08 de outubro de 2017 – 27º Domingo Ano A

 

1ª Leitura: Is 5,1-7

A 1ª leitura foi escolhida porque o evangelho de hoje tem a mesma simbologia, o povo de Israel como vinha e os líderes do povo que não produzem os frutos da justiça.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 904) comenta: Este cântico pode situar-se no início da atividade profética de Isaias. Denuncia os governantes como vinha que produz “uvas azedas” de injustiça, violência e exploração dos pobres, com “gritos de desespero” (Ex 3,7-9; Sl 9,13; Jó 24,12). A imagem da vinha, aplicada ao povo eleito e depois rejeitado, retorna com frequência na Bíblia: cf. Is 27,2-5; Sl 80,9-17; Jr 2,21; 5,10; 6,9; 12,10; Ez 15,1-8; 17,3-10; 19,10-14; Os 10,1; Mt 21,33-44; Jo 15,1-2.

A Bíblia do Peregrino (p. 1695) comenta: Na famosa canção da vinha observamos três coisas. a) O duplo plano simbólico. É um canto de trabalho, que mal esconde um canto de amor: aquele que ama canta seu fracasso amoroso, que simbolizava o fracasso amoroso do Senhor com seu povo. b) o verbo “fazer”, com suas especificações agrícolas, aparece sete vezes. O amor não é só sentimento, mas nas obras de ambas as partes. O paradoxo é que os favores do Deus amante deve corresponder o amor ao próximo, à pessoa. Com seus trabalhos de amor, Deus quer que os israelitas se amem e respeitem. c) O canto começa em tom lírico. De repente (v. 3) se interrompe e se torna retorico: interpela o público para que o povo assume o lugar e a atitude de jurado no pleito. Quando o público já emitiu mentalmente sua sentença, o profeta retorce o oraculo contra seus ouvintes.

Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu: Um amigo meu possuía uma vinha em fértil encosta. Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou videiras escolhidas, edificou uma torre no meio e construiu um lagar; esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens (vv. 1-2).

A canção da vinha é um poema composto talvez a partir de uma canção de vindima. O profeta entoa o canto do “amigo”, que parece envergonhar-se de entrar em julgamento publicamente. Ele é o dono da vinha e fez de tudo para que ela produzisse bem (por ex., a torre mostra bem como o proprietário cuida de sua vinha; o mais das vezes, as pessoas se contentavam com uma choça de folhagem, cf. 1,8). “Esperava… uvas boas” (hebr. soreq, nome de um bacelo seleto, cf. 16,8; Jr 2,21; Gn 49,11, designado pela cor “vermelho dourado” de suas uvas). Como esta vinha produziu só uvas selvagens, azedas?

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 606) comenta: A imagem da “vinha” aplicada ao povo encontra-se várias vezes na Bíblia: Is 3,14; 27,2-5; Jr 2,21; 12,10; Ez 17,6; Os 10,1; Sl 80,9-17; Mt 20,1; 21,33; Jo 15. Ela exprimia bem a aliança de deus com seu povo, aliança aparentada à união conjugal (cf. Os 1-3), já que a vinha é também o símbolo do amor: Ct 1,6-14; 2,15; 8,12. Este poema é na sua origem um canto de amor, transformado pelo poeta em parábola de julgamento.

Agora, habitantes de Jerusalém e cidadãos de Judá, julgai a minha situação e a de minha vinha. O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz? Eu contava com uvas de verdade, mas por que produziu ela uvas selvagens? (vv. 3-4)

“Habitantes de Jerusalém e cidadãos de Judá” A mudança de pessoa indica a passagem da descrição para a interpelação, do relato para a invectiva.

Pois agora vou mostrar-vos o que farei com minha vinha: vou desmanchar a cerca, e ela será devastada; vou derrubar o muro, e ela será pisoteada. Vou deixá-la inculta e selvagem: ela não terá poda nem lavra, espinhos e sarças tomarão conta dela; não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela (vv. 5-6).

“Vou deixá-la inculta e selvagem” expressão difícil, que provavelmente designa um lugar saqueado e improprio para a cultura.

“Não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela” esta proibição supõe um poder cósmico que só compete ao Senhor (Jó 38,34). Quem então é este amigo (v. 1) do profeta?

Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniquidade (v. 7).

Este versículo lapidar, com engenhosas aliterações, reforça a lição. Agora ficou evidente que o “amigo meu” (v. 1) é na verdade “o Senhor dos exércitos” e a vinha “é a casa de Israel, e o povo de Judá sua dileta plantação”. Javé Deus fez de tudo para que seu povo vivesse o direito e a justiça; mas o povo só produziu violação do direito e injustiça.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 606) difere: “Ele esperava deles o direito a – e eis assassinatos; esperava dela a justiça – e eis clamores” e justifica: A palavra traduzida por “assassinatos” (mispah, palavra rara em hebr.) foi escolhida para fazer assonância com mishpat (=direito). O mesmo acontece com justiça (sedaqá) e grito (se’aqa). “Clamores” (dos infelizes): a expressão se encontra também em Ex 3,7.9; Sl 9,13.

A Bíblia de Jerusalém (p. 1365) comenta: O tema da vinha Israel, escolhida e depois rejeitada, já aflorado em Oséias (10,1), será retomado por Jeremias (2,21; 5,10; 6,9; 12,10) e por Ezequiel (15,1-8; 17,3-10; 19,10-14. Cf. Sl 80,9-19; Is 27,2-5). Jesus transpô-lo-á para a parábola dos vinheiros homicidas (Mt 21,33-44p). Cf. igualmente a figueira estéril (Mt 21,18-19p). Em Jo 15,1-2, ele revelará o mistério da “verdadeira” vinha. Outros aspectos do tema da vinha em Dt 32,32-33 e Eclo 24,17.

A metáfora da vinha exprimia bem a aliança de Deus com o seu povo, aliança aparentada à união conjugal (cf. Os 1-3), já que a vinha é também o símbolo do amor (Ct 1,6-14; 2,15; 8,12) Este poema é na sua origem um canto de amor, transformado pelo poeta em parábola de julgamento.

O povo de Israel é a propriedade escolhida de Deus (Ex 19,5-6), o terreno escolhido, a terra santa. Hoje a Igreja é o “povo” de Deus (cf. 1Pd 2,9-10). Costumamos dizer que nós somos “criação” de Deus, mas somos também “plantação” de Deus. Com amor e dedicação ele fez de tudo para nós produzirmos frutos de justiça. Brasil é um pais rico em recursos naturais, é o maior país católico do mundo, então deveria ser o país com excelentes frutos de justiça, de bondade e de paz (é o fruto da justiça, cf. Is 32,17), no entanto produz-se muita violência e corrupção em todo canto.

2ª Leitura: Fl 4,6-9

Na 2ª leitura continuamos a carta que Paulo escreveu aos filipenses de dentro da prisão (provavelmente em Éfeso entre 54 e 57 d.C.). No entanto, o apóstolo exorta para manter a calma e viver na alegria (v. 4: “alegrai-vos sempre no Senhor”).

(Irmãos:) Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Cristo Jesus (vv. 6-7).

“Não vos preocupeis com coisa alguma”, não quer dizer ser irresponsáveis nas tarefas, nas atribuições, nas profissões, nos relacionamentos familiares etc., e sim que as preocupações com o cotidiano não devem tomar demasiado espaço na vida cristã. Quanto mais se confia em Deus, tanto mais os pensamentos ficam livres de aflições e ansiedades (cf. os conselhos de Jesus em Mt 6,25. Paz: Is 26,3).

A Vida Pastoral (2011) comenta: Se alguma situação se torna muito difícil para nós, então devemos nos reportar a Deus com orações e súplicas. A palavra “súplica”, no idioma em que o texto foi escrito, denota o sentido de algo do qual necessitamos muito, de alguma coisa vital para nós. Mas as orações e súplicas devem estar unidas à ação de graças, porque devemos agradecer a Deus antes mesmo de receber a resposta dos nossos pedidos. Talvez Deus não realize exatamente o que esperamos, mas sabemos que ele sempre responde às nossas orações e por isso devemos agradecer imediatamente. Em seguida, após depositarmos nossas dificuldades nas mãos de Deus, então já não estaremos tão estressados como antes e poderemos saborear “a paz que supera todo entendimento” (v. 7). Sentimos paz não porque a situação foi resolvida, mas porque ela já não nos sufoca – afinal, somos a vinha bem cuidada de Deus.

“Guardará os vossos corações e pensamento”; alguns manuscritos trazem: “os vossos corpos”.

Quanto ao mais, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor. Praticai o que aprendestes e recebestes de mim, ou que de mim vistes e ouvistes. Assim o Deus da paz estará convosco (vv. 8-9).

Paulo era judeu com formação grega, reconhece os valores do paganismo, mas os submete ao ensinamento tradicional cristão. Aqui recomenda um ideal de conduta, do qual todos os termos eram correntes na ética dos filósofos gregos do seu tempo. Ao mesmo tempo convida (v.9) a pô-lo em prática segundo os ensinamentos e o exemplo que ele lhes deu (3,17; cf. 2Ts 3,7). Note-se a inclusão menor: “a paz de Deus (v. 7) … o Deus da paz (v. 9)”.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 2286) comenta o termo “virtude” (Sb 4,1; 5,13): É o único emprego, nas epistolas de Paulo, de um termo muito em uso entre os moralistas gregos. As seis qualidades enumeradas denotam uma estima respeitosa dos valores sadios e “louváveis” do ideal moral dos pagãos. Mas o v. 9 mostra que esses valores são vividos, pelos crentes, dentro de uma “tradição” (2Ts 2,15; 3,6), a exemplo do próprio Paulo que vive no Cristo (3,17). Assim se completa o desapego indicado: 3,7-8.

Primeiramente diz: “Não vos preocupeis com coisa alguma”. Isso não significa ser irresponsáveis nas tarefas, nas atribuições, nas profissões, nos relacionamentos familiares etc., e sim que as preocupações com o cotidiano não devem tomar demasiado espaço em nossa vida. Quanto mais se confia em Deus, tanto mais os pensamentos ficam livres de aflições e ansiedades (cf. Mt 6,25 e 1Tm 5,8).

Se alguma situação se torna muito difícil para nós, então devemos nos reportar a Deus com orações e súplicas. A palavra “súplica”, no idioma em que o texto foi escrito, denota o sentido de algo do qual necessitamos muito, de alguma coisa vital para nós. Mas as orações e súplicas devem estar unidas à ação de graças, porque devemos agradecer a Deus antes mesmo de receber a resposta dos nossos pedidos. Talvez Deus não realize exatamente o que esperamos, mas sabemos que ele sempre responde às nossas orações e por isso devemos agradecer imediatamente.

Em seguida, após depositarmos nossas dificuldades nas mãos de Deus, então já não estaremos tão estressados como antes e poderemos saborear “a paz que supera todo entendimento” (v. 7). Sentimos paz não porque a situação foi resolvida, mas porque ela já não nos sufoca – afinal, somos a vinha bem cuidada de Deus. E como nossa mente já não está sobrecarregada com preocupações e ansiedades, então podemos nos ocupar com o que é essencial (v. 8): levar uma vida exemplar no mundo (dar testemunho), sendo verdadeiros, sabendo respeitar a dignidade do outro, sendo amáveis, sendo puros, enfim, praticando as virtudes.

Paulo termina dizendo que esse comportamento os filipenses aprenderam observando o modo como ele, Paulo, se comportava. Quem dera as pessoas pudessem também aprender essas coisas pelo testemunho dos cristãos. Então o mundo inteiro seria uma vinha que produz frutos agradáveis para Deus.

Evangelho: Mt 21,33-43

No evangelho de hoje ouvimos outra parábola sobre a vinha que sempre simboliza o povo de Israel (como a soja é o carro-chefe da economia da nossa região, assim era a uva, o vinho, na região de Israel).

(Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo:)

Jesus já se encontra-se em Jerusalém e dirige-se novamente “aos sumos sacerdotes e anciãos do povo” (vv. 15.23). Foi questionado por eles a respeito da sua atuação no templo onde expulsara os vendedores.

Depois de responder com a autoridade do batismo de João (vv. 23-27) e a parábola dos dois filhos que devem trabalhar no vinha (vv. 28-32, próprio de Mt, cf. evangelho do domingo passado), Jesus passa ao ataque narrando a parábola dos vinhateiro assassinos. Esta parábola, Mt copiou de Mc 12,1-12 (cf. Tempo Comum, 9ª Semana 2ª feira).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1879) comenta: Não é bem uma “parábola”, mas sim uma “alegoria”, porque cada pormenor da narrativa tem a sua significação: o proprietário é Deus; a vinha é o povo eleito, Israel (cf. Is 5,1-7); os servos são os profetas; o filho é Jesus, morto fora dos muros de Jerusalém; os vinhateiros homicidas são os judeus infiéis; outro povo, a quem será entregue a vinha, são os pagãos.

“Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma (vv. 33-36).

Como na 1ª leitura (Is 5,1-7), a “vinha” é o povo eleito, Israel, e o “proprietário” é Deus; “plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda” é citação de Is 5,2 inspirada no texto grego e desvia a atenção para o amor e o cuidado do proprietário por sua vinha: é possível que, tal como está, ela não pertença a parábola original (cf. Lc 20,9).

Os vinhateiros são os chefes do povo (os sumos sacerdotes que administram o templo, os anciãos das famílias ricas e tradicionais). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1900) comenta: Mt frisa, como é de seu feito, a necessidade de dar os frutos da vinha, e não parte deles somente (Mc 12,2; Lc 20,10), segundo sua perspectiva habitual (cf. Mt 7,16-20; 12,33 com Lc 6,43-44); com isto se demostra a fidelidade à Aliança (cf. 21,41-43; Sl 1,1.3).

O templo tornou-se lugar de roubo, porque as autoridades (chefes dos sacerdotes, doutores da Lei, anciãos do Sinédrio) exploram e oprimem, apoderando-se daquilo que pertence a Deus, isto é, o povo da aliança (contrato da vinha).

Os “empregados” enviados pelo proprietário para cobrar os frutos da justiça, são os profetas, muitas vezes maltratados (cf. Mt 23,34s); por ex.: Elias perseguido (1Rs 19); Jeremias, julgado e atirado à cisterna para morrer, conduzido ao Egito à força (Jr 26; 38), Zacarias, lapidado no átrio do templo por ordem do rei (2Cr 24,20-22, cf. Mt 23,35).

A Bíblia do Peregrino (p. 2368) comenta: Pela imagem da vinha, por alguns traços descritivos e pela pergunta dirigida ao público tomado como uma espécie de júri, a perícope recorda Is 5,1-7, que os ouvintes conheciam muito bem e termina com a identificação “a vinha é a Casa de Israel”. É notável na versão de Mateus a importância atribuída aos “frutos” (vv. 34.41.43) Mais importantes são as diferenças, que sintetizam o drama da história da salvação, como a compreende a comunidade de Mateus: missão reiterada e frustrada dos profetas, envio do Filho, sua morte violenta, vocação dos pagãos. O dono conserva a propriedade, que arrenda, e cobra uma parte dos frutos; os colonos querem apropriar-se do que é apenas emprestado.

Finalmente, o proprietário, enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram (vv. 37-39).

Depois de muitos profetas que pregavam a justiça (empregados), Deus envia o próprio Filho com o Reino. Se a origem da parábola remonta ao próprio Jesus, é um testemunho da sua consciência como Filho de Deus e um anúncio da sua paixão.

A Bíblia do Peregrino (p. 2368) comenta: No AT pode-se falar da terra como herança do Senhor: 1Rs 8,51; Jr 12,8 etc. No Salmo messiânico (Sl 2,8), Deus oferece ao rei, “seu filho”: “Pede-me, e te darei as nações como herança”. O Filho de Deus é agora o herdeiro, e seus rivais pretendem eliminá-lo para ficar com a herança.

Em Mc 12,8 “mataram o filho e o jogaram fora da vinha”. Mt e Lc invertem a sequência pensando na paixão de Cristo, que foi levado para fora dos muros de Jerusalém e só depois morto. A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1900) comenta: A ordem dos acontecimentos segundo Mt e Lc (lançar fora – matar) não deve ser o resultado de uma correção do texto de Mc (que traz a ordem: matar – lançar fora): para que dois autores, comumente considerados independentes um do outro, chegassem a um resultado idêntico, teria sido preciso que se apoiassem numa representação comum, fato que as referências por vezes alegadas (Jo 19,17; Hb 13,12) não respaldam. Esta ordem corresponde aos ritos que regulamentavam as execuções dos condenados a morte, notadamente as dos blasfemadores (Lv 24,14-16; cf. At 7,58).

Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo.” Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’? Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (vv. 40-43).

A rejeição e morte do Filho trazem a sentença. Em Mc 12,9 (e Lc), o próprio Jesus a anuncia que o dono “virá e destruirá esses vinhateiros”. Em Mt, são os ouvintes como júri que pronunciam sua própria sentença (cf. 2Sm 2,5-7), usando mais palavras pejorativas, “de modo violento esses perversos”.

O povo de Deus, agora congregado em torno de Jesus (pedra), passa a outros vinhateiros (chefes), que não devem tomar posse, mas servir. As interpretações variam: A vinha seria o povo histórico de Israel, ou o “Reino de Deus” (v. 43) Os “vinhateiros” assassinos seriam apenas os chefes (“sumos sacerdotes e anciãos”) ou o “todo do povo” de Israel (cf. 27,25). Outro “povo” (v. 43), a quem será entregue a vinha, seria os pagãos ou melhor a Igreja, formada de todos os povos que se tornam discípulos (28,19).

 

 

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O v. 42 é citação de Sl 118 já em Mc 12,10. Aqui muda a imagem da agricultura para a construção civil (cf. Is 28,16; Mt 16,18; At 4,11; 1Pd 2,4-8). A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1901) comenta: Esta citação literal do Sl 118,22-23, segundo o texto grego, orienta a parábola original num sentido cristológico. O leitor cristão já não se vê simplesmente diante do anuncio da morte de Jesus mais do que para o destino do Reino, o seu interesse se volta para a obra admirável de Deus, que ressuscitou seu Filho.

A Bíblia do Peregrino (p. 2368) comenta: Com a citação de Sl 118,22-23 insinua a ressurreição como ação do Pai, que ratifica e revela a dignidade transcendente do seu Filho. De fato, matando o Filho não conseguiram seu objetivo: incorreram em culpa grave, ao passo que Filho volta a viver para receber a herança. Exercerá sua autoridade no “povo” novo, aberto aos pagãos, não fechado aos judeus. Dará fruto (7,21-23).

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1901) comenta o v. 43: Versículo peculiar a Mt e sem dúvida pré-mateano (Reino de “Deus”, frutos a serem “produzidos”). “Povo” não designa as nações pagãs (ethnos, no singular, raro: cf. 24,7; perspectiva própria de Mt, segundo a qual a Igreja é que toma o lugar de Israel); provavelmente, ele não é identificado com a “nação santa” (1Pd 2,9) (pois neste caso, usa-se laós); é a “geração” nova (cf. Jr 7,28-29) dos crentes.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1900) comenta: Eis uma possível reconstrução da história desta parábola. Na boca de Jesus, a história visava a sorte da vinha (21,41; cf. Mc 12,9): a tradição pré-sinótica concentrou a atenção na sorte do Filho, acrescentado a citação do Sl 118 e das alusões escriturísticas (21,42.44): finalmente, Mt deixou claro que o advento do novo povo (21,43) está ligado ao destino daquele que fala e deve ser condenado à morte, mas ressuscitará. Portanto, quem não quiser ser esmagado pela pedra angular deve declarar-se a favor dele. A parábola, depois de uma introdução (21,33), está estruturada em duas partes: o senhor da vinha, frustrado quanto ao produto da mesma, apesar das retiradas delegações de seus servos e do envio derradeiro do seu filho (21,34-39), vai confiá-lo a outros vinhateiros que a farão produzir frutos (21,40-4).

O comentário da Vida Pastoral (2011) recomenta: Também para os membros da Igreja valem as palavras de Isaías e de Jesus; por isso a homilia deve evitar estabelecer contraposição entre Israel e Igreja, para não deixar os cristãos numa posição muito confortável. Se a vinha, que é a vida de cada fiel na Igreja, não der frutos, Jesus dirá hoje as mesmas palavras que dirigiu aos líderes religiosos da sua época.

 

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