07 de abril de 2018 – Sábado, Páscoa 1ª semana

Leitura: At 4,13-21

Continuamos ouvindo o testemunho dos apóstolos interrogados no sinédrio, o tribunal supremo dos judeus em Jerusalém formado pelos os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas.

Ficaram admirados ao ver a segurança com que Pedro e João falavam, pois eram pessoas simples e sem instrução. Reconheciam que eles tinham estado com Jesus. No entanto viam, de pé, junto a eles, o homem que tinha sido curado. E não podiam dizer nada em contrário (vv. 13-14).

Os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas estão admirados com o modo de falar seguro e convincente dos dois apóstolos, Pedro e João. Eram pescadores da Galileia (cf. Mc 1,16-20p), “pessoas simples e sem instrução” (v. 13), do jeito como os sacerdotes e escribas desprezavam o povo da roça, e de repente estes galileus falam como mestres e doutores das Escrituras (cf. as citações bíblicas nos discursos de Pedro em 2,17-21.25-28.34s; 3,13.22.25; 4,11). Então, eles reconhecem que os dois “tinham estado com Jesus” (v. 13). Antes Pedro negou isso três vezes (Lc 22,54-62p), os apóstolos haviam fugido por medo de serem presos como Jesus (Mc 14,50p; mas em Lc 23,49, “todos os seus amigos” acompanhavam a morte de Jesus na cruz à distância). Mas a experiência de ver o ressuscitado transformou a vida de tal modo que estarão dispostos inclusive a derramar o próprio sangue como testemunhas. Além disso, o milagre era evidente, o paralítico estava ali, pulando e saltando (cf. 3,1-10), ninguém podia negar. A notícia se espalhava. “E não podiam dizer nada em contrário” (v. 14).

Mandaram que saíssem para fora do Sinédrio, e começaram a discutir entre si: ”O que vamos fazer com esses homens? Eles realizaram um milagre claríssimo, e o fato tornou-se de tal modo conhecido por todos os habitantes de Jerusalém, que não podemos negá-lo. Contudo, a fim de que a coisa não se espalhe ainda mais entre o povo, vamos ameaçá-los, para que não falem mais a ninguém a respeito do nome de Jesus”. Chamaram de novo Pedro e João e ordenaram-lhes que, de modo algum, falassem ou ensinassem em nome de Jesus.  (vv. 15-18).

Os acusadores começaram a se perguntar: “O que vamos fazer com esses homens?” Sem argumentos, impotentes, resolveram usar a força, ameaçá-los para que não falassem mais no nome de Jesus. Foram terminantemente proibidos de anunciar a Boa Nova (Evangelho) que, para corruptos e privilegiados, parece ser uma notícia má.

Esta proibição parece ser uma advertência legal. Os infratores (excetos os rabinos) só podiam ser encarcerados por reincidência, o que se verificará no próximo capítulo (cf. 5,28).

Pedro e João responderam: “Julgai vós mesmos, se é justo diante de Deus que obedeçamos a vós e não a Deus! Quanto a nós, não nos podemos calar sobre o que vimos e ouvimos.” Então, insistindo em suas ameaças, deixaram Pedro e João em liberdade, já que não tinham meio de castigá-los, por causa do povo. Pois todos glorificavam a Deus pelo que havia acontecido (vv. 19-21).

Os apóstolos sempre respeitaram as autoridades constituídas, mas não podiam respeitá-las num ponto assim tão importante. Disseram: “Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, que obedeçamos a vós e não a Deus!” (v. 19; cf. 5,29). “Nós não podemos calar sobre o que vimos e ouvimos” (cf. Jr 20,9; 1Cor 9,16; 2Cor 13,8; 2Tm 1,7-8; 1Jo 1,1-3). A última palavra de Jesus aos apóstolos foi: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém… até os confins da terra (1,8; cf. Mt 28,19). É preciso anunciar o nome de Jesus para irradiar a vida do ressuscitado. Sua boa notícia não pode ficar parada.

Por causa do povo que glorificava a Deus “pelo que havia acontecido”, as autoridades não tinham meios de castigar ou mantê-los na prisão e “deixaram Pedro e João em liberdade” (vv. 21-22). Os apóstolos demoraram em acreditar na ressurreição (cf. Lc 24,11.36-42), mas, quando tiveram a certeza, depois de encontrar pessoalmente o Senhor, não duvidaram mais. Da ressurreição de Jesus, receberam imensas motivações. Se necessário, estavam dispostos a morrer; Lc, o autor dos Atos, já sabe do martírio de Pedro e Paulo durante a perseguição de César Nero entre 64 e 67 d.C.

Evangelho: Mc 16,9-15

O final do Evangelho de Marcos (vv. 9-20) é um anexo posterior (como também no quarto evangelho: Jo 21, cf. evangelho de ontem). O estilo e o vocabulário são diferentes do resto do evangelho. O que motivou este anexo no século II foi o fim brusco do evangelho mais antigo em Mc 16,8: “As mulheres fugiram do túmulo… e não disseram nada a ninguém por medo”.

O leitor pode se perguntar: Como, então, sabemos da ressurreição de Jesus, se as mulheres não disseram nada do túmulo vazio e da mensagem do anjo (16,4-7)? O porquê deste final é um enigma: Ou perdeu-se a última página do evangelho original, ou Mc queria provocar o leitor assim mesmo com a inversão do segredo messiânico (característico do seu evangelho; cf. 1,25.43-45; 5,41; 7,36s; 8,25; 9,9)? Agora, depois da ressurreição, deve-se falar em vez de se calar (cf. 9,9); o leitor deve anunciar o evangelho sem medo.

Depois de ressuscitar, na madrugada do primeiro dia após o sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual havia expulsado sete demônios. Ela foi anunciar isso aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e chorando. Quando ouviram que ele estava vivo e fora visto por ela, não quiseram acreditar (vv. 9-11).

O anexo é um resumo das aparições de Jesus nos outros evangelhos (vv. 9-14) e das últimas palavras antes da ascensão (vv. 15-19). Observa-se a cronologia: “Na madrugada do primeiro dia… Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena” (v. 9; cf. Jo 20,11-18; Mt 28,9-10), “da qual havia expulsado sete demônios” (Lc 8,2), mas os discípulos “de luto e chorando… não quiseram acreditar” nela (vv. 10-11; cf. Lc 24,11.22-24). Quem chorava em Jo 20,11-15 era Madalena.

Em seguida, Jesus apareceu a dois deles, com outra aparência, enquanto estavam indo para o campo. Eles também voltaram e anunciaram isso aos outros. Também a estes não deram crédito (vv. 12-13).

Os dois discípulos a quem “Jesus apareceu…, com outra aparência, quando estavam indo ao campo”, certamente, se refere aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-34). Quando voltaram e contaram, diferente de Lc 24,34, os apóstolos “também não deram crédito” (v. 13).

Por fim, Jesus apareceu aos onze discípulos enquanto estavam comendo, repreendeu-os por causa da falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (vv. 14-15).

A aparição final é diante dos “onze discípulos enquanto estavam comendo” (Lc 24,36-43; At 1,3s). Jesus “repreendeu-os por causa da falta de fé e pela dureza de coração” (v. 14). Os discípulos podem parecer gulosos e duros de coração, não buscam as coisas do alto, mas as terrestres (cf. Cl 3,2 e a repreensão de Paulo em 1Cor 11,17-34), mas provavelmente seja uma lembrança das refeições junto com Jesus e da Eucaristia (cf. Lc 24,30s; Jo 21,9-13)

Jesus ressuscitado continua demonstrando grande amor pelos discípulos. Ele conhece muito bem os apóstolos. Viu como foram fracos durante a paixão e que são lentos em acreditar. Mas apesar das dificuldades e da incredulidade deles, Jesus os envia “pelo mundo inteiro” (Mt 28,19; Lc 24,47-48; At 1,8) mandando-lhes anunciar “o evangelho a toda criatura” (v. 15; cf. Mc 13,10; Cl 1,23).

Apesar da pouca fé, são enviados. Acontece também com cada um de nós. A misericórdia de Deus utiliza pessoas simples e ainda em estado de imperfeição para anunciar o evangelho (cf. Lc 5,8). Muitas vezes queremos ver já a perfeição realizada, quando a perfeição é um caminho, uma busca. A perfeição poderá vir, depois de um “encontro pessoal com Jesus”, como diz a Conferência de Aparecida (2007). Devemos levar as pessoas que frequentam as nossas celebrações e os jovens e crianças na catequese para um encontro profundo com Jesus ressuscitado que transforma suas vidas.

O site da CNBB comenta: Para que possamos conhecer verdadeiramente Jesus, duas coisas são necessárias. A primeira é a atuação da graça divina que nos revela quem é Jesus na sua divindade e na sua atuação messiânica e a segunda é a nossa abertura a essa graça para que possamos acolher a atuação divina em nós. A partir desses dois elementos, podemos compreender melhor qual é o papel do evangelizador e qual a essência da nossa missão. Movidos pelo grande protagonista da missão que é o Espírito Santo, somos chamados a ser canais de graça na vida das pessoas e ao mesmo tempo a preparar os corações das pessoas para que sejam terreno fértil para o evangelho e acolham a Cristo em suas vidas.

Voltar