cf. 7,33; 8,21; 13,33), por esta expressão, Jesus anunciava o fim imanente da sua obre terrestre e sua volta ao Pai. Mas o uso de dois verbos gregos (ex. “ter diante dos olhos”, “ver”) e dois tempos distintos indica uma diferença entre a maneira de ver Jesus no período que se encerra (cf. 14,19) e a que será concedida a partir da glorificação.

Como as gerações posteriores aos discípulos podem ver Jesus? Primeiramente, com os olhos da fé (cf. 20,29). Crer é “vir” a Jesus (5,40; 6,37.44s.65) e “ver” Jesus (6,40; 12,21). A outra forma de ver Jesus é na sua volta no fim dos tempos (parusia).

Alguns dos seus discípulos disseram então entre si: “O que significa o que ele nos está dizendo: Pouco tempo, e não me vereis, e outra vez pouco tempo, e me vereis de novo, e: Eu vou para junto do Pai?” Diziam, pois: “O que significa este pouco tempo?  Não entendemos o que ele quer dizer” (vv. 17-18).

A pergunta desconcertada dos discípulos reflete a ambivalência do enunciado (inclui também v. 5; cf. v. 28; 17,5; 20,17 e 3,13; 6,62). Para a comunidade de João (cerca de 90 a 100 d.C.), já passou muito tempo desde a partida de Jesus. Pela boca dos discípulos, é a comunidade cristã que pergunta, ao ver que o retorno glorioso do Senhor, a parusia, demora (cf. por exemplo, as cartas aos Tessalonicenses).

Jo se coloca no contexto de uma escatológica realizada ou antecipada: apesar da ausência física de Jesus, o fiel conhece, por experiência e pelo testemunho do Espírito, que Jesus está vivo, perto, e o “vê” contemplando com os olhos iluminados da fé (cf. “tua luz nos faz ver a luz”, Sl 36,10).

Jesus compreendeu que eles queriam interrogá-lo; então disse-lhes: “Estais discutindo entre vós porque eu disse: Pouco tempo e já não me vereis, e outra vez pouco tempo e me vereis? (v. 19).

No contexto da ceia e da despedida, o anúncio de Jesus parece transparente: Não o verão quando morrer, vê-lo-ão quando ressuscitar, tudo sucederá em “pouco tempo”. De fato o vêem e se alegram (20,20). Num contexto mais amplo, obtido depois, não o verão quando deixar o mundo em voltar ao Pai, voltarão a vê-lo ao experimentar sua presença gloriosa; nesse contexto, “pouco tempo” significa que sempre está próximo ao homem (escatológica realizada ou antecipada).

Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará;  vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria (v. 20).

Começa uma nova resposta (vv. 20-23a), introduzida por “Amém, Amém” (traduzido “em verdade…). Jesus fala das dores e da tristeza, já anunciadas em 15,18-16,4a.6; mas a novidade agora que a “tristeza se transformará em alegria”, tristeza da paixão, alegria de rever o Cristo ressuscitado (cf. 20,20).

O site da CNBB comenta: Um pouco de tempo e os discípulos não verão mais Jesus, porque o mistério da cruz está próximo, e com ele, a morte e a separação. E mais um pouco e me vereis de novo, ou seja, todos os que acreditam farão a experiência do Ressuscitado, viverão sempre na sua presença, de modo que a tristeza da separação dará aos que têm fé lugar a uma alegria que jamais poderá ser tirada. Porém, por causa dos que não acreditam e por causa também dos nossos pecados, deveremos passar por diversas tribulações, mas, por piores que sejam, elas não podem vencer quem crê verdadeiramente.

 

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