10 de julho de 2018, terça-feira: Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade

Leitura: Os 8,4-7.11-13

Na leitura de hoje, Oseias denuncia a anarquia política e a idolatria, ou seja, a fabricação de reis e deuses no reino do Norte nos últimos anos do rei Jeroboão II (783-743 a.C.). Um redator deuteronomista em Jerusalém pode ter acrescentado os vv. 5-6.11-14 denunciando outros locais de culto (cf. 1,4.7; 3,10.12; Am 2,5; Is 51,13)

A Bíblia Sagrada Edição Pastoral comenta na introdução deste livro: O profeta apresenta a relação entre o Deus, sempre fiel e cheio de amor, e seu povo, que o abandonou e preferiu correr ao encontro dos ídolos. Oséias torna-se, então, denunciador de todo tipo de idolatria, que ele chama de prostituição. Essa comparação será daí para frente uma constante nos escritos bíblicos… Tais “prostituições”, segundo Oséias, não consistem somente em adorar imagens de ídolos, mas inclusive em fazer alianças políticas com potências estrangeiras que provocam dependência, exploração econômica e opressão (7,8-12; 8,9-10). “Prostituições” são também os golpes de Estado que preservam interesses de uma pequena minoria (7,3-7), a confiança no poder militar e nas riquezas (8,14; 12,9) e todo tipo de injustiças (4,1-2; 6,8-9; 10,12-13).

Ainda que faça declarações verbais (v. 2), o povo não respeita as exigências da aliança como o reconhecimento de Javé como Deus exclusivo e soberano de Israel e o cumprimento das cláusulas ou mandamentos. Idolatria é ir contra o seu reconhecimento como Deus único; instituir outras autoridades sem contar com ele é ir contra o reconhecimento dele como soberano. O profeta considera ídolo a imagem do touro (“bezerro”) no santuário de Betel (vv. 5-6; cf. 4,15; 6,10; 10,5.15; 1Rs 12,28s), porque Javé não admite ser representado em figura nenhuma (cf. Ex 20,3-5, etc.).

Eles constituíram reis sem minha vontade; constituíram príncipes sem meu conhecimento; sua prata e seu ouro serviram para fazer ídolos e para sua perdição (v. 4).

Pela boca do profeta, o Senhor fala que o povo do reino do Norte (Israel) instituiu reis (príncipes) “sem meu conhecimento”, lit. eu não o sabia, isto é “à revelia de mim”, mas é preferível “sem minha vontade (aprovação)” (cf. 7,3ss; 10,3; 13,10ss). Oseias não parece querer condenar a instituição da realeza (cf. 1Sm 8) nem o rei da Samaria (a capital do reino do Norte) oposto à dinastia davídica legítima de Jerusalém. Recordamos que Saul foi nomeado com a aprovação do Senhor (1Sm 9-10), e que também o primeiro rei do Norte, Jeroboão I, contou com um oráculo profético (1Rs 11). O que o profeta condena são os sucessivos golpes de estado inspirados por preocupações alheias às da fidelidade a Javé.

Teu bezerro, ó Samaria, foi jogado ao chão; minha cólera inflamou-se contra eles. Até quando ficarão sem purificar-se? Esse bezerro provém de Israel; um artesão fabricou-o, isso não é um deus; será feito em pedaços, esse bezerro de Samaria (vv. 5-6).

“Samaria” era a capital do reino do Norte. Para diminuir a romaria para Jerusalém, capital do reino do Sul, o primeiro rei do reino do Norte, Jeroboão I, erigiu “dois bezerros de ouro” em dois pontos estratégicos do seu reino, onde já havia santuários existentes, em Betel e em Dã (13,2; 1Rs 12,28s, cf. Gn 12,8 etc. Jz 17-18). À arca da aliança que ficava no templo de Jerusalém, ele opôs o bezerro (touro), símbolo do pedestal de Javé, o Deus invisível (cf. Ex 32). Mas escolhendo o mesmo símbolo de Baal, deus cananeu da fecundidade, abriu a porta aos piores compromissos.

Em vez de “teu bezerro foi jogado ao chão”, a Bíblia de Jerusalém traduz: Teu bezerro, “rejeitei” (conj.; “ele rejeitou”, hebr.); a Bíblia do Peregrino: “é repugnante”; a Tradução Ecumência da Bíblia: “fede”. Duas palavras são ambíguas neste versículo: o primeiro verbo, “rejeita” (transitivo) ou “fede”, “repugna”; o último substantivo: “inocência” (“pureza”) ou “impunidade”. Não sabemos se a ambiguidade é intencional. O bezerro idolátrico provoca a ira do Senhor, ao passo que o povo continua na culpa, porque os sacrifícios oferecidos a essa imagem não servem para expiar, “ficarão sem purificar-se”.

O bezerro “não é um deus”, nem pode ser a imagem do Deus verdadeiro. Este ataque contra os ídolos será seguido de muitos outros na literatura profética (cf. Is 40,20; 41,21-29 etc.). “Será feito em pedaços”; Oseias anuncia o fim deste culto oficial do reino do Norte  que será destruido em 722 (cf. 1Rs 17).

Oseias compara o culto da sua época com a dança ao redor do bezerro de ouro, “fabricado pelo artesão” Aarão, quando Moisés demorava na montanha (Ex 32). Sempre de novo, os homens criam este bezerro. Mas são um par desigual. O homem não se torna mais humano na frente de um animal. Brevemente, o profeta revela a farsa, dizendo: “Homens beijam bezerros” (13,2; cf. 1Rs 19,18).

Semeiam ventos, colherão tempestades; se não há espiga, o grão não dará farinha; e, mesmo que dê, estranhos a comerão (v. 7).

Mas o bezerro não tem eficácia, a não ser negativa (cf. Eclo 7,3), é como palha sem valor nutritivo, “não há espigas,… não dará farinha… estranhos a comerão”, alusaõ ao saque pelos inimigos.

Nos vv. 7-14 continua o tema da infidelidade. É deslealdade ao Senhor soberano fazer aliança com outras potências como a Assíria (v. 9) ou confiar a segurança nacional a defesas militares (v. 14), bem como renegar a Lei de Moisés e confiar num culto pervertido (vv. 11-12). A conduta se volta contra eles: outros se aproveitam de sua prosperidade (v. 7: “estranhos a comerão”), seu aliado os oprime com tributos (v. 10), o culto não é aceito (13) e as fortalezas são devoradas pelo fogo (v. 14). O fim será voltar ao Egito (v. 13), ou seja, retroceder na historia: definitivamente?

Efraim ergueu muitos altares em expiação do pecado, mas seus altares resultaram-lhe em pecado. Eu lhes deixei, por escrito, grande número de preceitos, mas estes foram considerados coisa que não lhes toca (vv. 11-12).

“Efraim” foi um dos dois filhos de José; nasceu no Egito e, pela benção do seu avô Jacó-Israel, foi constituído co-herdeiro da terra de Israel, junto com seu irmão Manassés e os outros filhos de Jacó (Gn 41,50-52; 48,13s.17-19). Deu nome à região central de Israel, incluindo Siquem (Gn 12,6; Js 20,7; 24,25.30) e a região da capital Samaria (Is 9,7). Jeroboão I, que iniciou a divisão dos reinos, nasceu lá (1Rs 11,26). Por sua posição privilegiada, Efraim é “meu filho primogênito” em Jr 31,20; o reino do Norte foi chamado de “Israel” como também de “Efraim” (cf. 4,17; 5,3.12-14; 6,4.10; 7,1.8.11; 8,9.11; 9,3.8.11.13.16; 10,6.11; 11,3.8; 12,1s.9.15; 13,1.12.15; 14,9).

A “multiplicidade” de seus altares locais só serve para multiplicar as culpas. E se nega validade jurídica à “multidão” de leis recebidas do Senhor (4,1ss), como que promulgadas por um “estrangeiro”, aqui traduzido: como “coisa que não lhes toca”, lit. são consideradas como coisa estrangeira; é uma alienação dupla (cf. 7,9; 8,7).

Gostam de oferecer sacrifícios, imolam carnes e comem; mas o Senhor não os recebe. Antes, o Senhor lembra seus pecados e castiga suas culpas: eles deverão voltar para o Egito (v. 13).

Já havia sacrificios para expiar (v. 11), mas o povo prefere os de carne: “Imolam carnes e comem” (cf. 4,13; Jr 7,21); tradução incerta de um texto difícil; talvez corrompido, talvez uma lembrança das panelas do Egito (cf. Ex 16,3).

Com este bezerro, com este culto idolátrico, o povo volta ao Egito (cf. 9,3.6), ou seja, à opressão e à escravidão. A sentença é revogar a libertação do Egito (cf. 11,1; 12,10-14 e a auto-apresentação de Javé no decálogo, Ex 20,2).

A contradição com 11,5s é apenas aparente: Não voltarão ao Egito, mas em vez de serem cativos no Egito, eles os serão na Assíria. Sua situação será idêntica.

 

Evangelho: Mt 9,32-38

Depois da cura de dois cegos (vv. 27-31), Jesus cura “um homem mudo, que estava possuído pelo demônio”. Nesse relato, Mt destaca mais a atitude favorável do povo e a atitude maliciosa dos fariseus do que o próprio milagre.

Apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. Quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: “Nunca se viu coisa igual em Israel” (vv. 32-33).

Na medicina da época, os demônios eram a causa de muitas doenças e deficiências, por isso uma cura bem sucedida foi vista como expulsão do demônio. Se uma pessoa nasce surda, não aprende a falar, fica muda. Também depois de um acidente vascular no cérebro (AVC), a pessoa não consegue falar, porque as conexões de nervos entre o pensar e o falar foram prejudicados. As multidões são discípulos em potencial, “ficaram admiradas”, mas não é ainda a fé de discípulos.

Os fariseus, porém, diziam: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios” (v. 34).

Os fariseus têm outra explicação para a cura benfazeja de Jesus: “É pelo príncipe dos demônios…”. Esta distorção e inversão na acusação, Jesus a desqualifica mais tarde como “pecado contra Espírito Santo” (12,27-28.31-32p).

Em 12,22-23, Mt conta a mesma história com variações. Esta duplicidade é resultado das duas fontes: uma cura do surdo-mudo foi narrada em Mc 7,31-37 e também na coleção Q (Lc 11,14). Também a acusação de expulsar pelo chefe dos demônios que se encontra em Mc 3,22-27 e em Q (Lc 11,15-23), duplica-se em Mt 12,24-29. Para Mt, o importante é que Jesus está cumprindo as promessas e profecias de Israel ao realizar toda esta séria de curas (cf. 11,5s): “Nunca se viu coisa igual em Israel” (v. 33), mas uma ruptura está se formando (cf. 8,10 sobre a fé do centurião, no início desta série).

Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade (v. 35).

Com um resumo da atividade de Jesus, Mt conclui esta parte narrativa dos dez milagres (doze curas). Mt escreveu a mesma frase já na introdução do sermão da montanha (4,23). Os leitores sabem agora qual é o Evangelho do reino (3,2; 4,17 e caps. 5-7: sermão da montanha) e como o messias cura todas as doenças (caps. 8-9), tornando-se conhecido em Israel. Através destes capítulos, sabem que Jesus está cumprindo a escritura, a lei e os profetas (5,17; 7,12; 8,17).

Agora estamos antes do segundo grande discurso em Mt, desta vez sobre a missão dos apóstolos (cap. 10; cf. 11,1; evangelhos dos próximos dias). A série dos dez milagres (doze curas) foi interrompida duas vezes com um diálogo de seguimento e um relato de vocação. Agora Mt abordará formalmente o grande tema de escolha e missão dos doze.

Esta nova unidade se abre e termina resumindo a atividade missionária de Jesus: percorrendo as cidades, pregando, ensinando e curando (9,35 e 11,1). No centro do discurso de Mt 10 enuncia o princípio da semelhança: os discípulos como o mestre. Por isso, a atividade de Jesus emoldura toda a instrução aos discípulos.

Jesus ensina “nas sinagogas”, porque eram lugares de culto e também de ensino ou catequese. Jesus escolheu esses lugares de reunião para anunciar o Evangelho, a “boa notícia do reino” (4,17p.23; cf. Lc 4,16-30). Mas o êxito de Jesus aumenta o trabalho, para o qual reúne os primeiros colaboradores que agindo aprenderão juntos dele. Mas precisa de mais trabalhadores:

Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: ”A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (vv. 36-38).

Jesus sente profundamente a dor e as enfermidades do povo, “se compadece” ao vê-lo, como Moisés no monte Nebo quando lhe foi anunciada sua morte próxima (Nm 27,12-17); como o profeta Miqueias viu o povo na presença de dois reis (1Rs 22,17). Jesus assume o ofício de bom pastor e deixará a seus discípulos a tarefa de colher (cf. Jo 4,37; 10).

À imagem da pesca (“pescadores de homens” em 4,19) se acrescentam a clássica do “pastor” (Jr 23; Ez 34; Sl 23; 80) e a do ceifador (“trabalhador” rural, cf. Sl 126) que continuam a ser usadas para se descrever o apostolado na Igreja. A multidão em Israel tinha seus chefes: sacerdotes e doutores da lei; no entanto, não cuidavam bem do rebanho, ou seja, do povo (cf. Jt 11,19; Ez 34,5). As pessoas estão “cansadas e abatidas”, porque não foram cuidadas. Como hoje, p. ex. crianças que estão nas ruas, abandonadas pelos pais, ou jovens que não recebem a educação que merecem. A corrupção e má distribuição fazem com que as riquezas da nação não cheguem às pessoas de maneira igualitária e aumentam a violência e o uso de drogas.

O site da CNBB comenta: Existem pessoas que vivem chorando pelos cantos por causa das ofensas e calúnias das quais são vítimas no trabalho evangelizador. O Evangelho de hoje nos mostra que não deve ser essa a atitude dos discípulos de Jesus. Quando Jesus realiza a expulsão de um demônio, é caluniado, pois afirmam que é pelo poder do mal que ele faz exorcismos. Jesus simplesmente continua a sua caminhada, preocupando-se com o sofrimento e as dores de todos os que encontra pelo caminho e fazendo o bem a todos, olhando a todos com compaixão e preocupando-se porque são como ovelhas que não têm pastor. Assim também devemos ser nós, não devemos viver preocupados com as calúnias que nos são dirigidas, mas sim preocupados em fazer o bem.

Voltar