05 de Setembro de 2018, Quarta-feira: De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus.” Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Messias (v. 41).

Leitura: 1Cor 3,1-9

Na leitura de hoje, Paulo volta a falar das facções e discórdias na comunidade (1,10-12) que revelam a falta de espiritualidade.

Irmãos, não pude falar-vos como a pessoas espirituais. Tive que vos falar como a pessoas carnais, como a crianças na vida em Cristo. Pude oferecer-vos somente leite, não alimento sólido, pois ainda não éreis capazes de tomá-lo. E nem atualmente sois capazes de receber alimento sólido, visto que ainda sois carnais. As rivalidades e rixas que existem aí, no meio de vós, acaso não mostram que sois carnais e que procedeis de acordo com os impulsos naturais? Quando um declara: “Eu sou de Paulo”, e outro: “Eu sou de Apolo”, não estais procedendo como pessoas simplesmente naturais? (vv. 1-4).

Com a terna imagem da ama de leite que amamenta as crianças, o apóstolo explica a sua compreensão para esta comunidade (cf. Hb 5,12-14). Rixas e brigas demonstram atitude infantil e capacidade limitada para compreender a sabedoria de Deus. Por isso, ainda são “pessoas carnais”, isto é, seguem os instintos humanos e não o Espírito que vem de Deus.

Não se guiam pelo Espírito, não são maduros na fé (2,6). À oposição criança/adultos se sobrepõe uma favorita de Paulo: “carne” (sarx, instinto, sensualidade) / “espírito” (pneuma); é extrema sem matizes (cf. Rm 1,3s.9; 7,5-8,13; Gl 5,16-26 etc.). A discórdia é sinal evidente de semelhante mentalidade; embora, sendo infantil, se possa corrigir. Aqui, ao que parece, “carnal” é sinônimo de homem deixado somente à sua natureza (lit. psíquico) de 2,14, cf. 3,3: “visto que sois carnais e que procedeis de acordo com os impulsos naturais?” (lit.: segundo o homem?).

Pois, o que é Apolo? O que é Paulo? – Não passam de servidores, pelos quais chegastes à fé. E cada um deles exerce seu serviço segundo o dom recebido de Deus (v. 5).

Encontra-se aqui o princípio da reflexão sobre a divindade e unidade das funções eclesiais, que será continuada e aprofundada no cap. 12.

“O que é Apolo?” (cf. 1,12; 3,22; 4,6; 16,12; Tt 3,13). Segundo At 18,24-19,1 era um judeu-cristão de Alexandria (no Egito), versado nas Escrituras, falava com entusiasmo de Jesus, mas “só conheceu o batismo de João” (At 18,25). Em Éfeso, o casal Prisca e Áquila (colaboradores de Paulo, cf. 18,2s.18; Rm 16,3; 1Cor 16,19; 2Tm 4,19) o instruiu “com mais exatidão” (18,26). Com cartas de recomendação, foi a Corinto, onde “ajudou muito” (18,27s). Apolo não pertence ao grupo de Paulo e permanece autônomo (cf. 1Cor 16,12).

Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é que fazia crescer. De modo que nem o que planta, nem o que rega são, propriamente, importantes. Quem é importante é aquele que faz crescer: Deus. Aquele que planta e aquele que rega formam uma unidade, mas cada um receberá o seu próprio salário, proporcional ao seu trabalho. Com efeito, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois lavoura de Deus, construção de Deus (vv. 7-9).

Em duas imagens clássicas (cf. Jr 1,10), lavoura (vv.6-9; cf. Mc 4) e construção (vv. 9-17; Ef 2,20-22; 1Pd 2,5), o apóstolo ilustra a função dos homens, a medição humana. Paulo e Apolo trabalham em tarefas complementares, evangelista e catequista, a serviço da fé e por graça (“dom”, v. 5) de Deus; não pode ser causa de divisão. Ambos são simples “cooperadores (operários comuns) de Deus” que dá a eficácia e continua agindo. De acordo com a qualidade de seus trabalhos, os colaboradores receberão seu “salário”, quando no último dia sua obra sofrer a prova final do fogo (vv. 13-15; Is 26,11; 30,33; 66,15; Ml 4,1).

Para entender melhor a imagem da construção, recomenda-se continuar a leitura até v. 17: “Como bom arquiteto, lancei o fundamento; outro constrói por cima. Mas cada um tome cuidado com a sua maneira de construir… Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (cf. 6,19; 2Cor 6,16).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2209) traduz: “Nós trabalhamos juntos na obra de Deus” e comenta: A natureza da participação de Deus e do homem nesta obra comum é precisada sem equívoco nos vv. 6-7 (cf. 1Ts 3,2; Mc 16,20; 3J o 8). Paulo reproduz a dupla metáfora do AT da plantação e da construção. Em Jeremias, particularmente, a missão do profeta exprime-se mediante dois pares em oposição: arrancar-plantar/demolir-construir. Paulo, no que lhe concerne, rejeita qualquer missão de destruição ou ruína (cf. 2Cor 10,8 e 13,10). Mas, assim como em Jr a obra de plantação e edificação era simultaneamente de Deus e do profeta (cf. Jr 1,10…), a fundação do novo povo de Deus é obra do próprio Deus e dos apóstolos chamados a nela participar.

 

Evangelho: Lc 4,38-44

Seguindo o evangelho mais velho, Marcos (Mc 1,21-39), Lucas narra as curas de Jesus num dia de sábado na cidade de Cafarnaum: primeiro um homem no espaço público (o exorcismo na sinagoga, cf. evangelho de ontem), depois uma mulher em casa (a sogra de Pedro) e ainda atende os demais doentes.

Jesus saiu da sinagoga e entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava sofrendo com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. Inclinando-se sobre ela, Jesus ameaçou a febre, e a febre a deixou. Imediatamente, ela se levantou e começou a servi-los (vv. 38-39).

O evangelho de hoje começa com a cura da sogra de Pedro, “na casa de Simão”. “Simão” aparece aqui pela primeira vez em Lc, porque ainda não foi chamado para seguir Jesus. Lc contará a vocação de Pedro em seguida (5,1-11; evangelho de amanhã). Pela menção da sogra podemos concluir que Simão Pedro era casado. Mas nenhum dos evangelhos falam da esposa dele. A tradição vê nele um viúvo (padroeiro dos viúvos). Paulo menciona em 1Cor 9,5 uma “irmã mulher” na companhia de Cefas (nome hebraico que significa Pedro). Trata-se de uma esposa (Lc 18,28s) ou uma das mulheres que davam assistência (cf. Lc 8,2s)?

O milagre da cura da sogra de Pedro é tão pequeno que corre o risco de passar despercebido. Para o início do ministério público do messias, esperava-se algo mais espetacular. Lc, porém, tem apreço pelos idosos (cf. Lc 1-2: Zacarias e Isabel, Simeão e Ana). Em Lc, a doença é mais grave, porque a febre é “alta” (cf. Mc 1,30).

Aqui em Lc, Jesus, “inclinando-se sobre ela”, cura pela palavra (cf. 7,1-10p) em vez de tomar ou tocar pela mão (v. 40; Mt 8,15; Mc 1,31). Lc acrescentou ao relato de Mc que Jesus “ameaçou” a febre (v. 39; cf. vv. 35.41). Isto mostra mais uma vez que a medicina antiga considerava espíritos maus/demônios como causas de muitas doenças. A pequenez do milagre, contudo, nos obriga a refletir sobre o seu significado. E o significado está na última palavra da breve narração: “começou a servi-los” (v. 39). É a chave de interpretação de todos os milagres. Somos libertados do mal para servir, fazendo o bem.

Os relatos de cura na época seguiam certo roteiro: aproximação, sintomas, gesto e/ou palavra do taumaturgo (aquele que faz milagres), demonstração da saúde recuperada, aclamação do povo. Aqui a aclamação do povo é substituída pela reação seguinte: trazer mais doentes (v. 40).

Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levaram a Jesus. Jesus colocava as mãos em cada um deles e os curava (v. 40).

Jesus ainda atende os demais doentes depois do “pôr do sol”, isto é, depois do sábado (para os judeus, o dia seguinte já começa na véspera, com o brilho da primeira estrela; cf. Mc 16,1). Então, passado o sábado (feriado prescrito), é permitido retomar o trabalho (carregar os doentes, curar). Desta vez, Jesus cura colocando as mãos em cada enfermo (cf. Mc 1,32).

De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus.” Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Messias (v. 41).

Ao contrário de Mc, Lc classifica os possessos entre os enfermos (cf. v. 39; 11,14; 13,11; At 10,38; 19,12). Mas seguindo Mc, apresenta aqui o segredo do messias (a ordem de Jesus de não divulgar seus milagres e sua identidade de messias antes da ressurreição, cf. Mc 9,9) que Mc tem empregado tantas vezes para evitar o mal-entendido de um messias nacionalista e guerreiro. Os espíritos, bons ou ruins, sabem mais do que os homens, sabem desde já que Jesus é o “Filho de Deus” (cf. vv. 3.9.34p; 8,28 e 1,32.35; 3,22), o “Messias” (cf. 1,32s; 2,11.26; 9,20. Nestes gritos dos demônios, Lc mesclou Mc 1,34 e Mc 3,11.

Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam e, indo até ele, tentavam impedi-lo que os deixasse. Mas Jesus disse: “Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades, porque para isso é que eu fui enviado.” E pregava nas sinagogas da Judéia (vv. 42-44).

Jesus se retira da multidão para estar com o Pai na oração de madrugada. A missão de Jesus não é ser um médico de sucesso, mas ele foi “enviado para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também a outras cidades”. A “Boa Nova do Reino de Deus” (cf. Mc 1,14s; evangelho = boa notícia) é o amor de Deus que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam os homens. Para anunciá-la, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem.

Jesus pregava não só na Galileia (Mc 1,39), mas na “Judeia” (v. 44) que era na língua dos gregos todo território dos judeus no séc. I. Neste sentido, Lc usa o termo também em 1,5; 6,17; 23,5; At 10,37. Os próprios judeus, porém, designavam por Judeia somente a parte sul da Palestina, em oposição à parte norte, a Galileia (assim Lc em 3,1; 5,17; At 9,31).

O site da CNBB comenta: Por que as pessoas procuram a religião? A maioria das pessoas que procuram a religião o faz por motivos egoístas, procuram a Deus para fazer dele seu servidor, querem proteção, saúde, sucesso econômico, profissional, social ou afetivo, ou fogem do medo do desconhecido, do sobrenatural ou da própria morte. Devemos procurar na religião um relacionamento pessoal e amoroso com o próprio Deus, para que possamos servi-lo amando os nossos irmãos e irmãs. Para isso, precisamos conhecer o Evangelho, no qual Jesus anuncia a boa nova do Reino de Deus. A partir do conhecimento do Evangelho, vamos nos sentir apelados por Deus para a vivência concreta do amor e, a partir de uma resposta positiva a esse apelo, teremos um relacionamento maduro e amoroso com Deus.

Voltar