10 de Janeiro de 2019, Quinta-feira: Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam (vv. 14-15).

Natal mês 01 – Semana da Epifania 5ª feira

Leitura: 1Jo 4,19-5,4

A leitura de hoje continua com o tema do amor fraterno (cf. 2,7-11; 3,14-18.23; 4,7-18) relacionando-o com a fé e o amor a Deus.

Quanto a nós, amemos Deus porque ele nos amou primeiro (4,19).

Só podemos amar Deus porque “ele nos amou primeiro” (nos criou e nos enviou seu Filho, cf. 4,10). Como nossa fé é uma resposta obediente à Palavra (revelação) de Deus, nosso amor é uma resposta ao amor manifestado em seu Filho (4,11 cf. Jo 13,34).

Se alguém disser: “Amo a Deus”, entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão (4,20-21).

Se Deus é único e criou todos os seres humanos por amor, não devemos contrariá-lo e odiar outros seres humanos. Amar a Deus e odiar o irmão é uma contradição, uma mentira (cf. Mt 5,23-24). É mais fácil amar o irmão visível do que amar o Deus invisível (cf. 1Pd 1,8)? Amamos o que conhecemos, mas também odiamos o que conhecemos a partir de uma experiência ruim. Mas podemos amar a Deus porque ele se manifestou em Jesus. A palavra invisível se fez carne no homem Jesus (cf. Jo 1,14; Cl 1,15) e os apóstolos são testemunhas (cf. 1,1-3: “nós vimos”).

Na história das religiões e ainda hoje encontramos ódio contra pessoas de outras crenças. Jesus deu o mandamento do amor a Deus e ao próximo (Mc 12,24-31) e o explicou na parábola do bom samaritano cuja fé e etnia eram diferentes (Lc 10,29-37). É verdade que Jo fala do amor “aos irmãos” e não “ao próximo” (cf. Jo 13,34), mas isto se deve à crise e desunião dentro da comunidade (cf. 2,4.8-9.18-19; Jo 15).

O amor aos irmãos não se deve restringir só aos irmãos da mesma fé, porque 1Jo recorre aos protótipos da humanidade, Caim e Abel (3,12). Portanto devemos amar todos os seres humanos, já que somos todos irmãos, Filhos do único Deus que é Pai.

Às vezes escuta-se a acusação moderna numa sociedade plural de que o monoteísmo (fé num único Deus: judaísmo, cristianismo e islã) seja menos tolerante e mais violento contra outras crenças. Em 1 Jo é o contrário: a fé no único Deus que “é amor” (4,8.16) só deve produzir amor e não intolerância nem ódio!

Todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus, e quem ama aquele que gerou alguém, amará também aquele que dele nasceu. Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos (5,1-2).

Nosso amor por Deus é mera ilusão, se não for por uma participação em seu amor e não se exprimir no serviço aos seres humanos (cf. Mt 25,40,45). Pela fé em Jesus Cristo, Filho de Deus (v. 15), o homem “nasceu de Deus“, tornou-se filho de Deus (3,1; cf. Jo 1,12-13) e, portanto, irmão de todos. O amor a Deus (dimensão vertical) e o amor aos irmãos (dimensão horizontal) estão vinculados (v. 2; cf. Cl 3,14; 1Cor 13; Mt 22,34-40p). O amor aos irmãos decorre do amor a Deus e está enraizado na fé.

Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé (5,3-4).

O critério do amor autêntico a Deus é o cumprimento da sua vontade, ou seja, a observância dos seus mandamentos os quais prescrevem o amor fraterno (3,23; Jo 13,34s; 14,21; 15,10.12s.17; Mt 22,40p; Rm 13,9; Gl 5,14). Estes mandamentos “não são pesados” (cf. Dt 30,11; Mt 11,30), sobretudo porque além da razão humana que deve reger a ética e as leis, temos a motivação da fé que nos dá a força adicional para “vencer o mundo” (as tentações, o anticristo, cf. 2,13-14; 4,4; Jo 16,33; Mt 4,1-11; 12,31; 14,30; 16,33; 2Tm 3,12; Rm 8,37; Ap 2,7-11.14.26; 3,5.12.21; 12,11; 21,7).

 

Evangelho: Lc 4,14-22a

Os evangelhos de hoje e amanha são de Lucas; talvez o motivo da escolha de hoje seja o tema da cidade de Nazaré, onde Jesus foi criado. Lucas, o autor grego e erudito (“médico” cf. Cl 4,14) tem simpatia pelos costumes judaicos (cf. Lc 1-2).

Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam (vv. 14-15).

Seguindo o evangelho mais velho de Mc, Lc narra como Jesus foi batizado e tentado antes de começar sua pregação pública (3,1-4,13p; cf. Mc 1,1-13). Superada a prova no deserto, o Espírito continua guiando Jesus (vv. 14.18; cf. 3,22; 4,1). Antes de voltar a Nazaré (em Mc só em 6,1-6), Lc resume o início da atividade pública de Jesus na região que lhe rendeu fama e elogios.

E veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado, e levantou-se para fazer a leitura (v. 16).

Lc apresenta a primeira pregação do messias de maneira mais extensa do que Mc 1,14s, não numa montanha como Mt 5-7, mas numa sinagoga (como depois os missionários cristãos em At 9,20; 13,5; 14,44 etc.). O lugar não é a sinagoga de Cafarnaum (cf. vv. 23.31; Mc 1,21-28; Jo  6,59), mas de Nazaré (cf. Mc 6,2; Mt 13,54). Sendo judeu piedoso e praticante, Jesus frequentava o culto na sinagoga no dia de sábado. Só em Jerusalém existia o templo onde sacerdotes celebravam os sacrifícios que o povo oferecia. Nos outros lugares, o povo se reunia nas sinagogas que surgiram no tempo do exílio quando não havia templo e continuam até hoje sendo o lugar para assembléias religiosas do judaísmo no mundo inteiro. O templo, porém, foi destruído em 70 d.C. e no século VII substituído por um santuário muçulmano.

Nas sinagogas celebra-se no sábado um culto da Palavra, cantando salmos e lendo (em pé) da Lei do Moises (Torá – Pentateuco) e dos profetas seguida de uma homilia (sentada). Nesta, qualquer judeu adulto podia tomar a palavra, mas as autoridades da sinagoga chamavam geralmente aos que eram versados nas escrituras (cf. At 13,15).

Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: ”O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (vv. 17-19).

A cena e programática: síntese e modelo da pregação de Jesus. Providencialmente oferece-se o livro de Isaias. Jesus não escolheu, mas achou a passagem de Is 61,1; o texto original invoca a consagração de um profeta (cf. 1Rs 19,16) ou do messias (cf. Is 11,1-2; 42,1) apresentando seu programa de governo (cf. Sl responsorial 72). Jesus aqui se refere ao Espírito que ele acaba de receber no batismo e faz dele a fonte de sua mensagem e ação salvadora. Lc e At destacam o papel do Espírito Santo (cf. Lc 1-2; At 2 etc.).

O “evangelho” (palavra grega que significa “Boa Nova”), ou seja, a boa noticia do Reino de Deus (cf. Mc 1,14-15p), inclui a libertação de qualquer tipo de opressão: econômica, os pobres; política, os cativos; a física (e intelectual), os cegos. Ao Is 61,1, Lc acrescenta Is 58,6 antes de proclamar um “ano de graças” (v. 19; Is 61,2a). Lc interrompe a citação antes do final ameaçador (Is. 61,2b: “um dia de vingança para nosso Deus”). O ano da graça designa o ano jubilar fixado pela lei de 50 em 50 anos para perdoar dívidas (cf. Lv 25,10-13). Para Lc, o messias veio para proclamar a graça e a misericórdia de Deus e não a sua vingança (cf. Lc 6,36s; 15; 23,34.43). O ano de graças agora é a atividade pública de Jesus, que demora um ano (nos evangelhos sinóticos) desde a pregação na Galileia até a Páscoa em Jerusalém (em Jo, são três anos).

Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.” Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca (vv. 20-22a).

No texto de Is 61,1, um profeta anônimo fala na primeira pessoa. Quem é este eu? Muitos leram estes versículos, mas seu sentido sempre ficara a meio caminho. “Hoje se cumpriu esta passagem da escritura” (v. 21). Agora chegou este Eu que pronuncia este texto autenticamente que será cumprido e estará cheio de sentido. A todos que tem “os olhos fixos nele”, Jesus declara-se messias (cf. 1,32.35; 2,11; 3,22; 22,67-71).

Em Lc, “hoje“ é termo significante para salvação, cf. o anúncio do anjo aos pastores na noite de Natal em 2,11 (cf. 5,26; 19,5.9; 23,43; cf. 19,47; Mc 1,15). Este “hoje” faz o tempo parar para a transcendência (mundo eterno de Deus) entrar em nosso mundo e nossa história.

O evangelho de hoje termina aqui, mas Lc continuou narrando as dúvidas (cf. Mc 6,2-6p) e a rejeição dos nazarenos que se seguiam ao primeiro entusiasmo e levaram até a tentativa de homicídio (vv. 22c-30). Assim Lc une nesta única narração na sinagoga de Nazaré a admiração pelos costumes judaicos, o programa do messias (anunciado em Is 61,1 e identificado com Jesus), a recusa oposta por uma parte de Israel e a pregação da salvação aos pagãos (vv. 24-27; cf. At 28,25-28, conclusão da obra de Lc).

Para nós fica o convite de acreditarmos “hoje” no messias Jesus, conhecê-lo melhor a partir das Sagradas Escrituras e colaborar na sua missão libertadora.

O site da CNBB resume: Jesus é enviado por Deus, ungido e consagrado pelo Espírito Santo para a missão evangelizadora, que implica não somente na salvação da alma, mas na libertação integral da pessoa humana. Isso significa para nós que a missão da Igreja, que é continuadora da missão do próprio Cristo, não pode ser reduzida à dimensão espiritual da pessoa humana, mas deve levar em conta a pessoa humana como um todo, considerando todas as dimensões da existência humana. Sendo assim, todos os problemas relacionados à existência humana são de competência da Igreja e objetos da ação evangelizadora.

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