09 de maio de 2017 – Sexta-feira, 9ª Semana

Leitura: Tb 11,5-17

Tobit era um judeu justo vivendo na diáspora do império assírio, mas foi cometido pela cegueira. Enviou seu filho Tobias para recuperar um dinheiro (cerca de 300 kg de prata) da terra distante do seu parente Raguel. Tobias não apenas buscou o dinheiro, mas casou-se com Sara, filho de Raguel. A leitura de hoje descreve sua volta a Nínive, capital da Assíria onde seus pais moravam.

Ana estava sentada, observando atentamente o caminho por onde devia chegar seu filho. Percebeu que ele se aproximava e disse ao pai: “Teu filho está chegando, e com ele o homem que o acompanhou”. Antes que Tobias se aproximasse do pai, Rafael lhe disse: “Estou certo de que seus olhos se abrirão. Aplica-lhe nos olhos o fel do peixe. O remédio fará que as manchas brancas se contraiam e se desprendam de seus olhos. Teu pai vai recuperar a vista e enxergará a luz” Ana correu, atirou-se ao pescoço do filho e disse: “Voltei à ver-te, meu filho, agora posso morrer!” E chorou (11,5-9).

Ana é a mãe de Tobias; o encontro dela com Tobias tem elementos de reencontro familiares na história patriarcal (Gn 33,4; 45,14; 46,29-30; no NT, cf. o pai do filho pródigo em Lc 15,20). Chorou como fez na despedida (5,17-23).

O anjo Rafael o acompanhava na sua viagem disfarçado de homem com o nome Azarias que indicou um remédio tirada das entranhas de um peixe que Tobias agarrou na beira do rio (6,2-9). Este remédio serviu para afastar o demônio de Sara que impedia a consumação do casamento. O mesmo remédio servirá para curar agora o pai Tobit; “enxergará a luz” faz eco a 3,17.

Tobit levantou-se e, tropeçando, atravessou a porta do pátio. Tobias foi ao seu encontro, tendo na mão o fel do peixe. Soprou-lhe nos olhos e, segurando-o, disse: “Confiança, pai!” Derramou o remédio e esfregou-o. Depois, com ambas as mãos, tirou-lhe as películas dos cantos dos olhos. Então Tobit caiu-lhe ao pescoço, chorando e dizendo: “Eu te vejo, meu filho, luz de meus olhos!” (vv. 10-13).

“Derramou o remédio e esfregou-o”; texto corrigido, outros traduzem: “e o sustentou”, ou “o remédio penetrou” (v.  11). “Depois, com ambas as mãos, tirou-lhe as películas dos cantos dos olhos” (v.12); seria também possível compreender que foi o próprio Tobit quem esfregou os olhos. “Luz de meus olhos”: a expressão (10,5) soa agora em tom triunfal.

A Bíblia do Peregrino (p. 882) comenta: O paralelismo dos remédios convida à reflexão. Dois remédios tirados do mesmo peixe afugentam um demônio maligno e o véu da cegueira. O demônio atenta contra a vida, a cegueira é como morte em vida (5,10). O homem não deve sucumbir a seus demônios nem às próprias fraquezas, visto que há remédios para se livrar de ambos. Nem magia nem milagre. A única coisa extraordinária é saber sobre-humano que o anjo comunica aos fiéis de Deus. Ben Sirac saiu em defesa dos médicos (Eclo 38,1-8). O anjo se escondeu para revelar os remédios, depois exigiu a colaboração do homem. Tobias aprendeu isso na viagem. O dinheiro depositado durante vinte anos serviu para pôr em marcha os descobrimentos. O dinheiro não passa de dinheiro, o filho vale mais (5,19).  Mas o filho valerá mais quando aprender e souber fazer algo mais do que estar consolando.

E acrescentou: “Bendito seja Deus!  Bendito seja o seu grande nome! Benditos sejam todos os seus santos anjos por todos os séculos! Porque, se ele me castigou, agora vejo o meu filho Tobias!” (vv.  14-15a).

No v. 14, os manuscritos variam: o texto longo (grego reproduzido pela Vetus Latina) alonga as bênçãos: “Que seu grande Nome esteja sobre nós!”. O texto curto (maioria dos manuscritos gregos) põe toda a oração na segunda pessoa. Nossa liturgia católica segue a tradução de S. Jerônimo em latim (Vulgata) que se baseia num original perdido (provavelmente aramaico).

A Bíblia do Peregrino (p. 882) comenta: Tradicionalmente os anjos são convidados a bendizer a Deus (Sl 103,20; 148,2). Bendizer os anjos é uma anomalia ou uma singularidade do narrador. Tobit bendiz os anjos, sem saber ainda quem é Rafael. “Nos proteja” ou “esteja sobre nós” (cf. Nm 6,27).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 535) comenta: E o bendito, pronunciado por Tobit depois de ser curado pelo filho, traz elementos da teologia da retribuição, segundo a qual a recuperação da vista é sinal da compaixão de Deus, em contraposição à cegueira, considerada sinal de castigo e habitação nas trevas (Tb 5,10.21; cf. 13,2.5-6.9). 

A seguir, Tobit entrou com Ana em sua casa, louvando e bendizendo a Deus em alta voz, por tudo o que lhes tinha acontecido (15b).

“Em alta voz”, o texto longo (Vetus Latina (cf. 13,6) traz: “com todo o corpo (grego: soma)”, mas deve se ler provavelmente “com toda sua boca” (grego: stoma).

E Tobias contou ao pai como tinha sido boa a viagem deles, por obra do Senhor Deus, como haviam trazido o dinheiro e como se tinha casado com Sara, filha de Ragüel. Aliás, ela já se aproximava das portas de Nínive. Tobit e Ana alegraram-se muito e saíram ao encontro da nora, às portas da cidade. Vendo-o andar a passos largos e com toda a firmeza, sem que ninguém o conduzisse pela mão, os ninivitas se admiraram. E diante deles Tobit louvava e bendizia a Deus em alta voz, por ter sido misericordioso para com ele e por lhe ter aberto os olhos. E, aproximando-se de Sara, mulher de seu filho Tobias, abençoou-a e disse: “Bem vinda sejas, minha filha! E bendito seja o teu Deus, filha, que te trouxe para junto de nós! Abençoado seja o teu pai, abençoado o meu filho Tobias e abençoada sejas tu, minha filha! Entra em tua casa com saúde, a ti bênção e alegria! Entra, minha filha!” E naquele dia foi grande o contentamento entre todos os judeus que se encontravam em Nínive (vv. 15c-17).

O texto longo (B, Vet. Lat., e sir.) acrescenta no v. 18 (omitido aqui): “e as bodas prosseguiram durante sete dias, e lhe deram muitos presentes”. E a Vulgata: “e as bodas prosseguiram durante sete dias e todos se regozijaram com a maior alegria”.

 

Evangelho: Mc 12,35-37

No evangelho de hoje, Jesus interpreta o Salmo 110 no sentido de um significado maior do messias. A Nova Bíblia Pastoral (p. 1242) comenta: Jesus rejeita que o Messias deva agir como um novo Davi, tratando de restaurar realezas e recuperar poderes e privilégios. Com isso, questiona também esperanças populares, como a que se manifestou em 11,9s. O caminho do Messias é outro, como o texto do Evangelho vem mostrando.

Jesus ensinava no Templo, dizendo: “Como é que os mestres da Lei dizem que o Messias é Filho de Davi? (v. 35)

Depois de vencer os debates contra seus adversários, Jesus continua seu ensinamento no Templo (cf. 11,18; 12,14; 12,38). Na entrada em Jerusalém, Jesus foi aclamado pelo povo como Filo de Davi, indiretamente em 11,10, e antes diretamente pelo cego em Jericó em 10,47s.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1951) comenta: Neste episódio, agora, quem interroga é Jesus. Seus interlocutores não são os mesmos nos três sinóticos. Em Mt, são fariseus e em Lc, escribas que acabam de aprovar a resposta dada aos saduceus sobre a ressureição. Em Mc, Jesus dirigisse a um auditório indeterminado, a numerosa multidão que se compraz em escutá-lo (v. 37). Para Mc, com efeito, o confronto direto e público terminou com o recuso dos adversários (v. 34). Estes vv. são uma transição entre a controvérsia e o alerta contra os escribas.

Os três sinóticos apresentam Jesus a argumentar, segundo o modo de um rabino, sobre um ponto de exegese e a mostrar-lhes que a qualidade de Messias não se confunde com a filiação davídica, mas lhe é superior. Sabe-se que, segundo o NT, Jesus é simultaneamente filho de David e Senhor (cf. Rm 1,3).

A Bíblia do Peregrino (p. 2432) comenta: Desta vez, pergunta sobre a descendência davídica do Messias, apoiada na Escritura, aceitada pelos expertos, identificada em Jesus pelo cego e pela multidão (10,47-48; 11,10). “Chegam dias … em que darei a Davi um rebento legítimo” (Jr 23,5; 33,15); “meu servo Davi será seu rei” (Ez 37,24). Acrescenta-se a leitura messiânica de textos como Is 11,1-10; Am 9,11; Sl 45 e outros.

O próprio Davi, movido pelo Espírito Santo, falou: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés’. Portanto, o próprio Davi chama o Messias de Senhor. Como é que ele pode então ser seu filho?” (vv. 36-37a).

Jesus cita o Sl 110,1 e quer introduzir um sentido superior e transcendente da expressão “Senhor”. Para isso conta com a opinião comum de que Davi seja o autor do salmo e que fale inspirado, com autoridade divina. O texto grego do salmo diz ho Kyrios toi Kyrioi mou (o Senhor ao meu Senhor); o hebraico Yhwh la’adony’ (Javé ao meu Senhor). As comunidades cristãs deram a Cristo o título de Kyrios (Senhor, cf. At 2,36; Fl 2,9-11; etc.) que foi aplicado a Javé no AT (já na tradução grega do AT).

E uma grande multidão o escutava com prazer (v. 37b).

Dada a tendência do evangelista, tem muita força a aprovação da “grande multidão”, em contraste com a atitude das autoridades hostis em Jerusalém.

O site da CNBB comenta: A multidão que escutava Jesus nos deixa um grande exemplo: escutava Jesus com prazer. Nós somos convidados a conhecer cada vez mais e melhor quem é Jesus, contemplá-lo a cada dia e a penetrarmos no seu mistério. Isto para nós, antes de ser uma tarefa a ser desempenhada, deve ser causa de grande alegria por termos a oportunidade de participar da vida de Jesus, da sua intimidade, de poder entrar, conduzidos pela graça, no seu mistério e viver em profunda comunhão com ele. Conhecer Jesus deve ser uma fonte inesgotável de prazer para todos nós, um prazer muito maior do que teve a multidão ao escutá-lo.

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