05 junho de 2016 – 10º Domingo Ano C

1ª Leitura: 1Rs 17,17-24

Na 1ª leitura, o profeta Elias realiza o que Jesus faz no evangelho de hoje: ressuscitar o filho de uma viúva. Elias viveu no séc. IX a.C. no reino do Norte (chamado Israel; capital: Samaria). O rei de Israel, Acab (874-853), tinha se casado com Jezabel, uma princesa de Sidônia, uma cidade fenícia (no litoral do atual Líbano) de onde ela trouxe a devoção ao deus Baal que entrou em concorrência com o Deus de Israel, Javé (16,29-33; cf. cap. 18). Irritado, Javé Deus mandou uma seca e chamou o profeta Elias para se retirar ao leste do Jordão (17,1-6). Depois enviou-o justamente à terra da rainha inimiga, a Sarepta que pertence a Sidônia. À porta desta cidade, Elias encontrou uma pobre viúva que só tinha um filho. Ela partilhou sua refeição com o profeta e o acolheu, e milagrosamente a farinha e o azeite dela não se esgotaram (17,7-16). Em Lc 4,25s, Jesus cita o caso como exemplo de que Deus não atende só os israelitas em suas necessidades.

Sucedeu que o filho da dona da casa caiu doente, e o seu mal era tão grave que ele já não respirava. Então a mulher disse a Elias: “O que há entre mim e ti, homem de Deus? Porventura vieste à minha casa para me lembrares os meus pecados e matares o meu filho?” (vv. 17-18).

Como não havia segurança social nem previdência na época, as viúvas, os órfãos e estrangeiros eram as categorias mais vulneráveis da época; por isso, a Lei de Moisés lhes dá atenção e os profetas intercedem (cf. Ex 22,21s; Dt 10,18; 14,29; 29,17; Is 1,17; Jr 7,6; 22,3; cf. Sl 68,6; Eclo 4,10; Tg 1,27; e por contraste, Is 1,23; 9,16; 10,2; Jr 49,10s; Ez 22,7). Privados da presença do chefe de família, viúvas e órfãos só podiam viver de esmolas, que eram mesquinhas na época da fome causada pela seca. Depois de Elias ter feito o milagre dos alimentos na casa dela, acontece a maior desgraça para a viúva, que já não tem mais marido, seu filho “caiu doente, e seu mal era tão grave que ele já não respirava”.

As desgraças eram muitas vezes consideradas castigo, uma culpa (cf. 18,9; Lc 13,1-5; Jo 5,14; 9,1-3). A mulher atribui sua desgraça à interferência de Elias; um “homem de Deus” é como uma testemunha: por sua presença as faltas ocultas são reveladas e atraem o castigo, sua presença lembrou ao Senhor o pecado pelo qual lhe tomara o marido, e vai ainda tomar-lhe o filho. Ela torna, pois, Elias responsável pelo acontecido.

A Bíblia do Peregrino (p. 649) comenta: A viúva vê a morte do filho um castigo dos seus pecados. O homem de Deus (=profeta) atrai a atenção de Deus sobre os pecados da viúva, a presença do profeta é nefasta. A aliteração na vogal longa i (em oito palavras entre onze) torna expressiva a queixa da mulher.

“O que há entre mim e ti?” (lit.: Que a mim e a ti?). Trata-se de um semitismo muito comum na Bíblia, e que exprime a distância que uma pessoa toma em relação a outra (cf. Jz 11,12; 2Sm 19,23; 2Rs 3,13; Mc 1,24; Jo 2,4).

Elias respondeu-lhe: “Dá-me o teu filho!” Tomando o menino do seu regaço, levou-o ao aposento de cima onde ele dormia, e o pôs em cima do seu leito. Depois, clamou ao Senhor, dizendo: “Senhor, meu Deus, até a viúva, em cuja casa habito como hóspede, queres afligir, matando-lhe seu filho?” Depois, por três vezes, ele estendeu-se sobre o menino e suplicou ao Senhor: “Senhor, meu Deus, faze, te rogo, que a alma deste menino volte às suas entranhas”. O Senhor ouviu a voz de Elias: a alma do menino voltou a ele e ele recuperou a vida. Elias tomou o menino, desceu com ele do aposento superior para o interior da casa, e entregou-o à sua mãe, dizendo: “Eis aqui o teu filho vivo” (vv. 19-23).

Elias estava hospedado no “aposento superior”. Geralmente, as casas palestinenses tinham só o andar térreo com uma sala para todos. Mas as vezes se construiu em cima no terraço um quarto que servia para estudos ou para hóspedes, ou nas casa maiores, como salão de recepção e festa (cf. 2Rs 4,10.21; 23,12; Mc 14,15p; At 1,13; 9,37.39). A oração de do profeta lembra a intercessão de Abraão em favor dos justos (Gn 18,22-32), de Moisés (Ex 32,11-14 etc.).

Vários relatos se inspiraram na maneira de Elias ressuscitar o morto. Seu discípulo Eliseu ressuscita o filho de uma mulher que o costumava hospedar num quarto próprio, debruça-se sobre o morto deitado sobre a cama do profeta, até o menino voltar a respirar e abrir os olhos, e Eliseu o entrega a mãe (2Rs 4,8-37). No NT, vemos a tendência de aproximar Jesus e os apóstolos aos profetas Elias e Eliseu (cf. transfiguração, multiplicação os pães, ascensão): Jesus ressuscita o filho de uma viúva ao se aproximar da porta da cidade, e depois o entrega a mãe (Lc 7,11-17, evangelho de hoje), Pedro ressuscita uma mulher numa sala superior (At 9,36-43) e Paulo um jovem, debruçando-se sobre o menino (At 20,7-12).

A mulher exclamou: “Agora vejo que és um homem de Deus, e que a palavra do Senhor é verdadeira em tua boca” (v. 24).

Ben Sirac elogiou Elias em Eclo 48,5: “Tu arrancastes um homem à morte e ao Xeol pela palavra do Altíssimo”. A mulher estrangeira reconhece que Elias é “homem de Deus”, e este Deus é o Deus de Israel, Javé (Yhwh, traduzido por “Senhor”): “a palavra do Senhor é verdadeira em tua boca” (cf. Jr 1,9; 15,19; Is 6,6s; Ez 3,1-3). Em Dt 18,18, Moisés apresenta um futuro profeta como ele, com o critério de discernimento: o verdadeiro profeta é aquele cujo boca anuncia uma mensagem autêntica do Senhor.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 390) comenta: Devolver a vida era talvez um atributo de Baal. No entanto, a redação quer mostrar que é Javé quem dá a vida (cf. 2Rs 4,18-37; Lc 7,11-16). Na compreensão da viúva se manifesta a teologia popular: ela é a única a reconhecer que Elias é um “homem de Deus” (vv. 18.24; 18,17).

 

2ª Leitura: Gl 1,11-19

Continuamos nestes domingos com trechos da carta de Paulo aos Gálatas, chamada “manifesto da liberdade cristã”. Seus temas, a justificação pela fé e a liberdade em Cristo, serão retomados pela carta aos Romanos de maneira mais calma e refletida. Em Gl, Paulo mostra seu caráter forte e apaixonado.

Paulo escreveu esta carta aos cristãos gálatas que estavam em perigo de perder sua liberdade cristã (cf. 1,4; 5,1.13). Ora, essa população tinha origem diversificada, e não conhecia a religião judaica. Alguns pregadores, denominados “judaizantes”, ensinavam que era necessário observar a Lei de Moisés, como a circuncisão (cf. Gn 17,10-14; Lv 12,3), mesmo depois de aderir a Cristo. Além disso, ridicularizavam Paulo, negando a sua autoridade de apóstolo, porque ele não pertencia ao grupo dos Doze. Diziam também que a doutrina sobre a caducidade da Lei era invenção de Paulo, e não correspondia ao pensamento da igreja de Jerusalém (cf. At 15).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1419) comenta nossa leitura:

Para explicar o que é o seu evangelho, Paulo começa pela sua experiência pessoal, testemunhando o que causou essa invasão do Cristo ressuscitado em sua vida. Apela para seu passado: a vivência zelosa no judaísmo e a perseguição à igreja de Deus. Destaca sua vocação: separado desde o seio materno e chamado a evangelizar os gentios, na esteira dos profetas Isaías e Jeremias (v. 15; Jr 1,5). Em toda essa autodefesa inicial, o destaque é dado à revelação divina, frisando sempre que não foi por influência humana, nem a mando dos apóstolos, que começou a atuar. Sua vocação e missão dependem exclusivamente de Deus. Os dados que recordam sua vocação podem ser confrontados com as narrativas de Lucas, em At 9,1-18; 22,5-16; 26,9-18.

Asseguro-vos, irmãos, que o evangelho pregado por mim não é conforme a critérios humanos. Com efeito, não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo (vv. 11-12).

“Não é conforme a critérios humanos” (lit. segundo o homem). O Evangelho não vem do homem, e é por isso que, longe de se acomodar às inclinações do homem, dá à existência humana uma orientação nova.

A Bíblia do Peregrino (p. 2792) comenta os vv. 11-12: Dão-nos aproximadamente e em ordem inversa a composição da carta: O evangelho pregado por Paulo não procede de homens (“pará anthrópou” 1,13-2,21), não é segundo os homens (“katá anthrópon” 3,1-6,10); irá comprová-lo com dois argumentos da Escritura tomados do ciclo de Abraão (“katá graphen”, 3,6-9 e 4,21-31).

“Aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo”. Apesar de Paulo ter sido discípulo do mestre fariseu Gamaliel (At 5,34-39; 22,3), sua pregação não é de mero caráter humano, não é tradição rabínica não é um humanismo nem uma doutrina ou escola filosófica entre outras da época. Não é a da tradição sapiencial, mas de estirpe profética, por “revelação” (cf. Is 50,4) de Jesus Cristo (cf. 1,1).

A revelação direta a Paulo tem por autor e objeto Jesus Cristo: o Crucificado manifestou-se a ele como Ressuscitado (v. 16; At 9,4s). Não significa que Paulo tenha aprendido tudo por revelação direta (às vezes, por uma tradição derivada do Senhor, cf. 1Cor 11,23; 15,3), muito menos tudo de uma vez, no caminho de Damasco (At 9). Aqui, nesta carta ele se refere à doutrina da salvação pela fé, sem as obras da Lei, que era o único ponto de litígio.

Certamente ouvistes falar como foi outrora a minha conduta no judaísmo, com que excessos perseguia e devastava a Igreja de Deus e como progredia no judaísmo mais do que muitos judeus de minha idade, mostrando-me extremamente zeloso das tradições paternas (vv. 13-14).

A Bíblia do Peregrino (p. 2792s) comenta: “Judaísmo” designa a concepção doutrinal, a espiritualidade e o modo oficial de agir dos judeus de então. É uma forma posterior, cristalizada, da religião e religiosidade de Israel. De algum modo se opõe à “comunidade de Deus” ou Igreja; Paulo sublinha a distinção e oposição (At 22,3-5). As “tradições paternas” abrangem O AT e de modo especial suas interpretações oficiais, dos doutores letrados, rabinos (cf. Mt 15,2-6; Fl 3,5-6). Seu chamado foi repetido e radical, muito mais que o de Amós (Am 7,14-15). O “zelo” corresponde ao Deus “zeloso” (Dt 4,24 par.) e podia inspirar-se em modelos como Finéias ou Elias (Nm 25; 1Rs 18), invocado por Matatias (1Mc 2,24-27).

Quando, porém, aquele que me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça se dignou revelar-me o seu Filho, para que eu o pregasse entre os pagãos, não consultei carne nem sangue nem subi, logo, a Jerusalém para estar com os que eram apóstolos antes de mim. Pelo contrário, parti para a Arábia e, depois, voltei ainda a Damasco (vv. 15-17).

“Desde o ventre materno… me chamou”, Paulo evoca a vocação de Jeremias (Jr 1,5) e a do Servo de Javé em Is 49,1 e se lembra de que a sua vocação era receber esta revelação para anunciá-la aos pagãos (2,8s; Rm 1,1.5; 11,13; Ef 3,1-9; 1Tm 2,7; cf. At 9,15; 22,21; 26,16); cf. Is 49,6 “Também te estabeleci como luz das nações” (citado em At 13,47; 26,23; Lc 2,32; cf. Jo 8,12).

“Revelar-me o seu Filho”, outra tradução: “revelar em mim o seu Filho”. Sem negar o caráter objetivo da visão (1Cor 9,1; 15,8; cf. At 9,17; 22,14; 26,16), Paulo sublinha aqui seu aspecto de revelação interior.

A Bíblia do Peregrino (p. 2793) comenta: Escolhido como Jeremias (Jr 1,5) antes de nascer, embora chamado tarde. Isso significa que toda a etapa anterior tem sentido e fica englobada num projeto divino, e que sua vocação deve ser uma ruptura significativa e exemplar: o começo da etapa decisiva e prevista. Essa mudança é realizada por uma revelação da pessoa de Cristo: uma cristofania. Jesus de Nazaré não é um proscrito, e sim o Filho de Deus. Essa revelação é ao mesmo tempo sua vocação como mensageiro para os pagãos.

Paulo quer sublinhar aqui sua independência de fontes humanas, sua dependência direta de Jesus. Deve-se confrontar esses parágrafos com a versão com a versão de Lucas em At 9 e 15. Nada sabemos de sua estada na Arábia: dedicado à meditação e à ascese? (como Elias junto à torrente de Carit, 1Rs 17). Diríamos que os três anos na Arábia equivalem ao tempo dos apóstolos na companhia de Jesus.

Após a vocação, Paulo não procura conselho humano, outra vez (cf. vv. 11s): “Não consultei carne nem sangue”, lit. sem recorrer à carne e ao sangue. Este hebraísmo designa o ser humano reduzido unicamente às suas próprias forças; cf. Mt 16,17; 1Cor 15,50).

No seu próprio relato, diferente do percurso narrado nos Atos dos Apóstolos, Paulo vai “para Arábia”, volta a Damasco e só depois vai a Jerusalém “três anos mais tarde” (v. 18). Não sabemos os motivos da sua partida para a Arábia. O relato dos Atos (9,15.19-20) sugere uma resposta: Paulo quis começar a cumprir a sua missão entre os pagãos. Mas podemos tamém identificar Arábia com o reino dos nabateus (1Mc 5,25; chamados árabes em 2Mc 5,8; 12,10), no sul de Damasco; Paulo deve ter fugido para lá a fim de escapar das mãos do rei Aretas (2Cor 11,32s; At 9,25).

Nos Atos dos Apóstolos, Paulo começou logo pregar em Damasco depois da sua vocação, mas, “decorridos muitos dias”, ele precisava fugir (At 9,19-25). Só depois foi a Jerusalém, onde Barnabé o levou aos apóstolos; de lá precisava fugir outra vez, sendo enviado a sua cidade natal Tarso (atual Turquia; cf. At 9,26-30).

Três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Cefas e fiquei com ele quinze dias. E não estive com nenhum outro apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor (vv. 18-19).

Paulo queria “conhecer Cefas”, isto é, Pedro (Jo 1,42; 1Cor 9,5; 15,5) por interesse e consideração, não para aprender dele o que o próprio Cristo lhe ensinou; cf. sua polêmica com Pedro (1,13-24; 2,1-21; At 8-9; 15).

Aqui Paulo não menciona Barnabé (cf. At 9,27). “Nenhum outro apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor”. Supondo que Tiago faça parte dos Doze, identifica-se com o filho de Alfeu (Mc 3,18p), mas nada prova que ele tenha sido um dos doze; o título de apóstolo ainda não se restringiu apenas a estes (cf. 1Cor 15,7). Trata-se de uma das “colunas” da comunidade (cf. Gl 2,9; At 12,17; 15,13; 21,18), não é o filho de Zebedeu e irmão de João (Mc 1,19p; At 12,2), mas o “irmão (parente) do Senhor” (cf. 1Cor 15,7; Tg 1,1; Jd 1,1), personagem importante e influente na comunidade de Jerusalém onde assumiu a liderança (bispo) após a partida de Pedro (At 12,17; 15,13; 21,18).

 

Evangelho: Lc 7,11-17

No evangelho de hoje ouvimos uma narração peculiar a Lucas que também prepara a reposta de Jesus aos enviados de João Batista (7,22: “os mortos ressuscitam…”).

Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava (vv. 11-12).

Naim é uma aldeia, na estrada de Cafarnaum a Samaria. À porta da cidade, desta vez, Jesus encontra uma viúva com seu filho defunto, como nos casos famosos de Elias e Eliseu que ressuscitaram meninos mortos (1Rs 17,17-24; 2Rs 4,32-37; cf. Pedro em At 9,36-42 e Paulo em At 20,7-12). Jesus já se referiu a estes dois profetas em 4,25-27. Viúvas e órfãos são categorias necessitadas que no AT reclamam atenção especial (Ex 22,21s; Dt 10,18; 14,29; 29,17; Is 1,17; Jr 7,6; 22,3; cf. Eclo 4,10; Tg 1,27). À luz da simbologia dos profetas, essa viúva sem filhos pode representar a comunidade de Israel, da qual o Senhor se compadece (cf. Is 51,18-19; 54,4.8).

Uma grande multidão tem compaixão dessa pobre mulher que depois de perder o marido, agora perdeu também o seu filho único (cf. 8,42; 9,38). Quem vai alimentar esta pobre? Deus mesmo se ocupa deles: “pai de órfãos, protetor de viúvas” (Sl 68,6). Jesus, portador de vida, vai ao encontro da comitiva fúnebre; a sincronia não é casual.

Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: “Não chore!” Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe (vv. 13-15).

Jesus sai ao encontro da dor humana com toda a compaixão, e esta mobiliza o poder. É o poder máximo, da vida e da morte: por isso atualiza ditos antigos: “Tu tens poder sobre a vida e a morte” (cf. Dt 32,39; Tb 13,2; Sb 16,13); e à luz da Páscoa, prefigura a ressurreição; porque mostra que a morte não será o caminho sem retorno.

“O Senhor sentiu compaixão”; Lc dá a Jesus o título “Senhor” cerca de vinte vezes nas narrativas (Mt e Mc só uma vez: Mt 21,3; Mc 11,13), sem contar o vocativo nas falas “Senhor”, cujo sentido é mais fraco. A tradução grega do AT transcreveu Senhor no lugar de (Yhwh) e nossos textos litúrgicos seguem este costume. Em Lc, o poder e a misericórdia (cf. Ex 34,6) de Deus se unem em Jesus, cuja palavra é eficaz (cf. a cura anterior do servo à distância, vv. 1-7).

Jesus une a ação à palavra e toca no caixão (ou no lençol mortuário, conforme o costume, o corpo estava colocado diretamente sobre uma padiola); é um toque de vida que detém o caminho de regresso ao pó. “Levanta-te!”, o verbo “levantar, despertar” foi empregado desde as origens da crença na ressurreição (Dn 12,2), em Lc ainda em 8,54; 9,22; 18,33; 20,37; 24,6.34 (cf. At 3,15; 4,10; 5,30; 10,40; 13,37; 1Ts 1,10; 1Cor 15,4.12-15…).

Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo.” E a notícia do fato espalhou-se pela Judéia inteira e por toda a redondeza (vv. 16-17).

O comentário do povo evoca o milagre do profeta Elias e a promessa de Dt 18,15; reconhecem-lhe o título de “profeta”, nada mais (cf. 9,7.19). Mas vislumbra que Deus se faz presente em Jesus: “Deus veio visitar” (ou “preocupa-se”), anunciado no hino de Zacarias (1,68.78), segundo uma expressão corrente no AT (Ex 3,16; 1Sm 2,21; Sl 8,5); é o verbo usado por Tiago referindo-se a órfãos e viúvas (Tg 1,27).

Para Lc a “Judeia” designa muitas vezes a terra toda dos judeus e compreende Galileia (4,44; 7,17; 23,5; cf. At 10,37; 28,21).

Maria, a mãe de Jesus, também era viúva e terá que chorar a morte do filho único. No terceiro dia, porém, seu túmulo estará vazio. “Não chores!” (cf. Jo 20,13.15).

O site da CNBB comenta: Os milagres que Jesus realiza não possuem uma finalidade em si, mas são a expressão de uma realidade maior. Quando vemos o caso do Evangelho de hoje, percebemos duas coisas: primeiro: o nosso Deus é o Deus da vida e da vida em abundância, e tem poder sobre a morte; segundo: o que motiva Jesus a agir é a compaixão com os que sofrem, e isso nos mostra um aspecto muito importante da sua missão, que é a solidariedade com os mais pobres e necessitados. E tudo isso nos revela que Deus veio visitar o seu povo, ser solidário com ele, e esta notícia precisa ser espalhada para todos os homens a fim de que todos possam perceber a presença amorosa de Deus em suas vidas.

 

 

Voltar