11 de dezembro de 2016 – Advento 3º Domingo Ano A

No 3º Domingo do Advento continua a apresentação de João Batista como figura que prepara para a vinda do Senhor. Desta vez, João já está preso e parece duvidar do messias Jesus. A resposta de Jesus são seus milagres que cumprem as profecias (1ª leitura), motivo de “alegria”. O 3º domingo do Advento é chamada Gaudete (latim: “Alegrai-vos”) e tem a cor litúrgica rósea). Alegria e perseverança (paciência) são as atitudes para se esperar a vinda do Senhor (2ª leitura).

 

1ª Leitura: Is 35, 1-6a.10

Os caps. 34-35 receberam o nome “pequeno apocalipse” de Is. Contém uma descrição dos últimos e terríveis combates que Javé Deus deve empreender contra as nações (pagãs) em geral e contra Edom em particular (cap. 34), seguida do anúncio do juízo final que restabelecerá Jerusalém em sua glória total. A intenção e o estilo dependem da segunda parte do livro de Is (Deutero-Isaias, caps. 40-55), são comparáveis aos caps. 24-27, o “grande apocalipse” de Is, e pertencem como estes à última etapa de composição do livro na época pós-exílio.

Junto ao precedente, o texto de hoje é a reviravolta total. Ao julgamento pronunciado contra Edom se opõem as bênçãos reservadas a Jerusalém. Nossa leitura (é o cap. 35 inteiro) é um hino à alegria, mencionada várias vezes. Os contatos com o Segundo Isaías (40,1-11; 43,19s; cf. 62,10-12) são particularmente numerosos com temas do êxodo e do retorno à pátria, como sagrada peregrinação.

A Bíblia do Peregrino (p. 1761) comenta: A renovação atinge as deficiências do corpo mutilado e a fraqueza da natureza deserta. Uma corrente de alegria atravessa e vivifica tudo; e a razão da alegria é a glória do Senhor, a sua recompensa, a sua redenção. Canta-se apenas a marcha, não se descreve a instauração do novo reino.

Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus (vv. 1-2).

A transformação da natureza reflete a “glória do Senhor”. No livro de Ex, a glória do Senhor é associada à nuvem luminosa e a tempestade no Sinai (cf. Ex 13,21s; 16,10; 19,18s; 24,16; 34,29; 40,34s; cf. 1Rs 8.10s; 19,11-13; Ez 1), aqui à fecundidade do deserto da Síria pelo qual vão passar os israelitas libertados, na volta do exílio (cf. 40,5). Este deserto será como as regiões mais arborizadas (Líbano, Carmelo) e como a planície fértil do litoral (Saron; cf. a flor em Ct 2,1).

Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar” (vv. 3-4).

A comunidade dos judeus ficou enfraquecida pelo exílio, precisava ser socorrida (cf. 40,19-21 e as promessas de 40,10; 52,6). Para reanimar a comunidade cristã que sofria nas perseguições, Hb 12,12 cita este versículo. No contexto de Advento interessa que é o próprio Deus que “vem para vos salvar”, cf. Jo 3,17: “Deus não enviou seu Filho no mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (cf. a dúvida de João e a resposta de Jesus no evangelho de hoje).

Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos (vv. 5-6a).

Da reanimação de fraquezas temporárias e psíquicas passa para a cura de deficiências físicas. Na literatura apocalíptica, a restauração do povo inclui a recuperação dessas deficiências. Olhos e ouvidos eram temas condutores nos caps. 28-33 e o são em 40-55. Em Mt 11,5 (cf. evangelho de hoje) e Lc 7,18, a cura dessas deficiências entendem-se como cumprimento da profecia sobre o messias (cf. Is 29,18s; At 3,8 etc.).

Nossa liturgia omite os vv. 6a-9 que falam da transformação da natureza e da volta do exílio como caminho seguro e estrada santa para os puros.

Os que o Senhor salvou, voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto (v. 10).

É interessante o paradigma do que é excluído: impuros ou profanos (v. 8), feras (“animais de predadores”), sofrimento e aflição (vv. 3-6.9-10; cf. 25,8). A volta a Sião (Jerusalém) promete uma “infinita alegria”, imensa, eterna, sem limites, “brilhando em seus rostos”, lit.: “sobre sua cabeça”; é preciso compreender que eles carregam sua alegria como bagagem de um viajante; “cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto”. Já em 25,8, Is profetizou que não haverá mais morte nem lágrimas (em Ap 21,4 é citado para ilustrar a Jerusalém celeste).

2ª Leitura: Tg 5, 7-10

A Carta da Tiago é uma das sete Cartas Católicas. Católica no seu significado grego: universal, geral, ou seja, estas cartas não se dirigem a um destinatário específico, p. ex. a uma comunidade em Roma ou Corinto, mas a todos em geral

A Bíblia Sagrada Edição Pastoral (p. 1489) introduz esta carta: A Carta de Tiago é um escrito de caráter sapiencial, isto é, mostra a sabedoria do discernimento cristão diante das situações. Dirige-se a todas as comunidades cristãs, simbolizadas pelas «doze tribos» do novo povo de Deus. O autor se apresenta como Tiago, pode ser o filho de Alfeu (Mc 3,18), ou mais provavelmente o “irmão do Senhor” (Gl 1,19; cf. Mc 6,3; At 12,7; 21,17s; 1Cor 15,7) que dirigiu a igreja de Jerusalém (cf. At 15,13) e morreu mártir no ano 62 (não o irmão de João que morreu em 44, cf. At 12,2). Diversas razões, porém, fazem pensar que o verdadeiro autor da carta é judeu de origem grega do final do século I, e que escreveu a carta entre os anos 80 e 100.

Na última parte da carta, o autor dirige-se novamente e repetidamente aos “irmãos” (vv. 7.9.10.12). para exortá-los sobretudo à paciência (ou perseverança; vv. 7-11) e à oração (vv. 13-18).

Irmãos, ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera. Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima (vv. 7-8).

Como no início da carta (cf. 1,2-4.12), fala de paciência (v. 7) e perseverança nas provações. A espera da “vinda (parusia) do Senhor” é o motivo decisivo da paciência cristã (1,2-4; 12; 1Ts 3,13; 1Pd 4,7; 5,10), comparada com a do lavrador (v. 7; cf. Mc 4,26-29) no regime agrícola da Palestina. A paciência como perseverança nas dificuldades e adversidades (cf. 1,3s; Cl 1,11) e a firmeza do coração (1Ts 3,13) são atitudes adequadas no tempo da provação que precede a parusia.

Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas (v. 9).

A Nova Bíblia Pastoral comenta (p. 1486): A perseverança a mencionada no início da carta se presenta aqui à luz da grande esperança que anima o autor e a comunidade: a vinda próxima do Senhor. Apostar nessa vinda não é acomodar-se, mas agir como agricultor que mesmo sem sinais de vida na semente que lançou no solo, sabe que o resultado de seu trabalho virá.

Exortando a paciência e a perseverança, o autor supõe que a “vinda do Senhor” esteja próxima e que será o tempo do julgamento final e definitivo. Era a crença das comunidades primitivas (cf. Mc 13,29p: “ele está próximo, às portas”; cf. Ap 3,20), mas contrariamente ao uso nas cartas de Paulo (cf. 1Cor 15,23; 1Ts 2,19; 3,13; 4,15; 5,23; 2Ts 2,1.8) e no resto do NT (Mt 24,3.27.37.39; 2Pd 1,16; 3,4; 1Jo 2,28), a parusia em Tg é antes a de Deus que a de Cristo (cf. 2Pd 3,12), pois o “Senhor” (vv. 8.10.11) e o “juiz” (v. 9) designa Deus como demonstra o contexto.

Neste particular, Tg se aproxima mais do ambiente judaico. A carta é escrita num momento ou num ambiente onde não se põe o problema do retardamento da parusia (como em Mt 25,5.19 ou 2Pd 3,8s), mas o horizonte escatológico é evocado com diversas expressões: “últimos dias” (5,3); “salvação” (1,12; 2,14); “coroa da vida” (1,12), “Reino” (2,5); o “juízo-julgamento” (2,12s; 5,12); “inferno” (3,6).

Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor (v. 10).

O recurso ao “modelo de sofrimento e firmeza” dos profetas é conforme a tradição judaica que os considerava mártires e por isso ‘bem-aventurados’ (v. 11; cf. Mt 5,12p; cf. Mt 23,29-31; At 7,52; Rm 11,3; 1Ts 2,15; Hb 11,36-38). Outro exemplo das Escrituras é a “paciência de Jó” (em seguida, no v. 11).

 

Evangelho: Mt 11,2-11

Outra vez ouvimos de João Batista, o profeta que prepara o povo para a vinda do Senhor. Ele é o “precursor”, na vida (seis meses mais velho que Jesus, cf. Lc 1,28) e na morte de Jesus. A influência de João Batista foi grande e não parou com seu martírio durante o banquete de Herodes Antipas (cf. 14,1-12p). Havia grupos batistas que se consideravam João talvez como messias e se tornaram certa concorrência dos cristãos (cf. At 19,1-7). Como João batizou a Jesus, ele parecia ser a pessoa superior (cf. 3,14s). O lugar de João na história da salvação precisava ser esclarecido (cf. Jo 1,6-8.15.19-36; 3,22-30; 4,1s; 13,6-10).

O texto de hoje não se encontra no evangelho mais antigo de Mc, mas noutra fonte comum com Lc (fonte Q, cf. Lc 7,18-28) que Mt usa. A Bíblia do Peregrino (p. 2340) comenta: Em algumas comunidades primitivas foi preocupante a questão sobre o lugar de João Batista com referência a Jesus. Algo disso se reflete nessa perícope. Vamos dividi-la em duas partes: Jesus responde a João e seus discípulos definindo sua identidade messiânica (1-6); Jesus define a missão do Batista e explica a reação dos judeus (7-15.16-19).

João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos, para lhe perguntarem: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (vv. 2-3).

Já antes de Jesus iniciar sua pregação de Jesus (4,17p), João Batista foi preso na fortaleza por Herodes Antipas, o poderoso tetrarca (governador da Galileia e da Pereia/Transjordânia), por ter criticado o casamento ilegítimo (Mc 6,17s; Mt 14,3s) e a injustiça dele (Lc 3,19s; Flávio Josefo). Podemos imaginar a situação difícil na carceragem que leva a desespero, loucura e revolta. Não só bandidos estão na prisão, inocentes também podem estar presos, até profetas e homens santos: p. ex. José no Egito (Gn 39,20-40,23); Jeremias em (Jr 37-38); Jesus (Mc 14-15p; Jo 18-19) e os apóstolos (At 4-5; 12; 16; 21-28). Em 27,46, também Jesus parece entrar em desespero, na cruz rezando Sl 22,2.

“Ouviu falar da obras de Cristo”; são a as palavras e curas de Jesus, narrados nos caps. anteriores. “Cristo”, em Mt, é o messias de Israel, descendente de Davi (1,1.16s; 2,4). “Em 3,11, João anunciou o messias como mais forte, “aquele que há de vir” (cf. Jo 1,27). João tem dúvidas ou falta de paciência na atuação de Cristo?

Variação de texto: “enviou-lhe dois dos seus discípulos” (cf. Lc 7,18). João ouviu da atuação de Jesus misericordioso com os pecadores e curando os doentes. Começou duvidar se Jesus seria o messias esperado e por ele anunciado como juiz definitivo e implacável (3,10-12)? Ou ficou impaciente e pretende convidar a Jesus a passar a ação. De fato, há uma desproporção entre o anunciado pelo precursor e a maneira como Jesus age (ou demore a agir?) que justifica a pergunta.

A Bíblia do Peregrino (p. 2341) comenta: A pergunta de João é sincera ou retórica? Alguns pensam que João faz a pergunta simplesmente para que seus discípulos recebam a resposta. Muitos pensam, por causa do contexto e atitude ambígua dos discípulos, que João pergunte desiludido ou desconcertado. A pergunta é nada menos que sobre o Messias esperado, futuro, “aquele que há de vir” (Ml 3,1). João o esperava como o juiz escatológico, armado de pá e fogo (3,10-12) e sua imagem se fundamenta na Escritura (p. ex. Is 66,5-6.15-16); as notícias que recebe falam de um Jesus benéfico, acolhedor, disposto a perdoar.

Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados (vv. 4-5).

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1198) comenta: Se é pelo fruto que se conhece a árvore, a pergunta de João tem de ser respondida por Jesus e não com o mero “sim” ou “não”, mas com os resultados de sua atividade. Os relatos interiores não mostram outra coisa, em relação às dores dos pobres e abandonados, senão a compaixão do Messias e sua intervenção em favor da liberdade deles.

Jesus responde sobre sua pessoa e missão, apontando para uma imagem alternativa da Escritura: não o juiz escatológico aplicando a ira de Deus (cf. 3,7), mas os milagres e curas que Isaias anunciou como sinais do tempo messiânico: Is 26,19 (mortos); 29,18-19 (surdos), 35,5-6 (cegos, surdos, coxos, pobres; cf. 1ª leitura de hoje); 61,1 (citado por Lc 4,18s: Boa Nova para os pobres; cf. Lc 1,19: o anjo Gabriel anunciou a Zacarias “uma Boa Nova/evangelho”). Só a cura de leprosos não se encontra em Is (foi acrescenta pela fonte Q, cf. Lc 7,22).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1858) comenta: Por essa alusão aos oráculos de Isaías, Jesus mostra a João que as suas obras inauguram certamente a era messiânica, mas sobre a forma de ações benéficas e de salvação, não de violência e de castigo (cf. Lc 4,17-21).

O conjunto de Mt 5,1-9,34 mostrou como Jesus cumpre todas essas profecias (cf. os resumos 4,23=9,35). Nestes caps, anteriores, o leitor de Mt já leio sobre as curas de cegos (9,27-31), paralítico (9,2-8), leproso (8,1-4) surdo (9,32-34) e ressurreição de uma pessoa morta (9,18-26). Evangelizar (anunciar a boa Nova) aos pobres lembra o início do sermão da montanha (5,3).

a salvação de Deus é concedida (cf. Lc 4,18s; Jo 3,17). O cumprimento de profecias messiânicas confirma sua missão. Em 10,1.7s, envia os apóstolos para fazerem as mesmas coisas.

Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” (v. 6).

Em forma positiva, esta bem-aventurança felicita a quem recebe Jesus como Messias. “Escandalizar” vem de “tropeçar”, aqui se escandaliza quem se sente-se frustrado pela ação de Jesus e não reconhece-lo como Messias.

A Tradução Ecumênica da Bíblia (p. 1865) comenta em 5,29: Conforme a Bíblia, o “escândalo” não é um mau exemplo nem um fato revoltante, mas etimologicamente, um “obstáculo”, uma “armadilha” (Sl 124,7), uma “pedra de tropeço” que faz cair (I 8,14-15; Rm 9,33; 1Pd 2,8). Numerosos sãoi as causas ou ocasiões de queda: primeiro, Jesus (Mt 11,6; 13,57; 17,27; 26,31-33), mas também, em outro sentido, os homens (5,29; 16,23; 18,6-9), a perseguição (13,21; 24,10)

A frase do v. 6 alerta para as curas de Jesus não sejam motivo de escândalo; supõe-se que havia compreensões a respeito do Messias que iam em outra direção (talvez triunfalista ou militar, como os macabeus ou Davi; cf. os pretendentes de messias na época de Jesus em At 5,36s; cf. Mt 24,4-5p). Aí entra o julgamento escatológico sim: é pela tomada de posição pró ou contra Jesus que o julgamento se opera (cf. 10,32-33p; Jo 3,19-21; 8,12). Aqui, o reino e Jesus são quase identificados.

José Luiz Gonzaga do Prado (na revista Vida Pastoral, nov./dez. 2016) comenta: Muitos não gostam disso, de dizer que a missão de Jesus é levar boa notícia aos pobres, levar esperança e força aos que são o refugo da sociedade, abrir os olhos, os ouvidos, a boca aos que são proibidos de fazê-lo. Muitos se escandalizam com a afirmação de que Jesus veio para libertar os oprimidos.

Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões, sobre João: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis.

Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’ (vv. 7-10).

Em seguida, Jesus começa a falar a respeito de João Batista “às multidões” (v. 7). João atraiu o povo pela sua pregação e seu estilo austero de vida, contrário ao luxo ostensivo ou à volubilidade caprichosa (como um caniço ou bambu) de Herodes Antipas (vv. 7-8).

A Bíblia do Peregrino (p. 2342) comenta: Em seguida Jesus define a missão de João. Por sua conduta ascética, é como o primeiro dos profetas, Elias, que se retira ao deserto e enfrenta o rei e sua corte (1Rs 17-18) … Pela sua atividade, devidamente reconhecida, João é o Elias anunciado (Ml 3,1; Eclo 48,10-11). Até ele chegou a velha economia; ele se apresenta à nova, anunciando a presença do reino e do Messias.

A citação (v. 10) de Ml 3,1 fala de um “mensageiro” ou “anjo” (mesma palavra em grego). Daí João Batista é apresentado com asas na arte dos ícones na Igreja Ortodoxa. Em Ml 3,23 identifica o mensageiro enviado do v. 1 com o profeta Elias para restaurar os corações e preparar o povo para a vinda do Senhor (ou do messias; cf. Lc 1,17).

Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (v. 11). 

A atividade do Batista supera todos os anúncios dos profetas anteriores, ele é o precursor que “prepara o caminho” (3,3 citando Is 40,3), mas não se iguala a pertencer ao novo reino (cf. a segunda parte do Benedictus, Lc 1,76-79). “O menor no Reino dos Céus é maior do que ele” pelo simples fato de pertencer ao Reino que é inaugurado em Jesus (4,17p): o precursor João parou à entrada e ficou no limiar (cf. Jo 3,28-30). Entre ele e Jesus com seus discípulos há uma ruptura, uma novidade radical (cf. 9,14-17p).

A Bíblia de Jerusalém (p. 1858) comenta: Essas palavras opõem duas épocas da obra divina, duas “economias”, sem depreciar em nada a pessoa de João: os tempos do Reino transcendem inteiramente aqueles que o procederam e prepararam.

A Nova Bíblia Pastoral (p. 1199) comenta os vv. 7-19 (vv. 12-19 omitidos pela nossa liturgia): Agora é o momento de Jesus esclarecer a identidade de João e seu grande valor, como profeta que com seu exemplo e palavras denuncia o luxo e arrogância dos poderosos. Mas o anúncio que Jesus faz vai além, ao propor a busca do Reino como algo a ser vivido no cotidiano da vida, sobre a inspiração na justiça de Deus. Jesus e João têm estilos e projetos muito distintos um do outro, mas ambos atuam em nome de Deus. A rejeição de ambos mostra o receio geral de acolher os enviados de Deus e ter de se comprometer com as exigências que eles comunicam.

A Bíblia dos cristão faz jus a importância de João: Ele é o elo que liga as profecias do AT com a realização do NT (Jesus). Enquanto a Bíblia (hebraica) dos judeus coloca os livros sapienciais após os profetas, a Bíblia cristã inverte: coloca os livros sapienciais antes dos profetas. O livro de Ml é o último dos profetas e do AT na Bíblia cristã que continua como o NT, com João Batista retomando o fio e apresentando Jesus, o messias anunciado antes pelos profetas.

Voltar